Please be mine

Capítulo 3 – Field trip goes college – Part II

Seria Kyle não tão solteiro assim, como ela imaginava?

Zoe não conseguia nem pensar numa hipótese dessas com ele se aproximando rápido daquele jeito. Antes que pudesse tirar os olhos do sorriso radiante que ele estampava em seu rosto e colocar a cabeça para pensar, ela deu por si envolvida em seus braços, e pensou que seu coração perfuraria seu peito. Ela só conseguiu o abraçar de volta.

— Kyle – foi capaz de dizer. O cabelo dele fez cócegas em sua bochecha

— Oi! – ele falou, soltando-se do abraço. Ela não queria que ele soltasse. Mas ainda assim, ele estava tão próximo que as pernas de Zoe começaram a bambear. Mas só um pouquinho – O que faz aqui? – Kyle perguntou, arqueando uma das sobrancelhas. Sua expressão era de alguém confuso e curioso. O sorrisinho dizia contente também.

Zoe piscou algumas vezes antes captar o que ele havia perguntado.

Droga.

— Ahn... – ela enxugou as palmas das mãos suadas em seu vestido – Esta senhora está me mostrando o campus.

Kyle observou a mulher que pendia feito um zumbi atrás de Zoe. Não contestou.

— Já pode ir – disse Zoe a ela, que mantinha uma expressão imparcial.

— Ok – e ela se foi.

Kyle sorriu para Zoe assim que eles terminaram de olhar ela partir.

— E por que ela estava te mostrando o campus?

A desculpa dos estudos não foi lá muito convincente com Queenie, não colaria com Kyle de jeito nenhum!

Precisava pensar em algo rapidamente. Queria ver você, ela quis dizer, mas a frase que saiu de sua boca foi um tanto distorcida:

— Queria falar com você.

Kyle lhe deu uma olhadela desconfiada.

— Comigo? – ele parecia se divertir com o enrubescer cada vez mais intenso de sua face. Sentiu-se ainda mais nervosa – E o que pode ser de tamanha urgência para fazê-la ir atrás do cara o qual deu um baita de um fora? – ele estava sorrindo – Logo no dia seguinte? Nem passou pela minha cabeça que voltaria a vê-la, para falar a verdade.

Zoe não conseguia desviar os olhos dos dele enquanto ele falava. Ela não conseguiria mesmo mentir enquanto aqueles olhos escuros estivessem sobre ela. Inspirou fundo... Lentamente...

— Bem, eu...

— Olá! – a garota que estava junto dele se pronunciou com um aceno. Zoe assustou-se com sua presença e de repente se lembrou de que ele havia a deixado para trás quando saiu correndo a seu encontro – Gostei das roupas. Não vai me apresentar? – ela se virou para Kyle.

Que? Quem é você?

Quem é essa menina?

Merda! Deve ser a namorada dele.

Droga, droga, droga!

Apesar dos pesares, sentiu-se um tanto aliviada por sua chegada. Distraiu Kyle de sua pergunta. Mas a pergunta mais importante agora era a dela: será que ele era comprometido, afinal?

Isso seria um micão. Sério. Uma baita falta de sorte.

E ele, um tanto canalha, se for parar para pensar...

— Zoe – Zoe apertou sua mão com certo desdém, que passou batido pela garota. Ela olhou bem para sua oponente.

Era ainda mais alta que Zoe, magra, e usava uma camiseta preta com estampa psicodélica que ela mesma devia de ter customizado. Gola e mangas haviam sido cortadas fora e podia-se ter uma visão razoável de seu sutiã vermelho. Na parte debaixo, shorts curtos e meia calça rasgada cobriam suas longas pernas e ela calçava botas surradas e discretas. Seus olhos claros e cinzentos carregavam muito rímel e lápis preto. Seu cabelo era castanho e comprido, não tão liso quanto o de Zoe. E sua boca, coberta de um gloss brilhante, sorria de lado, de um jeito quase desafiador.

