Povoando Suas Páginas escrita por Daniela Mota


Capítulo 7
Capítulo 6 - Cortesia e Filosofia


Notas iniciais do capítulo

PS: Esse capítulo já foi escrito há um bom tempo, junto ao seu posterior. Ainda bem que fiz isso, porque comecei o primeiro semestre da faculdade 2 semanas depois e tô correndo atrás do prejuízo que nem o Laurete corre de mulher. Bem, ele fluiu rapidamente, foi gostoso de escrever. Espero que seja de ler.
Boa leitura!



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Melanie PDV

Observei com certo deboche o nome Melissa escrito grosseiramente naquilo que ele ousava chamar de dedicatória, e fechei o livro um tanto violentamente. Ele nem se deu ao trabalho de escrever o meu nome direito. Maldito.

–Qual foi a sensação de desmaiar nos braços de Arthur Dobrev? – me assustei um pouco, ao notar uma baixinha morena, de cabelos curtos, com cara de repórter, esperando uma resposta, visivelmente empolgada. Sim, muitas desejaram terem estado no meu lugar, mas só porque não sabem nada do que aconteceu atrás dessas paredes.

“Como eu me senti? Foi como desmaiar nos braços do homem da minha vida, e acordar com um homem patético, narcisista e fingido, que não tem o menor respeito por aqueles que te deram a fama, ou a menor cortesia por quem gosta dele. Sua arrogância emana até de seus passos firmes, e o seu desrespeito até no som da sua voz. Eu, com certeza, preferiria desmaiar no vácuo.” – pensei.

–Magnífica. – menti, convincente. Não estava interessada em agir como uma revoltada barraqueira, que só porque foi idiota o suficiente para se iludir, expressava sua decepção na primeira oportunidade. A baixinha me deu um sorriso cordial, e antes que fizesse outra pergunta, saí dali.

Não o olhei novamente, não gostava de associar olhos tão bonitos ao que descobri que ele é.

Também nem esperei a porta fechar atrás de mim, apenas andei desnorteada pelo estacionamento. Muitos carros bons desmereciam o meu carro de marca popular de forma que eu não conseguia mais enxerga-lo. Respirei fundo, tentando voltar no tempo para lembrar onde eu tinha estacionado, mas voltar no tempo me causava uma dor interna que atiçava às minhas glândulas lacrimais, e diferente da minha descrição, meu choro não é culto. O choro viria como uma visita incomoda: Sem pedir licença, e convidando-se a permanecer, mesmo contra minha vontade. Eu odiava ser sua anfitriã, mas hoje, acreditava ser a noite mais importante da minha vida, e havia sido um episódio humilhante e decepcionante.

Fechei os olhos e me concentrei, emoldurando a minha chegada empolgada de mais cedo. Quando os abri, vi o meu carro, dentre dois Volvo’s, humilhado e desamparado, assim como eu. Ele era meu refúgio. Geralmente as pessoas se consolavam nos braços de outras, eu estava caminhando para me consolar no meu volante. Abri o meu carro, sentei com a cabeça entre as pernas, numa produção cinematográfica de choro, e, de repente, toda aquela vontade de chorar se esvaiu. Forcei para que lágrimas saíssem dos meus olhos, mas era como se houvessem secado. Será que eu estava desidratada? Não, um homem havia distribuído água na fila. Será que naquela hora que chorei antes de desmaiar as minhas lágrimas se esgotaram? Não, eu havia chorado pouco. Foi então que percebi, que tanto o e-mail impessoal, quanto aquilo, não haviam me provocado o transbordo da tristeza. O meu choro estava preso na minha garganta, porque a minha decepção era aquela pessoa que eu olhava no retrovisor, com o rosto borrado de maquiagem: Eu. O Arthur era um idiota? Sim. Mas eu era mais. Eu passei tanto tempo nessa obsessão, que fiz a mesma coisa que fiz há um tempo atrás: Descobri outra pessoa porque nunca procurei ou soube o suficiente.

