Evolution: Parte 2 escrita por Hairo


Capítulo 18
Quartel General


Notas iniciais do capítulo

Bom, depois das aventuras do torneio e do ginásio, agora é a hora de voltar ao nosso mundo real.

Deixei uma parte da história de lado por uns capítulos e está na hora de descobrirmos o que vem acontecendo por lá enquanto nossos amigos estavam batalhando por aí!

Esse é um dos capítulos que eu chamo de diferentes. Espero que curtam.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/597944/chapter/18

Capítulo 18 – Quartel General

Enquanto o grande felino passeava calmamente pela extensa sala em que estava, a pedra vermelha em sua cabeça reluzia a iluminação ambiente e ele observava seu dono sentado em sua luxuosa poltrona negra, atrás de sua mesa de trabalho. O homem vestia um terno laranja preso com botões dourados e passava uma das mãos nos cabelos marrons. Sua idade não parecia ser muito avançada, mas já se podiam notar duas entradas que deixavam o início de seu coro cabeludo à mostra. Apesar disso, seu porte era robusto e seus braços, escondidos por baixo do tecido de suas roupas, aparentavam uma força da qual ele raramente tinha que se utilizar.

Uma larga tela de computador estava ligada a sua frente, mas ele não estava atento ao mundo digital naquele momento. Em suas mãos uma revista de titulo “Trainerdex” parecia estar sendo meticulosamente analisada. Alguns outros exemplarem estavam espalhados em sua mesa, mas o que ele tinha nas mão exibia na capa uma foto de um gordo senhor careca ao lado de dois jovens, uma menina de cabelos vermelhos e um menino de cabelos castanhos. Abaixo da foto lia-se “Conheça o perfil dos mais novos treinadores de Cardo!”.

O homem virou a página e pareceu espreitar os olhos para a foto do mesmo menino da capa, agora ampliada. Seu olhar se prendeu por alguns segundos no sorridente Eevee que o rapaz trazia nos ombros e então seguiu para a notícia que a imagem ilustrava:

“Depois de um desempenho de abrir os olhos durante todo o torneio, foi um novato de Grené que roubou a cena, sendo a revelação inesperada e um dos favoritos a conquistar o título de campeão desse ano. Na final, porém, em uma luta de alto nível, Mary Jane e seu Pidgeotto venceram Dave Hairo e seu Eevee de maneira conturbada.

A invasão do laboratório que interrompeu a grande final e resultou no seqüestro da neta do especialista Pokémon Local acabou servindo com a perfeita oportunidade para o singelo rapaz e seu Pokémon provarem seu valor. O resgate fora muito bem executado e o menino caiu nas graças do povo da cidade e, mais importante, caiu nas graças do Professor Noah.

Então, como não podia ser diferente, pela primeira vez na história desse torneio tivemos dois premiados e dois treinadores com muito talento a reforçar as nossas esperanças de um título na liga. Resta agora ao nosso povo torcer e esperar por mais noticias dessa promissora promessa. Será que ele tem o que é preciso para vencer os lideres de ginásio, ou apenas consegue mostrar o seu talento quando existem donzelas em perigo?”

O homem deu um leve sorriso e fechou a revista pensativo, apoiando-a em cima da mesa. O Pokémon gato correu em sua direção esperançoso, porém diminuiu o ritmo quando percebeu que seu dono havia pego um outro exemplar da mesma revista, que dessa vez tinha a seguinte manchete: “ Saiba onde estão nossos treinadores e como eles evoluíram na jornada!”. Ele folheou as paginas procurando a matéria central e não demorou para achar uma pagina com fotos de diversos treinadores. A esquerda, ele viu que um menino de nome Chris parecia ter conquistado sua primeira insígnia e capturado um Belsprout, e um outro garoto, aparentemente bem novinho, tinha saído da cidade aquele dia com um Charmander, atrasado por que tinha acabado de completar 10 anos. Na pagina da esquerda, uma matéria de pagina inteira mostrava uma menina de longos cabelos negros, presos em um rabo de cavalo, que utilizava uma jaqueta vermelha. A revista noticiava a conquista de sua primeira insígnia, além da captura de um Nidoran macho. Bufando, ele virou a pagina, ainda procurando a noticia que lhe interessava mais. Nas paginas seguinte ele viu mais uma matéria de pagina inteira, dessa vez de um menino que aparentemente já possuía duas insígnias e diversos Pokemons, mas ele não se demorou por que viu, na pagina seguinte a foto daquele mesmo menino de cabelos castanhos que procurara na revista anterior. Dessa vez, porém, apenas uma pequena nota acompanhava a foto achatada em baixo da menina ruiva da edição anterior.

