Eu ainda não estava acreditando que a Elena tinha preferido almoçar comigo do que com aquele idiota. Ainda estava em meu quarto, terminando de tomar banho quando a campainha tocou. Com certeza era a Leninha. Terminei logo o banho e vesti uma camisa azul com uma bermuda e tênis. Desci as escadas rapidamente e topei com a Elena na sala de estar. No seu rosto, uma expressão séria e, digamos, meio tristonha. Se aquele energúmeno tivesse magoado a Leninha, teria que dar adeus para o amiguinho dele. Mas isso fica mais para a frente. No momento, eu, como o bom amigo que sou, a abracei forte e afundei meu rosto em seus cabelos. Sério, eu preciso parar de fazer isso. Esse cheiro me deixa meio hipnotizado. Pude sentir seus braços me envolvendo por trás e me puxando para mais perto. Resolvi falar.

– Olhe, Leninha, se você quiser ir almoçar comida de verdade num restaurante com seu namorado porre, não tem problema por mim.

Ouvi uma risada entre-cortada vindo dela.

– Não mesmo. Hoje sou sua. - ela olhou para mim e sorriu.

– Então vamos aproveitar. - sorri de lado segurando a mão dela.

– Com certeza. - ela apertou minha mão.

Guiei-a para o meu carro e saí logo da entrada de carros. Eu não sei porque, mas estava necessitado de comer McDonald's.

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Chegamos rapidamente ao McDonald's, entrando na fila do Drive Thru. Nossa vez de pedir havia chegado.

– Bom dia, qual o pedido dos senhores? - uma voz enjoada falou pelo alto falante.

– Er, dois CBOs, duas cocas-colas e duas batatas médias. - falei enquanto Elena erguia uma sobrancelha. - Não está certo, Lena? Esqueci alguma coisa?

– Está tudo certo, sim. - ela falou, quase que contendo o riso.

– Desejam mais alguma coisa? - a voz enjoada falou mais uma vez.

– Não, obrigado.

– São 20 dólares. Dinheiro ou cartão?

– Dinheiro.

Saímos da área de atendimento e entramos na fila colossal que estava a nossa frente. Elena soltou uma risada que acabou se transformando em uma crise de risos.

– Elena, sério. O que o Kai te dá antes de dormir?

– Quer mesmo saber? - ela perguntou, levantando uma sobrancelha novamente.

Acho que devo ter empalidecido totalmente.

– Não. Não nesse sentido. Eu quero saber se ele por acaso te droga porque você está mais doida do que o normal depois que ele voltou do Canadá.

– Damon, eu tô rindo somente porque você lembra do que eu gosto. E eu te conheço bem o suficiente para saber que você odeia CBO. Porque diabos você pediu um CBO pra você também?

– Esse não era só o seu pedido? Eu ia pedir um sanduíche pra mim no Subway! - falei, irônico.

Elena deu um tapa em meu braço, rindo.

– E isso se chama uma desculpa bonita para preguiça de pedir um sanduíche diferente.

– Exatamente. - respondi sorrindo.

A nossa vez de pegar os almoços chegou. Recebi os sanduíches, as batatas e os refrigerantes e paguei o pedido enquanto Elena beliscava batatas fritas.

– Gulosa. - falei enquanto pegava uma das batatinhas do pacote quase cheio. - Olha só, já comeu quase metade do pacote.

Ela estirou a língua para mim, rindo.

– Nós não vamos comer no carro, vamos? - ela perguntou, beliscando uma outra batata.

– Você tá louca, Lena? Esqueceu como fazemos?

Ela me encarou séria.

– Você quer mesmo relembrar isso?

– Isso o que? Os almoços em que fugíamos da escola para comer no parque? As tardes nos balanços?

– Não é disso que eu estou falando, Dam. E você sabe muito bem do que eu realmente estou falando.

– Na verdade, eu não faço ideia do que você está falando Lena.

Ela bufou.

– Que merda. Eu queria não ser a única a odiar esse lugar.

– Eu ainda não faço ideia do que você está falando, Leninha.

– Deixa pra lá. - ela falou e se encostou na janela, observando a paisagem.

Mas eu fazia. Só não queria admitir que lembrava do que ela estava falando.

FLASHBACK ON

Uns cinco ou seis anos atrás, estávamos todos no parque para o qual eu e a Lena estamos indo. Eu, ela, Bonnie, Caroline, Katherine, Stefan e até mesmo o Jeremy, que estava lá mais como acompanhante da Bonnie do que como qualquer coisa. E com acompanhante eu quero dizer namorado possessivo. Também tinham umas outras pessoas bem irrelevantes, como Rebekah Mikaelson, seus irmãos (intrusos, claro), Tyler, Matt e uma galera que estava se formando com a gente.

