Once In a Lifetime escrita por selinakyles


Capítulo 16
Whiskey.


Notas iniciais do capítulo

Oieeeeeeeeeeeeee galera!
Mas olha só eu aqui de novo em tempo RECORDE e com o maior capítulo já postado em OILT. Caramba!
Não está revisado, já sabem.

Divirtam-seeeee!



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Chapter sixteen –


Seis anos atrás –


Bellamy encarava o chão como se fosse a coisa mais interessante que havia visto em toda a sua vida, evitando levantar a cabeça e acabar cruzando seu olhar culpado com o do homem a sua frente. Ele podia sentir os olhos azuis sempre tão límpidos e tolerantes de Jake Griffin pesarem sobre si como uma bigorna em suas costas.

Ele estava ferrado. Muito ferrado, para ser mais exato.

Quando Echo Omaha apareceu em sua vida alguns meses atrás, ela reluzia aventura. Trazia para si a adrenalina que ele estava precisando, a única coisa que o fazia seu peito parar de doer como se fosse se dilacerar a qualquer momento.

Não existiam preocupações ao lado dela. Não existia um mundo onde sua mãe havia lhe deixado com uma garota de dezesseis anos para cuidar sozinho. Não havia dor ou solidão. Ele era simplesmente Bellamy Blake, um cara de vinte anos que não deveria sentir o peso da responsabilidade tão cedo.

E bem, quando Echo disse que invadir uma propriedade privada no meio da madrugada seria algo divertido, uma lembrança memorável para contar aos seus netos, ele não imaginava que seria tão inesquecível quanto sair daquele recinto com algemas em suas mãos e com dois policiais nada amigáveis ao seu lado.

Ela, sempre tão esperta e fugaz, escapou. Ele? Não teve essa sorte.

“Sabe Bellamy, eu fui o primeiro a saber sobre você.” Jake sorria singelo, os cotovelos apoiados na madeira maciça de sua mesa, o dorso de suas mãos segurando o queixo. “Aurora estava atordoada quando me encontrou aquela noite, eu nunca tinha visto um olhar tão aterrorizado naquele rosto. Eu posso me lembrar como se fosse hoje.”

Bellamy o encarou por alguns instantes, compenetrado no que o homem a sua frente tinha a dizer.

“Minha melhor amiga desde que eu me conhecia por gente, de apenas dezesseis anos, estava grávida. Carregando dentro de si um pequeno ser, uma vida.” O semblante do mais velho se tornou disperso, quase como se estivesse viajando em suas próprias memórias. “Eu conheci seus avós. Os tão imponentes Blakes, nunca levavam desaforo para casa. Você até mesmo me lembra bastante seu avô, homem digno e de um temperamento tempestuoso. Pode imaginar o que viria a seguir, não é?”

Jake o fitou intensamente, o sorriso gentil morrendo em seus lábios.


“Os Blakes sempre foram sinônimo de família. Sempre tão unidos, exemplos para todos em Arkville. Mesmo não tendo patrimônio, não sendo uma família rica e de grande fortuna, eles sempre tiveram nome. E Aurora o sujou no instante em que lhe concebeu.” O suspiro saiu ruidoso, decepcionado. Ele poderia reviver aqueles momentos novamente como se estivessem acontecendo ali, no agora. “Depois daquilo eu, que os admirava tanto por seu conceito sempre tão forte de família, passei a ter outra concepção sobre família. Não é necessário um laço sanguíneo para se importar, para amar com todo o coração. E acredite Bellamy, eu amava Aurora com toda minha alma.”

O moreno sentiu os olhos arderem, o nó se apertando em sua garganta ainda mais cada vez que Jake Griffin falava o nome de sua mãe.

“Ela era minha irmã. Não de sangue, mas de alma. Eu a amava cegamente. E justamente por amá-la que eu prometi que nunca entraria no meio de suas decisões. Ela me fez prometer que nunca tocaria no nome de seu pai para você, me fez prometer cuidar de você e de sua irmã quando ela não mais fosse capaz, me fez prometer que eu os amaria como amo Clarke, como meus próprios filhos.” Jake limpou suas próprias lágrimas com o dorso de sua mão, não se sentindo tão fraco como imaginaria que seria ao chorar na frente de alguém.

