A Orquestra escrita por Winston


Capítulo 24
Passarinho verde




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Aumentou o volume do som, em uma rádio que só passava músicas naquela hora da tarde, colocando o volume no máximo antes de pegar a vassoura e começar a cantar também em gritos a música que passava. Maria não sabia a letra, mas enrolar era sua especialidade. Aproximou-se de Joana, que havia tirado Maria do quarto, onde estava tranquilamente olhando para o teto, cheia de preguiça, para que dessem uma faxina na casa. Era sábado e, desde que a ruiva havia chegado, a situação da casa tinha ficado um pouco caótica, ainda mais contando que Joana não havia feito nada durante toda uma semana.

– Dança comigo! – falou com a voz alta o suficiente para que ultrapassasse o volume da música.

– Não é pra dançar, Maria! Varre logo essa cozinha. – gritou Joana de volta, que estava tirando a poeira dos móveis.

Ela poderia aparentar estar nervosa, e estava mesmo um pouco com toda aquela demora de Maria para começar o trabalho, mas também se movia no ritmo da música enquanto passava o pano sobre a estante da sala. Ela resmungou um pouco, mas foi até a cozinha e começou a varrer, cantando a plenos pulmões usando o cabo da vassoura como microfone de vez em quando.

– De onde tirou tanta alegria hoje? – Joana ria ao perguntar, passando pela cozinha para ir até os quartos.

– Vi um passarinho verde. – Maria respondeu rindo, tirando as sujeiras do chão com uma pazinha e jogando-as no lixo.

Joana apenas negou com a cabeça, sumindo entre os outros cômodos do apartamento, deixando que Maria desse conta de varrer toda a casa enquanto ela se virava com o resto das coisas, como tirar poeira, organizar o que tinha no chão e etc. Tudo passou mais rápido do que normalmente, talvez por Maria estar realmente muito animada cantando e dançando por toda a casa ao mesmo tempo em que limpava o chão, ou porque as músicas eram realmente animadas naquela manhã. O fato era que, quando finalmente terminaram, jogaram-se no sofá e soltaram um suspiro ao mesmo tempo, começando a rir preguiçosamente depois.

– Estou tão cansada, a gente tem mesmo que fazer almoço? Não dá pra ir comer no restaurante? Pedir por telefone uma marmita? – mal havia tomado fôlego e já estava com preguiça outra vez.

Joana revirou os olhos.

– Não, a gente vai fazer comida, até porque você comprou um monte de coisas e não fez metade delas. Que ideia foi aquela de fazer a compra do mês sem mim? – a pergunta fez Maria gemer de tristeza.

Era verdade que não sabia fazer a compra como Joana fazia, mas como ela estava no quarto, toda sofrida, não queria ir lá e perguntar o que precisavam para casa. Então, com a ajuda de um Gabriel ainda menos preparado do que ela para tal coisa, os dois acabaram comprando tudo que achavam necessário, até mesmo frutas e verduras que só de olhar faziam seu estômago pedir um hambúrguer. Mas como Joana era daquelas de que quanto mais cara de ruim tem uma coisa, mais saudável ela é, apenas colocaram no carrinho e pronto.

– Olha, eu tentei e você não devia me julgar por isso. – levantou um dedo ao falar, tentando parecer certa de si mesma.

– Claro, mas da próxima vez me peça pelo menos uma lista.

– Uhum. – concordou, movendo a cabeça para baixo e para cima.

Mesmo falando que deveriam fazer comida, ou pelo menos sair de onde estavam, Joana não se moveu e muito menos Maria. Ficaram jogadas no sofá como dois vegetais por muitos minutos, até que a mais nova soltou um longo e preguiçoso suspiro.

– Tá melhor hoje? – virou o rosto para encarar Joana sentada ao seu lado.

– Estou sim. – ela abriu um sorriso tranquilizador, virando-se para encarar Maria, que por sua vez abriu um sorriso de orelha a orelha.

– Entãaaaaaaaao... – cantarolou, levantando-se rapidamente, pegando na mão de Joana para puxá-la do sofá. – Vou te dar seu presente! – falou animada, quando finalmente tinha Joana de pé, com uma expressão confusa no rosto.

– Meu presente? Mas faz quase duas semanas que você chegou, só agora se lembrou disso? – realmente, não fazia sentido em sua cabeça que só agora Maria se lembrasse do presente.

– Claro que não, lembrei antes. – falava ao sumir para dentro do próprio quarto, aumentando o tom de voz para ser ouvida na sala. – Mas você não estava no seu melhor momento pra receber presentes, então esperei.

Maria não se demorou no quarto, voltando correndo para a sala com uma sacola transparente cheias de caixinhas de incensos dentro, cada um de um cheiro diferente. Esticou a sacola na direção de Joana, com um sorriso tão enorme que a outra garota achou que ia ser engolida por ele. Mas, quando viu o que era o presente seu queixo caiu, olhando caixinha por caixinha com os olhos arregalados.

