Call Girl in Busapeste escrita por Isadora Nardes


Capítulo 4
Biscoitos.




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Enquanto a noite chegava, o tempo ia fechando.

Ia ficando mais frio e mais frio, até que George foi obrigado a arrastar os pais e Angel até em casa. Seu objetivo era apenas pegar um casaco, mas Angel se recusou permanentemente a ir a lugar algum.

–- Eu fico e faço as malas – ela argumentou.

–- Você não vai a lugar nenhum sem mim – George retrucou.

–- Você não manda em mim.

–- Não. Mas eu posso te obrigar. E você sabe que eu posso. Eu te obriguei a vir pra cá, não foi?

–- Seu grande filho de uma puta.

–- Eu também amo você.

Angel foi arrastada. Os pais resolveram ficar e George ficou grato por isso; não queria piorar ainda mais o clima. Apenas enfiou um casaco em Angel e saiu com ela na rua.

Pelos verões passados ali, conhecia aquelas ruas de cor. Podia guiar-se por elas de olhos fechados. As calçadas eram apertadas, mas com Angel ao lado, aquilo não era um problema.

O céu ficava cada vez mais cinza. Ameaça chover a cada minuto, mas não caía um pingo sequer.

George parou na frente de uma casa pintada de amarelo. Aporta de carvalho não mudara nada – continuava apodrecida. As janelas também. No entanto, o amarelo continuava de um tom forte. Uma pequena grade cinza enferrujada não tinha nem metade do tamanho de George. Um pequeno jardim estendia-se entre a casa e a grade: pequenos arbustos, pequenas flores, tudo pequeno.

–- Que lugar é esse? – Angel perguntou. George deu um sorriso torto.

–- A festa – ele disse, indicando o lugar com a mão, como se apresentasse um produto.

–- Festa? – Angel indagou.

–- O que você esperava? Uma rave?

–- Pra falar a verdade, sim.

George franziu as sobrancelhas.

–- Eu seria um péssimo namorado se te deixasse ir numa rave – ele disse.

–- Você é um péssimo namorado, George – Angel retrucou. George sorriu animadamente.

–- Ah, sim, eu sei – disse. – Mas essa é a única festa que você vai participar por aqui.

E puxou Angel pelo pequeno caminho de mosaicos. Bateu na porta, esperando ver Fred, mas surpreendeu-se quando Ian apareceu em seu lugar.

–- George? – Ian perguntou, franzindo as sobrancelhas. Depois, a compreensão chegou a seu rosto. – George!

–- Ian – George retribuiu um sorriso. Os dois abraçaram-se.

–- Você não disse que vinha – Ian disse.

–- Fred não avisou?

–- Ah, avisou. Semana passada.

–- Mas semana passada eu não sabia que ia vir.

–- E como eu vou saber disso? – Ian piscou. – Foi há tanto tempo.

–- Há muito pouco tempo – George comentou. Já havia aprendido a lidar com a excentricidade e loucura de Ian, obrigando-se a ser até um pouco mais excêntrico e louco do que ele.

–- Sim, há muito, muito pouco tempo – Ian virou-se para Angel. – E você, minha cara, quem é?

–- Angel – George disse, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.

–- Ah! – Ian bateu palmas. – Namorada de George, eu creio?

Isso George não ia responder. Queria ouvir da boca de Angel.

–- Sim – ela disse, hesitante. As palavras apenas saltaram dos lábios rachados e pálidos. – Sou.

–- Magnífico! – Ian disse. Saiu do batente da porta. – Entrem, por favor! Fred está fazendo biscoitos!

–- Eu amo os biscoitos de Fred – George comentou, enquanto deixava Angel passar na frente.

–- Ah, ele mudou a receita – Ian lamentou-se. – Ficaram diferentes.

–- Diferentes como?

–- Ora, como eu vou saber? Eu não experimentei!

George deu um sorriso torto.