“Enquanto isso, Dave Hairo também já conquistou a sua primeira insígnia. O ritmo de captura de Pokemons, porém, é bem baixo. Até o momento nenhum novo membro foi adicionado à sua coleção e o menino continua a contar apenas com seu Sandshrew, além, é claro, do seu pequeno e comprovadamente poderoso Eevee. Nenhum dos dois evoluiu até o momento, mas isso não se mostrou um problema quando enfrentaram Apis em Auburn. Vamos torcer para que o nosso iniciante volte à ativa e decida reforçar o seu time em breve, pois dificilmente chegará muito longe com apenas dois Pokemons.”

Ele fechou a revista e a jogou junto das outras, mas dessa vez seu gato nem ao menos reagiu, apenas o observando enquanto ele procurava outras edições na pequena coleção que ele tinha sobre a mesa. Antes que achasse a próxima, entretanto, seu telefone tocou. Com calma ele apertou um único botão e a voz de uma mulher saiu pelo aparelho.

– Sr. Giovanni, tenho Peter na linha 1 para o Senhor.

– Ótimo, pode passar – disse ele com um sorriso, e girando a cadeira, deu as costas para o aposento em que estava e fitou a parede. Imediatamente uma fina camada de madeira começou a ser recolhida por cima, deixando aparecer uma larga tela acesa por trás. Assim que ficou completamente exposta, um rosto masculino foi mostrado por ela.

– Diga-me, Peter, quais são as novidades?

– Muito bom dia, Senhor. Não tenho noticias conclusivas, porém estou trabalhando para seguir diversas pistas – o homem aparentava ser mais novo do que o chefe, e possuía cabelos sedosos caindo sobre o rosto de aparência cansada. Giovanni deixou transparecer uma expressão séria que pareceu assustar o seu comandado, e, com calma, voltou a falar.

– E por que você está me incomodando, senão tem nada de concreto para me falar?

– Na verdade, tenho uma pista senhor, que me parece promissora. Uma pequena família de fazendeiros possui um filho que saiu em viagem no dia seguinte a fuga de seu Pokémon. Não há nenhuma confirmação, pois eles são muito reservados quando se trata do garoto, mas pessoalmente acho que eles estão tentando esconder alguma coisa. Gostaria de poder interrogá-los de modo mais incisivo, mas isso não seria possível sem que denunciássemos nossa posição privilegiada.

– Sim, compreendo – disse o homem de terno, pensativo – Acho que seu palpite pode estar certo Peter, porém não temos bases o suficiente para denunciar nossa posição. Temos homens infiltrados em todos os órgãos da cidade e a controlamos indiretamente. Seria muito imprudente arriscar todo esse trabalho dessa maneira.

– Mas senhor, tenho certeza de que descobríramos algo de valor caso pudéssemos agir com mais força. – disse Peter pelo tê-la, tentando soar seguro e convincente.

– Acalme-se, Peter. Você, por vezes, tem uma sede de sangue que pode nos prejudicar. Diga-me uma coisa: Qual é o nome dessa família?

– São os Hairo senhor, Martha e Jonathan Hairo. E o filho deles se chama...- mas o homem foi interrompido por Giovanni, que completou, aparentemente perdido em seus pensamentos.

– Dave. Dave Hairo.

– Isso mesmo, senhor – disse Peter, surpreso – por acaso o senhor os conhece?

– Não, não conheço. – respondeu Giovanni, com um sorriso mais largo no rosto e, dando as costas para tela, ele voltou a folhear as revistas que vinha examinando.

– Muito obrigado pela informação Peter. No momento, mantenha sua posição. Em breve lhe retornarei com novas ordens – e desligou o telefone.

***

Szell estava em frente a um espelho, dentro de um dos banheiros do quartel general central. Transferido da Central de Monitoramente de Saffron, onde vivia e trabalhava, ele encarava aquela como a oportunidade de sua vida. Nunca antes tivera sido convocado para comparecer ao Quartel General central, e muito menos para uma reunião direta com o chefe da equipe Rocket.

Nervoso, o homem enchia as mãos em concha com água da torneira e jogava no rosto, repetidamente, tentando se acalmar. Seus cabelos loiros continuavam intocados, igualmente repartidos para os lados, e seu olhar de apreensão revelava seu estado de espirito. Sabia que ele pouco fizera para chegar onde estava. Tinha apenas ordenado um breve assalto a um laboratório e achara o que nenhum outro agente ou supervisor tinha conseguido nesses últimos meses: o Eevee perdido de Giovanni.