Parecia alguém com quem Madison se daria bem facilmente.

Se essa fosse mesmo a namorada de Kyle, Zoe sabia que estava perdida. A garota não disse seu nome, apenas a encarou. Kyle fez pouco caso.

— Zoe, essa é Lauren. Minha amiga.

Zoe nunca gostou tanto de ouvir uma palavra na vida.

Amiga.

Amém!

— ...E Lauren, – continuou ele, sorrindo ao olhar Zoe diretamente nos olhos – como ela mesma já disse, seu nome é Zoe. Uma garota incrível que não me deu muita bola na festa em que a conheci ontem. Ainda estou tentando descobrir o que ela faz aqui.

Zoe corou.  Teve o ímpeto de olhar para o chão e encarou seus sapatos.

— Interessante – Lauren deu de ombros, com uma cara entediada – tenho de encontrar Brener, combinamos de almoçar juntos hoje. Foi um prazer, Zoe – forçou um sorriso – vejo vocês dois depois.

Ela deu beijinhos em suas bochechas, e com uma piscadela direcionada a Kyle, seguiu para o ponto onde Brener a esperava, sorrindo um sorriso idiota que Zoe teve vontade de socar. Lauren passou as mãos por volta de seu pescoço e eles começaram a se beijar. Para sua sorte, estavam bastante afastados dali do centro do pátio, às redondezas de um corredor. Zoe começou a sentir uma náusea tão forte que era capaz de acabar vomitando. Como era capaz?

Kyle pareceu ansioso.

— Eu precisava muito falar com você – ela finalmente soltou, com tristeza.

— Bom – ele afastou os cabelos dos olhos, estava suado também – devido às circunstâncias, acho que nos esquecemos de trocar telefones.

Kyle tentou o seu melhor sorriso, mas Zoe percebeu que também se encontrava aflito com a retomada do assunto, principalmente com repentino aparecimento de Brener por ali. 

— É... – concordou. O olhar dele se tornava tão triste à medida em que o sorriso desaparecia, Zoe sentiu muita pena, mas tinha de prosseguir agora que começara – Você tem noção da gravidade do que aconteceu, não é Kyle?

Ele parecia desolado de verdade, e nem mesmo era culpa dele. Encarava o vazio.

— Eu sinto muito – disse por fim – sinto muito mesmo. Eu nem sei o que dizer, às vezes penso que meus companheiros tem merda no lugar do cérebro, eu...  Não há perdão, eu sei. Queria muito que houvesse uma forma de me redimir. Com vocês duas. Foi uma noite horrorosa...

— Comigo não é necessário se redimir, Kyle – ela tomou sua mão entre as dela, um tanto surpresa consigo mesma – você não fez nada de errado, mas eu espero que entenda que eu não posso deixar que isso passe sem nada fazer.

Um peso de 100 quilos pareceu despencar dos ombros de Kyle e sua expressão foi suavizada num instante.

— Está me dizendo que ainda não fizeram nada? Madison não prestou queixa à polícia?

Zoe precisou de uma pausa para entender seu alívio por um momento.

— Não – ela sacodiu a cabeça – Madison é uma figura pública, e seu status atual não permite esse tipo de escândalo, não mesmo... Ela já se envolveu em escândalos de mais. Nem mesmo queria que eu viesse, e apesar da casca dura eu consegui enxergar seu interior e perceber o quanto esteve devastada com tudo isso... A polícia não ajudaria, só agravaria a situação.

Os olhos de Kyle pareciam ter cintilado enquanto ele a fitava.

— Você é uma ótima amiga, Zoe.

— Eles sairiam impunes – continuou ela – e sabe-se lá quantas outras Madisons poderiam ser drogadas e abusadas nessas festas de fraternidade se não agirmos agora. Kyle, só há um jeito de permitir que isso não aconteça nunca mais, e você sabe do que estou falando...

— Não sei – ele franziu o cenho, apreensivo.

