Quatro Estrelas escrita por Ethereal Serenade


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Terminei de jogar e não me contive em rabiscar alguma coisa, hehe XD O jogo foi simplesmente incrível, e espero que a EA faça mesmo uma continuação (nem que seja aquela da fanfic Redemption). Usei como base inteiramente a segunda parte da "Divina Comédia", e adaptei aos aspectos do jogo, fazendo como eu acredito que seria. Não é nada demais, é só uma vaga ideia do que poderia ter acontecido, deixando brecha para livre interpretação. Fiz meu melhor, mesmo com muito sono e cansaço, não ia conseguir dormir sem terminar essa one :xEspero que goste, e tenha uma boa leitura =)



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Quatro Estrelas

*

Por aqui não se passa

sem que se sofra o calor do fogo.

Purgatório, Canto XXVII, 10


Após cruzar os nove círculos do inferno, uma jornada árdua — tanto por suas criaturas maculadas pelas próprias perversões durante a vida terrena, quanto pelas descobertas e eventualidades que se provaram um martírio que, por fim, se mostraram frutuosos. A alma de Beatrice fora enfim absolvida dos pecados que sequer foram causados por suas mãos.

Dante agora se encontrava no segundo reino; onde as almas humanas expurgam as malícias da vida na Terra para então ser digna de acender aos céus. Quatro rútilas estrelas como o Sol do alvorecer iluminavam a abobada celeste, as estrelas que jamais foram vistas por olhos mundanos, a exceção do primeiro casal que pisou nas planícies edênicas.

Por um ínfimo segundo, o cavaleiro teve a breve impressão de que ouvira um silvo ofidiano. Uma risada fremente estrugiu, parecia vir do vazio, do próprio nono círculo, ecoando das profundezas ultrapassadas, ouvida como um fantasma agourento que prenuncia maus augúrios. Antes que pudesse se voltar para tal, porém, sua atenção se direcionou a um vulto, que surgira de repente há alguns metros de onde estava.

Um velho de aparência de quem há muito tempo se encontra só, de cabelo e grande barba acinzentada, com a face cheia de sulcos da idade. Os olhos cheios de rugas frisadas ao redor dos olhos escuros, que encaravam a Dante com espanto. O rosto estava iluminado pela luz cintilante das estrelas, dando-lhe um aspecto de ar etéreo, quase apoteótico.

— Quem és? — indagou, movendo os braços por entre suas vestes. — Quem é quem vem das terras da eterna danação? Quem o guiou até aqui? As leis do inferno foram quebradas? Ou os céus têm novos planos para os condenados, mandando-os até o pé de minha montanha?

Antes que Dante pudesse dar uma resposta, Virgílio surgiu ao seu lado, em sua manifestação diáfana de tons azuis. Gesticulando sinais, indicou para que Dante se ajoelhasse e abaixasse a cabeça, um sinal de respeito diante da figura austera a sua frente. Ele o fez, embora não soubesse ao certo de quem se tratava a ponto de exigir tal comportamento. Virgílio, por sua vez, respondeu as perguntas.

— Estou aqui como guia, pois uma dama clamou para que eu o fosse. Nenhuma das leis fora quebrada, sejam elas infernais ou celestes. Este viu a morte e já expurgou todos os seus pecados, e como bem disse, estou aqui apenas para guia-lo nesta jornada até aqui, para purgar em tuas terras. Vim do círculo onde reinam as águas do Aqueronte, onde tua amada passa a eternidade. E por teu amor que nutre por ela, Catão, peço-lhe permissão, para que guie esta alma para a graça divina através dos teus sete reinos.

O velho — cujo nome era Catão, o legista romano que em vida fora aliado a Pompeu e cometera suicídio em nome da liberdade republicana, e, assim sendo, sua devoção à liberdade política, ele se tornara o guardião do caminho à liberdade espiritual que era o Purgatório. — ficou por alguns instantes em silêncio. Dante ergueu a cabeça, seguro de que lhe era permitido. Catão olhou para Virgílio e então para Dante, com um semblante mais suave, condescendente.

— Minha amada Márcia... — Disse num suspiro de quem se recordava de boas lembranças. — Vivia por ela, enquanto era feito de carne. Agora que ela vive no Limbo, não é por ela que me movo, e sim pela lei que nos é imposta. — Encarou a Dante com intensidade. — Mas se estão aqui por conta de uma dama celeste, a nada se deve as adulações, basta apenas pedir em seu nome. Sigam em frente, pois eu permito. Vão em direção ao Sol, que brevemente estará nascendo. E não se esqueça de lavar o rosto nas águas para ficar livre de quaisquer vestígios das terras infernais.

Dada as instruções, Catão desaparecera, da mesma forma que Virgílio fazia quando já prestara os devidos auxílios a Dante. O poeta ergueu a mão, indicando o caminho, e apontou com o cajado:

— Vá. Siga em frente.

O cavaleiro anuiu, caminhando pelas terras em direção à praia. Lavou o rosto com as águas cristalinas, cruzando a calmaria até chegar à ilha da montanha do Purgatório. Andou pelas areias, onde cresciam juncos em tons vivazes de verde.

Dante olhou para trás por um instante, e viu o Sol nascendo, e aos poucos sua luminescência ofuscava as Quatro Estrelas. O céu ia assumindo tons avermelhados e amarelos, misturando-se ao tom azul da noite que ia esvaindo. Viu, então, um estranho brilho surgir no poente, vindo pelas águas. A medida que se aproximava com incrível velocidade, discernia os traços daquela imagem — um barco, com seis ocupantes e seu barqueiro.

As asas abertas de maneira imponente e a aura brilhante não causaram engano a Dante, que no mesmo momento soube de quem se tratava.

O barqueiro do Purgatório, conduzindo as almas dos Redimidos.

Sua jornada naquele lugar havia enfim começado.


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Notas finais do capítulo

Pro final não ficar vago, terminei a história no início do Canto II, quando Dante (na obra) encontra o barqueiro, que é um anjo. E quanto ao título, pode parecer meio no-sense, mas como se refere as quatro virtudes, creio que sejam as virtudes que Dante (no jogo), teria que adquirir par enfim chegar ao Paraíso, e então a sua amada Beatrice.É isso :)



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