Gravity escrita por Ju Dantas


Capítulo 11
Capítulo 10




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Edward

Pronto. Estava feito.

Eu olho para o rosto surpreso de Bella depois de ter feito a proposta que vinha rondando minha mente há algum tempo e me surpreendo por não estar apreensivo.

Eu me sinto... aliviado.

Inferno, eu me sinto quase feliz.

Era isto! Era malditamente isto!

Desde que Bella me contara que estava grávida naquela festa, era o que deveria ter feito.

Eu deveria ter feito a coisa certa.

Foi preciso algumas semanas de uma estranha convivência para eu me dar conta do que estava debaixo do meu nariz: Eu não queria ter Bella apenas como uma amiga de conveniência, vendo-a de vez em quando em consultas pré-natal e alguns encontros forçados em que nenhum de nós sabia o que fazer com aquela atração que pairava entre nós. Eu a queria sempre. Pra sempre.

Ainda fodia a minha mente quando eu pensava nisto, mas, porra, como poderia ser diferente?

Ela me enlouquecia quando éramos adolescentes. Deixá-la para trás para ir em busca dos meus sonhos foi a coisa mais difícil que eu fiz na minha vida.

E desde que ela me contou que estava grávida de um bebê meu, eu vinha tentando entender o que eu sentia de verdade.

Por que eu até podia acreditar que era apenas tesão quando a encontrei em Nova York. No entanto, agora, eu tinha sérias dúvidas se um dia eu cheguei a superar o que sentia.

Primeiro eu queria apenas apoiá-la. Mesmo quando ela me olhava com desconfiança, indagando quando eu ia partir. Eu pensava em como convencê-la de que eu não ia a lugar nenhum. Podíamos não estar juntos, romanticamente falando, mas não iria ficar de longe naquela situação.

Estar às voltas com Bella, a todo o momento me fazia reviver o passado, como quando fiquei sozinho com a mãe dela depois do jantar em sua casa, no dia em que fizemos o ultrassom.
Eu tinha dito a Renée como era esquisito estar ajudando-a a lavar a louça, como eu fazia quando era adolescente e queria fugir do olhar mortal do chefe Swan preferindo a companhia avoada de Renée.

— É como voltar no tempo – eu disse com um sorriso nostálgico.
— Eu também sinto o mesmo. Ver você aqui, com Bella.
— Não é a mesma coisa – respondi incomodado.
— Não, não é. Eu gosto vê-lo aqui. Eu nunca entendi porque terminaram.
— Renée...
— Eu sei, não é da minha conta. Apenas queria que soubesse que eu fico feliz de você estar na vida dela de novo.
— Eu não sei se Bella pensa o mesmo. Ela parece mais irritada do que feliz com minha ajuda – confessara. Era estranho lidar com aquela Bella arisca e mal humorada.

— Bella não sabe bem o que sente no momento. Gravidez deixa as pessoas confusas, ainda mais minha filha.
— Às vezes acho que ela me culpa – confessei.

— Ela não o culpa. Está apenas tentando lidar com a situação.
— Acha que um dia ela se sentirá... feliz com isso?
Renée parou e me encarou.
— E você está feliz? Com este bebê?
Era uma boa pergunta.
E eu soube a resposta de imediato.
— Sim, eu estou.
Renée sorriu, voltando a lavar os pratos
— É bom lembrar por que eu gosto de você.
Eu ri.
— Queria que sua filha sentisse o mesmo.
Renée me fitou, desligando a água
— Edward, eu quero te falar uma coisa.
Antes que Renée pudesse falar, meu celular tocou.
— Me desculpe – eu atendi. Era Jasper
— Onde se meteu?
— Estou na casa da Bella
— Esqueceu que os caras estão te esperando?
— Esqueci. Eu já estou indo.
Desliguei e fitei Renée.
— Preciso ir.
— Tudo bem. - ela voltou a lavar a louça. - teremos tempo para continuar esta conversa.
E quando eu me despedi de Bella passei mais tempo do que necessário, sentindo o cheiro do seu cabelo. Perguntando-me porque mesmo eu não podia me despedir como nos velhos tempos, em que ela me acompanharia até a frente da sua casa e ficaríamos um bom tempo nos amassando no escuro, até que o Chefe Swan a chamasse pra entrar. E, mesmo assim, eu sempre poderia subir escondido em seu quarto depois e...

