Já deviam ser quase 11 horas da noite quando o telefone tocou.
As duas garotas estavam na sala. Ariel jogada no tapete digitando algo no celular e Daniela deitada no sofá deixando a cabeça pender para fora do tal enquanto assistia o documentário na televisão.

– Miguel! - o telefone continuava a tocar - Miguel vem atender o telefone!
O garoto saiu do banheiro com a escova de dentes na mão e espuma na boca.
– Atende uma de vocês! Não estão fazendo nada! - com isso colocou a escova na boca e voltou para o banheiro.
– Ele está só de cueca ou foi impressão minha? - perguntou Ariel enquanto a outra menina levantava e passava por cima dela.
– Sim, ele está só de cueca - respondeu atendendo o telefone - Alô?
A voz de Arthur soou por cima da música alta.

– Pretendem ficar mofando ou querem vir comigo para o centro?! - perguntou e pelo barulho e o pequeno palavrão, Daniela imaginou que ele tivesse deixado o celular cair - Eai?
– O que diabos vamos fazer no centro agora? - perguntou mesmo sabendo a resposta. Ele sempre respondia o mesmo.
– Ascender as luzes da cidade, querida. Chego em 15 minutos - com isso desligou o telefone.
Dany desligou o telefone e olhou para a irmã ainda largada no tapete.
–Se arruma. Arthur vai ta aqui em uma hora.- Disse modificando o horário, por que sabia que o amigo sempre se atrasava.

–Onde e pra quê?- Ariel não mexeu um músculo, a não ser pelos dedos que permaneciam digitando
–O de sempre, oras.-Respondeu a irmã e subiu as escadas, prevendo que a irmã não havia se mexido ela voltou a sala e chutou a bunda dela.
–Cara, eu já vou. Aquieta o rabo. Me arrumo mais rápido que você.-Então Miguel saiu do banheiro e se intrometeu.
–Arrumar? Vamos sair?!-Perguntou tomando o lugar que antes era de Daniela.

–Vamos. Eu e a Ari.-Dany respondeu.
–Ariel!-Resmungou.
– Eu vou com vocês - ele disse se levantando e quase caindo sobre Ariel.
– Não vai não! - as duas responderam em uníssono.
– Uhum. Sonha - ele disse indo para o quarto. Ele tinha seu próprio quarto mas as meninas dividiam um.
Daniela foi até o quarto delas e subiu para parte de cima do beliche onde ela dormia e pegou um sutiã que estava debaixo do travesseiro enquanto Ariel entrava no quarto.
– Ele não vai com a gente! - ela disse abrindo o guarda roupa com raiva.
– Não vejo motivos nele para ele ir, e nem para ele ficar. Tanto faz para mim - ela tinha fechado o sutiã e agora ia para o guarda roupa pegando shorts e camiseta - Vocês são irmãos. Deveriam se dar melhor - disse com enquanto colocava a camiseta.

– Você também é nossa irmã - Ariel disse puxando vestido verde claro curto do cabide.
Dany se lembrou do dia em que os pais lhe disseram que Miguel e Ariel eram irmãos porque o sangue os unia, mas que ela era unida a família pelo amor.

– Sou adotada, Ariel. Vocês só me consideram uma irmã. Aliás, você me considera uma irmã - disse abotoando o shorts jeans tão curtos quanto o vestido de Ariel.

–Cala a boca. Miguel é um tapado mas ele te considera uma irmã. Nós temos praticamente a mesma idade. E vivemos sempre juntos. Não lembro de um dia que você não morou aqui.-Ariel agurmentou pondo meias pretas finas e os coturnos.- E nem da pra notar que não temos o mesmo sangue. Somos parecidos.

Daniela riu e jogou uma roupa na irmã em uma forma de dizer um obrigada. Resumiu que as duas se arrumaram e meia hora e nada de Arthur. Ariel tinha os grandes olhos azuis bem marcados por lápis e delineador pretos e os lábios apenas com um brilho. Daniela tinha a pele rosada, um tom apessegado, ela usou um batom vermelho e bastante rimel.
Ariel de vestido e coturnos, Daniela de shorts jeans, uma blusa branca mostrando sua barriga lisa e all-stars. Elas desceram as escadas e Miguel ainda estava no mesmo lugar.

–Você vai, mané?
Miguel olhou as irmãs com as sobrancelhas arqueadas.
– Primeiramente, onde pensam que vão com metade da roupa? Vão por o resto.

As meninas se entreolharam e depois olharam para as vestimentas uma da outra.
– Estamos com roupas completas, Miguel - Ariel disse por final.
– Eu não ia. Mas com vocês vestidas assim não posso ficar em casa - ele se levantou. Estava apenas de jeans e descalço, com os cabelos bagunçados.

