A Rainha Dourada. escrita por AnaBonagamba


Capítulo 3
O portal.


Notas iniciais do capítulo

Por hora, nada. Apenas gostaria de declarar que foi muito divertido pensar este aqui.



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– Poderiam ter deixado um sinal mais aparente. - queixou-se o mago, cruzando o que lembrava um umbral de folhagens. - No mínimo, que pudesse ser identificado pelos que conhecem!

Gandalf afastara-se prontamente, levantando o cajado a iluminar possíveis inscrições em pedra. Nada. Se comprometera a buscar auxílio dentre aqueles que tantas vezes a outros fora negado, e desistir ante a isso não soaria desonroso. Ao contrário. No andamento que se dava, era a atitude mais lógica. Mas não havia um palmo de esperança enraizada em sua tez?

A voz da senhora de Lothlórien, Lady Galadriel, ecoara em sua mente, num suspiro gracioso como somente ela seria capaz de produzir. "Há forças que vão muito além daquelas que nos foram prestadas um dia, Mithrandir, entregues a nós por gerações milenares. Criaturas místicas intimamente mágicas.

A bela elfa branca, cuja luz tomara o espírito e o olhar de toda criatura que um dia pudesse observá-la, sorriu para o mago docemente, seus cabelos acariciados pelo vento. Longe dali, uma harpa tocava graciosamente, revelando o aspecto misterioso de seu intuito ao contar a história.

No princípio, eram muitos. Controladores de mente e de alma. A sabedoria deles infinitamente construída a partir da própria existência, até que se corrompeu, assim como a todos. Sem delongas, extinguiram-se da face desta terra, um por um, até que apenas doze puros restaram, e estes formaram para si um império, fortalezas tão grandiosas que mesmo os olhos élficos perdiam-se em seus horizontes.

Apesar de poderosos, os doze reis temiam pela segurança de seus povos, tão inertes a sua condição: humanos, elfos, troca-peles, mestiços dos seus. Os que restaram imploravam para atravessar suas fronteiras, mas o mal crescente em Mordor também ameaçava-lhes a paz e, num ato de benevolência mútua, os três foram convocado: Seus anéis cintilaram ao mínimo toque do imperador, aquele cuja capacidade do domínio mental era soberana, levados até o pico mais alto de seu palácio e banhado da luz das estrelas. Rubi, diamante e safira, agora abençoados pelo próprio espírito de Ilúvatar.

Selados para sempre, partiram à salvação da Terra Média, com a promessa de que seus segredos estariam guardados e sua essência restituída, oculta a incomuns senão aqueles que presenciaram sua ascensão. Jamais nos uniríamos novamente, e a despedida silenciou-se ali. Aos elfos, um descanso duradouro, enquanto sua história tornou-se apenas uma vaga memória vitimada pelo esquecimento.

O significado de tais palavras era inconcebível para Gandalf. Temia pelo que podia acontecer, a partir do momento que cruzasse os mundos, e não saberia sequer prever o que havia de encontrar do outro lado. A tudo eles veem, não há quem caminhe em suas sombras, foram as últimas adições da bela dama. Um enigma suspenso em mithril, leve, porém impenetrável.

Talvez chegasse a hora de dar-se por vencido e retornar de encontro aos anões. Àquela altura, estariam próximos do Vale, seus corações inflamados pela vizinhança com a Montanha Solitária. O lar perdido que tão ardorosamente lutariam para recuperar, apostando suas vidas nessa empreitada. Vidas que até então resumiam-se em existência.

Com passos curtos, retomou o caminho, inserido em pensamentos desconcertantes e suspiros intensos. Estaria destinado a cavalgar até Dol Guldur, as masmorras do Necromante, incumbido de revelar o inimigo e seu real propósito, qualquer fosse o custo. Tolice, branda e ingênua, acreditar que seria honrado em vislumbrar o portal, tomado pela nuvem branca, guiado até os mais altos montes dos reinos onde pudesse ser ouvido pelo Imperador. Imploraria, se necessário, até a última gota de agonia, para certificar-se acerca do futuro que tenramente os aguardava. Thorin Oakenshield e a companhia. Todos os povos livres da Terra-Média.