Ah, os bons tempos...

Eu havia aberto mão deles quando fui embora.

Na época me parecera o certo.

Agora eu me pegava pensando em como teria sido se não tivesse ido embora.

Infelizmente isto eu nunca iria saber.

A realidade atual era outra. Eu era um astro da música. Minha banda finalmente tinha o sucesso que eu sempre havia sonhado desde criança.

E em breve iria sair em turnê.

E então, o que aconteceria com Bella?

Por enquanto eu estava por perto, podia ir com ela às consultas, como naquele dia. Podia até ampará-la quando passasse mal, como no dia em que ela viu as fotos dos fãs na internet e havia me procurado muito puta.

Era estranho tê-la tão perto e ao mesmo tempo tão distante.
Naquele momento, Bella precisava de mim para ampará-la. Mas como explicar isto ao meu olfato traidor que detectava seu cheiro tão familiar, minhas mãos que tocavam sua cintura através da camiseta e queriam desesperadamente se imiscuir dentro dela e tocar sua pele morna.
Eu tentava abafar estes sentimentos, porém a cada dia se tornava mais difícil parar de pensar nela nua. Embaixo de mim em uma cama.

Eu estava me tornando patético.

E tudo tinha piorado com o beijo em seu quarto. E embora ela tenha me parado, eu sabia que ela também ainda sentia aquela velha atração.
Podia passar o tempo que fosse. Meu corpo reconhecia o dela como um complemento e vice-versa.
Era simples assim.
Eu tinha até desabafado com Jasper sobre isto.
— Eu beijei a Bella – confessei.
Jasper me encarou por cima do copo de cerveja
— E...?
— E nada.
— Estão ficando de novo? Sabia que isto iria acontecer!
— Não estamos nada.
— Mas você queria.
— Sim, queria.  – por que negar o que era óbvio? - Isto não vai dar certo, melhor não complicar as coisas.
— O que ela fez quando você a beijou?
— Ela me empurrou.
Jasper riu.
— Convida ela pra sair.
— Você não ouviu o que eu disse?
— Ouvi sim.
— Então como posso a chamá-la pra sair?
— Sei - lá. Convida ela pra festa de hoje. Tenta se aproximar, vá devagar. Vocês são pessoas diferentes, mas é obvio que ainda há um resquício de sentimentos do passado aí... E ela está grávida – suas palavras faziam parecer que tudo era muito fácil. O que estava longe de ser.

Mas não dava para negar que havia certo sentido nelas.

Então eu a convidara para a festa.

E fora tolo o suficiente para beber demais e de novo me deixado levar pelo tesão e a beijara no carro.

Infelizmente eu nunca saberia como aquela noite teria acabado se Tanya não tivesse me ligado para indagar sobre alguns detalhes da turnê, o que Bella não fazia ideia naquele momento e em meio a meu torpor alcoolizado eu me dera conta de que Bella ainda pensava que eu e Tanya estávamos juntos.

No dia seguinte, sóbrio, eu liguei para a casa dela.
Ninguém atendeu. E ela também não atendeu o celular. E conforme os dias foram passando eu percebi que ela estava me evitando. Cansado daquela frieza e um tanto preocupado, eu liguei pra Renée, que me contou que ela tinha viajado para Vancouver com Alice. Ok,  eu decidi dar tempo a ela.
Afinal, não iria ficar em Vancouver para sempre.
E ela ainda estava grávida de um filho meu, então também não ia poder me ignorar pra sempre.

Alguns dias depois Riley apareceu furioso na minha casa.

— Eu sabia que isto ia acontecer! - gritou enquanto eu olhava o celular com muitos fãs discutindo a gravidez de Bella, que de alguma maneira tinha se tornado pública.