— Pense numa autoridade que os faria temer. Que lhes impusesse um castigo realmente merecedor de suas ações... Que tirasse deles algo com o qual realmente se importassem, a única coisa com a qual se importam nesse mundo...

O queixo de Kyle despencou.

— Zoe, você não pode estar falando sério.

— Por que não?

— Eu faço o que você quiser, qualquer coisa! Mas por favor, não me faça perder essa fraternidade, é tudo que eu tenho... Além do mais, meu nome poderá ficar manchado para sempre por conta disso, eu posso nunca mais encontrar um lugar para trabalhar, ou sequer estudar, Zoe! Eu não posso me dar esse privilégio, por favor, não tenho condições para tal, é com essa bolsa que eu estou moldando o meu futuro, não posso perdê-la, não posso!

— Você não irá perder nada com isso Kyle – Zoe tentou acalmá-lo, em vão – não fez nada de errado, isso não se aplica a você!

— E você acha que eu ficaria fora dessa? Por ser eu? Zoe, eu e Brener não temos diferença alguma sob o olhar da direção, a punição se estenderia à todos nós da mesma forma, e eu não quero, não quero deixar este lugar.

— Não terá de deixar... Eu quero a expulsão dos estupradores, de mais ninguém... Eu...

— Zoe, por favor!

Seus olhos estavam molhados e intensos. Estampavam tanto desespero que Zoe se sentiu uma pessoa horrível por estar fazendo isso com ele. Mas o que mais ela poderia fazer? Mordeu o lábio com força, rendendo-se.

— Então você me deixa sem opções, Kyle!

— Eu vou dar um jeito.

— Kyle...

— Escute, eu vou dar um jeito – segurou o rosto dela com as duas mãos, forçando-a a o encarar – confie em mim. Por favor.

Ela consentiu, após alguns segundos. Respirou fundo e aceitou que não chegaria à lugar algum; que sua tentativa de fazer a coisa certa se reduziu ao fracasso, e que toda aquela manhã foi uma grande perda de tempo.

— Acho que a minha missão aqui foi cumprida, então – suspirou ela, desapontada – nos vemos por aí...

— O quê? Não. Espere! Já vai embora? Mal deu tempo de eu flertar com você, ainda quero te conquistar... Anda, almoça comigo.

Zoe foi pega de surpresa. O que? Ele ainda quer sair comigo, de verdade? Seria isso um sonho? Piscou inúmeras vezes, se sentindo confusa. Gostaria de almoçar com ele. Gostaria muito!

— Almoça comigo! – ele se agitou todo – Vamos, o macarrão com queijo aqui do refeitório é uma gororoba que só, mas eu prometo que isso não vai ser problema enquanto estiver entretida na minha lábia – riu, entrelaçando os dedos nos dela – Aliás, isso não é nem justo da sua parte, vai ter que aceitar sair comigo uma segunda vez só para provar o meu macarrão com queijo, que eu vou te contar, não tem nem comparação... Vai se apaixonar no instante em que puser uma garfada na boca... Com sorte será por mim, e não pela minha comida!

Zoe pousou os olhos sobre as mãos dadas. Kyle fazia menção de sair guiando ela dali em direção ao refeitório. Ela mordeu o lábio inferior. Entendeu o que ele estava tentando fazer. Queria distraí-la a fim de não perder sua preciosa fraternidade... É claro que ele não tomaria nenhuma providência no final... Mas ela queria almoçar com ele, mais que tudo.

Não iria bancar a difícil, mas deixaria claro que isso não baixaria sua guarda para sempre. Ele havia de saber que ela não é do tipo que desiste. Limpou a garganta.

— Você sabe o que é certo – lhe deu um sorriso fraco – mas vou deixar que me compre com esse almoço, e olha que eu nem estou com fome! – seu tom de voz se tornou mais divertido, e o sorriso em seus lábios aumentou – comi tanta torta agora pouco que se eu explodir, terá de limpar meus resquícios pelas paredes do refeitório.

