Lucy sentou-se em sua cama, soltando um longo bocejo antes de se espreguiçar, levantando um pouco a barra de seu pijama rosa e deixando seu umbigo à mostra. Bem, não havia com o que se preocupar, já que era a única naquele quarto no momento. Na verdade, fazia alguns dias que ninguém invadia sua casa, um marco histórico, se querem saber a opinião dela.

Também havia alguns dias que não via Natsu e Happy. Sem a guilda como ponto de referência, o único lugar em que a loira poderia procurá-los era em sua casa, mas todas as vezes que apareceu lá ao longo da semana, ninguém abriu a porta. Talvez eles tivessem saído em algum trabalho às pressas e não puderam chamá-la?

Não se lembrava de alguma vez os dois a terem esquecido. Por qualquer motivo que seja, eles decidiram que queriam fazer uma equipe com ela há tantos anos e cumpriram com sua palavra, sendo amigáveis, sempre indo chamá-la para os trabalhos, aparecendo para animar seu dia... Afinal, porque eles a quiseram? Nem sequer conseguia se lembrar direito do motivo, mas agradecia imensamente o que quer que fosse.

Não conseguia imaginar sua vida sem Fairy Tail, mas absolutamente não conseguia imaginá-la sem Natsu.

Antes que pudesse abaixar os braços novamente, após terminar de se espreguiçar, ouviu alguns sons em seu banheiro. Seu corpo estremeceu de imediato, e a garota deixou as mãos caírem ao lado do corpo, preparando-se para ir lá e acabar com o que quer que fosse — afinal, havia uma grande gama de possibilidades, chamada amigos.

Soltou um suspiro alto, levantando-se e seguindo até o banheiro. Adentrou soltando um grito alto, apenas para arregalar os olhos em seguida.

Sentado em sua banheira estava Natsu. Nem bem era esse o problema, ela já o havia visto nessa situação mais de uma vez — embora não se sentisse confortável, é claro —, mas nunca antes o garoto estivera tão... Melancólico. Sentava-se com as pernas dobradas contra o peito e uma toalha sobre sua cabeça baixa obscurecia suas feições, embora a boca ainda fosse visível.

Uma linha reta e infeliz.

— N-natsu? — chamou, dando um passo incerto para fora do banheiro. Assim como ele não se incomodou com seu grito inicial, nem sequer se moveu ante seu chamado, e quaisquer questões sobre como entrou no banheiro sem passar pela sala de estar foram esquecidas no fundo de sua mente.

Algumas gotas escorriam lentamente dos cabelos rosados e pingavam dentro da banheira e o toalete não tinha nem um pouco de vapor, o que era anormal, considerando que aquele era o dragão de fogo dentro da água. O nervosismo foi ultrapassado por uma preocupação latente e a Heartfillia permitiu que sua expressão suavizasse, sumindo com seus olhos arregalados e com suas sobrancelhas franzidas.

Sentiu um pequeno tremor em seu corpo enquanto deu um passo humilde para frente, e mais outro, e mais outro, até que estava ao lado da banheira. Ignorando a nudez do rapaz, colocou uma mão dentro da água e soltou um suspiro de compreensão ao perceber a temperatura gélida.

Retirou os dedos lentamente, fechando os olhos. Não era normal, definitivamente, e é claro que ela sabia do que se tratava.

Virou de costas, sentando-se contra a porcelana branca da banheira e inclinando a cabeça para trás, ignorando a sensação de que seus cabelos estavam dentro da água. Este era um momento em que, mais do que nunca, Natsu precisava dela, e não iria embora, definitivamente, até que pudesse dar a ele o necessário.

Pareceu uma eternidade, mas após algum tempo, a voz masculina ecoou pelo banheiro gelado:

— Você estava falando sério quando disse que eu deveria ouvir o meu coração, Lucy? — Era um sussurro baixo, quase sem emoção, como se não houvesse qualquer sentimento restando no peito para que pudesse demonstrar, e a garota fechou os olhos, desejando que ele não pudesse perceber a tristeza em seu rosto.