 - Que droga – resmunguei, passando a mão pelos cabelos.
Eu tinha consciência que em algum momento esta história iria vazar.
Mas não tão cedo.
— Eu sabia que se esta sua ex-namorada ia dar em confusão!
— Não é culpa dela...
— É ela que está grávida não e?
— É filho meu também.
— Se tivessem feito um aborto...
— Mas não fizemos – cortei – e agora teremos que lidar com isto.

— Sim, teremos! Tem noção do quanto meu telefone tocou esta manhã? Essa merda está em tudo quanto é site no mundo inteiro.
— Eu imagino e não gosto nem um pouco.

— Precisamos dar um jeito de amenizar a polêmica. Podemos desmentir, se bem que, do que adiantaria se daqui a pouco todo mundo saberá que é verdade? Talvez se disséssemos que o filho não é seu...
— Enlouqueceu Riley? Porque eu faria isto?

— Você não entende? Acabaram de lançar um álbum, vão sair em turnê em breve...

— E o que isto tem a ver?

— Você é o cara mais desejado da banda! As garotas compram seu CD, vão ao seu show, baixam suas musicas porque você é sexy simbol para elas...

— Vai se ferrar, Riley! Sabe que eu odeio este tipo de exposição! Eu promovo a minha música!

— Você gosta de pensar que é só por causa da sua música que fazem sucesso. Porém o sucesso é uma equação que engloba muitos fatores! Eu tenho muitos planos para vocês depois desta turnê. Vocês vão ficar grandes! Já estamos quase fechando a turnê Européia e talvez concorram ao Grammy e...

— E ainda não entendo por que a gravidez da Bella vai impedir alguma coisa!

— É marketing negativo! Não precisamos disto agora. É uma exposição desnecessária para sua imagem!
— Estou pouco me lixando. Nunca liguei para as merdas que falam de mim. Só precisamos impedi-los de falar do bebê e de Bella.

— Tudo tem a ver com sua carreira. Sabe que eles vão até o fim em qualquer lixo que encontrarem! E isto é um prato cheio! Falam até em traição! Cristo, que confusão! Se ao menos ainda fossem namorados, podia casar com ela e num instante esqueceriam.
Eu levantei a cabeça, um click sendo acionado na minha mente com estas últimas palavras.
Casamento?
Eu não tinha pensado naquilo.
Não era preciso se casar para ter filhos, para ter responsabilidades.
Eu e Bella não estávamos juntos. Não éramos mais um casal
Talvez, se fosse na época em que namorávamos,... Será que minha atitude seria diferente?
Será que a teria pedido em casamento?
Eu sabia a resposta. Eu teria pedido simplesmente. Mesmo sendo tão jovens e com certeza o chefe Swan me caçando com uma espingarda.

Então por que não podia pedir agora?
— Não é má ideia – falei pensativo.
Riley continuava andando de um lado para o outro, alheio a mim, falando ao telefone freneticamente.
— Eu preciso sair. Preciso pensar numa declaração. Algo que não cause mais confusão

— Acha que tudo melhoraria mesmo se nos casássemos?
Riley franziu a testa
— Está pensando seriamente nisto?
— Estou.
— Eu acho que podia ser uma solução - ele olhou o relógio – Não faça nada, não atenda ninguém até eu voltar, ok? Quando eu voltar conversaremos.
Ele saiu e eu peguei o telefone.

Não foi difícil conseguir o telefone de Alice com Renée.
— Alô – falou a voz juvenil do outro lado da linha.
— Alice, é o Edward.
— Oi Edward, antes que pergunte a Bella não quer falar com você. Nem insista.
— Eu sei. Preciso de sua ajuda para uma coisa.