Daniela revirou os olhos se jogando no sofá.
– Tosco - disse depois de ele entrar no quarto e Ariel deu um sorriso para ela.
As meninas ficaram mexendo no celular e logo Arthur tocou o interfone. Dany se levantou e apertou o botão de auto falante.

–Arthur? - Ela perguntou pra confirmar
–Sou eu, baby. Vamos?- A menina confirmou e disse que desceria em menos de um minuto
– MIGUEL! O ARTHUR CHEGOU-Ariel gritou antes que Daniela dissesse algo.
–To aqui.-Ele diz com uma garrafa de hisotonico na mão
Os três desceram e encontraram Arthur encostado no portão da mansão.
–Até que enfim. "Vambora".
Arthur estava de jeans escuros e camisa social branca. Os cabelos loiros brilhavam a luz da lua.

– Por que está de social? - Daniela perguntou entrando no banco de trás e ficando atrás do motorista, que no caso era Arthur.
Ele olhou para ela pelo espelho central do Citroën com um sorriso malicioso.

– Porque acho elegante. Bem melhor do que os pedaços de roupa que você e Ariel usam. Parecem as profissionais que vi no caminho.
Ariel abriu a boca e cerrou os olhos em sinal de indignação enquanto o irmão ria ao seu lado.
– Eu avisei. Vocês precisam comprar uns vestidos estilo das damas vitorianas. Aqueles que cobrem tudo.

Ariel lhe deu um tapa no braço e o fuzilou com o olhar.
Com isso Arthur deu partida no carro tirando-o do terreno pertencente ao pai dos jovens.
Eles passavam pelas ruas, todos os comércios fechados, apenas algumas pessoas vagando.
–Sério, Arthur, onde vamos?-Daniela se manifesta.
–Marina ta dando uma festa. Vamos lá, melhor que mofar. -Os três concordam.

Ariel era um tanto inquieta se estica e liga o rádio.
–Música? ! Vamos pra uma festa, aquieta um pouco.-Miguel resmunga.
–Calado.-Ela põe numa altura um pouco exagerada e cantarola junto a música.

Miguel revirou os olhos e começou a olhar o mundo atrás do vidro carro. Dany massageava os ombros de Arthur cochichando alguma coisa que o fez rir suavemente. Ariel se mexeu inquieta e resolveu pular para o banco do passageiro.
– Vi coisas que não gostaria - Miguel disse balançando a cabeça e Daniela riu.
– Ah, qual é? Vários garotos se matariam para ver o que você acabou de ver - disse enquanto Ariel revirava os olhos e afivelava o cinto de segurança.
– Vocês são dois manés - disse.

–Arthur anda logo. Não aguento mais ficar aqui.-Ariel disse pondo os pés no painel. Arthur bufou e bateu nas pernas nela.
–Eu não mando nas leis de trânsito. E tira os pés da Nora.-Os três fizeram uma careta e logo ele se justificou- O carro!
–Desculpas senhor "meu carro tem nome".-Ariel aumenta o volume e canta junto "Broken" de Jake Bugg, seu cantor favorito.

Cinco minutos depois eles entram em uma rua que estava cheia de carros, e até mesmo bicicletas. Na rua já havia muitos adolescentes bêbados, se esfregando um nos outros ao som da música que vinha da maior casa da rua.
–Quantas gatas, cara... Hoje é dia!-As meninas o olharam indignadas
–Dia dos idiotas?-Daniela pergunta e Miguel apenas a ignora

Dany sentiu-se mais um vez deslocada perto de Miguel. Mordeu a língua se lembrando de que o garoto não a via como irmã. Apenas Ariel. Ela sim a via dessa forma.
Arthur estacionou o carro e logo todos saltaram para fora.
Ariel saiu correndo e se atirou nos braços de Alexandro, seu namorado. Dany procurou não encarar mas Miguel fuzilava o casal com os olhos.

Logo o garoto saiu de perto e foi atrás de um grupo de meninas bem menos vestidas que Ariel ou Dany - a menina ficou pensando se elas não eram as profissionais cuja o amigo mencionara mais cedo no carro.

– Gabriel deve estar lá dentro - Arthur disse penteando os cabelos e vendo o resultado no retrovisor do carro.
– E o que isso tem? - ela perguntou com os olhos arregalados.
– Qualquer um percebe que vocês estão caidinhos um pelo outro. Pega logo ele - e com isso ele também se afastou a deixando sozinha.