Ele repassava mentalmente todas as informações que seus agentes lhe passaram durante sua longa conversa pelo telefone. Tinha achado imprudente chamá-los pessoalmente, para não levantar suspeita de seus colegas de trabalho. Estava de posse de uma informação privilegiada que poderia lhe render os melhores resultados de sua carreira. Dentro de uma organização criminosa, esse tipo de trunfo é motivo de inveja dos companheiros, e isso implica em sérias ameaças.

Pelo que sabia, por tanto, o menino fora avistado em Cardo poucos dias após a fuga de Eevee, e participara de uma espécie de concurso. No momento, porém, ele viajava atrás de insígnias e, calculando o ritmo de viagem de três crianças a pé, o homem calculava que eles já teriam chegado a Russet. Ainda de acordo com Jack e Jody, o menino possuía um Sandshrew e um Pidgey. Quem diria que esses dois poderiam garantir o meu futuro? Pensou orgulhos o homem.

Secando o rosto, ele se encaminhou para o imenso corredor que o levaria ao seu destino e entrou em um pequeno elevador rodeado de espelhos. Uma placa que parecia ser feita de ouro puro servia de apoio para o único botão, com uma letra “R”. A musica suave e agradável dançava enquanto a caixa de metal se movimentava em alta velocidade. Szell, entretanto, não conseguia sentir o movimento, tamanha a sua suavidade, e não sabia nem se subira ou descera.

Ao sair, ele se viu em uma ante-sala redonda, com as paredes em um leve tom amarelado que servia para descansar os olhos. Na parede podiam-se notar dois quadros de pintores famosos que, com certeza, custariam mais do que aquele supervisor ganhava em anos, cada um. Assustado pelo tom suave, porém intimidador do local, ele se dirigiu a um pequeno balcão onde uma mulher nova, de cabelos morenos e pele escura sentava uniformizada com um sorriso acolhedor.

– Bom dia – disse o loiro – Vim, pois fui convocado pelo Sr. Giovanni. Meu nome é...

– Supervisor Szell, bem vido – interrompeu a mulher – Avisarei ao Sr. Giovanni que chegou e ele o receberá em instantes. – disse ela, apontando com a mão em um gesto educado para uma poltrona acolchoada que ficava próxima a uma porta dupla de madeira lustrada, com um grande “R” desenhado em alto relevo.

Apesar do tom educado e receptivo da mulher, e de sua aparente posição de secretária, Szell sabia que se ela chegara ao cargo de assistente pessoal direta do chefe de toda a organização, ela estava em um cargo imensamente superior ao dele. A sensação de inveja, porém foi rapidamente esquecida quando ele se sentou e percebeu que aquela pequena poltrona de madeira acolchoada era mais macia do que a sua própria cama. Por um breve momento, ele desejou que demorasse muito para ser atendido. Seu desejo, entretanto, não fora atendido, e em cerca de um minuto, a mulher voltou a lhe falar:

– Supervisor, o senhor Giovanni lhe aguarda – e, ao apertar de um botão em seu teclado, a mulher fez com que as grandes portas ao lado do homem loiro se abrissem de modo lento e suave.

Se levantando de um pulo Szell respirou fundo, ajeitou sua camisa social e adentrou o incrivelmente extenso aposento de seu chefe. Ao longo do que parecia ser uma enorme sala, ele via alguns sofás espalhados em uma das paredes laterais. Na outra, uma pintura de cerca de cinco metros de cumprimento retratava o homem de cabelos marrons acariciando seu Persian. O gato Pokémon podia ser visto deitado em um canto do chão, acompanhando cada passo do vislumbrado visitante, que não conseguia esconder a surpresa com todo o luxo.

Ao fim da sala ele viu uma grande mesa de madeira lustrada, suavemente ornamentada a mão, e de trás dela ele observou enquanto Giovanni se levantava para apertar a mão de seu convidado. Naquele momento, o supervisor se sentiu importante.

– Seja bem vindo supervisor... – o homem hesitou antes de completar a frase – Szell, não é?

– Exatamente senhor. Sinto-me honrado de estar na sua presença. – O loiro já sentia as primeiras gotas de suor surgindo eu seu coro cabeludo e ameaçando escorrer pela testa.

– É um prazer lhe conhecer também, supervisor – Voltando a se sentar em sua poltrona, ele apontou para uma das poltronas a sua frente, convidando o loiro a imitá-lo - Então me diga, chegou a minha atenção que o senhor pensa ter encontrado o meu Eevee perdido. Onde ele está?

