Nara quase estava entediada. Olhava para fora e admirava a paisagem enquanto Hiro fazia observações ridículas. Já estava noite e Nara temia que acontecesse alguma coisa de errado. Hiro parou o carro. A placa dizia que faltava apenas 10 km para os dois chegarem ao Alabama.

_ Quer continuar?

_ Eu preferiria parar, pois preciso descansar. Se você soubesse dirigir não precisaríamos parar.

Ela fez de conta que não ouviu.

Os dois tiraram dois lençóis que estavam dentro do carro, colocaram no chão e se sentaram. Hiro fez questão de pegar alguns galhos secos para fazer uma fogueira.

_ Eu nunca acampei com alguém antes.

Ele falou com os dois braços cheios de galhos secos e com um sorriso enorme.

_ Eu mereço.

Nara não parecia tão empolgada quanto ele.

Hiro conseguiu fazer a sua fogueira e se recolheu junto a ela. Nara ficou encostada numa árvore velha folheando as páginas de um livro vermelho. Ela percebera Hiro quase echando os olhos e assim o fez também. Agora lá estavam os dois. Sozinhos, escondidos e o pior de tudo, desprotegidos. O relógio que estava dentro do carro, no banco do carona, apontava 3 da manhã e o silêncio alí jazia infinitamente. Alí o vento era forte e quase apagou a fogueira de Hiro. Nara acordara de repente. Sentira a presença de alguém. Tirou o lençol que estava cobrindo-a e levantou-se. Chegou perto do carro e sentiu um arrepio. Quando ia chamar Hiro, ela ouvira um grunhido que veio atrás de um arbusto. Agora ela escutara mais de um grunhido que dessa vez acordara Hiro.

_ O que está havendo aqui?

Hiro já estava armado e por debaixo de sua blusa uma couraça de cobre irradiava pela escuridão. Os grunhidos foram ficando mais altos acompanhados por pequenos passos empoeirados. A tensão já tomava conta dos dois, foi quando os dois se abaixaram e se esconderam atrás da árvore velha onde Nara estava encostada mais cedo. Os dois não acreditaram. Hiro colocou a mão na boca de Nara.

_ Não grite agora.

Ela não acreditou no que viu. Dois zumbis em estado de decomposição estavam passando por alí. Com passos lentos, grunhidos altos e com a boca pingando sangue, eles passavam pelo meio de onde os dois estavam dormindo e um deles caiu sobre a fogueira que Hiro havia feito. Em chamas o zumbi continuou andando. Qualquer barulho que os dois viessem a fazer, os zumbis poderiam escutar e então atacar.

_ Precisamos sair daqui agora.

Disse Nara sussurrando e segurando um punhado de areia nas mãos.

_ Eu sei, mas por enquanto precisamos ficar quietos.

Os zumbis andavam e buscavam sentir o cheiro de tudo ao redor. Um deles olhou fixamente para a árvore velha e viu no chão caído o livro vermelho de Nara. Ele foi imediatamente até lá e quando chegou não tinha ninguém atrás da árvore. Nara e Hiro haviam conseguido entrar no carro.

_ Rápido, precisamos sair daqui!

Nara estava nervosa e não parava de olhar para os dois zumbis. Hiro tentou dar partida no carro, mas o mesmo não pegava.

_ Porcaria de carro que não quer pegar!

Hiro bateu com as mãos no volante e foi aí que os dois zumbis olharam para o carro. Um deles deu um grunhido bem alto como se estivesse chamando o resto da manada. A noite silênciosa foi corrompida por um surto de zumbis sedentos por sangue.

_ Mas que droga é essa?

Os dois saíram do carro e Hiro deu a Nara uma espada bem afiada.

_ Você sabe como se usa isso?

_ Não.

_ Bom, não tenho tempo para lhe ensinar agora, então, boa sorte.

Ela estava nervosa e assustada, não conseguia se concentrar direito..

*

Eu queria fugir dalí. Queria correr para bem longe e não olhar para trás. Aqueles zumbis nos cercaram completamente não nos deixando outra opção a não ser enfrentá-los. Eu mal podia segurar aquela espada. Minhas mãos estavam suadas e a mesma de vez em quando escorregava das minhas mãos. Eu fiquei atônita por um momento. O transe foi quebrado quando vi um zumbi vindo para cima de mim. Era uma mulher. Seu rosto estava completamente deformado, primeiro porque faltava-lhe a mandíbula. Suas roupas estavam sujas e seu cabelo loiro estava coberto por poeira. Veio andando em minha direção, grunhindo e abrindo a boca suja de sangue. No começo eu quis me desesperar, pois nunca havia visto um zumbi antes. Bom, eu costumava assistir a alguns filmes de zumbis e também lia algumas HQ’s que ajudavam a passar um pouco o meu tempo,mas eu nunca imaginaria que eu pudesse ver um assim tão de perto. Na minha frente. Eu só sabia que precisava dar um golpe na cabeça, disso eu não tinha dúvida. Ela veio caminhando em minha direção foi quando me posicionei e coloquei a katana bem a minha frente. Quando ela estava bem perto, pude girar e cortar-le sua cabeça. A cabeça caira ao chão e o sangue caiu e jorrou sobre minha roupa e meus sapatos. Não fiquei com raiva. Apenas olhei para a cabeça que ainda estava viva no chão e enfiei a katana que atravessou e perfurou a grama. Hiro de longe estava com tudo sobre controle. Olhou de lado para mim e sorriu. Eu me senti aliviada.

*

Agora mais confiante, ela matou todos que cruzaram o seu caminho. Ao longe Hiro se destraiu e caiu ao chão com um zumbi em cima dele. Nara veio correndo com a espada apontada e deu-lhe um golpe certeiro na cabeça do morto. E o mesmo caiu sobre Hiro.

_ Vamos, me ajude. Tire isso de cima de mim por favor.

Ele estava quase vomitando.

Nara o retirou de cima do amigo e sacudiu a espada no ar e retirou-lhe o resto de sangue que alí estava.

_ Mas o que foi isso?

_ O cérbero abriu os portões do inferno e deixou os mortos saírem.

Simiel estava bem atrás dos dois.

_ Vocês se saíram muito bem. E você Nara, foi bem corajosa por sinal.

_ Obrigado.

Um sorriso amarelo escapou de sua boca.

_ A pedra não adiantou.

_ Sim, o feitiço não durou por muito tempo. Mas agora vocês precisam seguir viagem. Já perderam muito tempo aqui.

_ Essa porcaria não quer pegar.

Hiro disse chutando o pneu do carro.

_ Sou apenas um anjo e não entendo de mecânica. Vocês terão que ir á pé. Nara sabe todo o caminho.

_ Que ótimo.

Hiro disse apanhando os dois lençóis no chão e desmontando o resto da fogueira.

_ Agora vão. Vocês precisam ir.

Nara virou-se e apanhou seu velho livro e ao olhar o anjo havia ido embora.

_ Pra ele é fácil. Só dá ordens.

_ Somos filhos das sombras. Estamos em uma missão. Não seja tão idiota por favor, ou senão terei que arrancar sua língua com a minha katana.

Hiro olhou para ela e cuspiu no chão. Pegou suas coisas dentro do carro e foi andando na frente deixando ela atrás. Nara caminhando pegou a espada e colocou nas costas. Agora el perdera o medo. Agora ela era uma filha das sombras.