Entretanto, era Bellamy ali. O mesmo garotinho que ele havia visto nascer e crescer. Que compartilhava com ele a dor de perder um pedacinho de si com a morte de Aurora, que sempre foi como o filho que ele não teve.

“E eu te amo, Bellamy. Eu amo Octavia e vejo o semblante de Aurora nos dois todos os dias. Não tem nada nesse mundo que eu não faria por vocês. E é justamente por isso que eu tenho o dever de te perguntar...”

Bellamy limpava o rastro de suas lágrimas com a barra de sua camiseta, desejando com todo o seu coração que um dia, quando falasse de sua mãe, seu coração não doesse tanto a ponto de fazê-lo perder todas suas forças.

No final do dia, ele precisava ser forte. E isso era a única coisa que ele não estava sendo nos últimos meses.

“Quais são suas prioridades?” Jake questionou seriamente, as íris azuis não refletiam qualquer rastro de raiva ou mágoa, apenas uma serenidade que Bellamy sentia inveja. “Acredito que ser preso por um desatino e perder a tutela do bem mais precioso que sua mãe lhe deixou não deveria estar entre elas. Acredito no seu potencial, Bellamy. Eu conheço cada traço da sua personalidade, eu te conhecia antes mesmo de você ter seu primeiro sopro de vida. É como se fosse meu filho, e por mais que Aurora não esteja mais aqui, enquanto eu viver você e Octavia não estarão sozinhos.”

O Blake segurou o soluço em sua garganta o máximo que pode, levantando as lagoas escuras – agora ainda mais avermelhadas pelo choro – cheias de arrependimento para o homem que mais admirou em toda a sua vida.

Ele conhecia perfeitamente a realidade de crescer sem um pai. Por toda a sua vida, sua mãe fez os dois papéis. E os fez muito melhor do que qualquer pai faria.

Bellamy nunca esqueceria o dia em que a assistiu chorar uma noite inteira por ele não ter uma figura paterna para acompanha-lo em seu primeiro festival de Dia dos Pais na pré-escola. Ele também jamais esqueceria que nesse mesmo evento onde ele havia feito um presente a mãos para o pai que ele nunca teria, Jake esteve presente.

Era por isso que quando Jake Griffin o olhava daquela forma, tão sereno e tão prudente, ele sentia a culpa por decepcionar o único que se importou o suficiente para tentar preencher as lacunas que havia em sua vida. Ele devia grande parte do que era para aquele homem, e não havia gratidão no mundo que expressasse o que ele sentia.

“Me sinto tão perdido.” Ele balbuciou, muito preso em seu próprio remorso para se importar se os ouvidos do mais velho haviam capitado suas palavras. “Eu não quero perdê-la, Jake. Ela é tudo o que eu tenho.”

Duas batidas sucintas na porta desviou a atenção de Jake, que murmurou algo em resposta para logo depois Marcus Kane adentrar seu escritório com um semblante nada agradável. 

Bellamy havia feito uma nota mental de agradecê-lo depois por tê-lo livrado da cadeia. Só não imaginava como se aproximaria de um homem com uma presença tão intimidadora sem que fizesse papel de idiota.

Os olhos escuros de Kane pairaram sobre ele sem reação alguma, olhando-o como se estivesse vendo através dele. Bellamy certamente era invisível diante de um advogado tão renomado e cheio de porte.

“Então já sabe o que fazer.” Jake sorriu gentilmente, as marcas de expressão no canto de seus olhos se destacando.

Bellamy se levantou, assentindo em reverência para a figura imponente de Marcus Kane.

E ao passar por aquela porta, apenas uma certeza brilhava em sua mente como um holofote: Octavia era o que tinha de mais precioso em sua vida, e não havia nada que o faria perde-la.

Nem mesmo a mais instigante das mulheres.


Dias atuais –


“Olá, você ligou para o extraordinário Kyle Wick. Sim, esplêndido. Encantador. Belo. Mas se está me ligando, é porque já sabe tudo isso. Então me deixe uma mensagem e eu retornarei assim que puder...”

