“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”

Essa frase ecoou em sua cabeça durante às semanas que se sucederam ao fim. Fim do casamento. Fim da vida partilhada.

“Isso está acontecendo, seus olhos opacos não lhe permitem mentir, todos já notaram, não sinta vergonha de desejar morrer, eu sou adorável, anestesio sua dor como ninguém, porque eu posso, apenas eu posso.

Por que se apressa em escrever uma carta? Você sempre quis morrer como uma incógnita, eu te presenteio com isso. Largue essa caneta, controle às lágrimas involuntárias, ele te deixou. Aceite. Esse é o primeiro passo para viver em paz, só que o objetivo aqui não é viver, não é mesmo? Ó claro, você está colocando um fim em sua vida, espere, que vida? Você está morta à muito tempo, eu te permiti um tempo para pensar e tentar se redimir com sua alma, só que você não o usou para o bem, ficou pensando nele e sentindo dó de si mesma.. Futilidade.

“Por que?”

Essa é à única pergunta que faz à si mesma, você sabe os motivos.. A grande culpa foi sua, oras.. Por que tão obsessiva? Ah, você não o deixava respirar.. Ele escapou e garanto que está feliz.

“Eu me odeio, eu não conseguirei prosseguir.”

Sua consciência brada repetitivamente, eu sou à morfina para a sua dor, o agasalho para seus braços nus, à válvula de escape para os seus problemas, à sua lanterna na escuridão.. Eu sou à morte, à única que entende sua angústia, você o amava, pobre são aqueles que não são correspondidos, maldito é aquele que não encontra em sua dor.. Um momento de júbilo. Venha até mim, esse é o momento.. Toque meus lábios, meus macios lábios.. Que tantos já tocaram.. Tantos.

Observa aquele revólver na mesa? Ele pode adiantar o serviço, eu poderia ser benevolente e lhe mandar uma doença rápida.. Não há mais tempo, é uma urgência, se eu não te levar.. Terei problemas e com certeza você também. Enxerga aquele rádio? Claro que não, às lágrimas lhe cegam à vista.. Enxugue-as, está acabando! Sinta à melodia, essa será ás últimas notas que escutará em carne. No inferno há música, não se preocupe.. Sua estadia será confortável, não sentirá saudades. Prometo. Não sei explicar minha fascinação por você, talvez seja sua aceitação imediata.. Não lutou comigo, boa escolha.. Não costumo me controlar em tais ocasiões.

Sua respiração está descompensada.. Não me diga que está com medo? Eu te disse que sou inofensiva, só quero ajudar! O medo não vai ajudar, controle-se... O momento chegou.

Pegue o revólver. Um tiro acabará com seu sofrimento, não sentirá dor.. Eu tratei para que fosse fatal, sim, eu planejei isso... Será perfeito!

Você está com ás mãos trêmulas, firme-se.. Queremos à morte perfeita, lembra-se? Agora aperte o gatilho.. Não, não, reprima esse choro inútil! Lágrimas tornam à cena enjoativa. Você sempre quis uma morte original. Não complique agora.

Me deleito ao vislumbrar seu corpo inerte no chão. Posso guia-la para à eternidade agora... Esse é só o inicio do fim. Eu sou e fui à única certeza que teve na vida, eu fui sua amiga, todos aqueles hipócritas não conseguiram te salvar do afogamento, eu fui capaz.. Eu te ajudei! Eu te concedi à morte.

O fim é inevitável. Muitos custam à acreditar nisso.. Você minha amiga, terá um lugar privilegiado. O inferno é reservado aqueles que tomam uma posição em tempos de crise moral, você tomou à sua... E desejo do fundo da minha alma oculta que se regozije com ela.. Uma boa sorte, dá sua companheira e amiga.”

Assinado: Morte.