— Parece justo – sorriu Kyle, distraído – acredito que isso seria a coisa menos estranha que as pessoas já viram por ali. Espere, você disse torta?

— De limão – Zoe riu – a mais maravilhosa que você vai comer em toda sua vida! Me diga, já provou algum doce daquela padaria logo ao lado da casa de Madame Marie Delphine LaLaurie?

— Nunca nem ouvi falar – admitiu.

— Pois eu decreto que a padaria da Dona Rosa será então o nosso próximo ponto de encontro. Ou seria ponto para um encontro?

Kyle riu.

— Então estamos saindo?

As bochechas dela ficaram escarlate.

— Só se você me convidar.

***

Zoe torceu muito para que as outras garotas não tenham sentido sua falta. Bom, não era muito difícil notar o sumiço de uma dentre quatro meninas durante as ultimas seis horas, mas mesmo assim, queria evitar ao máximo levar um xingo de Cordelia, por mais que parecesse muito surreal que a mesma a xingasse. Depois de tanto tempo fora da Academia, Zoe sentia que Delia teria todo o direito do mundo de lhe xingar. Para sua sorte, no momento em que colocou os pés para dentro da grande porta de entrada frontal, Cordelia parecia estar discutindo com Fiona em algum outro lugar, e com alívio, subiu correndo as escadas em direção ao quarto que dividia com Madison. Madison por sua vez, nem mesmo estava ali. O coração de Zoe ficou bem mais tranquilo, e também mais feliz.

Ela nunca iria imaginar que a companhia de uma única pessoa conseguisse a preencher por completo e de maneira tão gostosa. As horas se passaram tão rápido ao lado dele, que era como se o tempo fluísse apenas em outra dimensão. Depois de almoçar, Kyle e Zoe passaram o dia proseando por entre as árvores daquele campus sereno. Hora sob as grandes sombras que elas proporcionavam, hora apenas ouvindo o canto dos pássaros que nelas viviam, e o sussurro vindo dos corações, que conseguiram encontrar entre eles uma sintonia perfeita. Risadas ecoaram por toda a Universidade, era impossível deixar de sorrir estando com ele. Ela conheceu a casa de Fraternidade deles de canto a canto, e por sua sorte não havia ninguém desagradável por lá. Kyle estava matando aula, matou aula a tarde inteira. E mesmo depois de tantos pedidos de desculpa que ela lhe fez por conta disso, ele falou que valeu à pena, e depois de conhece-lo por um dia, Zoe teve certeza de que Kyle Spencer não mentiria.

Tomou um banho caprichado e se perfumou mais do que o usual. Sentia-se bem consigo mesma, portanto sabia que Madison não brigaria ao descobrir que usara seu hidratante importado no corpo inteiro. Era muito cheiroso! E o jantar naquela noite a surpreendeu: nunca pensou que o ensopado de peixe do Spalding fosse lhe agradar tanto! Tudo que ela saboreava tinha um gosto delicioso! O cozinheiro mudo foi elogiado três vezes enquanto ela esteve à mesa. Na hora de dormir, a cama lhe pareceu tão macia e aconchegante, que seus olhos se fecharam quase que instantaneamente, não fosse uma mensagem que apitou em sua cabeceira segundos depois de se deitar.

Kyle: Não consigo dormir.

Acho que estou apaixonado.

Zoe Benson, que tipo de feitiço você usou sobre mim??

Zoe: Tá aí algo que eu não posso te revelar! Hahaha

Kyle: Mas há como reverter?

Estou me sentindo estranho.

Cara, como essa sensação é esquisita.

Zoe: Você quer que eu reverta para você?

Kyle: Não mesmo, eu gostei. Hahaha

Zoe: Que bom.

Porque eu também gostei de você, Kyle Spencer.

:)

Ela acabou adormecendo com o celular na mão. Sentia-se contente. Naquela noite ela sonhou.

[Lauren(Shelby Young): X - X - X]