“Hey! Acho que te disse para mudar esse recado da secretária eletrônica. É tão ridículo quanto o seu ego.” Raven bebericou mais um gole de sua garrafa de Moonlight, sentindo o gosto amargo do morango se misturar com o salgado de suas lágrimas. “Eu precisei ligar pra te dizer o quanto você é estúpido. Um idiota de marca maior, isso mesmo. Pretencioso. Chave inglesa? Seus designs são uma droga e... e...”

Quando a telefonista diz em sua voz mecanizada que o tempo de mensagem havia acabado, Raven desliga a ligação, escorando na porta do que ela reconheceu ser o quartinho de limpeza e deslizando até que seu vestido de Lilo se encontrasse com o chão gelado.

A frustração estava corroendo cada pedaço de seu ser. Ela nunca imaginou que – ela, Raven Reyes, tão conhecida por lidar sempre com suas coisas sozinha – poderia se apaixonar daquela forma por alguém. E bem, conhecendo seu histórico amoroso, aquilo já estava destinado a um fim antes mesmo de começar.

E foi por isso que naquela noite, a mesma em que Kyle a mostrou que havia voltado a sentir demais, ela terminou tudo.

Ela terminou e nisso se foi mais um pouco de sua sanidade. Ela poderia jurar que enlouqueceria a qualquer momento se não visse novamente os olhos cor de mel de Wick olhá-la do jeito que só ele fazia.

Aquele olhar estava preso em sua mente como um lembrete de que ela não o tiraria mais de seu sistema, não importava quantas noites ela passasse em claro tentando. Kyle Wick havia penetrado todas suas defesas e Raven Reyes nunca havia se sentido tão vulnerável por um cara.

Nem mesmo Finn Collins.

Ela virou a garrafa em seus lábios, a língua muito dormente para sentir o gosto do amargo, avaliando com sua visão turva o conteúdo que restava de sua bebida. Jasper e Monty haviam feito um trabalho incrível com aquilo, ela nunca havia se sentido tão bêbada em seus vinte e três anos de vida.

Era indolor. Tudo estava dormente. Menos seu coração, esse doía como se estivesse prestes a ser arrancado de seu peito.

Ela pegou o telefone em mãos novamente, repetindo todo o trajeto que havia feito nas últimas duas horas que esteve naquela boate.

Olá, você ligou para o extraordinário Kyle Wick...”

 

“Wick, eu espero que você saiba que a ressaca de amanhã é por sua conta. Eu jurei que não iria ligar, afinal, foi você o maldito idiota que me encurralou. Por que você me encurralou mesmo? Ah sim, porque é um carente idiota que precisa rotular tudo e qualquer coisa. Por quê, Wick? Por que não ficamos do jeito que estávamos? Por que você tem que ser tão estúpido? Eu te odeio tanto. Te odeio tanto! Eu mal... mal... consigo dizer o quanto isso tá doendo. Tá doendo e é sua culpa! Poderia dizer que sinto muito, Kyle, mas chegou a hora de eu pagar um lapdance maravilhoso de um cara que dá dois de você. Me ouviu? Dois de voc-.”

Os soluços vinham impiedosos. Era como se seu peito fosse atingido por um taco de baseball, doía daquela forma. E quando sua mente – tão traidora quanto seu coração, ela deveria salientar – trouxe a tona todos os sorrisos ao acordar de manhã, os toques gentis e os beijos suaves e extasiantes, as poucas palavras em meio as atitudes demasiadas, ela jurou que enlouqueceria.

Raven Reyes estava ficando louca e a culpa era de um maldito engenheiro que não sabia distinguir algo casual de relacionamentos.

Ela jamais admitiria que aqueles últimos meses foram os mais felizes de sua vida. Jamais permitiria que seu orgulho cedesse a um sentimento que só a destruiria. Já estava cansada de sentir demais e depois ter que recolher os resquícios de seu coração sozinha. Ela já perdeu tempo demais lambendo as feridas que aquele sentimento lhe trazia.