Ela pensou sobre o assunto e apenas ignorou e entrou na casa. Havia copos descartáveis por todo lugar, cheios, vazios, quebrados. Tinha garrafas de energético, vodka e whisky. Ela quis não acreditar mas até 51 tinha por ali.

A música ali era extremamente alta, o chão tremia sobre seus pés. Ela procurou alguém que conhcia mas não achou ninguém, mas alguém a achou.
–Hey, Dany.-Era sua melhor amiga, Ester.
–Oi.-Ela sorri
–Quer beber alguma coisa?
–Tem algo sem álcool?-Daniela pergunta como sempre e Ester ri.

–Você é hilária. Qual vodka você gosta mais?- A amiga pergunta indo pra cozinha, que por incrível que pareça estava limpa.
–Nenhuma. Na verdade eu só tomo não entendo de marca ou qualidade delas.-Confessa um pouco envergonhada.

–Eu também não.-Ester diz rindo-Perguntei por perguntar, ué.

– Já tomou algo? - perguntou enquanto Ester procurava por mais copos descartáveis no armário.

– Ainda não. Mas qualquer coisa que eu beber vai ser bem menos que a maioria das pessoas - ela apontou para duas garotas se beijando num canto, se espremendo na parede - Elas juravam até a morte que eram héteras quando sóbrias - Ester soltou um risinho.

Daniela só pode desviar o olhar depois de uma boa analisada.
– Onde está Marina? - perguntou.
Ester deu de ombros entregando os copos para um garoto ruivo que deu uma piscadela para Dany. Ela piscou perplexa.
– Transando com alguém lá em cima - respondeu dando de ombros.

Daniela assente com a cabeça franzindo os lábios.
–Você vai também?-Pergunta inocentemente.
–Transar com a Marina? Que horror! Não!- Ester faz uma careta de nojo fazendo a menina de cabelos azuis rir.

–Não, trouxona. Transar com alguém.-Diz tomando um gole de Absolut misturado com Monster, e ela disfarçou, mas a garganta soltou labaredas de fogo.
–Danie, você mas que ninguém sabe que eu não pego qualquer um. Eu nem beijei ainda.-Dany sabia, mas perguntar não ofendia.
– Eu sei. Perdão - ela tonou mais um gole da bebida e dessa vez fez uma careta.
– E você? Vai? - Ester perguntou fazendo uma bebida para si.
– Vou o que? - perguntou com os olhos arregalados o copo em meio caminho da boca.

– Transar com alguém! Lerda! - respondeu rindo.
– Quem vai transar com quem? - uma voz masculina perguntou atrás de Daniela a fazendo perder a linha do raciocínio para uma resposta.
Gabriel e Felipe.

Ester deu um meio sorriso para os meninos oferecendo uma bebida.
Ambas as amigas tinham uma paixão secreta pelos dois meninos. Mas nenhum dos quatros davam o braço a torcer.
Ester deu a bebida aos dois e lutava pra desviar o olhar de Felipe, que ficava como sempre com seu sorriso sensual estampado na boca.

–Quem vai transar com quem?-Gabriel perguntou de novo.-Fala, aí!?-Ele estava um pouco irritado, mas era quase imperceptível, soava mais como malicia.

–Ninguém, cacete!-Ela virou o copo na boca e saiu marchando da cozinha e entrando na multidão pra dançar. De longe ela viu Miguel sem camisa beijando uma loira baixinha. Ela não sabia quem era, estava escuro e eles estavam distante, digamos que sua visão não era das melhores.
Dany começo a pensar em onde a irmã estaria. Será que também estava lá em cima com Alexandro? Ela balançou a cabeça desviando os pensamentos e começou a dançar, mesmo que sozinha.

Em pouco tempo já estava dançando com um desconhecido e bebia seu quinto copo. Uma fina camada de suor lhe cobria as costas e ofegava começando a se cansar.
Ela de desvencilhou da multidão indo para a varanda para tomar um ar. Se recostou na parede olhando para o céu. Ele começava a girar na mente levemente turva.

Ela estava tão entorpecida pelo álcool que não viu Gabriel entrar na varanda.
–Oi, Dany.-Ele disse. Sempre sério, mas sem deixar seu charme de fora. Ela apenas deu um gemido em resposta
–Como você tá?-O mesmo resmungo foi emitido.-Olha, eu tava pensando e eu queria saber se... Se você quer ficar comigo?

Daniela o olhou nos olhos, ele sorriu tomando como um sim. Ele se aproximou dela e acariciou os cabelos dela.

Quando se aproximou da menina ela desviou o rosto vomitando nos sapatos de Gabriel.