Efeito Dominó escrita por Snowflake


Capítulo 4
Capítulo IV




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POV Dominique.

O choque da inesperada aparição de meu pai deixou-me imóvel por mais tempo que gostaria de admitir. Olhando para ele, não sabia se estava assustado, desesperado ou até mesmo parcialmente contente. Francamente, não acredito na última opção, mesmo que Sênior estivesse sorrindo. Certamente era pelo fato de os Van der Bilt estarem nos encarando com expressões confusas.

– Eu não sabia que tinha uma filha, Anthony. – Dissera meu “sogro”.

– Sim, sim. Tenho um filho também. Júnior e...

– O que diabos você está fazendo em New York?! – Interrompi, mais alto do que gostaria.

– Vim a negócios, Dominique. – Anthony coçou a nuca, desconfortável. -Avisaria a vocês hoje, mas Christopher convidou-me para esta festa deslumbrante. – Ele sorriu para o sr. Van der Bilt. – Não sabia que você estaria aqui.

Christopher pigarreou, tomando a palavra.

– Nós a convidamos. Queríamos conhecer a namorada de Jude.

Em um ato involuntário, Jude e eu nos entreolhamos, fazendo o máximo para esconder nosso desespero. Por um segundo, meu pai nos fitou, com a testa um pouco franzida. Um silêncio constrangedor revestiu a mesa.

– Não sabia que você estava namorando.

Como se seguisse um protocolo, Jude se levantou, ficando de frente para meu pai. Estendeu-lhe a mão com um largo sorriso no rosto. Devo admitir: ele é um bom mentiroso.

– É um prazer conhece-lo, sr. DiNozzo.

Estranhamente, Sênior sorriu para ele também, apertando sua mão. Não serei idiota em pensar que ele ficara feliz por conhecer o “namorado” de sua “garotinha”. Ele estava feliz por ser um garoto rico.

Meu pai sentou-se a mesa, e aproveitei a oportunidade para alfinetá-lo.

– Como vai a minha atual madrasta?

– Ex-madrasta. – Ele parecia atormentado por falar sobre isso na frente de estranhos, e isso me levou a novos patamares de inspiração.

– Sinto muito por ouvir isso. Eu estava começando a gostar da Shannon.

– Phoebe. – Sênior pigarreou. – Você perdeu uma.

– Quando você pretendia contar-me sobre isso? – Ignorei os olhares dos outros presentes, os quais olhavam de mim para meu pai, como quem assiste a um jogo de tênis.

– Eu não gosto de anunciar os meus fracassos. – Anthony soltou sua resposta mordaz com os dentes cerrados.

– Bom, meus pêsames. Meus parabéns. E meus pêsames. – Ergui a minha bebida, levando-o a fazer o mesmo.

– Obrigado. – Sorrindo para os Van der Bilt, tentou amenizar o clima. – Isso me lembra de que devo entregar isto a vocês. – Ele tirou do bolso dois envelopes, entregando um para o senhor Van der Bilt e o outro para mim. – É o convite para meu casamento. Acontecerá na semana que vem. Seria uma honra a presença de vocês!

– Se é assim, meus parabéns novamente. – Alfinetei, enquanto o fuzilava. Sênior me ignorou, com os olhos focados na família de Jude.

– Muito obrigado, Anthony. Ficaremos felizes em comparecer. – Agradeceu Christopher.

Juro que fiz o máximo para não fazer um escândalo, mas eu estava zangada. Ignorei o papel que deveria interpretar e fiquei ali, com uma carranca amuada no rosto e os braços cruzados. Não conseguia tirar os olhos do meu pai. O que ele tinha na cabeça quando deixou para avisar a mim e meu irmão uma semana antes do casamento? Tudo bem que não somos nem um pouco próximos, mas é bom saber quando ele está na cidade. Antes de se retirar, tudo o que Sênior me disse foi:

– Avise ao Júnior que estou hospedado no Adam’s House.