Entretanto, não era isso o que estava fazendo? Permitindo que seu orgulho cedesse tanto a ponto de ligar incontáveis vezes para que ele soubesse o quão miserável ela vinha se sentindo nos últimos dias?

Aquilo que eles tinham já não era mais sexo casual há um bom tempo. Wick só foi mais esperto em falar aquilo primeiro, tirar do subintendido para tornar mais real, mais concreto. Talvez ele tivesse razão. Talvez ele merecesse mais do que alguém que sequer consegue admitir os próprios sentimentos para si mesma.

Alguém que é incapaz de se permitir por medo do sofrimento que tudo aquilo lhe causaria quando ele lhe deixasse. Sempre foi assim, eles sempre a deixavam – ou em um caso especial, a traiam.

“Olá, você ligou para o extraordinário Kyle Wick...”

“Provavelmente eu estou bêbada demais pra te dizer o que eu realmente queria dizer. Mas vou deixar aqui uma pequena vitória pra você, idiota. Você tinha razão. Você merece alguém que seja capaz de te corresponder, de compreender seu valor. Não alguém que apenas te usa pra sanar o próprio vazio, não alguém que corre de relacionamentos como o diabo corre da cruz, eu entendo agora Wick-idiota. Ou não entendo, mas a bebida está fazendo maravilhas para meus neurônios. De qualquer forma, seja feliz, ok? Ache alguém nesse mundo que não seja tão cheia de extremos e problemas como eu. Seja feliz Kyle, porque eu vou ser muito feliz agora, eu e minha garrafa de Moonlight.”

A porta do quartinho se abriu de repente, fazendo com que Raven e sua falta de reflexos caíssem de costas. Ela pode jurar por um momento que ao fechar os olhos, conseguia ver toda a constelação vívida por trás de suas pálpebras.

“Oh meu Deus, Raven! Você está bem? Eu te procurei por todos os cantos.” A voz de Clarke nunca pareceu tão estridente como naquele instante. Ela levou uma das mãos até a cabeça, abrindo apenas um de seus olhos.

“Bem... Surpresa!” A morena sorriu amarelo, se sentando novamente. “Whiskey, Clarke. Preciso de whiskey.”

Ela tentou se levantar, sendo aparada pelos braços da loira ao quase cair novamente. Os olhos escuros vacilaram em um pedido sem graça de desculpas, a visão turva não permitia que ela avaliasse melhor o semblante da Griffin.

Mas ela sabia, podia sentir que Clarke estava apreensiva.

“O que foi, anjinha? Se perdeu do seu diabinho?” O sorriso repleto de malícia criou vida no rosto da Reyes, fazendo com que Clarke revirasse os olhos. Oh, sério?

“Octavia está atrás de você como uma louca. O que deu em você?”

“A esperança é uma droga alucinógena, Clarke.” Raven a olhou por alguns instantes, fixando o olhar em um ponto qualquer logo depois. “Eu ainda sinto o calor, o ardor, a sensação de estar leve e voando alto, o frio na barriga, o anseio por mais toda vez que eu... que eu o beijava.”

Clarke franziu o cenho, se perguntando mentalmente se aquela garrafa de Moonlight na mão de Raven havia sido a única que ela ingeriu. Nada do que saia de sua boca fazia sentido, entretanto, aquele comportamento era bastante característico de um belo coração partido.

Os pedaços se juntaram em sua cabeça trazendo a resposta evidente para todas as suas dúvidas sobre o comportamento estranho de sua melhor amiga nos últimos dois meses.

Os olhos inchados, os choros frequentes, a perceptível queda na autoestima, os momentos depressivos e principalmente, os segredos.

Raven Reyes estava perdidamente apaixonada, e seu grande coração estava partido.

“Whiskey. Ele tinha gosto de whiskey.”

***


Octavia permanecia em cima do palco principal sentada em sua poltrona real, a falsa coroa decorada com pompons rosa pink em sua cabeça quase caindo conforme ela levantava sua boca o suficiente para que mais um gole de tequila caísse direto da garrafa por um de seus servos.