– Bom senhor, dois de meus agentes, obedecendo a ordens diretas minhas, foram averiguar um torneio que estava ocorrendo em uma cidade próxima a Grené, chamada Cardo. Imaginei que o Pokémon, se fosse achado por um treinador, poderia ter ido para lá – mentiu o homem.

– Muito bem pensado, supervisor – disse Giovanni em um tom casual que causava estranhamento em seu subordinado – nem imagino o porquê nenhum outro agente seguiu uma linha lógica tão clara com a sua. Continue.

Inflado com os elogios, Szell continuou, ávido para surpreender ainda mais o chefe – Meus agentes encontraram um menino com um Eevee, senhor, que obteve incríveis resultados apesar de ser iniciante, e, devido ao desempenho incomum, decidimos investigar o jovem.

– Naturalmente – disse Giovanni, com um leve aceno de cabeça – e o que descobriram nessa investigação?

– Observamos o menino senhor, e descobrimos que ele se chama Dave Hairo, e que veio de Grené – o supervisor esperou por um segundo a expressão de surpresa de seu chefe, mas ela não veio então ele continuou – Ele está atrás de insígnias senhor, e está na cidade de Russet, provavelmente lutando pela insígnia do punho. Meus agentes também descobriram que, além do Eevee, o garoto possui um Sandshrew e um Pidgey.

– Ótimo, tenho que lhe agradecer pela informação supervisor. – disse Giovanni, deixando a expressão cordial que usava se desmanchar aos poucos em seu rosto – Você não me disse quem foram os agentes que trabalharam com você, gostaria de agradecer a eles também.

– Não se incomode com o nome deles senhor. Eu passarei pessoalmente os seus agradecimentos – disse o loiro, já imaginando que tipo de privilégios teria. Quando seu chefe continuou, porém, seu sorriso esvaiu-se.

– Receio ter que insistir supervisor. Gostaria de falar pessoalmente com esses agentes. Imagino que se eles acompanharam de perto esse menino, eles tenham informações valiosas a me fornecer.

Pego de surpresa, Szell não conseguiu disfarçar sua surpresa com a reação do chefe – Mas, senhor, eu já lhe disse tudo que eles me passaram...

– Mas isso não quer dizer que eles tenham lhe dito tudo que sabem. – completou Giovanni – Sabe, supervisor, eu acredito que você não soube lhes fazer as perguntas certas. Até mesmo as informações que me trouxe estão, de certa forma, desatualizadas. – enquanto dizia isso, o líder da Equipe Rocket abriu uma gaveta de sua mesa e tirou uma pequena pilha de exemplares da revista “Trainerdex” e as colocou na frente do homem loiro. – De acordo com a revista, esse menino já possui um terceiro Pokémon, Machop, e seu Sandshrew e seu Pidgey já evoluíram. Ela também diz que ele estava mesmo a caminho de Russet. De fato, supervisor, nem mesmo a informação de que ele seria o maior suspeito de estar ajudando meu Eevee a fugir é realmente uma novidade para mim.

Szell olhava incrédulo para o bolo de revistas a sua frente, incapaz de acreditar que seus agentes não lhe disseram nada dessa valiosa fonte de informações. E como suas informações poderiam estar desatualizadas? Jack e Jody vão me pagar por isso... pensou. Giovanni continuou a falar.

– Além de tudo, supervisor Szell, se o menino está, de fato, seguindo para Russet, já percorreu um longo caminho desde Cardo. E as revistas servem de prova de que ele saiu da cidade há cerca de três meses. Indago-me por que precisou de tanto tempo para recolher um nível tão precário de informações.

– Senhor, me desculpe, mas eu... – mas o loiro foi cortado mais uma vez.

– Poupe-me de suas desculpas supervisor. Sinto ter que informar-lhe que estou preenchendo a sua posição. Temos, porém, uma vaga no departamento de limpeza da central de Saffron se lhe interessar. Assim pode continuar perto de sua família.

– Preencher a minha posição? Departamento de limpeza? – Szell olhava incrédulo para o homem a sua frente, mal conseguindo respirar. Seu mundo estava desabando e ele não sabia o que fazer. Nunca fora tão humilhado na vida. Ser transferido para o departamento de limpeza? Isso é um insulto!

