Capítulo 2

Um cordeiro em meio a um casal de lobos.

Um silêncio sutil pairava sobre os três integrantes no carro. O mais jovem entre eles se encostou sobre o estofamento, franzindo a testa com uma raiva contida.

Riza e Roy trocaram olhares de cumplicidade e o carro parou, estacionado ao longo da calçada. O motor foi desligado enquanto Edward permanecia sentado, imóvel.

Riza se virou e sorriu para o garoto. – Não se preocupe Edward, nós vamos cuidar de você. Não precisa agir como se fosse o fim do mundo. Você pode até gostar.

- Duvido muito disso. – Resmungou Edward com desprezo.

Roy franziu a testa e abriu a porta do carro. – Vamos. – Falou ele, saindo do carro. Riza imitou o movimento e caminhou em direção a porta de carvalho. Edward estreitou os olhos em irritação e seguindo o casal.

Logo que entrou na casa ficou fascinado, mas tratou de esconder. Sempre soube que o bastardo ganhava um bom dinheiro, mas nunca pensou que fosse uma quantia tão boa. A casa parecia uma pequena mansão. As cores eram escuras e fortes, mas sem tirar o aspecto acolhedor do local. Tudo parecia organizado e limpo demais. Edward até chegou a pensar que passar um tempo com Roy e Riza não iria ser tão ruim assim. Ele quase socou a si mesmo quando percebeu no que pensava. Ele tinha uma mãe e ninguém, jamais, poderia substituí-la.

- Vou preparar o jantar. Roy, querido, pode mostrar a Edward onde fica seu quarto? – Riza perguntou calmamente, em seguida sorriu e caminhou em direção à cozinha.

Roy soltou suspiro cansado e franziu a testa, começando a andar em direção as escadas. Edward se sentiu um pouco insultado com isso. Se ele era uma obrigação, então porque adotá-lo?!

Estreitou os olhos e seguiu o homem. Subindo os degraus da escada até o ponto em que um longo corredor era o único local visível.

- Vamos. – Falou Roy, andando em frente a Edward, parando em frente a uma porta de madeira escura e intimidadora.

A expressão tediosa de Edward logo se transformou em uma enfurecida quando ele pôs os pés dentro do quarto.– Por que há grades na janela?

Roy sorriu ao escutar a pergunta.– Porque pergunta?– Seu sorriso ampliou-se quando não houve uma resposta do loiro. – Não estava tentando fugir pela janela, estava?

Sem resposta.

Roy continuou sorrindo e deu de ombros. – Sei com o que estou lidando. Seria muita imprudência deixá-lo sem uma barreira.

- Desgraçado. – Disse Edward, com os olhos estreitos.

- Linguagem, Edward. – Avisou Roy, soltando um suspiro impaciente. – O banheiro fica no final do corredor e nós estamos no quarto ao lado.

Edward soltou um gemido frustrado e Roy prosseguiu: – Você parece cansado. Tente dormir um pouco, quando o jantar ficar pronto eu venho chamá-lo.

- Eu não estou cansado!– Informou Edward.

- Isso não é uma escolha. – Disse Roy, aproximando-se do pequeno. Envolvendo um braço sob os joelhos de Ed, outro atrás de suas costas e em seguida, levantando-o no ar. Ed deu um uivo de surpresa.

- Coloque-me no chão!– Edward gritou, se contorcendo. Roy ignorou e o colocou sobre a cama. Puxando um pequeno cobertor sobre o corpo do garoto, que grunhiu enfurecido e tentou se sentar, mas Roy colocou as mãos sobre seus ombros e o forçou a se deitar novamente.

- Fique aí e vá dormir. – Roy ordenou. Estendendo a mão e tirando as botas de Edward, colocando-as no chão.

- Já disse que não estou cansado!

- Sim, você está Ed. Basta fechar os olhos, relaxar e dormir. – Roy se sentou na beira da cama. – Não vou sair até que tenha feito o que mandei.

- Então você vai começar a apodrecer ai, bastardo. – Edward sibilou, cruzando os braços. – Eu já disse que não vou dormir.

Roy voltou a ignorar e se encostou sobre a parede ao lado da cama.

Em exatos vinte minutos, Edward já estava cochilando. Roy sorriu e se levantou, saindo do quarto.