— Eu estava — murmurou em resposta, obtendo pouco sucesso em demonstrar a mesma indiferença que ele.

Alguns instantes de silêncio se seguiram, nos quais tudo o que ouviu foi a água mexendo com os pequenos movimentos que o rosado fazia enquanto respirava. Parecia de certa forma reconfortante. Estava vivo e estava com ela, não importando a tristeza que sentisse, ou a solidão, ou o medo.

— Você sempre segue o seu coração, Lucy? — questionou, a voz novamente indiferente.

— Sim. — Não, não, é uma mentira, sua mente chorou em seus pensamentos. Se você seguisse seu coração, você já teria contado a Natsu o que você sente. Se você realmente ouvisse, não seria num banheiro gelado que vocês estariam agora!

Tão logo inclinou a cabeça para frente, a fim de esconder uma pequena lágrima se formando, ouviu o alto barulho da banheira quando Natsu se ergueu. Surpresa, levantou o olhar, constatando a expressão decidida no rosto dele quando o garoto amarrou a toalha na cintura e colocou as pernas para fora, parando de pé ao lado dela.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, o garoto se abaixou, passando um braço sob seus joelhos e agarrando suas costas, levantando-a efetivamente do piso gelado do banheiro. Qualquer protesto que ela tivesse morreu em sua garganta conforme ele a carregava até o quarto novamente e a colocava com delicadeza sobre a cama.

Sentiu os lençóis sob os pés descalços e, assim, que ele a soltou, levantou a cabeça para lançar a ele um olhar alarmado. Novamente, antes que pudesse dizer qualquer coisa, o rosado colocou uma mão em seu rosto, traçando seu queixo com carinho.

Lucy piscou, seus olhos encontrando os verdes musgo dele, cheios de perguntas mal formuladas. Não havia resposta alguma nas íris masculinas, mas seus dedos pareciam pegar fogo enquanto a tocavam, fazendo em seguida o caminho pelo contorno de sua face até a testa, na qual afastou a franja dourada com a mão.

Quando a garota piscou novamente, a boca dele estava sobre sua testa, quente, tão quente, tão macia. Seus olhos, por qualquer motivo desconhecido, se fecharam automaticamente e tudo em que se concentrou por alguns instantes foi na sensação ígnea de um pequeno sonho realizado.

Ela o queria, como ela o queria.

— Obrigado, Luce — ele sussurrou contra sua desta, a outra mão agora em sua nuca de forma suave. A loira sentiu o coração perder uma batida, todas as células de seu corpo pareciam inexplicavelmente cálidas e havia algo como borboletas em seu estômago, se revirando, esquentando e fazendo-a sentir arrepios que subiam das costas até a nuca tocada por aquela palma grande.

Puxou o ar com dificuldade, o apelido dito sempre de forma inconsciente ecoando em sua mente, até que por fim ele se afastou e quando a garota teve coragem para abrir os olhos novamente, não havia mais ninguém no quarto com ela.

~*~

Quando acordou no dia seguinte, ainda com preguiça de levantar da cama, Lucy se espreguiçou, sentindo um pequeno frio no umbigo, onde a pele ficava exposta pelo pijama rosa. Lembrou-se do calor em seu estômago devido à aproximação de Natsu e fechou os olhos, colocando as mãos no rosto que imediatamente corou e tentando inutilmente conter o nervosismo.

Não esperava por aquilo, definitivamente, e o que quer que tivesse significado para ele, para ela significou felicidade.

Sentia-se, sem qualquer motivo, a rainha do mundo. Seu próprio mundo. E a felicidade estava em suas mãos.

Soltou um pequeno gritinho antes de levantar da cama e, ah, havia uma pequena surpresa em sua mesa a esperando.

Quando terminou de ler, deixou a folha escorregar por entre seus dedos sem sequer se importar, porque simplesmente não tinha como prestar atenção nisso quando havia uma dor muito maior em seu peito.

Sentia-se, sem qualquer motivo, usurpada de seu trono. E em seu próprio mundo, ninguém mais a adorava. E a felicidade... Não mais existia?

Natsu havia ido embora.

Ela estava sozinha.