Depressão pós-carnaval. escrita por Aline Vataha


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Nonsense.



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O barulho do ar-condicionado era baixo e constante, competindo involuntariamente com a voz monótona do professor. O frio que entrava na sala fazia as pessoas colocarem blusas. Lá fora, a roupa grudava no corpo e ombros apareciam. E como sob o efeito do canto de uma sereia, os alunos começavam a adormecer. Um a um eles caíam como soldados alvejados, enterrando a cabeça entre os braços e rezando por uma morte rápida.

Eu resistia à tentação do suicídio sonhando acordado. Ou delirando, tanto faz. Sabia apenas que eu escapava da realidade, indo para um lugar em que robôs gigantes lutavam entre si com espadas e metralhadoras. E chovia kitkat. E os robôs azuis sempre venciam os robôs verdes e vermelhos.

Vez por outra eu olhava para o meu celular. Os números na tela não se mexiam, não importava quanto tempo eu olhasse. Pareciam estar congelados na eternidade, estampados como um lembrete terrível de que essa aula era um castigo por eu ter sido uma pessoa muito ruim nas minhas vidas passadas. Talvez eu tenha sido Gengis Khan ou alguém da sua turma.

Eu voltei a olhar no celular algum tempo depois. Nenhum minuto tinha passado.

Talvez eu tenha sido um nazista.

Meus olhos rastejaram até a lousa. O professor falava alguma coisa em grego, sem olhar para ninguém. Eu te entendo, cara; eu também evitaria olhar o estrago que eu fiz depois de esquecer o arroz no fogão. Mas a coisa fede, e isso já é uma coisa um pouco mais difícil de ignorar. Ele também fazia perguntas e as respondia em seguida, tão animado quanto um zumbi podia ser.

Seria esse o objetivo da folha? O de cair.

Eu queria ir pra casa.

Um significado em cada floco de neve.


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