O meu ex-namorado, na minha ótica, era hetero, fiel, verdadeiro, respeitoso e me amava. Eu gostava tanto de filosofia, e podia comparar aquilo ao Mito da Caverna de Platão. Eu estava acorrentada, numa caverna, olhando para uma parede, confundindo as sombras com os objetos reais. Quando vi os objetos reais, notei que eles eram realmente objetos. O Matheus não gostava de mulheres, foi infiel, mentiroso, desrespeitoso, e me usava. Todos sabiam que ele era assim, todos que estavam fora da caverna. Quando saí dela, chorei por dias a fio, e o que achei para me consolar foram os livros do Arthur, e, por causa deles, entrei na caverna novamente, porque o que via eram as palavras escritas por ele para enganar gente como eu, para conseguir fama o suficiente para uma entrevista numa revista famosíssima, e ainda ousar dizer que caminhava ao lado dos fãs, quando na verdade, sempre os fez de escadaria. Deveria eu, avisar a todos? Não, eles não acreditariam em mim, assim como no mito de Platão, eles se preocupariam mais em me calar do que em me ouvir. Uma verdade só é verdade quando, de alguma forma, a experimenta; concluí. E concluí mais: da última vez me blindei tanto para decepções, que a minha tristeza agora era meramente filosófica.

Liguei o meu carro, apenas para poder ouvir música. Não uma música calma que me deixasse para baixo, mas um bom e velho rock. Enquanto tocava Nirvana, sentia ainda os efeitos daquele choque dentro de mim, mas usei esse estímulo para balançar a cabeça, ao som da música. Sabe aquele cheiro de desinfetante? Smells like a teen spirit. Notei o quanto aquele jogo com as palavras foi idiota e só fazia sentido pra mim, quando o cabelo molhado entrou na minha boca. Acabara de comer desinfetante, e bem... Parecia refrigerante. Brincadeira. Tentei mais uma vez dançar no ritmo da música que, com sua agitação, controversamente, me deixava mais calma, tirava de foco as coisas ruins.

Sobre este meu capítulo anterior: Gostaria de apagar, e escrever tudo de novo. Tudo que eu sabia agora era que a minha vida, a partir deste minuto, seria diferente. E, pela primeira vez, eu não tinha medo disso. Eu parecia bem, mas sabia que, agora, me identificava com a personagem Anne de Miocárdio Mais Que Catastrófico. Estava em pedaços, mas, para minha sorte, os pedaços eram como retratados na capa do livro: formavam abaixo um novo coração.

Me assustei quando vi que o relógio digital marcava 21:03. Não dava para eu voltar dirigindo para casa à essa hora. Eu necessitava de um hotel, e, de preferência: grátis. Bati a cabeça no volante, enquanto filosofava agora sobre outro vazio: O da minha carteira. Maldição. Eu havia gastado tudo. Alguns minutos depois, resolvi ligar para o meu pai, quem sabe ele me dava um atestado de burrice, impresso no seu escritório. Como uma pessoa tão centrada pode ter uma filha como eu?

Ele ficou muito irritado, reclamou por minutos, minutos estes que confesso ter tirado o celular do ouvido. Depois de um monólogo, ele disse que ia arrumar uma solução, e me ligou 7 minutos depois, a contando. Ele tinha um amigo que morava aqui, se chamava Samuel. O Samuel era gerente de um hotel cinco estrelas, era cunhado do dono. O lugar era bem famoso, porém o Samuel assegurou ao meu pai que me daria um quarto, e, se pudesse, o melhor. Depois de dirigir por 10 minutos, procurando pelo endereço, mal pude acreditar no que vi quando saí do meu carro.

Eu não entendia nada de arquitetura, mas sabia que uma pessoa muito boa havia arquitetado aquela magnitude suprema. A sua cor e o seu formato pareciam ser amantes perfeitos. Eu passaria o dia contando quantas janelas aquele lugar tinha. E aquele ar moderno e aconchegante, foi inspirado por mim, antes mesmo de eu adentrar o lugar, encontrando o visivelmente interessante amigo do meu pai.

Arthur PDV

Eu queria ir para a melhor boate que tivessem ali, pelo o visto, aquele lugar tinha mais que carne nova, tinha carne rica. Infelizmente, era incapaz de aguentar uma noitada, porque estava muito cansado. Fora um dia estressante que eu não repetiria nem por toda persuasão do mundo. Eu tinha planos para quando estivesse disposto, e o primeiro seria, sem dúvida, demitir a minha secretária por convidar aquela lunática. Ela provavelmente tinha feito aquilo de propósito. Agora só queria uma banheira grande e confortável, uma boa cama, e, quem sabe, mais alguém nela.