Mas, ali, apenas Thorin Oakenshield e a Companhia.

Acelerou o passo, mesmo que os pés não lhe atendessem devidamente. As vestes flutuando, prevendo o perigo a que deixara os anões e o pequeno hobbit. Os pensamentos hostilizados misturando-se a milhões de possibilidades, muitas delas negativas, apesar de estar tratando de verdadeiros guerreiros de Durin, criados para combate. Magia negra fora empregada ali, consumindo contra a vontade qualquer luz, alimentando trevas.

E flechas cortando o ar em disparada.

– Mestre Gandalf! Ajude-nos! - Kili pediu em desespero, enquanto uma aranha imensa insistia em persegui-lo. Os outros lutavam para se desvencilhar das teias, cada vez mais aparentes, os monstros tomando forma.

– Elfos! Os elfos da floresta estão aqui! - bradou Dwálin.

– Onde está Bilbo? - o mago ergueu a espada, a lâmina atravessando as fendas venenosas do animal.

– Não o vimos mais desde que caímos numa armadilha. - o cabelo de Thorin grudando-lhe a face ferida, diferindo golpes cegos.

Elfos e anões lutando por um mesmo propósito. Se pudesse, observaria. Mais flechas élficas surgiram entre as árvores.

– Preciso encontrá-lo, agora!

– Não é necessário, Gandalf, eu estou aqui. - o hobbit aproximou-se, estavam cercados.

– Mas, como..? - iniciou Thorin, interrompido em seguida pelas súplicas de Kili.

– Socorro!

– Gandalf, você foi em busca do portal para Stellaevie, não? - arguiu o pequeno, exasperado.

– Não me compete mais.

– Eu aposto o contrário. - Bilbo voltou seu olhar para cima, pequenas criaturas borboleteavam sob ambos. - Antes, pensei que tinha enlouquecido de vez, me perseguiram e até me atiraram pinhas. Se não me engano, isso são fadas.

Somente aqueles que não desejavam buscá-lo seriam sequer capazes de encontrá-lo.

– Apenas uma alma íntegra e pura pode ser atraído por fadas de Dragon Forest. Elas já estão do outro lado! - o mago exaltou-se, protegendo o hobbit de uma ponta cega. - Devem abrir o portal!

– Mas, mas... como?

– O que você mais deseja não é aquilo que busca?

– O que? Não estou entendendo!

Gandalf não teve tempo para maiores explicações, deixando o pequeno novamente sozinho com seus enigmas.

Mesmo que fosse esperto, era demasiadamente complexo desconstruir um pensamento fundado a partir de questionamentos opostos. A verdade era que, surpreso com a aparição das fadas, só notou que portava o anel de Gollum em seu dedo, quando ouviu a voz de Gandalf perguntando por ele, retirando-o rapidamente. Antes disso, um espelho ergueu-se diante de seus olhos, um que pudesse observar a si e a todos de um ângulo suspeito: vendo por cima. A copa cheia das árvores deram lugar a um céu turquesa estrelado, recortes laranjas do sol que se pusera há pouco. O silêncio substituído por um confortável bailar de ondas.

Incerto, ousou usar o anel novamente, esperando recuperar a ilusão de outrora. E assim fez-se. Uma harmonia jacente inacreditável, inabalável mesmo que abaixo o bramir dos anões fosse relevante. Deslumbrado por tal encanto, reparou que as imagens se distorceram, revelando o condado, o bolsão, exatamente como deixara, aguardando o tão esperado retorno. Seu lar, o lugar para qual poderia se refugiar buscando consolo, carinho e conforto. Onde criara laços de afeto e os nutria como podia. Seu lar. O abrigo de sua alma, envolta de esperança.

Num ímpeto, arrancou o arco dourado que já lhe queimava a pele, reconduzindo a realidade custosamente. Não podia converter seu coração. Afeiçoado como estava, seu único anseio era regressar para o lugar que sentia ter deixado, mas não sem antes cumprir sua palavra, um compromisso. A aventura inesperada, que por tantas forças permanecia interrompida. Forças desconhecidas que urgiam de seu coração.

