O Reflexo escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 2
Capítulo 2




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Acordei com umas batidas no vidro da janela. Na hora não entendi, mas não demorou muito para que eu sorrisse ao me dar conta de que o garoto tinha voltado. Ainda de pijama, levantei a cortina e dei de cara com o menino resplandescendo ao sol. O vidro nos separando fazia parecer que ele era mesmo meu reflexo do espelho. Decidi o novo nome dele, e abri a janela.

– Oi, Reflexo!

– O quê? Reflexo?

– Sim. Disse que eu poderia inventar seu nome.

– Ai, eu tinha razão... Não devia ter falado para você inventar. Você é péssimo com nomes.

– Não sou não. Tem um bom motivo.

– E qual seria? - Perguntou ele, justo quando seus pezinhos sujos e descalços alcançaram o chão de madeira. Eu o puxei para a frente do espelho retangular que ficava pendurado na parede, de frente para a minha cama. Ficamos olhando o nosso reflexo.
– Porque você parece comigo.

– Ah... Tá, mas porque eu tenho que ser o seu reflexo, e não você o meu?

– Ora, porque você não tem um nome. Eu já tenho um.

– Entendo. Olha, até que é um nome legal. Pode me chamar disso mesmo, se quiser.

– É mais um apelido do que um nome.

– Tanto faz. Eu não tenho nome, sobrenome, nem apelido. É só do que você me chama. Reflexo.
– Reflexo.

– Do que vamos brincar, afinal?

– Bom, antes de brincarmos do que quer que seja, eu tenho que mudar de roupa.

– Posso ajudar a escolher?

Olhei para Reflexo, para ver se ele estava brincando. Mas não estava. Ele queria realmente me ajudar a escolher.

– Tudo bem...

Abri o armário, e Reflexo ficou boquiaberto com o que viu. Não entendi o porquê.

– Nossa!

– O que foi?

– Você tem muitas roupas.

– Ah, nem são tantas assim... - Comentei, e reparei que Reflexo usava exatamente a mesma roupa do dia anterior. Imaginei que a família dele não tivesse muito dinheiro para comprar roupas. - Pode escolher dois conjuntos.

– Dois.

– É. Para mim e para você.

– Vai me emprestar roupas? É sério.

– Eu tenho muitas. Tem algumas que eu não gosto, então pode levar se quiser.

Embora eu dissesse coisas que pareciam muito simples para mim, Reflexo estava completamente maravilhado. Reflexo escolheu uma roupa para ele e uma para mim. Incrivelmente, eu gostei da escolha dele.

– Eu sei escolher as coisas, você não – brincou ele.

Trocamos de roupa rápido, para que pudéssemos brincar logo.

– Você ficou muito bonito – eu disse.

– Obrigado – ele respondeu. - Você também está ótimo.

– Eu tenho alguns jogos aqui.

– Que tipo de jogo você tem?

Jogamos Quem Sou Eu? durante bastante tempo. Reflexo era muito bom.

– Wes! - Gritou minha mãe lá de dentro. - Venha almoçar!

Olhei para Wes. Eu queria convidá-lo, mas não sabia o que a minha mãe diria.

– Vamos poder brincar depois?

– Sem chance. Eu estudo à tarde.

– Hum. Então nos vemos amanhã. Vou trazer uma coisa para você. - Eu sorri. Adoraria saber. - Até amanhã, Wes.

– Até amanhã, Reflexo – respondi, quando ele já pulava para o jardim.

Abri a porta do quarto e fui para a sala de jantar. Minha mãe havia colocado as panelas de comida sobre os descansadores de silicone e arrumado os pratos na mesa. Ela sempre fazia isso.

Minha mãe era dona dos cabelos loiros iguais ao meu, mas tinha olhos azuis. Já meu pai era moreno, mas tinha os olhos acinzentados como os meus. Acho que eu peguei as melhores partes da família.

Nós três nos servimos e nos sentamos à mesa. O almoço era arroz, feijão, almôndegas com molho e batatas fritas. Minha mãe arrasava na cozinha. Eu comi rapidamente.

– Está muito feliz hoje, Wes – notou minha mãe. - Aconteceu alguma coisa.

– Ué, não entendi. Eu não posso ficar feliz?

Minha mãe riu.

– É claro que pode, querido. E, normalmente, você está. Mas hoje está mais sorridente.

– Ah. É que... Eu conheci uma pessoa.

– Uma pessoa? É da escola?

– É – menti. Não sei o que minha mãe acharia de ter alguém no meu quarto sem ter entrado pela porta.
– Ela é bonita? - Perguntou meu pai.

– Ela? Não, não é ela. Eu conheci um amigo. Nós brincamos juntos, foi incrível.
– Deve ter sido mesmo, - brincou minha mãe – para você estar desse jeito. Imagino que queira se apressar para chegar na escola.

Capítulo


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