– Sim, o departamento de limpeza ficará muito feliz de poder contar com você. Acredito que essa seja uma posição que lhe sirva melhor, vendo o quão inapto você está no desempenho de sua função atual. – Giovanni se levantou, sendo imitado pelo ainda extasiado novo faxineiro da Equipe Rocket. – Você pode ir agora.

Szell encarou Giovanni boquiaberto por vários segundos, ainda tentando processar como aquela visita vitoriosa teria se tornado tão desastrosa. Sem poder fazer nada, o homem finalmente virou as costas e, com passos pesados, atravessou a imensidão do escritório pessoal do homem que acabara de destruir a sua vida. Normalmente ele não aceitaria tal desrespeito e teria se demitido imediatamente, mas não se permitiu, uma vez que talvez não fosse assim tão fácil se desligar da maior facção criminosa do continente. Antes de sair pela porta, que mais uma vez se abria sozinha, ele ouviu Giovanni ao telefone, atrás dele.

– Gabrielle, por favor, convoque os agentes do ex-supervisor Sznell chamados Jack e Jody. Gostaria de conversar pessoalmente com eles. E providencie um transporte para o Sr. Szell. Avise ao departamento de limpeza de Saffron que eles terão mais ajuda a partir de agora, acho que ficarão felizes.

***

Jack e Jody nunca estiveram tão ansiosos e aturdidos em toda a sua vida. Vendados, eles apenas sentiram a velocidade do helicóptero em que estavam diminuir enquanto uma sensação gelada em seus estômagos lhes informava que estavam perdendo altura. Assustados, eles tinham as mãos disfarçadamente entrelaçadas sob o assento traseiro da maquina voadora enquanto sentiam que chegavam, mais uma vez, à terra firme.

As portas foram abertas por alguém do lado de fora e as mãos se separaram bruscamente, enquanto cada um era guiado por fortes mãos para o lado de fora do helicóptero. Abaixaram as cabeças ao ouvir o barulho ainda ensurdecedor das hélices que perdiam velocidade, mas ainda faziam vento o suficiente para os fazerem congelar de frio e bagunçar os cabelos. A mulher de cabelos roxos ficaria extremamente irritada com o tratamento que estava recebendo, não fosse a situação em que estavam. Assim que passaram por uma porta, o tecido preto que cobria a visão da dupla de Rockets foi retirado.

– Desculpem o tratamento, mas o sigilo é imperativo – disse um dos homens que os havia guiado até ali. Ele era duas vezes mais largo que Jack e usava um terno preto ostentando um pingente com o símbolo da Equipe em vermelho. Seu companheiro, ao seu lado, parecia um irmão gêmeo.

– Nós compreendemos – disse Jody, rapidamente, enquanto ainda olhava para os lados tentando ver onde estavam.

Era um pequeno corredor iluminado por apenas uma lâmpada que desembocava em uma larga escada que levava a andares inferiores. Sem pestanejar, os seguranças da Equipe Rocket acompanharam os agentes mais jovens e desceram os degraus como se fossem robôs.

Jack e Jody os seguiam sem saber o que fazer ou pensar. Nunca imaginariam que o chefe iria quere falar-lhes diretamente, e ainda não compreendiam por que não foram avisados disso por seu supervisor. Aliás, desde o seu comunicado há semanas, eles estiveram esperando noticias do homem loiro inutilmente. Fora uma grande surpresa quando o telefone tocou e a assistente pessoal do chefe lhes informou que teriam uma reunião com ele àquela tarde.

Quando chegaram a um nível inferior, se viram dentro de uma grande sala branca, sem portas nem adornos, e que tinha, ao final de um pequeno corredor, uma porta da mesma cor que sumia em meio a parede. Se não fosse pelo sinal que um dos seguranças lhe fizeram com a cabeça, Jack não teria sido capaz de reconhecê-la. Aquele ambiente era de tal claridade e limpeza que, ao passar as mãos pelo cabelo, o homem duvidou que eles fossem realmente alvos. Nunca vira nada como aquele aposento.

A porta disfarçada se abriu assim que os dois se aproximaram, e revelou ser a entrada para uma pequena caixa de metal, revestida de madeira e ouro, rodeada de espelhos. Reconhecendo aquilo como um elevador, eles hesitaram.

– Esse elevador os levará diretamente para o salão do chefe. – disse um dos seguranças, que agora se postavam aos lados da porta e olhavam intrigados para os agentes. Não era todo dia que eles recepcionavam pessoas de uma hierarquia tão baixa. Entretanto, eram treinados a não fazer perguntas, e, por isso, nada mais disseram enquanto os perplexos agentes entravam no elevador e apertavam o único botão disponível na placa de ouro.