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O barulho estridente do telefone retirou a atenção de Riza do pequeno livro em suas mãos. Ele se levantou e atendeu o telefone:

- Riza Hawkeye.

- Olá tenente. – Cumprimentou uma voz infantil.

- Quem está falando?

- Alphonse Elric.

- Oh sim, me desculpe estava um pouco detraída. – Disse Riza rapidamente. – Mas porque está ligando Alphonse? Está preocupado com o seu irmão?

- Sim. Não pude dizer antes porque o meu irmão ficaria chateado, mas...

- Mas?– Incentivou Riza, claramente curiosa.

- É que o Ed está doente. – A voz de Alphonse soou um pouco nervosa.

- Tem certeza? Ele pareceu perfeitamente bem hoje cedo.

- O meu irmão tenta agir como se estivesse tudo bem, mas ele não consegue manter nenhum alimento no estômago e ele chora em seu sono...

- Por quanto tempo? – Perguntou Riza, já preocupada.

- Hum ... A primeira vez que ele passou mal foi logo quando saímos da Central. No dia seguinte ele teve febre. – Sua voz agora perecia deslocada e desconfortável.

- Você quer me dizer que ele não tem comido durante 2 semanas?

- Quase ... Ele estava muito mal, mas o meu irmão dizia que logo estaria bem, até que voltou a se sentir mal. Quando fomos pra central eu pensei que ficaríamos só alguns dias, eu não sabia que ele iria morar com vocês.

- E sobre os líquidos?

- Ele consegue segurar, só não digere comida sólida. Você pode cuidar dele? Por favor?

- Claro Alphonse. Pode deixar que vamos fazer isso.

Um suspiro de alívio foi ouvido no telefone. – Obrigado tenente, eu ligo amanhã pra saber como o Ed está.

- Tudo bem Alphonse, cuide-se. – Completou ela desligando o telefone.

- Quem era? – Perguntou Roy, ao ver Riza se distanciar do telefone.

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Edward abriu um olho e depois o outro. Sua cabeça latejando de dor. Gemeu em aborrecimento. Sua cabeça já doia antes, mas agora parecia que a dor havia piorado. Suspirou em derrota e se levantou da cama.

No momento em que pôs os pés no chão um tremor percorreu seu corpo. A respiração tornou-se uma tarefa difícil e complicada. Seu estômago se contorcia, deixando-o com náuseas. Fechou os olhos e começou a tossir.

Tudo isso aconteceu em alguns instantes e, com a mesma rapidez, Edward começou a se refazer. Sempre disse a si mesmo que era só continuar a fingir que estava tudo bem, imaginando-se perfeitamente saudável.

Foi quando começou a tossir violentamente. Uma outra tosse veio e diversas seguidas após ela. Edward sentiu como se sua garganta estivesse sendo rasgada por dentro. Eventualmente se recompôs a uma posição ereta. Respirou profundamente e moveu-se em direção a porta.

Desceu as escadas fingindo que a tosse nunca aconteceu, encontrando Mustang e Hawkeye sentados no sofá.

Roy o olhou por um instante e sorriu. Edward levantou uma sobrancelha e se aproximou.

"Alphonse pode estar correto sobre Edward, embora o garoto esconde isso muito bem" Pensou Roy ao ver o garoto se aproximando.

- Eu já estava indo acordá-lo, mas parece que se adiantou. – Disse Roy, levantando-se do sofá.

- Não precisa se preocupar, não estou com fome.

- Alphonse ligou e disse que você esconde que está doente. – Roy comentou.

- Não é nada. Eu estou bem.

- Edward, me diga a verdade. – Roy rosnou.

- E daí se eu estiver?!

- Durante duas semanas?

-... Sim. Seja o que for. – Ed admitiu. – Mas você não tem nada a ver com isso, então não se importe.

-Você precisa ir para o hospital.

- Não estou doente.

Roy se aproximou, abaixando-se na altura dos olhos de Edward, que saltou quando sentiu uma mão fria de encontro a sua testa.

- O está fazendo bastado? – O contato causava calafrios em corpo. Edward agarrou a mão de Roy e a empurrou para longe.

- Você está com febre. – Roy disse sarcasticamente. Agarrou o pulso de Ed e puxou-o em direção ao sofá.

Continua.