Entrou na sala. Ao lado da porta, uma estante abarrotada de livros ameaçava ruir. As paredes, de um tom de bege apagado, não combinavam nada com as poltronas vermelhas do cômodo. A lareira não passava de um buraco quadrado e perfeito na parede, com um amontoado de pequenas toras queimando, e aquecendo o ambiente. Na frente da lareira, havia uma cadeira dobrável de madeira.

No outro extremo da sala, havia a entrada de um corredor. Ao lado desta, uma porta que levava à cozinha. George olhou pra cima: sim, ali estavam às luminárias que sua mãe havia dado de presente para Ian e para Fred, muitos verões antes.

–- Brilham como novas, não? – Ian comentou, seguindo o olhar de George. – Ora, são novas.

–- Isso é discutível – George disse.

–- Absolutamente – Ian disse, em tom de concordância. – São novas.

Ian puxou Angel até a cozinha. Enfiou a cara pra dentro. As lajotas brancas, com detalhes em bege alternando-se, permaneciam ali, limpas e brilhantes, como sempre estiveram. Os armários, um vermelho, outro verde e outro amarelo, permaneciam no mesmo lugar. Uma bancada branca e preta parecia a coisa mais normal naquele cômodo. Uma chaleira apitante depositava-se em cima de um fogão sujo e engordurado. A pia estava repleta de canecas e de louça suja.

Um garoto ruivo, baixinho, sardento e magrinho manuseava com cuidado uma térmica de café.

–- Olá, Fred – George cumprimentou. Fred virou a cabeça. Não havia mudado muito, a não ser pelos cabelos ruivos um pouco maiores.

–- George! – Fred cumprimentou, largando a térmica. – Não sabia que você vinha!

–- Eu te liguei ontem – George disse, piscando.

–- Ligou? – Fred perguntou, parecendo igualmente confuso. – Ah, eu não me lembro, mas tenho certeza que sim.

George riu. Fred parecia ter herdado a loucura do pai: respondia perguntas com outras perguntas, misturava tempos verbais e falava frases desconexas regularmente. Por outro lado, puxara a mãe no quesito aparência: olhos castanhos, pele sardenta, cabelos ruivos fortes, feições suaves num rosto redondo.

–- Essa é Angel – George disse, passando um braço pelos ombros dela.

–- Olá, Angel! Muito prazer em conhecê-la – Fred estendeu sua mão para Angel, que sorriu espontaneamente. George adorava aquilo: Angel não sorria muito, e quando acontecia, dava vontade de tirar uma foto para registrar o momento.

–- Muito prazer, Fred – Angel disse, obviamente tentando ser simpática.

–- Seu pai disse que você mudou a receita de seus biscoitos – George comentou.

–- Ah, sim – Fred concordou. – Não mudaram muito, eu acho.

–- Você acha?

–- Eu não experimentei.

–- Não?

–- Não. Estava aguardando vocês!

–- Muita gentileza a sua – George olhou para Angel. – Quer provar primeiro?

–- Eu estou bem, obrigada – Angel garantiu.

–- Ela quer – George disse, para Fred.

Fred pegou uma bandeja de biscoitos e estendeu para Angel. Ela suspirou, pegou um e mordiscou.

–- Muito bom – ela disse.

–- Coma direito – George disse.

–- Estou comendo direito – Angel retrucou.

–- Não – George negou. – Assim, olha...

Ele pegou três biscoitos e fez uma pilha com eles. Depois os enfiou na boca de uma vez só. Foi batendo os dentes até triturar tudo, depois passou a língua pelos dentes e sorriu.

–- Esplêndido – Fred disse. Angel balançou a cabeça, incrédula.

–- E dizer que foi você que me convenceu à vir pra cá – ela disse.

–- Ora, Budapeste é uma maravilha – George disse.


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Notas finais do capítulo

Sim, Ian é o Ian McKellen. "Mas esse é outro clipe, Isadora!". Ah, foda-se, a fic é minha e eu faço o que eu quiser nela. Fred é aquele garoto ruivinho que aparece sapateando com uma bengala no clipe de Budapeste.



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