O Reflexo escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 5
Capítulo 5




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Acordei com o quarto vazio, o que me causou um pouco de pânico. Então corri até a janela e levantei a persiana. Abri um enorme sorriso ao constatar que ele estava ali, sentado na grama de costas para mim.

Abri a janela com rapidez.

– Ei! – Falei.

Ele se virou e olhou pra mim, com um sorriso frágil, como se pudesse quebrar a qualquer momento.

– Olá, Wes.

– Vem logo. Eu vou pegar bolo.

– Wes, não precisa disso...

Eu ouvi ele dizer enquanto já corria para a porta. Peguei dois pratos de bolo azul e marrom e dois copos de refrigerante e voltei para o quarto. Reflexo estava parado perto da janela, como se tivesse acabado de saltar, mas parecia bem relaxado, como se tivesse flutuado até lá.

Eu coloquei as coisas no chão e arrumei como um piquenique. Eu estava agitado, animado. Depois de pronto, fiquei sentado no chão de frente para Reflexo com um grande sorriso e olhei para ele.

– Vamos, sente!

Reflexo deu um leve suspiro e sentou devagar. Ele estava estranho, mas eu não tinha reparado ainda.

Eu comecei a comer o bolo tranquilamente, sorrindo sempre. Até que eu reparei que Reflexo mal tinha tocado no bolo.

– O que foi? – Perguntei com a boca cheia de bolo. – Reflexo?

Ele olhou para o lado, a expressão afetada como se estivesse com dor.

– Ei, - eu disse, com o tom mais delicado que eu pude – o que houve? Não quer comer?
Estendi a mão para tocar seu rosto, mas ouvi a voz de minha mãe no corredor.

Com anos de experiência, nós sabíamos que isso significava que ela estava vindo me ver.

Reflexo instintivamente pulou para trás da cama, e a porta se abriu logo depois.

– Wes, eu preciso... – Começou ela, mas parou. Eu me virei para ela e observei suas sobrancelhas arqueadas ao averiguar a situação. – Wes... O que está fazendo?

Engoli em seco.

– Eu estou... Brincando, ora.

– Brincando. De quê?

– De... Restaurante? – Foi a coisa mais óbvia que veio à minha cabeça.

– Sozinho?

– Não... Quer dizer, sim!

– Tem dois pratos, Wes.

– É... Tem dois.

– Sei. Preciso que molhe as plantas, está bem? E depois... Depois nós vamos conversar.

– Tudo bem – disse, tentando não parecer nervoso.

Minha mãe saiu do quarto e fechou a porta. Esperamos um pouco para ter certeza de que ela estava longe.

– Pronto – eu disse. – Foi por pouco.

Reflexo acenou.

– Eu vou ter que molhar as plantas. Na volta, quero que me diga por que está assim.

Reflexo revirou os olhos, como se não fosse nada demais.

Peguei uma leiteira na cozinha e enchi de água. Então, fui para o jardim de inverno, que ficava perto do quarto dos meus pais. Por isso, sem querer, acabei escutando, principalmente quando meu nome foi dito.

– Eu estou preocupada com Wes.

– Por quê?

– Esse tal amigo dele. É muito estranho. Nós nunca vimos esse tal garoto. Aí ele diz que não pode vir na festa. Ontem eu conversei com o Neto. Ele disse que nunca viu esse garoto, ele não é da escola.

– Então ele tem mentido para nós?

– Não é só isso. Eu acabei de ouvir ele conversando com uma pessoa que não existe. Ele disse que não estava sozinho, depois desmentiu. Havia dois pratos e dois copos. Não é estranho?

– Não. Eu não consigo te entender, Luiza. O que é que tem se o garoto tem um amigo imaginário?

– É, talvez não tenha nada demais. Mas ele poderia ter nos contado.

Eu fiquei desesperado. Eles não só tinham descoberto coisas demais. Tinham tirado uma conclusão errada a partir delas. Reflexo existia, mas eu não queria que meus pais soubessem. Bom, queria. Mas ele não, e eu respeitava isso. Mas eu não podia deixar meus pais pensarem que eu era maluco.

Reflexo entenderia. Era por um bem maior.

Entrei no quarto.

– Vocês estão errados – meus pais olharam assustados para mim. – O meu amigo é muito real, entenderam? E eu posso provar. Mesmo eu tendo mentido sobre ele ser da escola, ele existe. Ele está aqui. Eu vou mostrar. Venham.

– Wes...

– Venham! Não podem duvidar de mim se não me deixarem tentar provar.

Meus pais me acompanharam até meu quarto. Eu estava com muita pressa, mas não os deixei para trás.

– Ele está bem... - Abria porta de uma vez só. – Aqui – disse, para o quarto vazio. Minha voz sumiu.

– Onde, Wes? – Perguntou meu pai.

– Reflexo, por favor, aparece. - Olhei atrás da cama. Embaixo dela. Dentro do armário. Nem o jardim apresentava sinal dele.

– Eu juro que...

– Carlos, pegue o telefone. Precisamos de um psicólogo urgente.


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