A Orquestra escrita por Winston


Capítulo 10
Quadros




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Dois dias mais tarde, depois de ficar a manhã inteira ensaiando no teatro com a ajuda de Albert e Alba, que parecia realmente feliz por ter algum animo naquela sala na maioria das vezes silenciosa. Maria estava especialmente dispersa naquele dia, com a cabeça nas nuvens como se tramasse alguma coisa, e na verdade estava tentando tramar algo, mas nada lhe vinha à cabeça. No fim das contas Alba cansou-se de tanto rir do desengonçamento de Maria e foi arejar um pouco pela cidade, Albert continuou ali algum tempo mais tentando ajudá-la a manter a postura, mas no fim das contas nem ele mais aguentava fazer mais nada e nem ouvir a mesma nota.

Acabou que os dois saíram do teatro dispostos a comprar um sorvete, e durante o caminho até o supermercado Maria pediu ajuda para Albert sobre o que dar de presente online para Gabriel. Tinha feito o mesmo com Alba, mas ela se perdera quando falara de Skype e Maria apenas riu tentando explicar, no fim das contas as duas mudaram de assunto sem que fosse de alguma ajuda. Albert não foi muito diferente, na verdade ele era bastante indiferente com essas coisas, como se não se animasse com aniversários. Maria achou estranho, mas não falou muito, cultura era cultura.

Voltaram para o hotel com um pote de sorvete para cada um e com a falta de uma ideia sobre o que fazer ou falar para Gabriel, despediram-se quando Albert saiu do elevador em seu andar, e logo depois Maria fazia o mesmo, dois andares acima. O resto do dia passou sem incidentes, nem ideias, o que era depressivo para ela. Voltou para o quarto depois do jantar, e pouco tempo depois estava sobre a cama com as pernas cruzadas, o notebook sobre elas e os olhos pregados no relógio da tela.

Estava esperando que desse meia noite, tinha passado o dia todo pensando no que falaria para Gabriel, já que era o aniversário dele, mas não tivera a oportunidade de falar com o melhor amigo o dia inteiro. Então ali estava ela, esperando que fosse uma hora razoável onde ele estava para poder começar a ligar eternamente pelo skype. Mal chegou a hora certa já clicou para chamá-lo, e para sua surpresa o garoto não estava fora de casa dando a louca numa boate como tinham feito no seu próprio aniversário, mas sim estava em casa já que atendera a chamada na mesma hora.

– FELIZ ANIVERSÁRIO PRA VOCÊEEEEEEEEEEEEEE! – praticamente gritou, levantando os braços para o alto, mas conteve-se um pouco já que era super tarde e mesmo com as paredes mais grossas do mundo, um grito ainda era um grito.

– OBRIGADOOOOO! – Gabriel sim gritou do outro lado, levantando os braços para cima imitando o movimento de Maria.

Balançaram os braços no ar em desespero, para então deixá-los cair ao lado do corpo e começarem a gargalhar da própria invenção de moda.

– Como estão as coisas aí? Ganhou vários presentes? – perguntou Maria, ao finalmente conseguir controlar a risada.

– Ganhei alguns, e as coisas estão tranquilas. – ele pensou por um instante, e então de repente começou a pular na cadeira, batendo as mãos loucamente sobre a mesa do computador. – EU VENDI, VENDI UM QUADRO!

Maria começou a dar pulinhos e curtos gritinhos ao ouvir a notícia, acompanhando o desespero feliz do melhor amigo. Não era que ele nunca tivesse vendido um quadro antes, era bastante talentoso pra que uma ou outra pessoa resolvesse pagar por seu trabalho, mas sempre era um desespero para os dois quando vendia algum, como se fosse a primeira vez que ele conseguia tão façanha. Ficaram algum tempo comemorando com dancinhas e músicas sem muita letra, apenas ruídos sem sentido.

– Qual deles? – falou Maria por fim, com os olhos arregalados e brilhantes.

– Aquele que fiz quando a gente foi no parque jogar migalhas pros peixes, lembra? – Gabriel puxou uma de suas pernas sobre a cadeira em que estava, apoiando o braço sobre o joelho.

– Lembro sim, ele era tão lindo. Mas que bom que vendeu. – a verdade era que ela o queria para ela desde sempre, estranhava até que Gabriel não o tivesse vendido antes, mas estava muito feliz por ele.

– Também acho, meu melhor presente de aniversário. – falou, passando as mãos pelos cabelos quase em alívio, antes de voltar a encarar a tela do computador. – Só sei que eu não devia ter ido a todos os lugares pra pegar inspiração com você, agora não tem graça pintar sem ter você me enchendo o saco falando que o céu tá azul demais enquanto eu pinto um lago. – o canto de seus lábios subiu ligeiramente, denunciando que sua tentativa de expressão triste estava segurando um sorriso.

– Pois é, também não sei como eu to conseguindo tocar sem ter você arruinando a música cantando no meio da sinfonia do Beethoven. – jogou de volta, soltando um suspiro sofrido ao negar com a cabeça desconsolada, ou quase isso.

– Não, mas é sério. Você me dava ideias, mesmo apontando pra nuvens com forma de tartaruga ninja ou do piupiu fumando cachimbo. – dessa vez ele sorriu de verdade.

– Hey, nada de começar a falar de saudades agora, é seu aniversário. Tá mais do que na hora de você tirar essa blusa velha, porque eu sei que ela tá mais do que idosa, colocar uma roupa massa e sair pra abalar com as gatinhas. – cortou Maria o momento sentimental do amigo, sabia que também começaria a ficar toda tristonha se não o fizesse.

– É plena quinta-feira, nem todo mundo tem sua sorte de ter o aniversário no sábado igual você. – resmungou ele, estava chateado mesmo com esse fato.

No final das contas ele não saiu, Maria foi dormir umas três horas mais tarde, depois de quase ser expulsada da internet por Gabriel, que sabia que estava tarde em Berlin e que ela devia estar descansada para poder abalar tocando nos ensaios e com a orquestra. Maria tentou dissuadi-lo, queria falar mais com o amigo em seu aniversário, já que não podia estar do lado dele fazendo trancinhas em seu cabelo como implicância. Era a primeira vez, desde que se conheciam, que passavam o aniversário de um dos dois longe um do outro, se sentia meio culpada.

Mas a insistência de Gabriel, e o fato de que seus olhos ardiam de sono, fizeram com que finalmente se despedisse demoradamente e desligasse o notebook, deitando-se na cama de uma vez, já que tinha se preparado para dormir antes de ligar. Teve sonhos tranquilos dessa vez, e acordou sem lembrar nenhum deles, apenas de que tinha uma árvore. O que não significava nada, vários sonhos tinham árvores, era ridículo que se lembrasse disso.


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