No meio dessa confusão de gente, a Caroline foi para um lado com o Tyler, Stefan foi perseguir a Kath que estava com o Elijah (já que tinha descoberto uma certa herança que ele tinha), Bonnie e Jeremy foram se pegar no mato e eu acabei ficando sozinho com a Lena. Nessa época, a minha versão estúpida já sabia que amava a Lena. Mas essa minha versão não sabia como dizer nada desse tipo, então fui logo embromando.

– Oi, Lena.

– Oi, Dam. - ela sorriu, aquele sorriso perfeito estampado em sua cara. - O que foi?

– Eu gosto de você. - falei na cara de pau.

Ela me encarou confusa.

– Ora. Eu também gosto de você.

– Ótimo. Isso torna tudo muito mais fácil.

Me aproximei dela para beijá-la e até consegui por cerca de dois ou três segundos, mas ela me afastou.

– Não foi isso que eu quis dizer, Dam.

– Ah. Desculpe, então.

Estava saindo, quando ela puxou meu antebraço. Me virei para encará-la. Seu rosto estava pálido.

– Vamos esquecer isso, por favor? - ela pediu. - Nunca aconteceu.

– Tudo bem.

Após uns poucos momentos de silêncio, Lena disparou.

– Você beija bem.

– Você acha? - perguntei sinceramente, mas, pelo visto, ela achou que eu estivesse brincando.

Elena riu.

– Não. Só falei como prêmio de consolação, pra você não ficar tristinho. - ela riu novamente. - Tem muitas garotas bonitas na festa. Vá atrás de uma delas. Tenho certeza de que qualquer uma delas ficaria encantada de ter a atenção de Damon Salvatore por cinco minutos.

Ri, mais para tirar a tensão do ar do que considerando a ideia. A única garota nessa festa que eu queria não me queria.

– Vou tentar. - falei. Após uma pausa, emendei. - Você vai ficar bem sozinha?

– Claro. Daqui a pouco, o Jer e a Bon saem do mato e eu tenho companhia de novo.

– Tem certeza de que não vai ter nenhum atirado por aqui? Um do tipo que te estupre e roube seus órgãos?

Ela riu e me empurrou em direção a Rebekah que estava sozinha num canto da festa.

– Oi, loirinha. - falei com a voz "sedutora" para as costas dela.

Ela se virou assustada, mas, logo que me viu, praticamente começou a babar. Acho que ela é uma das garotas que a Elena estava falando que ficaria encantada.

– Ah, oi, Damon.

– Rebekah, certo? - perguntei, apesar de já saber a resposta.

Seus olhos claros se abriram e brilharam intensamente.

– Sim. Você sabe meu nome?

– Sim. Você quer uma cerveja?

– Claro.

Estendi meu braço para que ela o pegasse e me acompanhasse até a mesa de bebidas. Depois de várias cervejas, uísques e tequilas, começamos a nos agarrar na frente de todo mundo. Fiquei arrependido de fazer isso no momento em que percebi que Elena olhava para mim com os olhos arregalados em desaprovação. Merda. Não era pra eu ter feito isso.

FLASHBACK OFF

Chegamos logo ao parque e fomos sentar nas mesinhas de piquenique. Cada um pegou seu sanduíche e batatas já frios e tomou com o refrigerante quente. Ficamos nos encarando enquanto comíamos um de frente para o outro e, quando finalmente terminamos, Elena suspirou.

– Dam, eu queria pedir desculpas por ontem à noite.

– Porque desculpas? - perguntei, fingindo ter esquecido da cena da festa.

– Você sabe. Naquela hora que eu e Kai...

Fingi lembrar. A verdade é que eu não queria ouvir isso da boca dela. Só tornaria a cena mais inapagável em minha mente.

– Certo, certo, certo. Eu lembro.

– Bem, eu queria pedir desculpas por ter visto aquilo. Kai passou muito dos limites. E eu deixei. - ela abaixou a cabeça. Fui sentar ao lado dela, passando o braço por seus ombros e fazendo uma pequena massagem em seu braço. Do nada, ela levantou a cabeça e começou a rir. - Eu sou estúpida, não sou?

– Leninha, eu não vi nada mais do que eu merecia.

– Você não merecia ver aquilo.

– Claro que merecia. E mais ainda. Quantas vezes já fomos à festas juntos e eu fiquei me agarrando com alguma garota enquanto você observava?

– Eu não sei. - ela recostou a cabeça em meu peito. - Mas isso já é normal para mim, Dam. Para você, me ver agarrando Kai não é exatamente algo normal.

– De qualquer forma, percebi que devo desculpas a você por tudo que te fiz ver em todos esses anos.

– Tudo bem, Dam. Você não precisa se desculpar por nada. Eu te encorajei a fazer isso. - ela colocou a cabeça em meu colo e eu comecei a mexer em seus cabelos.

– Tudo bem, então. Já que não aceita que eu peça desculpas enquanto você pede pelo mesmo motivo, então...

– Então...?

– Não sei. Queria ter algo para dizer.

– Não diga nada. Eu sei que bugo.

Rimos. E assim passamos o resto dessa tarde. Rindo e falando merdas como sempre fizemos.