Por isso, resolvi que passaria a noite num hotel 5 estrelas da cidade, e já me encontrava no check-in, de braços cruzados, esperando que resolvessem tudo por mim. Subi assim que me deram um cartão. Estava louco para desfrutar de todo aquele luxo, relaxando o quanto podia e merecia. Subi o elevador, e fui até o quarto 1313. Abri a porta e fiquei surpreso em todas as luzes já estarem acesas. Certamente previram a minha chegada e deixaram tudo pronto. Não tinha paciência para descrever o ambiente ao meu redor, pois era parecido com os que frequentava em viagens, mas ele era muito luxuoso, atraente e aconchegante, e tinha algum toque diferente dos outros.

Tirei meu gorro e jaqueta de couro, e caminhei até o banheiro, louco para tomar um longo banho. Abri a porta, já tentando tirar o zíper da minha calça, foi quando vi uma mão passar pela cortina prateada que rodeava a enorme banheira, pegando o roupão de luxo que estava pendurado. Eu gritaria um: “Que porra é essa?” em instantâneo. Isso se o meu empresário não houvesse me prometido uma companhia no final do dia. Eu mal podia esperar.

Encostei na parede, esperando que ela saísse. Eu poderia ter entrado, mas preferia assistir. Uma mão puxou a cortina, estampada com unhas vermelhas. Ela saiu de costas, parecia fechar a torneira da banheira. Dava para ver que não se tratava de uma tábua, mesmo embaixo do roupão, que parecia ter sido feito para ela à medida. Eu não costumava reparar nisso, mas aquela mulher tinha pernas lindas. Ela ajeitava o roupão, e eu levantei a sobrancelha. Visivelmente interessante observá-la. Então mexeu soltando os longos cabelos de uma maneira graciosa, pegando uma toalha de rosto para tirar o excesso de água. Peraí, aquela cor de cabelo era familiar... Balancei a cabeça, ignorando. Ela colocou a toalha no lugar, distraída, e fui até ela, a agarrando pela cintura. Ela parecia imobilizada, quando me sentiu. Um bom cheiro exalava do seu cabelo. Ela tirou minhas mãos da sua cintura, me deixando confuso, e então virou para mim. Caralho. Dei um pulo para trás, assustado, quando reconheci a merda daquele rosto. Broxei.

–MAS QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – berrei, não acreditando no que via à minha frente. Meu subconsciente estava me zuando? Que porra eu fiz para merecer isso?

–Por que está aqui? – ela perguntou, gaguejando um pouco, desconcertada com a abordagem. Aquela pergunta me irritou, afinal era ela que estava na minha suíte imperial.

–COMO ASSIM O QUE ESTOU FAZENDO AQUI? ESSE QUARTO É MEU! – eu berrei, irritado. Ela apenas sorriu.

–Bem, e quem é que estava aqui primeiro? – perguntou, insolente. Além de lunática, era atrevida.

–Eu vou ligar para a gerência. – declarei, reparando que no próprio banheiro tinha um telefone. Ela assentiu tranquilamente.

–Foi ele quem me colocou aqui. – Ela sorriu mais uma vez. Grosseiramente liguei, e pedi para falar com a gerência, extremamente irritado. Me fizeram aguardar por 3 longos minutos, até que o filho da puta atendeu, ousando dizer boa noite.

“Poupe-me disso, sou eu, o Dobrev. Acabei de me registrar num quarto, suíte imperial, e quando entrei, uma garota tinha o invadido. Exijo que mandem seguranças para tirá-la daqui imediatamente, pois não constava registro algum dela lá embaixo.” – fui extremamente civilizado na minha ordem, não deixando evidente o quanto aquela situação era incomoda.

“Bem, senhor Dobrev, eu já tinha dado este quarto para a filha do senhor Campbell...” – Mas que porra era Campbell? Eu nem o conhecia. Aquilo era uma pegadinha? Procurei as câmeras ironicamente.

“O QUE? O QUE QUER DIZER COM ISSO?” – esbravejei, irritado.

“Quero dizer que os quartos estão lotados, senhor.” – ele disse calmamente. Mal pude acreditar que ele não via minha exclusividade. Observei os olhos de cocô da batata me encarando de longe, ela parecia chocada.