A porta se fechou e os dois foram rapidamente imersos no doce e suave som da musica ambiente. Em seu atual estado de espírito, o som era reconfortante e ajudava a amenizar o ritmo pulsante e acelerado de seus corações. Eles não falavam nem um com o outro, ainda sem acreditar no que lhes estava acontecendo. Antes que pudessem perceber que o elevador se movera, as portas se abriram novamente e eles se depararam com a ante-sala de Giovanni.

Atravessando lentamente o aposento redondo, admirando as pinturas valiosas e o ambiente suave, os dois foram recebidos pelo sorriso sincero da mulher que lhes convocara ali.

– Agentes Jake e Jody, sejam bem-vindos. O Sr Giovanni ficará feliz de saber que estão aqui. Por favor, aguardem enquanto o comunico de sua chegada. – disse ela, apontando para algumas poltronas ao lado da imensa porta de madeira entalhada.

Jack e Jody sentaram e suspiraram. Trocaram olhares apreensivos e um sorriso nervoso passou pelo rosto do homem enquanto a mulher ajeitava os cabelos, ainda bagunçados pelo vento do helicóptero. Sem perceber, os dois reviam toda a sua trajetória até aquele momento tão importante em sua carreira.

Não entendiam como, depois de dois anos de um duro treinamento, eles havia chegado àquela posição antes mesmo de completar um ano de atividade na equipe. Na realidade, a missão de assalto ao laboratório Noah havia sido apenas a décima primeira missão que haviam recebido e nenhuma delas de muita importância. De fato, aquele fora até um fator que contribuíra para que eles perseguissem Eevee. Estavam começando a se sentir pouco valorizados pela Equipe.

Eles deixaram a cabeça cair enquanto tentavam controlar o ritmo da respiração e se manter sóbrios para o encontro que se aproximava. Nem mesmo as pessoas que comandavam seu treinamento tinha tido a honra de se encontrar com o chefe de toda a equipe e eles sabiam que a maioria dos agentes passava a vida inteira sem sequer ouvir a sua voz. Ser recebido em sua sala era uma honra inimaginável até mesmo para o supervisor Szell. O que Será que aconteceu com ele?! Pensava Jack, enquanto olhava pelo canto do olho.

A mulher de pele morena acabara de desligar o telefone, e agora direcionava seu olhar à dupla de convidados abrindo o mesmo sorriso amigável. Aquilo pareceria até mesmo um gesto mecânico, não fosse o sentimento agradável que transmitia.

– O Sr. Giovanni os receberá agora – disse ela, fazendo com que os outros dois prendessem a respiração.

Apertando o botão em sua mesa, as pesadas portas de madeira se abriram para dentro, revelando, à frente da expressão nervosa de Jack e Jody toda a imensidão e o luxo do escritório pessoal de um dos homens mais perigosos do continente. O homem que queria urgentemente lhes falar.

Giovanni estava sentado em sua cadeira e observava seus comandados caminharem em sua direção com um breve sorriso de canto de boca enquanto fazia carinho na cabeça de seu Persian. Ele os estudou calmamente enquanto os dois observavam estupefatos a enorme pintura e a imensidão do lugar. Fora quase um minuto para que os passos lentos dos agentes se aproximassem da mesa e o homem de terno laranja se levantasse para cumprimentá-los

– Agentes, é um prazer recebê-los aqui.

Sem saber muito bem o que responder, Jake e Jody acenaram com a cabeça e se postaram a frente da mesa rigidamente enquanto Giovanni voltava a sentar em sua cadeira. Quando percebeu que seus convidados ainda estavam de pé, ele sorriu para eles e gentilmente apontou as cadeiras a sua frente.

– Podem se sentar, por favor. Não se sintam intimidados.

Os agentes se sentaram ainda tremendo de nervosismo, tentando manter disfarçado o ritmo acelerado de seu pulso. Era impossível não se sentir intimidado.

– Bom, imagino que vocês queiram saber o porquê trouxe vocês aqui. – Disse ele, enquanto acariciava seu Pokémon com apenas uma das mãos. Jack e Jody concordaram com a cabeça, ainda procurando algum vestígio de voz. Giovanni continuou. – Chegou ao meu conhecimento que nos últimos tempos, os senhores estiveram seguindo um menino que possui um Eevee de característica, digamos, peculiar. Isso é verdade?

– Sim... Sim senhor – disse Jack, finalmente tomando coragem.