Bella

Eu certamente não tinha ouvido direito
— O quê?
— Eu acho que nós devemos nos casar – ele repetiu sério.
Eu o encarei, incapaz de respirar, quanto mais falar.
Era brincadeira, não era?
Ele não estava rindo.
Muito pelo contrário.
— Casar? - repeti apalermada.
— Sim – foi sua reposta lacônica.
— Está brincando não é?
— Não, Bella. Estou falando sério, por mais absurda que esta ideia possa parecer no momento.
— Absurda? Não tem o menor cabimento! Não pode estar mesmo propondo uma coisa destas! Tá maluco?
— Eu acho que e o único jeito de... amenizarmos a situação.
— Espera. Isto tem algo a ver com o fato de eu estar grávida e você ter que, de alguma forma retrógrada e ultrapassada reparar o "mal feito"? Se for, pode ficar tranquilo, eu tô fora!
— Não é nada disto, ou é mais ou menos...
— Ah, Edward pelo amor de Deus! Não acredito que estamos tendo esta conversa!
— Bella, escute, eu sei que parece ridículo, mas... de alguma maneira, isto parece... o certo a fazer.
Oh Deus, ele estava falando sério. Muito sério
E eu só tentava entender da onde tinha saído aquela idéia absurda.
Não podia ter nada a ver com a gente, óbvio. Há anos que não tínhamos mais nenhum relacionamento.
E se não fosse minha gravidez, continuaríamos sendo praticamente dois estranhos.
Ou será que de alguma maneira eu tinha dado a idéia que queria alguma coisa com ele ainda?
Eu respirei fundo.
— Edward, espero que entenda, não quero voltar com você ou algo assim. Não temos mais nada. Não acho que seria o certo a fazer. Se eu deixei esta impressão por causa daquele beijo... beijos – podia sentir meu rosto queimando ridiculamente. – foi apenas... acidente.
— Tem a ver com fazer a coisa certa!
— E a coisa certa é a gente se casar, sendo que... nem namoramos mais... só... bebemos além da conta e transamos sem pensar nas possíveis consequências?
— Pessoas se casam por muito menos, Bella.
— Não eu!

Ele soltou um palavrão baixo, passando os dedos nervosos sobre o cabelo.

— Inferno, isto não está saindo como eu queria... – então ele inclinou sobre a mesa me encarando intensamente e segurou minha mão – escuta, Bella. Eu sei que te decepcionei um dia.  – eu retirei minha mão da sua, assustada com o rumo daquela conversa.

— Edward, não... – eu não queria lembrar do passado. Do quanto ele tinha me feito sofrer ao me abandonar.

Mas ele continuou.

— Por favor, apenas escute. Eu não posso mudar o que aconteceu. Eu fui embora por que eu sabia que não podia ser diferente. Era meu destino ir atrás da minha musica.

Eu queria levantar e fugir, como sabia que ele me seguiria, o deixei continuar.

— Nós éramos crianças... Quantas pessoas se apaixonam e se casam com aquela idade?

Ah esta doeu. Eu queria dizer que eu me apaixonei, enquanto ele apenas passava um tempo se divertindo comigo até o dia de ir embora atrás de fama.

— Aonde quer chegar com esta conversa, droga?

— Eu quero dizer que hoje tudo mudou. Somos adultos agora. E esta gravidez, talvez seja uma segunda chance...

— Não quero uma segunda chance com você! – sibilei, tentando não agredi-lo e puder ver a fúria e frustração dançar em seus olhos. Que se danasse! Eu tinha rastejado por ele há cinco anos. Ele que fizesse o mesmo, se bem que não ia adiantar nada também.

Quem ele pensava que era, pedindo pra ficar comigo agora? Por causa da minha gravidez? Quando nós dois sabíamos que esta conversa surreal nunca estaria acontecendo em outras circunstâncias?

— Ok, está deixando claro que preferia que eu não tivesse aparecido na sua vida de novo, mas eu estou aqui! E vamos ter um bebê.  E não podemos pensar somente em nós nesse momento. Esta situação... você sabe que só tende a piorar e em breve não afetará apenas a nós dois e sim a uma criança também.

— O que quer dizer?

— As pessoas já estão falando. E temo que piore muito e que isto prejudique...

— Ah claro, está com medo do marketing negativo para sua banda! – cuspi mais irritada ainda.

Embora o quadro que ele pintava de pessoas especulando sobre meu envolvimento com ele e minha gravidez fosse um tanto assustador.
— Infelizmente a impressa pode ser cruel. E os fãs também.

— Você sempre quis esta vida!

— Não! Eu queria que as pessoas ouvissem minha música!