Permaneci quieta até o final do evento. Só falava quando dirigiam a palavra para mim, isso quando não respondia apenas com um meio sorriso. Bebi mais uns dois ou três drinks, sem me importar com o que minha “sogra” pensaria. Nesse momento, faria de tudo para não estar ali. De qualquer maneira, quando os pais de Jude souberam que eu era uma DiNozzo, parecia que me olharam com outros olhos.

O resto da noite passou despercebido por mim. Quando já estava extasiada de toda aquela conversa cansativa sobre dinheiro e famílias nobres, pedi licença e fui caminhar pelo salão. Não tardou para que Van der Bilt aparecesse pelas minhas costas, mais perto do que eu gostaria. Eu sentia o macio algodão de seu terno e o cheiro hipnotizante de sua colônia. Respirando fundo, me afastei. Não precisava de mais um problema para atormentar a minha cabeça.

– Como você está? Fiquei preocupado.

– Com o que? Com essa furada que você me meteu? Pois bem que deveria. Não sei se você percebeu, mas teremos que estender essa merda de farsa por mais uma semana. Agora que o meu pai sabe, teremos que ir a essa porcaria. – Mostrei a ele o convite. – E isso é muito mais do que eu lhe devo. – Suspirei profundamente. Abri a boca para continuar meu discurso sobre como o Universo ria enquanto espetava o boneco vodu com o meu nome, mas fui impedida pelos lábios de Jude. Foi um beijo calmo, e separamo-nos antes de perdermos o fôlego.

– Você não me avisou que isso aconteceria mais de uma vez. – Eu disse, fazendo com que ele sorrisse travesso.

– É, não tinha pensado nisso.

– Mais alguma coisa que esqueceu de me contar? Não quero ser pega de surpresa mais uma vez.

Van der Bilt olhou em meus olhos, colocando uma madeixa de meus cabelos atrás de minha orelha.

– Sim, mais uma coisa: você está linda.

Esse com certeza foi o comentário mais estranho da noite. Mesmo assim, enrubesci razoavelmente, murmurando um simples “obrigada”.

Percebi que, durante todo esse tempo, aquela garota de cabelos castanhos não tirava os olhos de nós, principalmente de mim. Estranhamente, não era um olhar cheio de compaixão, apreciação ou curiosidade. Estava mais perto do tipo de olhar lançado na direção de alguém que você flagrou atravessando a rua fora da faixa de pedestres para cuspir em freiras.

– Mais calma?

Assenti com a cabeça e, com nossos papéis devidamente assumidos, retornamos a mesa devagar. No caminho, Jude parou por um instante, pedindo-me para rever o convite do casamento. Fixou o olhar nos nomes dos noivos, com a testa franzida, como quem tenta fazer com que eles se comportassem direito, mas não parecia dar certo. Murmurou alguma coisa como “Não sei da onde conheço esse nome”, e, depois de um curtíssimo período de tempo, se aproximou de mim, com o dedo indicando o nome da noiva de meu pai.

– Você a conhece? – Respondi à pergunta de Van der Bilt com um aceno de cabeça, o que o levou a continuar sua sentença. – Jessica Houston é a mãe da Melissa.

Enquanto absorvia o choque momentâneo, uma explosão de cabelos e silicone vinha em nossa direção, se jogando nos braços de Jude e me obrigando a recuar um passo. Encarei-os, incrédula, esperando que Melissa Houston se afastasse dele. Sei que, considerando a situação, não devia me incomodar com aquilo. No entanto, a namorada de Jude devia. Com isso, pensando somente no papel que estava representando, cruzei meus braços e esperei até que terminassem sua melosa conversa (sem contar as frequentes olhadas de Van der Bilt para os peitos de Melissa). Fitei minha futura meia-irmã com o cenho franzido, tentando ignorar o fato de que havia sido afastada de meu ponto de equilíbrio.

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POV Jude.