– Eu nunca vi esses cheiros por aqui. – sua voz estava baixa e surpresa.

– Eu sei, por isso comprei todas que eu achei divertidas e cheirosas, essa é minha preferida. – apontou para uma das caixas, que tinha a cor roxa.

A outra apenas continuou a olhar as caixas por um tempo, para então finalmente levantar os olhos e olhar para uma Maria ansiosa para saber o veredito de seu presente. Joana sorriu abertamente antes de jogar os braços ao redor de Maria com tranquilidade, puxando-a para um abraço de agradecimento e de saudade, já que até o momento não a tinha abraçado direito.

– Obrigada. – agradeceu, pouco antes de soltá-la do abraço, ou pelo menos tentar.

Maria continuou abraçada mesmo quando Joana já a havia soltado, se sentindo obrigada a abraçar de novo ao ver que a outra não parecia com intenções de soltar. Joana soltou um suspiro, escondendo o rosto no ombro de Maria ao segurar o choro que começara a vir, sabia o porque de Maria segurá-la no abraço daquele jeito, e por mais que não quisesse se lembrar daquilo não podia negar o carinho dado pela amiga.

Apenas se soltaram quando ouviram o som do interfone tocando, o que obrigou Maria a correr até ele para dar tempo a Joana, que estava com as bochechas molhadas.

– Oi.

– Correspondência. – avisou o porteiro, ao que Maria confirmou que desceria para pegar.

Calçou um chinelo e correu até a porta, gritando para Joana, que agora estava na cozinha separando ingredientes, que iria descer para pegar a correspondência e já voltava. E, como havia dito, mal passaram três minutos e já estava outra vez abrindo a porta barulhenta do apartamento, passando as contas uma atrás da outra ao andar até a cozinha, colocando as que tinha visto sobre o balcão.

– Por que elas têm que chegar todas juntas? Sinceramente. – Maria comentava, passando as cartas para Joana, que apenas olhava o nome delas e fazia uma careta, sem parar de cortar os ingredientes para o suflê que ia fazer.

– Porque a vida não é justa.

Joana riu baixo, mas ao não ouvir o som da risada da amiga, levantou a cabeça do que estava fazendo para olhá-la, apenas para dar de cara com uma Maria com os olhos arregalados olhando para a última carta que tinha em mãos, que por sua vez tremiam muito para ser apenas um pequeno susto.

– Maria? – chamou, largando a faca e limpando a mão no pano de cozinha antes de dar meia volta no balcão e ir até a garota. – O que foi?

Sua pergunta foi respondida por grandes arfadas de ar de Maria, que soltou a carta sobre o balcão ao agarrar-se a ele, de repente sentindo uma falta de ar que achava que só gente com asma era capaz de sentir. Joana, ao ver o estado dela, mal olhou para a carta e segurou Maria pelos ombros.

– Olha pra mim, respira com calma. Inspira e expira, puxa o ar e solta com tranquilidade. – seu lado médico se ativara rapidamente ao ver que a amiga estava tendo um ataque de pânico a sua frente, hiperventilando desesperadamente. – Eu to aqui, não vai te acontecer nada.

Tinha estado de cara com poucos ataques de pânico, mas agradecia por estar ali por Maria, que assentia com a cabeça para o que Joana falava e tentava controlar a respiração, o que era difícil considerando que nunca tivera uma coisa daquelas e se desesperava ainda mais por não conseguir respirar direito. Minutos se passaram antes que pudesse voltar a respirar e ter a mente mais calma, e então se sentou em um dos bancos da cozinha para que Joana fosse até a geladeira para pegar um copo de água.

– Melhor? – perguntou Joana, preocupada, assim que a outra terminou de beber o copo de água. Maria apenas assentiu com a cabeça. – Ótimo, agora vamos ver o que... oh. – cortou o próprio pensamento ao ver a carta.

Claro que tinha visto Marcus dar a volta no prédio várias vezes, mas tentava ignorá-lo o máximo possível, até mesmo havia avisado a Gabriel que o garoto estava passando por lá todos os dias, como se esperasse que Maria saísse pela portaria a qualquer momento. Não se deu o trabalho de abrir a carta, apenas a rasgou e jogou no lixo da cozinha, voltando sua atenção para Maria.

– A próxima vez que ele aparecer por aqui eu chamo a polícia. – resmungou com raiva, para então pegar a faca e voltar a cortar os ingredientes, como se quisesse provar que estava falando sério. – Esse garoto precisa de ajuda, acho que vou falar com os pais dele.

Maria teria começado a rir se ainda não estivesse tão assustada, afinal, como Joana ia descobrir quem eram os pais de Marcus? Mas também estava preocupada com a carta no lixo, se fosse algum aviso como o do dia que ele fora em sua apresentação precisava saber, não queria ser surpreendida outra vez. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo todo e engoliu em seco ao pensar naquilo, movendo a cabeça para espantar aqueles pensamentos. Só esperava que ele não aparecesse outra vez na sua frente, coisa que sentia que não iria acontecer.


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