— É a mesma coisa! Isto não é motivo para querer se casar comigo!

—Você não está ouvindo nada do que estou dizendo?

— E quanto a Tanya? Ela sabe desta proposta ridícula?
— A Tanya não tem nada a ver com isto!
— Ah não? Ela não é sua namorada?
— Não.
— Não? Mas...
— Eu não estou mais saindo com ela, então não a coloque no assunto, porque isto diz respeito só a nós dois.
Eu mordi os lábios com força
Ele não estava mais com a Tanya? Há quanto tempo?
E porque diabos eu sentia uma espécie de alivio ao ouvir isto?
Era totalmente ridículo.
Como aquela ideia estapafúrdia de casamento.
— O que não muda nada.

— Inferno, Bella, o que eu tenho que falar para você entender?

Eu contive a vontade de gritar que gravidez não era motivo para as pessoas se casarem e muito menos o fato de querer amenizar um escândalo para não prejudicar a sua amada banda.

Que eu sonhei um dia me casar com ele e que seria porque ele me amava.

E este seria o único motivo.

Como eu iria acreditar que Edward podia me amar?

Ele não me amou o suficiente antes. Ele já me abandonou uma vez.

Se eu acreditasse nele de novo quanto tempo demoraria para que eu estivesse chorando com o coração despedaçado quando ele fosse embora de novo?

— Não. Não dá nem pra cogitar isto Edward. Sinceramente.

— Bella, apenas pense. Eu não quero... te pressionar a nada. Para mim também não é fácil toda esta situação. Eu só quero apenas que tudo fique bem, da melhor maneira que conseguirmos.
— Eu também. Mas não assim.
Eu me levantei.
— Aonde vai?
— Vou para meu quarto vomitar. Com licença.

Eu quase corri para o quarto, antes de realmente passar mal mais uma vez.
E quando saí do banheiro Alice estava lá.
— Aí está você.
— Está brava por Edward ter aparecido? Não pense que eu tenha algo a ver com isto, ok? Ele me ligou porque você não atendia os telefonemas dele e me contou sobre os fãs terem descoberto sua gravidez...
Eu abri os olhos.
— Ele me pediu em casamento.
— O quê? - Alice gritou e eu tive que rir.
— Foi assim que eu fiquei também.
— Uau! Como assim? Do nada?
— Pois é.
— E você aceitou?
— Claro que não, né? Tá maluca?
— Por que não? Vocês vão ter um bebê! Muita gente se casa por causa disto
— Não eu.
— É, realmente não imagino você fazendo algo assim.
— Então não fique surpresa por eu ter dito não.
— Nossa, por essa eu realmente não esperava.
— Ele acha que seria mais fácil.
— Talvez esteja certo.
— Eu duvido
— E a tal Tanya?
— Eles não estão mais juntos, segundo ele.
Alice sorriu.
— Isto é bom.
— Isto não significa nada! Que me importa?
Eu me levantei e peguei a mala.
—O que está fazendo?
— Vou embora.
— Ainda temos mais dois dias.
— Eu não posso mais ficar, espero que entenda.
— Tudo bem. Vou arrumar minha mala também.

E quando eu desci, estaquei ao ver Edward com Alice ao lado do carro.

— Tá me seguindo? - indaguei cansadamente.
— Estou voltando para Seattle também.
— Sim, eu resolvi ficar os últimos dois dias que já pagamos de hospedagem, Bella e o Edward, que veio de avião, se ofereceu para dirigir contigo de volta – Alice sorriu e eu a fuzilei com o olhar.

Eu deveria espernear, porém estava me sentindo cansada demais para discutir.