Aquela chuvosa manhã de sábado convidava-me a permanecer na cama o dia todo, porém não conseguia parar de pensar no que diabos eu tinha me metido. A primeira vista, parecia a solução perfeita para despistar meu pai e continuar acordando com uma garota seminua diferente por noite sem ter alguém me atormentando. Contudo, como o Universo me castigava por provavelmente ter salgado a Santa Ceia, tudo deu errado. Bom, o plano estava dando perfeitamente certo até o sr. DiNozzo aparecer e foder com tudo. Com isso, estava começando a suspeitar que essa história de transformar a minha vida em um inferno era uma conspiração da família DiNozzo. Além do mais, Melissa estava levando a minha mãe a crer que tudo era uma mentira. Em outras palavras, apesar de não saber, contava a verdade para minha querida genitora. Voltando ao ponto, mesmo que eu estivesse morrendo de vontade, contive meu impulso bastante natural de enfiar a cabeça na parede e decidi que iria conversar com a Dominique para bolarmos uma escapatória de toda essa merda.

Troquei-me rapidamente e, em poucos minutos, estava esperando o elevador que pararia no andar do apartamento da loira. Não me lembrava muito bem qual era o número certo, mas, se a minha memória não falha, era no final do corredor. Tentando a sorte, toquei a campainha. Considerando que eu estava ansioso e inquieto, cinco longos minutos se passaram até que Dominique aparecesse na porta, com um humor extremamente convidativo. DiNozzo ainda estava usando pijamas, e era notório que seu cabelo ainda não tinha sido penteado. Sinceramente, parecia que ela tinha caído da cama, ou, quem sabe, atropelada por mamutes selvagens.

– O que você quer? – Seria errado dizer que ela falou, logo que, na verdade, ela meio que rosnou.

– Bom dia para você também, love. – Ela revirou os olhos. – Posso entrar?

– Poupe-me, Van der Bilt. Estou sozinha, não precisa de toda essa falsa demonstração de afeto. – Dominique deu um passo para trás, permitindo que eu entrasse em seu apartamento e fechou a porta logo em seguida. Desci o pequeno degrau do hall de entrada e a segui até a cozinha. – O que veio fazer aqui é tão importante a ponto de me acordar? – Ela enfatizou a última palavra. – Me dê um bom motivo para que eu não arrebente uma cadeira na sua cabeça.

– Você não morava com o seu irmão?

– Sim, mas ele está trabalhando. As pessoas não esperam chegar segunda-feira para matar marinheiros. – Dominique deu de ombros. – Diga logo o que veio fazer aqui.

– Seguinte, querida, digamos que estão persuadindo a minha mãe a acreditar que nosso relacionamento é falso. – Pude ouvir a loira murmurar “Houston” com ódio, mas apenas concordei com a cabeça.

Procurei em meus bolsos por um pequeno objeto que nunca pensei que entregaria à Dominique. Encontrei-o rapidamente e joguei para DiNozzo. Ela pegou a pequena circunferência ainda no ar, e fitou-a com a testa franzida.

Supondo que as minhas ideias dessem certo, pensei em usar um anel de compromisso para tornar nosso teatro mais convincente. É claro que essa ideia não me agrada, mas deu na telha. A julgar pela expressão no rosto de Dominique, ela parecia indignada e parcialmente confusa. A loira segurou o anel entre o polegar e o indicador, analisando minuciosamente.

– Uma aliança? Sério, Van der Bilt? Qual é o próximo passo, noivado? - Ela colocou o anel na mesa. – Isso já está indo longe demais.

– Relaxa, é só por um tempo. – Revira os olhos. – E, em relação ao noivado, sei que você quer ser correspondida, DiNozzo. Eu sei, eu sou bonito. Me conhecer é me amar, e eu também sinto muito apreço por mim. Não precisa ter vergonha de gostar de mim. Mas, sabe como é, eu não desperdiçaria a minha vida ao seu lado. – Pisquei com um olho para ela, sorrindo de canto. Obviamente, Dominique ficou vermelha de raiva, e me afastei para evitar uma possível violência física. Tudo bem, eu sei que, a esse ponto, não deveria alfinetá-la tanto, logo que estamos no mesmo barco. Entretanto, não dá para perder o hábito. É mais forte que eu. – Agora, é bom que você use essa porcaria quando estivermos em público. – Peguei a aliança e coloquei na palma de sua mão.