– Ótimo. Agora diga-me, o que acredita que esse Eevee tem em especial? – o tom do líder da Equipe Rocket era cordial, mas podia-se perceber uma leve ansiedade com a resposta.

O homem de cabelos brancos olhou para sua amiga, apreensivo, como se não soubesse como explicar o que os dois sabiam tão bem. Dessa vez, fora ela que encontrou a coragem para falar.

– Senhor, nós o perseguimos e fizemos diversas tentativas de roubá-lo. Nunca antes havíamos falhado em uma missão, mas esse Eevee e seu treinador conseguiram escapar diversas vezes. Considerando que o menino mal possui duas insígnias, achamos muito estranho que seu Pokémon demonstrasse tamanha habilidade.

Giovanni sorriu e passou uma das mãos pelos cabelos. Piscou por um instante e então se focou nos dois agentes a sua frente.

– O que você quer dizer com “habilidade” agente Jody?

– Senhor, seus ataques são bem executados e muito mais fortes do que o de qualquer outro Pokémon do grupo. Claramente ele não foi treinado pelo menino que viaja com ele, nem por nenhum de seus amigos.

Giovanni demonstrou interesse e se inclinou para frente, apoiando o queixo com suas duas mãos.

– Amigos, você diz? Quantas pessoas viajam com Dave?

Jack e Jody se surpreenderam com a menção do nome de Dave e perderam, por um momento, o ar. Eles ainda não haviam dado essa informação a Giovanni, e não esperavam que ele soubesse. Seu olhar demonstrava claramente que estavam assustados e, por tanto, o chefe se apressou em adicionar.

– Sim, eu sei quem é o menino. Mas não sabia que viajava em grupo.

Voltando a si, fora Jack quem deixou escapar um comentário – Sim, acabamos por não mencionar isso ao superviso Szell.

– Acredito que agora o termo correto seja zelador Szell – corrigiu Giovanni, causando espanto nos agentes – ele demonstrou terrível incompetência ao lidar com esse assunto delicado e foi rebaixado. Não se preocupem, porém. Não culpo vocês, apesar de suas informações estarem ligeiramente desatualizadas. – com isso, ele puxou da gaveta a pilha de revistas vindas de Cardo – De acordo com a revista do Professor Noah, os companheiros de Eevee já evoluíram e ele adicionou um Machop ao time.

Revista do Professor Noah? Ele tem uma revista? Pensou Jack, surpreso, enquanto Jody pegava o exemplar do topo da pilha para folhear com uma expressão semelhante a do companheiro.

– Ei! Essa é a menina que viaja com eles – exclamou Jody depois de virar algumas paginas e se deparar com a foto de Mindy.

– Essa? – disse Giovanni, apontando para uma foto da mesma menina, na capa de outro exemplar da revista que servia exclusivamente para manter os habitantes de Cardo a par da situação dos treinadores da cidade.

– Exatamente – respondeu a mulher de cabelos roxos – e tem outro menino também, apesar de achar que ele só se juntou ao grupo em Auburn. Ele é mais novo porém, e, na verdade foi um dos responsáveis por nossa ultima falha...

Assim que percebeu o que falara, Jody se calou, assustada por admitir que tinham sido derrotados por uma criança. Jack inspirou profundamente enquanto se lamentava sozinho o descuido da parceira. Giovanni, porém, sorriu.

– Conte-me mais – disse ele – quero saber um pouco mais sobre como Dave e seus amigos são. E por favor, entendam que qualquer informação que tiverem é preciosa. Já fui informado que estão acompanhando o grupo desde Cardo e gostaria de saber todos os detalhes possíveis sobre o que vem acontecendo.

Sem saber o que fazer, os dois agentes se entreolharam longamente, tentando retroceder ao momento do primeiro encontro com Eevee e seu treinador e, então, contaram todos os detalhes de seus planos falhos e encontros desastrosos. Sempre estimulados pelas breves perguntas do chefe, eles relataram como haviam observado o menino e a menina começarem a viajem tendo problemas com a rivalidade, e como Jake havia se integrado ao grupo. Como eles tentaram se utilizar do romance entre os Nidorans e até mesmo sobre como Jake havia reagido no seu ultimo encontro, quando eles acidentalmente quase atingiram Mindy. O relato durou mais de trinta minutos, onde Giovanni fez questão de que seus agentes se lembrassem de todos os detalhes e da reação de cada um dos integrantes do grupo de Dave até que ele finalmente se desse por satisfeito.

