Demônio do Norte escrita por Enya Flowers


Capítulo 3
Forte do Pavor - 299 DD


Notas iniciais do capítulo

Novo trailer da fic - https://www.youtube.com/watch?v=YtQoZedu8LY



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– Theon Greyjoy, o Príncipe de Winterfell - Ramsay zombou de sua nova distração nas masmorras do Forte do Pavor - Gosta do título, não gosta? - Questionou, brincando com uma pequena lâmina que ele mesmo afiara alguns minutos atrás.

Ali, no lugar mais escuro e sombrio de toda a fortaleza que pertencia ao seu pai, apenas as sombras apareciam para ser suas companheiras. Até mesmo os carrascos preferiam ter uma companhia mais agradável quando iam realizar interrogatórios, mas para Ramsay as sombras nunca o incomodaram, o que o fazia se questionar em alguns momentos se ele não era de fato um demônio como todos pensavam que ele fosse.

– N-não, milorde... - O prisioneiro resmungou.

– Não, milorde... - Ramsay o imitou - De qual título gosta, então? - Perguntou, se aproximando perigosamente do homem acorrentado e deslizando lentamente o gume não afiado da adaga no peito desnudo de seu prisioneiro.

– F-Fedor, senhor - Respondeu Theon Greyjoy.

Sim, ele era o seu Fedor. Não o original, mas dava para o gasto e era mais útil que o primeiro. Durante meses ele fora torturado até perder todas as camadas de sua arrogância. Aquela criatura não era nem mesmo a sombra do homem que fora um dia. Eu fiz um bom trabalho, gabou-se ao contemplar Fedor. Vários dedos das mãos e dos pés lhe foram arrancados e quase todos os dentes da boca, até mesmo o seu pênis fora cortado, o que Ramsay chamou de pequena alteração. E Theon Greyjoy não fora o primeiro a ter o sexo alterado em suas mãos. Um ano antes ele comprara uma prostituta que já não trazia mais lucro ao seu antigo senhor e Petyr Baelish pareceu aliviado com a negociação, diferente daquela mulher. Ele a cortara, mutilara, esfolara e por fim quando enjoou dela a caçara, mas ela não foi uma boa caça e por isso o seu nome não foi utilizado no batismo de uma de suas cadelas; ele nem mesmo se lembrava o nome daquela maldita.

– Então, Fedor, você vai me dizer por que está aqui? - Perguntou com ingenuidade, fingindo desconhecer o teor da situação.

O seu prisioneiro estava amarrado na cruz do homem esfolado, um lugar em que ele não voltara por mais de dois meses. Ramsay pensou que o havia transformado em seu servo mais leal, no entanto isso se mostrou falso.

– P-porque eu fui mau com o meu mestre - Gaguejou o prisioneiro.

Ramsay parou de percorrer o peito de Fedor com a lâmina e a deixou perigosamente posicionada no lugar onde ficava o coração dele. Seus grandes olhos acinzentados se fixaram no rosto do homem.

– E eu não tenho sido um bom mestre, Fedor? - Forçou a ponta de seu punhal, arrancando sangue do prisioneiro que gemeu em resposta a ação.

– S-sim, mestre! Tem sido um bom mestre! - Respondeu com pressa e Ramsay soube que ele falava a verdade. Havia quebrado tanto Theon Greyjoy que ele não parecia conhecer outra vida que não fosse a de Fedor e acreditava piamente que o seu amo era a pessoa mais gentil do mundo. Ramsay não pôde evitar e abriu um sorriso de orelha a orelha.

– Então, meu bom Fedor, irá me responder por que fez o que fez? - Afastou a lâmina e lambeu o sangue que a manchava.

– Seu pai me ordenou... - Murmurou a resposta, mantendo o olhar apavorado no punhal - Ele pediu informações sobre os dois Starks e eu tive que contar..! Eu pensei... - Não conseguiu terminar o raciocínio, porque Ramsay o interrompeu.

– Mas era o nosso segredinho, Fedor... - Ele fazia questão de mencionar o novo nome de seu servo para que ele sempre se lembrasse de quem era - Você me jurou que não contaria a ninguém que deixou aquelas dois fedelhos fugir - O lembrou.

– Mas foi o seu pai quem perguntou! - Ressaltou em desespero - Seu pai!

– Você me decepcionou... - Meneou a cabeça em sinal negativo - Eu fui bem claro sobre ninguém saber sobre isso... Ninguém que não fosse você e eu... E você me prometeu...