— Seja legal com o Edward – ela sussurrou no meu ouvido ao me abraçar.  - Lembre-se que vocês estão no mesmo barco.
Eu sorri.
— Vou tentar.
Entrei no carro e ele entrou do outro lado.
Coloquei o iPod no ouvido e os óculos escuros.
Seria uma longa viagem.
Não consegui relaxar.
Minha mente dando voltas em torno do que Edward tinha dito.
Abri os olhos e tirei os fones do ouvido.
Por um momento eu só fiquei olhando para o perfil concentrado de Edward. A barba por fazer, os cabelos bagunçados.
Suspirei. Ainda era a visão mais perfeita pra mim.
Olhei para frente e abracei meus joelhos.
— Nós nunca... falamos sobre isto... - murmurei - quando estávamos realmente juntos. Acha que um dia... chegaríamos a isto? A este ponto? Se não tivéssemos... terminado?
— Se você por acaso estivesse grávida?
Eu dei de ombros.
— Seria diferente não é?
— Você pensaria diferente sobre minha proposta?
Eu o fitei.
Sim, eu pensaria?
Eu aceitaria de pronto se Edward pedisse para me casar com ele, caso estivéssemos juntos, como naquela época?
Eu acho que sim, embora fosse apenas uma adolescente. Minha paixão por Edward sobrepujava tudo.
Por um momento nenhum de nós falou nada.
De alguma maneira, as lembranças do passado que eu mantinha cuidadosamente escondidas estavam saindo pelas frestas do meu subconsciente.
Era sentimento demais, sofrimento demais.
Eu desviei o olhar, me sentindo triste de repente.
E eu não queria mais ficar triste por causa daquela história.
Era simples assim.

— Acho que não importa não é?  Perguntei.

— Não, não adianta – Edward falou.
— Eu realmente não entendo. Como podemos fazer algo assim dar certo. Não deu certo uma vez, você sabe - Eu voltei a fitá-lo – não seria mil vezes pior, agora que não estamos sozinhos?
— Quem disse que não daria certo?
Eu levantei as sobrancelhas.
— Nós temos um histórico, podemos dizer assim. Eu só não quero... tudo de novo, entende?
— Eu também não quero Bella. Infelizmente não temos como ter garantias de nada. Podemos apenas... fazer o nosso melhor.
— Juntos?
— Juntos.
Eu mordi os lábios.
Parecia tão... fácil, e ao mesmo tempo tão difícil.
Era loucura total que eu estivesse ao menos cogitando aquela proposta.

Quando ele parou o carro em frente ao meu prédio eu ainda não tinha chegado a uma conclusão.

— Bella, só... pense no que eu falei.
— Não sei se tem alguma coisa pra pensar.
— Você sabe que tem.

***************


— Está tudo bem? - minha mãe perguntou quando eu liguei naquela noite. – Edward ficou ligando aqui...
— Ele foi atrás de mim em Vancouver.

— Foi?
— Sim.

—E aí?
— E aí que ele acha que devíamos nos casar.
— Ah é?
— É só o que tem a dizer?
— Quer que eu diga o quê?
— Que é uma ideia ridícula.
— Não é tão ridícula assim, Bella.

— Dentre todas as pessoas você devia saber que é absurda! Não somos mais namorados! Não temos mais nada a ver!
— Um filho não é nada a ver.
— É diferente! Pessoas não se casam por causa de bebês hoje em dia!
— Filha, não vou dizer a você como agir, você é quem sabe da sua vida. Apenas aceite que você vai ter um filho em alguns meses. Um bebê. Você sabe quanto trabalho uma criança dá?
— Claro que não.
— Pois pense bem nisto. E você estará sozinha.
— Por quê? Você não vai me ajudar?
— Não foi o que quis dizer. Criar filhos não é nada fácil.
— Você achou difícil me criar?

— Eu tinha seu pai.
— As mulheres podem criar filhos sozinhas!
— Certamente que podem. E talvez você possa. Mas, você quer? Quer arcar com toda esta responsabilidade sozinha?
— O Edward disse que estaria do meu lado, não é como se ele estivesse fugido nem nada.
— Acha que ele ficará pra sempre? Acha que ele não vai continuar com a vida dele, que não vai namorar alguém, de repente até se casar, ter outros filhos?
Eu senti um gosto amargo na boca.
Era isto. Ela estava cutucando os pontos fracos.
Só de imaginar o quadro que ela pintava eu sentia falta de ar.
Ela tinha razão. Claro que ele conheceria uma pessoa
Podia até não ser a Tanya, mas ia aparecer alguém.
E ela o levaria embora. Pra longe de mim.
Eu senti um vazio indescritível no meu peito.
Talvez não houvesse nenhum problema. Se nossos caminhos não tivessem se cruzado naquela noite fria de Nova York.
Porque agora ele não abandonaria só a mim.
Havia mais alguém comigo que precisaria dele.
— Entende o que eu quero dizer Bella?
— Eu não sei é o certo a fazer. Não sei se... Não estaríamos apenas piorando.
— Você sempre pode tentar.