Por muitas vezes ela havia se sentido tão bela e magnífica como uma deusa, mas aquilo? Aquilo era outro nível. Aquele era seu momento de glória. Naquela noite ela era uma deusa e seus strippers – muito bem pagos por sinal – eram seus mucamos. Que belo dia para se estar viva!

Deusa Octavia. Soava tão bem em sua mente já extremamente embriagada.

“Roan.” Ela chamou, melindrosa. Os olhos azul-esverdeados piscavam freneticamente, quase encantadores se ela não estivesse tão alcoolizada. “É hora de mais um show, não acha?”

Ela buscou pela silhueta de suas amigas ao vagar o olhar pela pista de dança como uma águia procurando sua presa. Lexa permanecia muito inerte em seu próprio mundo, escorada no balcão do bar, para compreender melhor o sentido de diversão.

Bem, não era novidade que os Omaha não eram exatamente festeiros. Talvez por isso ela não tenha se sentido tão decepcionada como se sentia por não ter Clarke e Raven do seu lado.

“E dessa vez, minha amiga Raven Reyes será a felizarda.” O sorriso da Blake se abriu ao avistar o vestido vermelho florido de Raven e as asas de glitter reluzentes de Clarke. “Rav, Roan está aqui só esperando por você. Hora do show.”

Octavia se levantou de seu trono rapidamente, puxando o braço de Raven para que ela se sentasse em seu lugar, fazendo a morena perder o equilíbrio ao sentar-se no acolchoado macio. Os olhos escuros levemente arregalados olharam para Octavia e Clarke, se direcionando então para o bonitão seminu a sua frente.

A bebida havia tirado todo e qualquer resquício de seu corpo, fazendo-a morder o lábio inferior quando a voz de 50 Cent invadiu seus ouvidos e Candy Shop soou por toda a boate. Considerando que o último cara que havia invadido seu espaço pessoal havia sido Wick-o-idiota, seus hormônios ardiam por debaixo de sua epiderme.

Roan tinha uma cicatriz rústica se destacando em seu rosto másculo assim como a barba por fazer, os fios longos de seu cabelo penteados para trás, e as costas largas trazia de volta a Raven o motivo por qual o havia selecionado entre muitos especialmente para aquela noite.

Seu bom gosto era evidente. E Octavia parecia concordar, o sorriso em seu rosto conforme ela, Clarke e Lexa dançavam entre as outras pessoas era encantador. O corpo curvilíneo ainda mais valorizado por sua fantasia de Pontahontas se remexia conforme a batida, e Raven pode notar, mesmo que distante, que havia cumprido sua meta.

Ela estava aproveitando cada segundo de suas últimas horas como uma mulher solteira.

Raven deixou que todos os pensamentos, todas as lembranças que giravam por sua cabeça como um maldito furacão se esvaíssem. O álcool ainda passeava por suas veias, o gosto da bebida ainda estava impregnado em sua língua, nada mais importava.

Não havia lugar que ela preferiria estar. Um cara maravilhoso dançando em sua frente, tão forte e sedutor como um felino, encarando-a com uma intensidade intimidadora. Seu ritmo era de dar inveja ao elenco inteiro de Magic Mike.

E bem, se Wick conseguia ficar bem sem ela, ela também ficaria bem sem ele.

Nada como um dia após o outro – e uma bela festa de despedida de solteiro.


***


Quando Bellamy adentrou o Grounders acompanhado de Lincoln e toda a sua turma, sua cabeça ainda girava sob o efeito da grande quantidade de whiskey que havia ingerido naquela noite. Com os lábios serrados, ele procurava pela cabeleira negra de sua irmã, parando sua atenção sobre Raven Reyes fazendo um grande espetáculo em cima do palco principal.

Ele sorriu sinceramente, não deixando de se sentir feliz por ela. Pelo menos alguém estava aproveitando devidamente o que aquela maldita viagem estava proporcionando, porque para ele, era apenas uma massiva e entediante dor de cabeça.

As íris escuras avistavam Octavia ao lado de Monroe e Fox, rebolando como se sua vida dependesse daquilo, claramente muito além de seu juízo para notar a chegada de seu noivo. Bem, pelo menos até ele aparecer em sua frente arrancando o mais belo dos sorrisos.