– Foi seu pai, senhor! Lorde Bolton é de confiança! Eu pensei que o segredo estivesse seguro com ele! - Fedor começou a chorar e cada sílaba soava tremida. Ele sabia o que estava por vir.

Ninguém é de confiança. Ninguém que não seja eu. E sabe por que eu sou de confiança, Fedor? - Questionou, voltando a mirar o punhal para o homem esfolado.

– S-sim, mestre...

– Me diga o por quê - Ordenou.

– P-porque o senhor mantém as suas p-palavras... - Gaguejou com os olhos marejados.

– Isso, mesmo, Fedor. Eu mantenho as minhas palavras e já que você não mantém as suas, ponha a língua para fora - Posicionou a lâmina deitada no lábio inferior de seu brinquedo.

– M-mestre... Por favor... - Implorou.

Ramsay se afastou com o semblante entristecido.

– Tem razão. Eu não devo fazê-lo - Meneou a cabeça em sinal negativo - Você não tem culpa de dizer o que meu pai quer ouvir - Deu as costas ao prisioneiro e andou dois passos para trás - No entanto... - Parou o caminhar - Você tem culpa de dar ouvidos para quem não sou eu! - Exclamou e tornou a voltar-se para Fedor e sem pensar duas vezes passou a sua arma na orelha direita do rapaz, arrancando-a em um golpe limpo - Que isso sirva de lição, Fedor! Eu sou um amo justo e você me tem serventia, mas torne a ouvir alguém além de mim e arranco a sua outra orelha seguida de sua vida! - Seus olhos claros ficaram quase tão brancos quanto de sua órbita ocular tamanha era a sua fúria.

O grito que Fedor soltou foi tão alto que Ramsay se sentiu incapaz de ouvir a si mesmo e para silenciar o seu servo recolheu o membro recém-cortado e o inseriu na boca da criatura com tamanha brutalidade que por um segundo pensou que ele iria engasgar com a própria orelha.

– Cale-se! - Gritou com tanta histeria quanto o mutilado - Vou esperar que se acalme e mais tarde virei soltá-lo! Relembre-se da lição que aprendeu hoje!

Irritado com a atitude de Fedor, Ramsay deixou o calabouço. Com aquela pequena informação solta todo o seu plano fora por água abaixo. Seu pai iria usar a fuga dos Starks ao seu favor e poderia ele mesmo vir a se casar com a sua prometida, visto que Lorde Roose Bolton era viúvo. Nenhum de seus homens que mandara ao encalço dos garotos retornaram, pois sabiam que se voltassem com as mãos vazias iriam ser esfolados vivos. Já fazia tanto tempo que qualquer rastro já estaria submerso pela neve. Eu mesmo deveria ter ido, amaldiçoou-se por ter colocado suas esperanças nas mãos daqueles cretinos.

– Já acabou com a sua festinha, Ramsay? - A voz de seu pai ecoou pelo corredor estreito da escadaria que ligava o Forte do Pavor com as masmorras.

Ramsay estagnou no lugar. Havia sangue em suas mãos e em seu rosto. Não era a forma mais elegante para se apresentar perante o seu progenitor.

– Sinto pela minha aparência, pai - Desculpou-se, fazendo uma pequena reverência irônica.

O semblante de Lorde Bolton se fechou. Ramsay sabia que ele detestava quando era chamado de pai pelos seus lábios bastardos.

– Você sabe que não aprovo a forma que tem tratado Theon Greyjoy - O repreendeu.

– Fedor - O corrigiu em desafio.

Lorde Bolton o estudou com cautela.

– Tenho assuntos sérios a tratar com você. Mas primeiro vá se vestir de forma apropriada. Não é porque é um bastardo Bolton que pode vestir-se de sangue - Deu-lhe as costas após a última ofensa.

