Fechei a porta já sentindo os últimos segundos de despedida. Estive em casa, por falta de nome melhor, e, em pouco tempo, devo deixá-la. Você veio me ver daquele jeito esquivo, como se receber minha atenção fosse um prazer culposo. Se bem que você não tem tido tanta vergonha no pouco tempo que passei aqui. Senti sua falta.

Algumas vezes, querida, meus olhos marejam quando tudo me sufoca e nado em desespero para a superfície. Será importante ou é mais uma crise? Tropeço na corda bamba e ela vira um trapézio, o chão a quilômetros de mim. Grito por silêncio, o mundo congela num fragmento de paz. Toco os pés no solo, abandonando outra vez a confusão, mas sei que ela se escondeu num canto para me cumprimentar. O “olá” repentino sempre me arrepia a espinha.

Estou cansada, meu amor. Não sem ar de uma corrida. Estou gasta, vacilante, exausta. Cada fibra de mim desfia, se desfaz, e minhas pernas falham. Minha respiração não tem compasso, meus olhos não têm foco, minha mente não tem ordem. Seguro até meu apoio mais firme com os dedos tremendo. Não sei mais o que é ter energia. Estou cansada de estar parada, cansada de caminhar. Estou cansada de enfrentar o mundo de peito aberto, cansada de me esconder. Cansada de tanto pensar, cansada de não poder pensar. De suportar o mundo nos ombros, de não ter objetivos. Estou cansada da cabeça aos pés, de dentro para fora e de fora para dentro. Estou me poupando, me preservando, me contentando com o que a vida me dá.

Quando te toquei, senti seu adeus. Você nem mesmo é capaz de dizê-lo. Contive as lágrimas e tentei te confortar. Não entendi muito bem; pensou que eu sumiria para sempre? Bem, pode ser verdade.Há horas em que prefiro não mais tentar, em que só quero fechar os olhos, horas em que quero fugir. Mas não vou, e volto para te ver. Prometo.