Unkiss Me escrita por Carol Munaro
Mal cheguei em casa e já ouvi gritos de comemoração vindos da sala.
— Que bom que chegou. Sua mãe e eu queremos saber se estará em casa no Ano Novo. - Meu pai disse. Coloquei minha mochila no chão, do meu lado, e sentei do lado dele, no braço do sofá, já que não tinha lugar.
— Acho que sim. Não sei se vou estar escalada pra trabalhar na virada. Mas… Por quê? Estão planejando ir pra algum lugar?
— Seu tio vai voltar mais cedo da Europa. Sua avó quer que todo mundo vá pra lá. Você pode levar seu namorado.
— Ele já tem planos. E… Eu tenho que ver se vou trabalhar. - Meu pai me deu um beijo na testa e me deu lugar no sofá, indo sei lá pra onde. Olhei pra frente. Isaac tava jogando contra meu irmão. Ou juntos. Não sei. Não entendo esses negócios. - Quem tá ganhando? - Eles dois e o Nicholas riram de mim.
— Ninguém ganha nesse jogo, Laura. Ou todo mundo ganha ou todo mundo morre. - O último me respondeu ainda rindo da minha cara.
— Que pacifistas. - Levantei. - Eu vou tomar banho.
— Depois vai tentar jogar com a gente? - Colin perguntou.
— Quando eu voltar coloca um que dá pra jogar contra o outro. Vou acabar com vocês. - Eles riram de novo.
— Vai sonhando. - Isaac respondeu.
— Veremos. - Respondi também e fui pro meu quarto.
(…)
— Vai querer pizza de que? - Minha mãe perguntou pra mim.
— Tanto faz. - Eu tinha acabado de sair do banho. - Eles ainda estão jogando?
— Deram uma pausa pra decidir os sabores. - Ela sorriu. - Nicholas e Colin pareciam duas crianças com o presente que você deu pro Isaac.
— Pra mim é tão sem graça. Mas gosto é gosto.
— E seu amigo tá aí.
— Que amigo? - O até então amigo, como era chamado pela minha família, era o Isaac.
— O Steves.
— Acabou de me ver e já tá com saudades. Ok... - Terminei de me trocar. Do corredor eu já ouvia os barulhos do jogo. Quando cheguei na sala, até meu pai estava jogando! Fiquei chocada em Cristo!
— Oi. - Steves falou.
— Olá. Resolveu aparecer de novo. - Ele estava sentado no sofá. Me assustei um pouco com os outros quatro brigando pelo controle. - Pensei que você estaria no meio.
— Depois eu vou estar. Vim falar com você.
— Você tá sério. Aconteceu alguma coisa no departamento depois que eu saí?
— Mais ou menos. Não com você. - Sentei do lado dele. Meu coração até começou a palpitar pensando na merda que teria acontecido. - Foi só comigo.
— Mas o que aconteceu?
— Lembra que eu tava saindo com uma menina? - Arqueei uma sobrancelha.
— Hm... Não.
— Como não?
— Tá. Isso não é importante. Continua.
— É importante sim! Você não presta atenção no que eu falo e...
— Você tá parecendo minha mãe! - Interrompi e ele fez careta.
— Enfim, ela foi me procurar hoje lá no departamento depois que você foi embora. Ela não demorou muito lá.
— Você veio até aqui pra me contar que vocês estão sérios? Que bonitinho!
— Quem me dera! Ela foi me contar que tá grávida. - Olhei brava pra ele.
— Amigo, eu não sei se você sabe, mas tem algo chamado camisinha. Mas... Você não é mais um adolescente então parabéns! Até que vai ser bonitinho te ver como pai.
— Tá brincando comigo?! Vai ser o demônio! Mas essa não é a pior parte. - Difícil de acreditar... - Ela resolveu me contar que tá noiva.
— Então como você sabe que a criança é sua?
— Ela não sabe.
— Tem meios de descobrir sem o neném ter nascido ainda.