Depois de tantos anos, a palavra "bastardo" não deveria ter tanto poder sobre si e mesmo assim fazia com que se sentisse fraco. Eu deveria ser legitimado; sou o único filho vivo desse velho, eu garanti o que é meu por direito e no entanto... no entanto... Ramsay cerrou o punho utilizando toda a sua força e só suavizou os dedos quando sentiu o seu sangue escorrer por eles. Não importava o que fazia, ele nunca ganhava o reconhecimento de seu progenitor. Eu esfolo homens como os Bolton, eu tenho o sangue dele, eu trago honra à sua Casa... Por que eu não posso pertencer à ela!? Suas lembranças remeteram à quatro anos atrás, quando Lorde Eddard Stark e o então Rei, Robert I Baratheon recusaram o reconhecimento de seu nascimento. Ambos estão mortos, se recordou. E Arya está desaparecida. Este tinha sido o relato que veio da Capital. Apenas a filha mais velha do antigo Protetor do Norte estava sob a proteção dos Lannister e Ramsay não se importava se ela vivia ou morria. Talvez Arya esteja vindo para o Norte a procura de seu lar. Talvez ela venha até mim e nós enfim possamos nos casar. Ele gostaria disso. Esfregaria o seu novo título à todos que o desafiaram e sentiu-se esquentar com este pensamento. Ele ainda tinha o lenço azul que lhe fora dado preservado dentro de um livro como ela sugerira e esperava que a garota ainda tivesse o seu anel dourado. Ela me chamou de demônio e não importa quanto tempo passe, um demônio sempre toma o que é seu. Dito isso para si mesmo ele acalmou os seus nervos e foi para o seu quarto fazer o que lhe foi ordenado e então seguiu para o salão de seu castelo, onde encontrou o seu pai se servindo de uma taça de vinho.

– Me pareço mais como um Lorde agora, meu pai? - Perguntou com um sorriso amarelo estampado no rosto.

– Você não é um Lorde, é um bastardo - Disse, bebendo o vinho de sua taça.

Por enquanto - Completou a frase, decidido a não se importar com os comentários do pai apesar de na realidade não só se importar como também se incomodar. Ramsay se serviu de uma taça de vinho tal como o pai e bebeu mais da metade em apenas um gole.

– Espera que eu lhe considere um Bolton depois do que fez com Theon? - A voz de Roose era fria como o inverno.

– Ele era o meu prisioneiro e o esfolei como prega o brasão dos Bolton - Respondeu dando de ombros e finalizando a bebida em sua taça.

– O brasão da minha Casa, não da sua - O pai o recordou - Theon era um prisioneiro valioso e eu precisava dele inteiro para negociar com Baloon Greyjoy. Robb Stark me mandou para o Norte para garantir os seus domínios e agora não tenho nada para ofertar ao Rei das Ilhas de Ferro.

– Eu já negociei com Lorde Baloon e ele recusou - Informou.

– Você entrou em contato com ele sem o meu consentimento!? - Roose exaltou-se perante a afronta.

– Você me fez Castelão do Forte do Pavor e eu agi! - Ramsay rebateu.

Os olhos de seu progenitor o fuzilaram e Ramsay sentiu-se na obrigação de desviar o próprio olhar para que a situação não saísse ainda mais de seu controle. Isso de nada adiantou, pois Lorde Bolton se pôs em pé e encurtou a distância que os separavam, segurando o seu rosto com garras de ferro para obrigá-lo a fazer contato visual.

– Eu tive de me esgueirar pelo Norte para passar pelos Greyjoy. Eu precisava de Theon e você o tratou como um de seus brinquedos! - O condenou.

– Theon era o nosso inimigo... - Murmurou como uma criança rebelde que sabia que estava indo além do ponto de segurança - Mas Fedor nunca nos trairá.

– Eu coloquei muita confiança em você... - Roose meneou a cabeça em sinal negativo e retirou sua mão do rosto do filho, dando-lhe as costas e tornando a saborear o seu vinho - Você nem mesmo foi capaz de encontrar os irmãos mais novos do Rei do Norte.

Ramsay precisou respirar profundamente para manter o estado de espírito inalterado.

– Coloquei os meus melhores homens a procura do rapaz e espero que eles retornem com eles vivos - Comentou, tornando a encher sua taça.

– Eu os quero mortos - Roose informou, girando sobre os calcanhares para virar-se para Ramsay - Colocarei os meus próprios homens à procura deles.

– Pai? - Ramsay arregalou os olhos com a confissão - Robb Stark não ficará satisfeito com esta decisão.

– Robb Stark - Roose analisou o filho antes de continuar e pareceu que sua lealdade estava sendo estudada - Robb Stark já pensa que os irmãos estão mortos - Anunciou - E o Jovem Lobo não será Rei por muito mais tempo. Firmei um acordo com os Lannister que nos favorecerá no futuro.

– Somos nós de novo? - Ramsay abriu um sorriso amarelo.

Se você conquistar Fosso Cailin das mãos dos Greyjoy. Leve quantos homens precisar e a sua criatura, talvez ela possa ser tão útil quanto sugere - Recomendou.