– Bom senhores – disse o homem de terno, depois que o interrogatório terminara – muito obrigado pelas informações que me trouxeram. Elas serão realmente importantes e valiosas a partir de agora. Devo pedir para que, pelo menos esta noite, se acomodem em nossas instalações. Pedirei que minha assistente cuide pessoalmente de sua acomodação. Ainda esta noite pretendo apresentar-lhes a um novo supervisor, que se reportará diretamente a mim, e ele lhes passara informações sobre sua próxima missão.

– Claro senhor, ficamos felizes em ajudar. – disse Jody, já sorrindo. Não acreditava no que estava lhe acontecendo. Ela e Jack se levantaram e se encaminharam para fora, onde foram recepcionados pela assistente de Giovanni, deixando o homem sozinho em sua sala, perdido em seus pensamentos.

Esse dois são incrivelmente sortudos... Pensava ele, enquanto acariciava distraidamente seu Persian. Esbarraram em um Eevee que mal podiam deduziram ser o meu. Acertaram um palpite cego e, conseqüentemente, podem se tornar peças muito uteis para os próximos passos. Sabem que aquele é o Eevee que procuro, mas não tem a menor idéia de seu verdadeiro poder. Acho que eu não poderia pedir por algo melhor...

Apertando um botão em sua mesa, ele fez com que a parte de madeira que escondia a imensa tela as suas costas se retraísse mais uma vez, e discou um número que sabia de cabeça. Em poucos minutos, o rosto de Peter atendeu a chamada.

– Pronto Senhor.

– Peter, acho que terei mandar alguém lhe substituir em Grené. – disse Giovanni, sorridente. O homem de cabelos sedosos, do outro lado da linha, se assustou.

– Me substituir senhor? Mas o que houve? O que fiz?

– Nada meu caro, você continua a cumprir bem o seu papel. Mas temo que precise que você execute outros serviços. Você já provou o seu valor anteriormente, e tudo o que preciso dessa cidade no momento a manter a vigília sobre os Hairo.

– Vigília Senhor? – disse Peter.

– Sim meu caro. O seu palpite estava correto. O garoto Hairo é quem tem ajudado Eevee a se esconder – disse Giovanni.

Surpreso, Peter tentou sorrir, enquanto se lembrava de seu próprio encontro com Dave. Ele não podia acreditar que deixara escapar aquela oportunidade de recapturar aquele pequeno Pokémon. Aquilo teria sido a maior glória de sua carreira, mas hoje, era o maior segredo que ele guardava.

– Ótimo senhor! Então presumo que quer que eu me encarregue pessoalmente de recapturá-lo.

Giovanni riu do que seu comandado estava falando.

– Comandante Peter, eu o tenho em alta estima, tanto que lhe contato diretamente com certa freqüência, mas eu não confiaria algo assim a você. – Peter se mostrou ligeiramente ofendido, mas não ousou responder. O homem de terno continuou. - Sobre o garoto e o Eevee, agora que os localizei, eu tenho outros planos. Mais importante que isso, porém, é terminar um serviço que foi deixado em aberto e que pode saciar a sua sede de sangue.

– O que quer dizer senhor?

– Peter, tenho a intenção de ser o único homem vivo a saber do verdadeiro valor desse pequeno Pokémon marrom. – disse Giovanni – Isso é imperativo e não pode deixar de acontecer.

– Entendo senhor, por isso que mandou matar todos os envolvidos no projeto em que Eevee participou.

– Exatamente – disse o homem de terno, acenando com a cabeça – Porém, há alguns dias, descobri que o agente responsável por essa complicada e sigilosa missão foi encontrado morto, antes de eliminar o último alvo, que está desaparecido – Peter prendeu a respiração, enquanto seu chefe continuava – Preciso que você localize esse homem, meu caro, e termine o serviço. Enviarei-lhe todas as informações e também uma pequena dica de por onde começar a procurar.

– Certamente senhor. Agradeço a confiança que deposita em mim.

– Obrigado Peter. Espero que mantenha a discrição e o sigilo durante a operação. Tenho você em alta estima, mas, se me der motivos, posso mudar rapidamente de opinião.

Com isso, Giovanni desligou a ligação e voltou a acariciar o seu Persian, ainda perdido em tudo o que estava ocorrendo. Parece que a sorte está, finalmente, se virando a meu favor...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Eu to tentando sair um pouco desse estigma que os queridos e amados Jessie e James deixaram na Equipe Rocket.

Saibam que se Jack e Jody lembravam os nossos amigos atrapalhados, as coisas começam a ficar diferentes...

E então? O que acharam? Espero vocês nos comentários.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Evolution: Parte 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.