– Nessa aula, vocês irão aprender á manipular o próprio inferno de vocês.

Estávamos todas nós vinte na sala principal, sentadas em sofás e em pé. Eu estava em pé ao lado de Kathy, Angie e Abby, enquanto Queenie falava sobre a nova forma de enfrentar o Descensum.

– Vocês irão até os seus infernos, mas, ao invés de enfrenta-los, irão manipula-los – disse Queenie. – Se souberem manipular seus próprios pesadelos, poderão fazer qualquer coisa.

– E como exatamente a gente vai fazer isso? - perguntou Angie.

– Simples – disse Queenie. – Você, Angelina, já foi para o seu inferno, não foi?

– Sim – disse Angie, acanhada.

– Como ele era? – perguntou Queenie.

Angie para um pouco, e depois diz:

– Eu estava na minha casa de quando eu era criança, e meus pais apontavam os dedos pra mim dizendo que eu não parava de assustar as outras crianças, que era uma aberração e que devia ir para um show de horrores. – disse Angie, como se estivesse colocando tudo para fora, acabando logo com a fala.

– Certo – disse Queenie. – E qual foi sua reação para que acabasse?

– Eu simplesmente disse “Já chega” – disse Angie.

– Hoje, você vai voltar para lá – disse Queenie. – Mas não vai dizer “Já chega”. Simplesmente vai manipular a imagem dos seus pais para mostrar que você é uma pessoa normal. Convencê-los. Isso é o que todas vocês vão fazer. Vão manipular seus infernos, por piores que sejam.

Um burburinho se faz na sala, meninas cochichando e falando umas com as outras.

– Silêncio. – disse Queenie. – Vão. Afastem os móveis.

As meninas afastam os móveis com telecinese, eu prefiro ficar na minha. Já causei estrago demais por me meter a fazer Telecinese sem estar totalmente preparada para isso. Agora, com tudo pronto, nos deitamos em um círculo imenso, do mesmo jeito da última vez.

– Agora – disse Queenie. – Falem.

Queenie vira a ampulheta, e dizemos, em coro:

– Spiritu duce, in me est. Deduc me in tenebris vita ad extremum, ut salutaret inferi. Descensum!

Sinto-me voltando á frente da escola de madrugada, e vendo a casa apagada. A casa pega fogo, e agora sei o que tenho que fazer: Entrar na casa.

Passo pelo terraço, entro pelo corredor principal e vejo as labaredas em forma das minhas amigas vindo em minha direção dizendo a mesma coisa: Que eu causei o incêndio.

– Gente, relevem – digo. Tenho que manipular, e tento manipular labaredas de fogo que falam e andam e cospem fogo. – Olhem só, vocês estão lindas. Além disso, olha os poderes que vocês adquiriram.

– Mas você causou este incêndio! – disse Cordelia - Miséria e aflição pelo mundo vai ser causado pela sua falta de treinamento para controlar seu poder!

– Pelo mundo? Há, há – Rio, não sei o que fazer. – Acho que está exagerando, hein? É só uma casa, e, afinal, somos bruxas, conseguimos acabar com isso ó...

E estalo os dedos para dar noção de segundo. Mas acordo do meu inferno.

– Serena! – grita Abby, correndo para me abraçar. Olho para a janela, vejo tudo escuro. Olho para a ampulheta, vejo-a esgotada.

– O que houve? – pergunto, saindo do abraço.

– Você passou seis horas lá. – diz Cordelia, olhando para mim sentada no sofá. – Saiu poucos segundos antes que acabasse o tempo e você ficasse presa.

– Mas pareceram minutos. – digo, assustada. Realmente não pareceram horas.

– A noção de tempo lá é diferente – disse Queenie. – Mas você conseguiu manipula-los?

– Acho que sim. – digo. – Simplesmente disse as vantagens de ter uma casa pegando fogo.

– É, conseguiu – disse Zoe, abraçada á Kyle na poltrona da sala.

– Agora – disse Cordelia, se levantando e olhando para as meninas. – Vamos para a próxima fase. E última, antes que façamos a Adivinhação Corporal.

– E qual é? – pergunto, me levantando.

Cordelia olha para mim, com um sorriso maléfico e triunfante na cara, e diz:

– Vitalum Vitalis Coletivo.