Bellamy não se incomodava mais. Não como antes. Ele já não se importava se não era mais o dono dos sorrisos de sua irmã, contanto que ela continuasse sorrindo. Enquanto sua irmãzinha estivesse feliz, ele estaria plenamente satisfeito e em paz. Foi o que prometeu a sua mãe em seus últimos suspiros, e nada o fazia mais realizado do que cumprir uma promessa.

Ele poderia conviver com isso.

Seus olhos vagaram pelo clube, reconhecendo Echo escorada na bancada do bar. Os lábios sempre tão cheios e destacados por seu característico batom vermelho bebericavam seu copo de Bloody Mary. Vermelho caía bem nela, isso era inegável.

Tanta beleza não era capaz de compensar sua falta de conteúdo. Depois de anos, ele conseguia enxergar o vazio nítido em seus olhos castanhos. Sempre tão fria e calculista. Tão bela e feroz.

“Grande noite, uh?” Disse ele ao se escorar do seu lado, pedindo para o garçom mais uma dose de seu whiskey predileto.

“Poderia ser pior.” Ela mantinha sua atenção na pista de dança, quase como se estivesse escolhendo atenciosamente sua próxima vítima. “Onde está sua princesa? Não precisa do cavalheiro dela nas horas vagas ou apenas se cansou de brincar com você?”

Bellamy sorriu cantineiro, soltando um riso sem emoção alguma ao bebericar sua bebida e sentir o amargo queimar sua garganta.

“Senti uma pitada de ressentimento.”

“Da princesa? Oh não, conto de fadas não fazem muito meu tipo. Eu gosto mais das histórias de terror, sabe como é.” Foi a vez da morena esconder o sorriso sarcástico, só então direcionando sua atenção para o homem ao seu lado.

Oh, ele era belo. A simetria de seu rosto, a cicatriz em seu lábio superior, a covinha em seu queixo e a marca de expressão que aparecia sempre que ele sorria. O tempo havia feito tão bem a ele quanto havia feito a ela. Seu charme era algo inquestionável, e por frações de segundo, sempre a fazia ponderar se toma-lo para ela não seria uma boa ideia.

Mas Echo sabia melhor. Por mais que tirar doce de criança fosse algo que inflasse seu ego e a fizesse degustar de uma satisfação incalculável, ela não era estúpida o suficiente para se envolver com Bellamy Blake novamente.

Aquele coração nunca seria seu. Ele sequer era de Bellamy já fazia um bom tempo.

Princesa idiota.

“Você merece coisa melhor.” Ela arriscou, destemida.

“Tipo você?” O Blake riu nasalado. “Não, muito obrigado.”

Ela o olhou cética, semicerrando os ferozes olhos castanhos tão destacados por seu delineador.

“Se te consola, eu já não te vejo dessa forma há algum tempo.” Ela riu sem humor algum. “Eu falo sobre Clarke Griffin. Você claramente não largou o osso ainda. Ouça de alguém que assiste essa novela há anos, largue o osso e vá viver sua vida.”

Bellamy manteve seus olhos nos dela por o que poderia parecer uma vida, procurando resquícios de sinceridade ou qualquer outro tipo de sentimento, e seus lábios se entreabriram levemente ao perceber que havia encontrado.

Echo Omaha, sempre tão fria e sem coração, se importava com ele. Mesmo que um pouco, quase nada.

E algo, no ínfimo de seu ser, dizia que aquelas palavras faziam mais sentido do que deveriam no final das contas.

Já estava claro que aquilo estava muito além de uma promessa que havia feito para Jake Griffin. Estava até mesmo muito mais além do que ele gostaria que estivesse. Entretanto, como se para um sentimento que devora, que consome? Ele dedicava dia após o outro tentando descobrir, falhando brutalmente ao se imaginar sem Clarke Griffin na sua vida.

Ele sabia. Tinha plena noção de que continuar daquele jeito seria jogar sua vida e seu amor próprio na lama para pisoteá-los depois. Era desgastante, e talvez por isso ele estava começando a enxergar onde a linha do limite começava.