Ao fechar os olhos, escapou-lhes uma lágrima solitária.

– Não sei o que busco...– expressou para si, alheio ao externo, um último suspiro antes de mergulhar profundamente. - Mas não abandonarei aquilo que encontro.

O sentimento derivado da declaração do hobbit precipitou-se em uma fonte de energia repentina, varrendo do perímetro as aranhas e derrubando os elfos de Mirkwood ao chão. Uma claridade estrelar urgiu das pequenas criaturas místicas, que indicavam uma porta similar, fabricada de um aparato tão reluzente que o ofuscou. Gandalf deu meia volta, atraído pela luz, sorrindo abertamente, elevando o cajado. A ferramenta absorveu um pouco do brilho, deixando em seu rastro o umbral de Hádar, letras em eldarien cravejadas de cristais.

– Aqui jazem os únicos cuja fé é inexorável. - traduziu, olhando orgulhoso para o hobbit. - Obrigado, Bilbo.

O empurrão teria sido mais doloroso se o corpo batesse diretamente na superfície úmida. Adverso, foi sugado entrada adentro, sem ter tempo para questionar a ação. Em seguida, Nori e Dori, na evasiva contra os elfos, nem querer pensaram e atiraram-se para onde o outro fora. Aos poucos, eufóricos diante da revelação, correram otimistas em direção ao portal.

– Onde está Kili? Kili! - Fili desesperou-se com a ausência do irmão. - Thorin, por favor!

– Eu vou buscá-lo. - assegurou, sua voz grave. - Não disse que não nos levaria em seu desvio?

– Mudança repentina de planos, a não ser que prefira ser capturado pelos elfos de Mirkwood. - interpôs. - Venha, mestre Fili, não há tempo.

– Eu não vou sem meu irmão!

Thorin cerrou os olhos azuis até onde dantes travara uma pequena batalha, Kili afunilado entre duas das imensas aranhas que não foram levadas pelo baque. Os elfos se reuniram, partindo para o reino em busca de apoio. Em breve retornariam às dezenas.

Havia uma única figura que não podia ser desconsiderada. Sua agilidade para com a o arco era apreciável, os pés dançavam entre uma sova e outra, circundando até onde o sobrinho encontrava-se, a aflição em sua conduta, tentando sem sucesso livrar-se do aperto do monstro. Com destreza, em um único e certeiro golpe, a elfa ruiva alvejou-o, para então enfrentar os que ocorriam para ela. Afora dinâmica, não constatou que Kili estava desarmado e de prontidão a ser abatido.

– Jogue-me uma adaga! - protestou.

Ela não pareceu notá-lo, até volver-se, calculando a lonjura.

– Se você pensa que vou lhe entregar uma arma, anão... - retorquiu ríspida. - está muito enganado! - Sua adaga perfurando a fronte da aranha, despencando na sequência.

Kili não reverenciou sua salvadora, sendo agarrado por Thorin e estugado de encontro aos outros.

– Tauriel, de prontidão! - uma voz masculina manifestou-se na mata, contida. Em um reflexo, o mais novo pôde verificar que a bela elfa os seguia com convicção, os olhos verdes atentos a fitar Kili com repúdio.

Os três herdeiros de Erebor cruzaram o portal, dissipando em Mirkwood a rara luminescência. Incorreram por um plano incompreensível, até serem jogados novamente em uma superfície vegetativa. Do outro lado, a face distorcida e incrédula do príncipe de Mirkwood era mero um borrão velado por névoa, os olhos azuis banhados de raiva e desentendimento.


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Notas finais do capítulo

O capítulo já inicia com algumas explicações necessárias - ou não. Achei que seria melhor introduzir aqui um pouco da minha divagação, apelando para onde quero chegar. Se não lhe despertei curiosidade, peço perdão; meu real objetivo se desfazendo.

Por hoje é só, ainda que a madrugada me favoreça a inspiração, o mundo real infelizmente continua. Espero opiniões, críticas - construtivas e não construtivas - enfim, o que me for dado é lucro: todo incentivo é válido.

E a propósito, amanhã estamos aí! :D