Naquela noite eu não dormi direito. Pensando naquela proposta.
E o que eu podia fazer?
Era ridículo casar com ele. Ao mesmo tempo...
Deus, como decidir?
Os dias passaram sem que eu conseguisse pensar em outra coisa.
Até que cansada de ficar remoendo, resolvi procurar Edward.
— Aonde vai? – Alice, que voltara na noite anterior perguntou quando eu passei por ela.
— Vou falar com o Edward.
— A esta hora?
— Não está tão tarde assim. Eu só preciso... resolver logo esta história, antes que eu enlouqueça.
— Tudo bem.
Eu revirei os olhos e peguei as chaves do carro.
Enquanto dirigia, eu pensava que diabos eu estava fazendo.
Correndo atrás dele de novo.
Devia deixá-lo ir.
Era como a gravidade. Eu simplesmente precisava ir.
Mesmo sabendo o tamanho do erro que eu estava cometendo, pensando em concordar com aquela loucura.

E lá estava eu batendo em sua porta.
E eu não pude acreditar no que meus olhos estavam vendo.
Não foi Edward quem abriu a porta.
E sim Tanya.

— Bella, tudo bem?
— Oi – eu disse tentando não demonstrar o que eu sentia.
Que diabos ela estava fazendo ali?
— Entra – ela disse.
Eu entrei, mesmo sabendo que deveria ter saído correndo. Eu queria ver Edward.
E olhar bem na cara mentirosa dele e dizer exatamente o que eu pensava.
Eu sentia a raiva ameaçando me cegar.
— O Edward está?
— Ele deu uma saída.
— Oh...
— Bella, eu sei do bebê. Edward me contou.
— Sabe?
Ela sorriu.
— Sim.
— Eu... sinto muito...
— Não precisa ficar preocupada comigo. Eu e o Edward somos amigos apenas.
— Ah é? - Disse com a voz sarcástica.
— Sim. Nós saímos juntos algumas vezes, mas... resolvemos terminar.
— Sério? - disse ainda meio irônica.
Se eles não estavam saindo que diabos ela estava fazendo ali, sozinha na casa dele?
— Nós somos muito amigos. Sempre fomos, mesmo antes de... começarmos a sair. Acho que na verdade, não ia dar certo mesmo.
Eu não falei nada. Ainda estava tentando digerir aquela história.
De repente a porta se abriu e Edward apareceu.
E seus irmãos estavam com ele.
— Bella? - Ele me encarou surpreso – olhando de mim para Tanya.
— Vai ficar Bella? – Jasper carregava uma caixa de cerveja.
— Não, eu...
— Edward, eu vou embora – Tanya comentou pegando a bolsa.
— Achei que fosse beber com a gente – Emmett comentou.
Olha que ótimo, pensei.
Eu tinha interrompido a reuniãozinha deles!
Eu era realmente patética por sentir ciúmes de Tanya, não só com Edward, com os irmãos dele também!
— Não precisa ir, Tanya - me peguei dizendo.
— Ela precisa sim - Edward falou - aliás, acho melhor todos vocês irem.
Eu ouvi um começo de protesto, Edward lançou um olhar ameaçador, abrindo a porta.
— Agora!
— Certo, a gente de vê Bella - Emmett falou e eles saíram.
Edward me fitou.
— Então Bella, o que veio fazer aqui?

E de repente, ali, olhando pra ele, depois de ter expulsado todos os seus amigos e a suposta ex-namorada, ou seja lá o que ela era agora, eu soube o que viera fazer ali.
— Eu... Eu acho que... acho que... acho mesmo que devemos nos casar.

Continua...

 


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