Na manhã seguinte, Umi acordou bem cedo, aprontou-se para a escola, tomou seu café da manhã, e saiu, despedindo-se da mãe, sem nenhum resquício da febre que antes havia se apoderado dela. A mãe acenava aliviada e sorridente, imaginando que o remédio havia feito efeito, sem saber que a garota estava assim por causa dos cuidados especiais de Eli.

Ao chegar na escola, Umi acompanhou as aulas normalmente dessa vez. Não tinha mais a preocupação em relação a uma música inacabada. Ela estava pronta, e Umi estava bem orgulhosa do seu trabalho. A garota até sorria bobamente enquanto anotava o que o professor escrevia no quadro negro. Mas, na verdade, esse sorriso todo tinha um outro motivo. Ela ainda estava com aquela sensação reconfortante e calorosa do abraço de Eli em seu corpo. E ela cantarolava, bem baixinho para não ser repreendida, a melodia da canção que a loira havia cantado só para ela.

Depois das aulas, as garotas se encontraram para ensaiar e Umi decidiu apresentar a música nova. Ela entregou cópias da letra da música para cada uma e então colocou seu gravador para tocar a própria voz dela, que ela havia gravado na noite anterior, cantando a tal música que ela havia acabado de criar. As meninas iam acompanhando e pareciam empolgadas, a música era linda! Era toda romântica e falava sobre cuidar um do outro nos momentos que a pessoa mais necessitava.

Eli leu aquela letra com um sorriso no rosto. Seu coração batia forte. Ela gostava de acreditar que aquilo era uma espécie de declaração dos sentimentos de Umi. Se fosse mesmo, a loira com certeza ficaria muito feliz. Depois de ouvir a música inteira, Eli foi a primeria a aplaudir e a elogiar o trabalho de Umi, o que fez com que a mais nova ficasse toda envergonhada, mas fosse incapaz de segurar aquele sorriso contente por ter conseguido agradá-la.

Todas as outras a elogiaram em seguida e Honoka até comentou que aquela música casaria bem com a coreografia que elas haviam aprendido no dia anterior. Umi ficou ainda mais feliz. Elas então começaram a ensaiar e Umi, ainda muito sem graça pelo que havia ocorrido enquanto ela estava doente, ficou meio que distante da loira durante o ensaio todo. Eli percebeu, lógico, mas resolveu não comentar, pelo menos não na frente das outras, pois isso poderia afastar Umi ainda mais dela. Honoka e Kotori trataram de ensinar a Umi os passos direitinho e a garota até que pegou rápido. Logo estavam passando todas juntas e com a gravação de Umi tocando ao fundo. Realmente só tiveram que fazer pequenas mudanças na coreografia, o resto todo já estava a cara da música que Umi havia feito.

Já era de noitinha quando as garotas começaram a se despedir. Algumas decidiram parar em algum lugar para comer antes de ir para casa e até convidaram Umi, mas a garota disse que tinha que voltar logo para estudar, pois havia deixado os livros de lado por muito tempo para poder terminar aquela música. Eli já estava saindo com Nozomi quando Umi a chamou.

– E-Eli... Eu queria falar com você um instante. – Ela corou, imaginando que talvez Nozomi fosse ficar curiosa sobre o que elas tinham para conversar – É sobre a música, eu queria sua opinião sobre algumas partes... – Mentiu, mordendo de leve o lábio inferior.

Eli ficou olhando-a, em silêncio por alguns segundos, até então voltar-se para Nozomi.

– Pode ir na frente, depois eu encontro com vocês na lanchonete. – Eli disse, sorrindo de leve.

Nozomi concordou com a cabeça e saiu, acenando para ambas. Umi acenou de volta até que a outra fechasse a porta. Eli então descansou uma das mãos em sua cintura e olhou para a mais nova.

– Então... sobre o que você realmente queria falar? – E frisou bem a palavra “realmente”, entregando que já havia percebido a mentira da garota.

– E-Eu... – Umi se atrapalhou toda por ter sido descoberta. Seu rosto logo ficou tão vermelho como quando ela estava com febre. – Eli... é que eu...

– O que foi? A febre está voltando? – Eli foi se aproximando e já ia levando a mão até a testa de Umi para sentir sua temperatura, mas a mais nova agarrou-lhe a mão rapidamente, surpreendendo-a.

– E-Eu... Eli... – Ela gaguejava, segurando a mão de Eli entre as suas, deixando claro a dificuldade que tinha para dizer aquilo. Umi respirou fundo por alguns segundos, como se estivesse arrancando toda a coragem que tinha adormecida dentro de si, para finalmente dizer tudo que queria. – Eu te amo, Eli! E-Eu te amo já faz um tempo e... e ontem eu percebi que eu precisava te falar isso... Eu não... Eu não conseguia mais ficar guardando... S-Se eu estiver sendo um incômodo, me desculpe...

Eli ficou em silêncio, observando-a de cabeça baixa e com o rosto todo corado. Ela então levou a mão livre até o queixo de Umi, erguendo-o e fazendo a menina olhar nos olhos dela.

– Eu já sabia. – Ela disse, sorrindo.

– J-Já?! Mas... M-Mas... – Umi estava muito vermelha, mas não conseguia tirar os olhos dos de Eli.

– Eu percebi pela sua música... Ela falava sobre a gente, não é? Em específico, sobre ontem.

Eli podia ver no rosto de Umi como ela parecia chocada ao perceber que havia sido tão óbvia assim. Ainda bem que as outras meninas não sabiam do ocorrido. A loira quis rir da expressão que Umi fazia, mas não o fez.

– Umi... eu também te amo. – Eli finalmente disse, sorrindo para ela e lhe fazendo um leve carinho no rosto com o polegar.

– V-Você... você...

– E já faz tempo também. Me desculpe por não ter dito antes e ter feito você se esforçar tanto sozinha. – Ela acabou rindo de levinho.

Umi mal conseguia acreditar. Eli retribuía os seus sentimentos. A garota não poderia estar mais feliz. A loira começou a aproximar o rosto e Umi sabia que ela iria beijá-la. Mas antes que Eli o fizesse, a garota quebrou o silêncio.

– E-Eu ainda não estou 100% curada... e... e se eu te passar minha doença e... – O gaguejado sem graça de Umi foi calado com um beijo de surpresa que Eli lhe dava. A loira sabia que ela também queria o beijo e só estava falando aquilo por estar realmente envergonhada. O beijo foi curto, mas foi o bastante para deixar Umi sentindo seu corpo flutuar.

– Desculpa... é que eu já me segurei demais. – Eli disse, sorrindo.

Umi, em resposta ao que a outra havia dito, jogou-se em seus braços, beijando-a mais uma vez. Dessa vez um beijo demorado e muito apaixonado, onde ambas puderam aproveitar bem melhor cada segundo. Seus corações batiam em sincronia, as mãos de Eli acariciavam as costas de Umi enquanto as de Umi brincavam com seu cabelo loiro, ainda preso no típico rabo-de-cavalo.

Eli acabou não indo para a lanchonete encontrar-se com as outras como havia prometido. E Umi demorou bastante para chegar em casa, e quando o fez não conseguiu tocar em um livro para estudar como era o planejado. Pra falar a verdade, elas nem conseguiriam dormir naquela noite com aquela sensação maravilhosa de estarem completamente apaixonadas. E o melhor, de serem completamente correspondidas.