Ela piscou, com um de seus olhos não com sua luz. Aquele piscar pareceu tomar mais esforço do que deveria e ela sabia o porquê. Ela estava muito calma para uma fada que estava prestes a morrer. Isto se justificava, ela não levaria nenhum arrependimento consigo. Suas forças se esgotavam pouco a pouco, ela estava assim há dias e finalmente chegara o dia que sua energia se esgotara.

As fadas nascem com seu próprio estoque limitado de pura energia dentro de sí, elas têm a escolha do que fazer dela. Elas usavam esta energia tanto para realisar pedidos, para voar e para viver. A energia era emetida de seus poros como minusculas luzes alaranjadas e, agora, a fada da qual falavamos inicialmente conseguia ver suas luzes se apagando.

Ela caiu ao chão, sorria consigo mesma, era exaustivo perder toda aquela energiade uma vez só e precisar morrer. Soube que podia ter tido uma morte mais tranquila, ter deixado suas luzes se apagarem lentamente e ter vivido mais uma semana ou duas. E na verdade era exatamente o que ela tinha em mente. Porém ela havia feito uma decisão.

Ela estava viajando, mais cedo naquele dia, sabia que sua energia estava se esgotando e queria encontrar uma vila de fadas. Não para encontrar uma maneira de continuar vivendo, mas para morrer entre iguais. Até então morava em uma pequena cidade secretamente realisando desejos de seus habitantes. Ela voava, se aprofundando na floresta que decidira explorar a procura de outras fadas, até que olhou para o chão e viu uma criança.

Era um adolescente, ele não falava nada, não mexia um músculo, não respirava. A pequena fada mergulhou até o solo para verificar o estado do garoto e percebeu que ele segurava a arma que lhe tirou a vida. Ela cobriu a boca com as mãos, ao notar o tiro em sua cabeça.

Ela então pôde ouvir uma voz gritando ao fundo, uma mulher vinha correndo e chorando ao encontro do corpo. Era a mãe dele. A fada só pôde observar tudo aquilo com o corpo trêmulo e os olhos cheios d'água. A mãe implorou para que o filho estivesse bem, por sua vida de volta. Fadas realizam desejos ao piscar com um dos olhos.

Ela pôde assistir a mãe carregando o filho de volta, ele tossia sangue ainda. Recuperar uma vida levava muita energia, por óbvios motivos. A fada ainda sorria, mesmo com suas lágrimas escorrendo por seu rosto. Seu leito de grama lhe pareceu apropriado como túmulo devido as circunstâncias. Suspirou uma última vez agradecendo a oportunidade de dar sua vida a alguem.

O corpo da fada então cessou de brilhar. Porém nunca seu coração.