– E o que ganharei com isso? - Perguntou, sentindo que poderia haver uma oportunidade para si.

– Se tiver sucesso, talvez eu reconsidere sua posição.

Aquela promessa lhe soou promissora e foi inevitável conter o sorriso de orelha a orelha que estampou em seu rosto.

– Pai... - Começou, mas foi interrompido.

– Robb Stark não deve saber de meus planos por enquanto. Ele não deve desconfiar de minha lealdade. Irei cavalgar para As Gêmeas onde Edmure Tully deverá desposar uma garota Frey e quando eu retornar, eu espero que o Norte seja nosso - Avisou - Você já pode se retirar agora.

Ramsay fez conforme lhe foi ordenado, mas antes virou a sua taça de vinho, sentindo o vinho anestesiar suas emoções. No dia seguinte o seu pai caminhou para o seu destino e ele para o seu próprio, reunindo cerca de quarenta homens armados e Fedor. Se o seu plano desse certo aquela quantidade de soldados seria o suficiente.

Sabendo que o seu último aviso ao seu prisioneiro tinha funcionado, ele vestiu Fedor de Theon Greyjoy, dando-lhe uma armadura com o brasão de sua antiga Casa e um estandarte com o símbolo da Lula Gigante estampado. A missão de seu servo era entrar no Fosso Cailin como um mensageiro dos Bolton e pedir para que eles se rendessem aos nortenhos e então todos eles seriam perdoados. A proposta não deveria ser negada, visto que há vários meses os homens que ali estavam passavam fome e frio, pois nenhuma outra tropa além da primeira viera fortalecer o local conquistado. Ramsay esperou do amanhecer até quase o anoitecer o retorno de Fedor e quando ele estava quase desistindo e preparando os seus homens para o ataque, Fedor ressurgiu por detrás da amurada dizendo que os homens de ferro aceitaram a negociação. Ramsay rejubilou-se e utilizando a postura do Lorde que era, mesmo que só em teoria, avançou para o encontro fatídico e deu o perdão que lhe competia, esfolando todos os invasores ainda vivos e deixando as carcaças mutiladas a mercê dos corvos.

Dois meses após a sua conquista, Lorde Roose Bolton, agora Protetor do Norte por um decreto assinado pelo Rei Joffrey I Baratheon, retornou para o Forte do Pavor e fez o que prometera, dando uma das maiores alegrias ao filho ao trazer consigo o reconhecimento real que fazia dele um Bolton e não mais um Snow. Diferente do que Ramsay esperava, seu pai não voltara a contrair núpcias com uma Stark e sim com uma garota Frey tão gorda quanto uma égua prenha que valera o seu peso em ouro. E junto com as novidades visíveis, anunciara que o filho também voltaria a se casar e para aumentar ainda mais a sua alegria, seria com a sua prometida de anos atrás, Arya Stark, que dentro de uma quinzena estaria esperando por ele em Winterfell.

– Aparentemente ela estava sobre os cuidados do Mindinho este tempo todo - Roose comentara - Os Lannister fazem questão desta união para que o domínio do Norte seja oficializado à nosso favor e para que a paz do Rei seja instaurada aqui.

– Se é o que insiste, pai, é meu dever como um Bolton fazê-lo.

Na frente do pai, Ramsay não demonstrara nenhuma emoção que não a da servidão, mas quando se encontrou sozinho aquela noite ele se permitiu depois de anos contemplar aquele delicado tecido azulado que lhe fora ofertado. Finalmente todas as peças do tabuleiro estão se movendo ao meu favor. Serei nomeado Lorde de Winterfell, sendo legitimado como um Bolton e tendo a minha prometida em meus braços. A sua felicidade foi tamanha que na manhã seguinte, depois de anos ele realizara um sacrifício em nome dos Antigos Deuses perante uma Árvore-Coração como um agradecimento pelas bênçãos que estava recebendo.


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Notas finais do capítulo

Depois de meses a história foi atualizada e pra felicidade de loucos como eu, este shipper considerado impossível se tornou CANON, mas eu prometo que nesta fic a relação deles será diferente, mesmo porque o encontro será feito de outra forma! Espero que tenham gostado do capítulo! Comentários são sempre bem-vindos! ;)
E a propósito, a história vai ter mais capítulos do que o previsto anteriormente... Digamos que estou me empolgando com o plot! rs
Obrigada a todos que favoritaram e estão acompanhando, e principalmente aqueles que me alegraram com um comentário! Amo todos vocês!



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