— A gente pensou nisso. E se for meu?
— Ué... Você vai ajudar a cuidar da criança, oras. Uma semana na casa de cada ou o fim de semana, sei lá. Vocês vão se dividir nisso.
— Ela é quase casada!
— Isso aí já é problema dela, acha não? Você nem sabia que ela era comprometida.
— Ah, claro... Explica isso pro cara!
— Ele é burro, então. Mas não sofra antes da hora. Por enquanto você não tem compromisso nenhum com ela. Quando vocês vão fazer o exame de DNA?
— No primeiro dia útil depois do ano novo. Eu não sei nem como funciona isso.
— Você sempre trabalhou na narcóticos, né? - Steves respondeu que sim. - Quando eu trabalha na divisão de homicídios, tive que trocar com um cara uns dois meses e fiquei na de vítimas especiais.
— Como você conseguiu?
— Até hoje não faço ideia. Mas a gente aprende várias coisas. É bem diferente de qualquer outro departamento. Enfim, uma mulher teve que fazer esse exame pra provar quem era o cara. É um pouco estranho.
— O feto corre riscos?
— Mínimos. Quase nada.
— Meu ano já vai começar maravilhoso! - Ele bufou cruzando os braços.
— Vai ver o filho nem é seu, Steves. Não sofra por antecipação.
— Fácil falar. - Ficamos alguns segundos em silêncio. - Sempre achei que você seria a primeira. - Olhei séria pra ele. - Não me leve a mal, Laurinha. Soube que você parece cachorro no cio.
— Ah, muito obrigada. - Falei irônica. Ouvi um "merda!" e olhei assustada pra TV. Pelo o que eu entendi, um deles perdeu rápido.
— E também agora você namora.
— Ah já soube da novidade...
— Que novidade?
— Que eu e o Isaac oficializamos.
— Só agora?! Eu já achava que vocês eram namorados há muito tempo. - Olhei pro Isaac. Acho que era ele que tinha perdido, porque estava com um bico do tamanho do mundo. Quando reparou que eu olhava pra lá, veio até mim e sentou no meu colo. Abracei ele pela cintura. - Ah! Tem outra novidade também.
— Qual era a primeira? - Isaac perguntou.
— Talvez ele seja pai. A mulher é noiva, então eles não fazem ideia de quem seja o pai. - Respondi.
— Vamos a outra novidade. - Steves cortou o assunto. - Vocês já souberam que o julgamento da Carly tá marcado pra primeira semana de janeiro?
— Por isso chegou uma carta do tribunal aqui em casa. Mas eu nem abri. Sabia que não era nada pra essa semana. - Comentei.
— Você vai testemunhar, então? - Isaac perguntou pra mim.
— Sim. Provavelmente você também. Depois vê se a carta não foi pra república. Sabe qual vai ser a defesa dela? - Perguntei pro Steves. Ele e o chefe que conversavam com o promotor sobre o caso.
— O promotor acha que eles vão alegar doença mental. O que sabemos que é impossível de algum juiz aceitar isso. Ela nem parece louca!
— De qualquer jeito ela vai acabar pegando mais de 30 anos pelos dois meninos que morreram. - Disse e ele concordou comigo.
— Eu não entendo nada disso. - Isaac comentou. - Não vai jogar? - Perguntou pra mim.
— Deixo vocês se divertirem hoje. Eu to cansada. Quem sabe outro dia...
— E você? - Perguntou pro Steves.
— Eu contra você? - Isaac deu de ombros. E aí eu fiquei sozinha, já que o restante deles ficaram de plateia. Preferi ir pra cozinha ver se tinha alguma coisa pra comer.
(...)
Eu já estava quase dormindo quando ouvi a porta sendo aberta. Abri os olhos e quase fui cegada pela luz que vinha do corredor.
— Desculpe se te acordei. - Nicholas disse. - Eu esqueci algumas coisas minhas aqui.
— Tipo a sua cueca.