Estava mais perto dela do que imaginava.

“O que aconteceu com a fantasia? Não compactuaram com essa ideia estúpida?” Ela questionou, o olhar vacilando pela pista de dança quando um remix de Runway, do Galantis começou a tocar. “Parece que o show da Reyes acabou para dar lugar para um bem melhor.”

A noite que ele, Nyko e Jasper haviam planejado para a despedida de solteiro havia sido bastante diferente das ideias mirabolantes de Raven. Não havia muito segredo em algumas rodadas de poker na espelunca mais mal frequentada de Arkville, e claro, algumas notinhas gastas com uma variedade quase impressionante de strippers.

Não tinha fantasias. Não tinha uma poltrona e uma coroa como Octavia.

Mas ele tinha que admitir, ver Raven Reyes vestida de Lilo e Stitch era algo para se levar por toda uma vida.

Bellamy umedeceu os lábios pronto para respondê-la, sentindo as palavras morrerem em sua garganta quando seu olhar se fixou na mesma direção que o da mulher ao seu lado. O ar havia se estancado em seus pulmões, e o que parecia ser uma eternidade se passou em apenas algumas frações de segundos.

Clarke estava lá, vestida em sua fantasia de anjo, beijando o que ele jurava ser Lexa Omaha em seu traje de demônio.

O maxilar se retesou e seu estômago revirou em sua barriga, sua garganta ardia como se tivesse acabado de ingerir a mais barata das cachaças. Seus olhos... Bem, esses não acreditavam no que viam.

Logo o hálito quente de Echo estava em seu ouvido, seu corpo se arrepiando em resposta.

“Está na hora de acordar, docinho. Caras como você merecem mais que isso.”

E antes que ele pudesse sair de seu transe momentâneo, ela já havia ido. Deixando para trás a semente da dúvida que se alastrava não só por toda sua mente, mas também por seu coração.

Não existia mais talvez. Ela não deixaria de viver a vida dela, assim como ela nunca o corresponderia. Então, por que ele parecia estagnado esperando que a qualquer momento ela corresse para seus braços dizendo que o amava?

Aquilo não era um maldito conto de fadas.

Ou talvez fosse, mas naquela história ele estava bem longe de ser o príncipe.


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Notas finais do capítulo

GENTEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!
Não, sério, eu to eufórica. Sério mesmo, sem brincadeira. Vocês não tem noção de quanto tempo eu demorei pra escrever esse capítulo. Sim, uma tarde INTEIRINHA. Simplesmente não conseguia parar de digitar, e digitar, e digitar. Estou MUITO MUITO MUITO apreensiva com ele, porque é a partir desse que as coisas começam a ficar mais... instigantes. Nossa, como eu esperei por esse momento. Ainda estou em chamas querendo escrever mais!!!
Mas bom, vamos ao capítulo: revelei MUITAS coisas pra vocês nele. O motivo da Raven estar depressiva, claro que pode vir a aparecer mais (do passado, do presente, quem sabe?) mas o principal é esse. Eu sou uma amante fervorosa de Ravick, então já esperem muitos tombos porque SIM. O passado do Bell e a relação dele com Jake, até mesmo sobre Aurora. Muita coisa pra desatar os nószinhos que estão na cabeça de vocês. Ainda tem muito mais nós pra desatar, vamos com calma, um passo de cada vez ein!
Bom, agradar mais vocês do que três atualizações seguidas é quase impossível né? Que tal vocês me agradarem também e deixarem comentários bem lindos do que acharam do capítulo? Estou tão apreensiva e ansiosa pra ver a resposta de vocês. Não me deixem na mão, tá? Eu adoro respondê-los, vocês sabem. Amor aqui não falta, mwahaaha!

A música que tá tocando quando Bell chega é essa: https://www.youtube.com/watch?v=busEaDjHLH0

Então é isso, meus padawans lindos! Me digam o que acham, o que está passando pela cabeça de vocês, suas teorias, suas dúvidas e eu vou AMAR respondê-los com muito muito muito carinho nos comentários.

Beijinhos xx