Depois de uma semana de burrices e brigas, nós finalmente estávamos ali. Frente a frente, prontos para decidirmos o que faríamos com o nosso relacionamento.

Devo lhe dizer que sou um tanto estúpido, mas ela não ficou muito para trás nessa última semana. Estou sempre testando os limites e o amor dela, não de propósito, mas eu testo. Mas essa semana completávamos um ano de namoro, então eu decidi que faria tudo certo.

Meu namoro com M. sempre foi um tanto agitado, eu sempre tive um jeito muito maroto e ela sempre se irritou com isso. Só eu sei o quanto ralei para fazê-la sair num encontro comigo, só consegui um depois de uma aposta em que ela perdeu. Nós somos muito diferentes, mas nos completamos, e isso fazia nosso namoro turbulento. Cheio de brigas e reconciliações. Mas eu não trocaria isso por nada nesse mundo!

Essa semana... Eu ia fazer tudo certo, mas o universo não queria cooperar comigo. Meu pai, de quem ninguém sabe, sofreu um acidente e eu não tive tempo de desmarcar o cinema com a M. Além da vez em que uma garota tropeçou, se segurou em mim e minha linda namorada só viu o momento em que estávamos abraçados e apoiados na parede. Também teve a vez em que ela veio chorando até mim e eu não pude conforta-la porque minha mãe me ligava.

Tentamos conversar sobre tudo, mas ela se irritou e me senti cansado demais para acalma-la. Então a deixei ir. E agora estamos aqui, em nosso aniversário de um ano de namoro. Olhamos um nos olhos do outro e sabemos que não podemos viver assim, mas também sabemos que precisamos de uma despedida.

Nenhuma palavra foi dita. Ela agarrou o meu cabelo ao mesmo tempo em que eu a puxava pela cintura. Foi um beijo apressado e desesperado, cheio de angústia, amor e saudade. Saudade do que ainda não vivemos juntos e nem viveríamos. Nos beijamos como se estivéssemos nos mudando para países diferentes, mas sabíamos que nenhum de nós ia mudar de faculdade, que nos veríamos todos os dias. Nos beijamos como se fosse a última vez que nos veríamos.

E de fato foi.

Naquela noite, depois de nossa conversa, ela não chegou em casa. Um motorista bêbado desrespeitou o sinal e bateu no carro dela, exatamente onde ela estava sentada e ela não resistiu aos ferimentos. As pessoas que se aproximaram dos carros para saber como eles estavam não viram nem o seu último suspiro.

Eu estava em casa quando sua mãe me ligou para me dar a notícia. Depois que ela falou 'faleceu' eu parei de escutar. Minha mente foi para longe dali. Me lembrei da primeira vez que a vi. Seus cabelos loiros estavam presos num coque, seus olhos castanhos estavam levemente maquiados e ela estava irritada. Nossa, acho que é desse jeitinho que eu mais gostava de vê-la... Com aquela carinha de irritada, arrumada de um jeito meio largado, mas ao mesmo tempo feminino. Foi ali que decidi que faria de tudo para sair com ela. Em nossa primeira briga não éramos nem ficantes ainda, eu só gostava de vê-la irritada, então eu implicava com ela e em algum momento ela começou a gritar comigo e eu respondia a altura.

Ela realmente me odiava no começo, ela mesma me disse isso depois que começamos a sair. Mas ela reclamou da época em que eu me afastei, ela sentiu falta da implicância diária, sentiu falta de ter alguém mexendo no cabelo dela durante as aulas. Acho que no fundo ela sempre gostou de mim, mas ela me achava idiota demais e pensava que gostar de mim faria dela uma idiota também.

Ela se foi, mas me lembrarei de cada momento nosso pelo resto da minha vida, mesmo que eu encontre outra pessoa. Não, não viverei do passado, não estarei apaixonado por uma fantasma. Todos se lembram do seu primeiro amor e eu não poderei lembrar do meu só por ela não estar por aí vivendo a vida dela? Isso seria injusto e ridículo! Eu a amarei para sempre, porque ela se foi sendo a minha melhor amiga e será desse jeito que me lembrarei dela para sempre.