“EU NÃO VOU SAIR DESSE MALDITO QUARTO NEM QUE ME ARRASTEM. ESSA SUÍTE NÃO É PARA GENTE COMO ELA, ELA QUE SAIA! NÃO TEM O DIREITO DE PENSAR O CONTRÁRIO, EU POSSO DESTRUIR A SUA CARREIRA E PISAR NO QUE RESTOU.” – praticamente gritei no telefone, ouvi uma respiração do outro lado da linha.

“Lamento... À ela dei mais que um registro: dei a minha palavra.” – ele disse, com cautela – “Posso te recomendar outro hotel.” – Bati o telefone com toda força em sua cara. Eu mesmo teria que fazer o serviço.

Saí do banheiro, e observei a pirralha ao longe, tentando pôr uma calcinha estando de roupão. Ela tropeçava, mas no final, deixou que o pano de renda deslizasse pela sua perna, encontrando a sua zona de conforto. Aquilo seria excitante, se a sua figura não me enojasse. Pisquei um pouco, e cruzei os braços, visivelmente desafiador. Ela se assustou um pouco ao notar que eu a observava nesse momento constrangedor, mas apenas deu de ombros.

–Vai ter que sair do quarto. – disse, em forma de resmungo, ela apenas negou com a cabeça, sentando na enorme cama – Ouviu o que eu disse? Se não sair, eu farei que o faça.

–Dobrev... Se me acha detestável, com o pouco que conheci de você nesta noite, já te acho mais que isso. Você não me dá medo, não vou sair daqui, porque não tenho pra onde ir, não porque quero a sua companhia. Se está incomodado, saia você, que tem dinheiro para pagar o hotel que quiser... Que tal Dubai? Luxuoso o bastante para você? – ela disse, calmamente. Mal parecia a pirralha que gritava desesperadamente há algumas horas. Ela agora estava do meu lado, como milhares de fãs desejavam, e fazia isso com minha companhia, como ninguém fez antes. Me dava a mesma atenção que eu dava às pessoas, e isso me irritava de uma maneira extraordinária. Dela, conheci duas faces em poucas horas, e elas são, ambas, detestáveis.

–Quem pensa que é para falar assim comigo? Primeiro, manda eu me foder. Agora isso? – reclamei, e ela deitou na cama, parecia relaxada.

–Eu sou como você, Dobrev. Uma completa idiota. Mas, ao contrário de você, não são as minhas atitudes que me fazem assim, é a minha imaginação. A minha fé na humanidade me cega. – ela disse, se esticando na cama. Senti vontade de estapeá-la até a morte.

–Não... Você é uma lunática, louca e psicopata, que por algum motivo acha que pode me dar lição de moral. – corrigi, e ela apenas riu, assentindo. Nenhuma das minhas palavras pareciam atingi-la. Eu estava começando a achar que ela tinha dupla personalidade, não é possível alguém mudar tanto em horas. Ela levantou-se, andou até a penteadeira, soltou os cabelos, e começou a penteá-los enquanto cantarolava.

–Não se preocupe, saio bem cedo, para não dar a impressão de que dormiu comigo. Isso sujaria minha imagem. Ah, esqueci, eu sou verdadeira com as pessoas. – ela disse, com o tom mais irônico que já ouvi na vida. Aquelas palavras me chutaram o saco, por isso não fui capaz de responder nada rápido, mesmo querendo a agredir com todos os xingamentos que conhecia. E enquanto eu me consumia em raiva, ela penteava calmamente o seu cabelo.

–Olha, sua pirralha. Eu não sei quem pensa que é para falar assim comigo, mas sei que se continuar a insistir ficar no mesmo quarto que eu, vai se arrepender. – esbravejei.

–Que seja! – ela disse, voltando para a cama, e se jogou nela, como uma criança.

–Será! – prometi.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Uh...
Round 1, fight! Será que vão transformar a cama num tatâmi? Será que o Arthur vai jogar a Mel fora do quarto?
O que acham dessa "mudança" repentinosíssima da Mel? Só fingimento para pagar de forte e fria, ou o choque fez com que a ficha caísse a ponto dela assumir essa atitude ousada?
Agradeço os comentários.
Beijo.



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