— Não foi proposital.
— Eu sei. Você sempre deixou suas coisas jogadas. - Fiquei esperando ele sair do quarto. Olhei no relógio. 01h13.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Pergunta.
— Há quantos tempos vocês estão juntos? - Parei pra pensar.
— Logo depois de eu entrar na faculdade.
— Então naquele dia no Ação de Graças vocês já estavam juntos?
— Hm...
— Óbvio que eu não vou contar pra ele. Só queria saber.
— Não era nada sério. De nenhum dos dois lados. Mas acho que é bom que ele não saiba mesmo. Quer dizer, ele sabe que a gente já ficou. - Nicholas olhou pra mim com as sobrancelhas arqueadas. - Isaac não surtou.
— Graça a Deus! Vou te deixar dormir. Boa noite, Laurinha.
— Boa noite. - Perdi as esperanças de dormir quando meu celular começou a tocar. Se fosse qualquer outra pessoa eu desligaria e dormiria, mas era o Isaac. - Você tem ideia de que horas são?
— Eu esqueci! Desculpe, Laura. Eu esqueci que você trabalha amanhã.
— Mas pode falar. Aqui estamos nós, não é mesmo?
— Eu só ia te dar boa noite.
— Muito fofo da sua parte. Eu te mandei uma mensagem.
— Jura? Não vi... - As vezes Isaac falava algumas coisas que davam a impressão de serem irônicas, e eu tinha vontade de dar patada nele, mas eu ficava com dó do coitadinho porque sabia que essa não era a intenção dele.
— Bom, obrigada por ligar. Achei que dormiria aqui.
— Você vai trabalhar amanhã. É estranho. E eu não quero acordar cedo no recesso.
— Certo... Vai vim aqui de novo?
— Minha mãe quer que eu saia com ela. Não sei se vou conseguir te ver. - Fiz biquinho. - E temos que ver onde vamos passar o Ano Novo.
— Você não ia na Times com o pessoal da faculdade?
— Mas eu não sei se você vai querer ir. E você é minha prioridade. - Eu ficava toda boba quando ele falava assim. - Nosso primeiro Ano Novo juntos tem que ser especial. Seria mais legal uma viagem, mas nenhum de nós tem dinheiro. E eu não quero chegar na minha vó e falar "vó, me dá grana pra viajar com a minha namorada?" É constrangedor! - Ri baixo.
— A gente pode ir no Central Park.
— É uma boa ideia. A gente pensa nisso depois. Vou te deixar dormir.
— Pode continuar falando.
— Já tá tarde. Você acorda cedo.
— Eu gosto de falar com você.
— Eu também gosto. - Ficamos em silêncio por um tempo. Mas não um silêncio constrangedor. Um reconfortante.
— Eu te amo. - Falei quase dormindo. - Acho que agora eu vou dormir mesmo.
— Eu também te amo. Amanhã a gente se fala mais. Dorme bem.
— Você também. Tenha bons sonhos. Ou seja, sonha comigo.
— Sempre. Quero só ver como vai ser o dessa noite.
— O que? Você quer dizer sonhos eróticos?
— Você tinha que dormir.
— Mas agora ficou interessante. Isso é sério?
— Hm... Uma vez. - Dei risada.
— Você é mais pervertido do que eu pensei.
— Vai dizer que você nunca?
— Não. - Falei rindo. - Meu Deus... Essa juventude de hoje em dia... - Eu ainda ria.
— Como você é sem graça. - Eu comecei a rir mais ainda. Imaginava ele com as bochechas vermelhas e emburradinho.
— Tá bom, pervertido. Eu vou dormir. Amanhã acordo cedo enquanto você acorda meio dia.
— Pelo menos alguma coisa boa.
— Mas é sério. Dorme bem. Amanhã a gente se fala.
— Ok. Dorme bem também. Eu te amo. - Ele disse que novo.
— Eu também te amo. - Desligamos a ligação e eu finalmente dormi.
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