Dominique cerrou os punhos, se aproximando de mim. Inclinou a cabeça para um lado e me lançou um olhar duro com olhos gelados e fixos, como uma ave de rapina decidindo se vai atacar ou não. Mostrou-me seu habitual e melhor sorriso maldoso. Estava perto o suficiente para que eu pudesse sentir sua pesada respiração.

– Pare de tentar justificar sua intensa paixão por mim, Van der Bilt. Não se iluda, nunca conseguirá nada comigo, ok? Supere isso. – Ela disse, e havia uma raiva fria em sua voz. Com isso, colocou o anel no dedo, ainda me encarando com ódio. Nenhum de nós piscou, respirou ou disse alguma palavra e, por vários e longos segundos, foi a raiva dela contra meu olhar de pistoleiro, fogo contra gelo. – Isso foi o cúmulo, certo? É melhor que...

A loira foi rudemente interrompida pelo som da campainha. Com toda a boa vontade que conseguiu reunir, Dominique bufou, caminhando lentamente até a porta. Era possível que o trajeto tenha demorado aproximadamente uns dez minutos, considerando a velocidade e empenho dela. O irritante e agudo som da campainha foi repetido umas três vezes, o suficiente para fazê-la praguejar um pouco e acelerar o passo.

Imaginei que a recepção do intruso seria tão calorosa quanto a minha. Entretanto, estava completamente errado. Assim que ouvi DiNozzo gritando “Jay!” de uma maneira tão alegre que nunca pensei que escutaria, fui à sala para poder visualizar melhor a situação.

A cena era a seguinte: Um homem, que não aparentava mais de vinte e cinco anos, abraçava Dominique a ponto de tirá-la do chão, e ela parecia corresponder com o mesmo entusiasmo. Por alguma razão, eu não gostava daquilo. Talvez estivesse apenas ficando zeloso em meu papel de “falso namorado”. Enfim, bem próximo de onde eles estavam, havia uma mala puxada por rodinhas e alguns pacotes.

Sentei-me no sofá, um pouco desconfortável e coloquei a merda do anel. Afinal, não conhecia aquele cara, e o show deve continuar. Quando ele soltou Dominique, percebeu a minha presença e entrou no apartamento. Notou a aliança no dedo da loira, olhando para mim com o canto dos olhos logo em seguida.

– Eu cheguei em uma hora ruim?

– Claro que não, James. Você veio para o casamento?

A partir daí, não prestei atenção na conversa entre eles e foquei em tentar me lembrar da onde eu conhecia aquele sujeito. Revirei todos os arquivos de meu cérebro a procura de um sobrenome, parentesco ou qualquer outra coisa, mas parecia que minha mente tinha parado. Não atribuirei minha situação à breve visão de Dominique se abaixando para pegar alguma coisa que havia caído de uma das sacolas, se é que vocês me entendem. E não, eu não fiz a mínima questão de olhar discretamente para a bunda dela. Afinal, ela é minha até sexta-feira.

Voltando ao ponto, me concentrei o máximo possível para descobrir quem era esse tal de James. Depois de inúmeros segundos, uma luz surgiu e me esbofeteou, mostrando-me o valor da incógnita. Na época do colegial, ele fora meu antecessor na liderança do time de lacrosse. James DiNozzo era aquele primo mais velho da Dominique que fora estudar na Flórida, se não me engano. Sem contar que ele não tinha uma queda pela Megan, e sim um penhasco.

– Não, voltei para NYC. – Ele sorriu antes de dirigir sua palavra a mim. – Você é o Van der Bilt, certo? – Afirmei com a cabeça, acenando para ele. – Espera, vocês não eram tipo arqui-inimigos?

Nós somos. – Eu e a loira falamos em uníssono, nos entreolhando logo em seguida.

– Então por que diabos vocês estão usando essa aliança? Vocês... Preciso de ajuda aqui! Estou confuso. – A testa de James estava franzida e parecia mais atormentado do que deveria.

– É complicado, Jay. Só, por favor, não mencione nad...

– Não está pensando em contar a ele, certo DiNozzo? – Interrompi-a.

– Não estou pensando, eu vou. – E, ignorando meus protestos, esclareceu as dúvidas de seu primo, explicando todos os detalhes de nosso plano.


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