Tempest escrita por Kaline Bogard


Capítulo 4
Capítulo 04 – Você quer um uniforme?


Notas iniciais do capítulo

Dia 04
Listen to your heart (Roxette)



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Tempest

Kaline Bogard

Capítulo 04 – Você quer um uniforme?

Kagami olhou para a tela do celular, confirmando o endereço. Analisou a placa na esquina da rua. Admirou a casa a sua frente. Sim, estava no lugar correto. Um excelente bairro, com casas muito bonitas, fora dos padrões usuais. Pouco podia ver atrás do muro alto, apenas deduzia se tratar de uma residência grande.

Estava já há alguns bons minutos, reunindo coragem para tocar a campainha e encarar seu destino desconhecido. O que Aomine queria chamando-o ali? Provavelmente para fazer algum trabalho de escola ou atividade extra-classe que exigisse esforço mental. Respirou fundo, enchendo-se de coragem, preparando-se para receber outro pontapé da vida.

Apertou a campainha e esperou. Apenas no quarto (e muito longo) toque foi atendido. A essa altura já estava irritadíssimo e pensando em mandar tudo as favas e ir embora, mas o portão foi aberto e ele deu de cara com Aomine, que parecia ter acabado de acordar. Ele vestia uma calça de moletom preta e uma camisa cinza escura. Feliz demais para o gosto de Kagami, com um sorriso de quem se identifica com a vida sacana.

— Está atrasado, escravo.

— Ee?! — Kagami arrepiou-se inteirinho — Faz meia hora que eu to tocando a campainha! Você é surdo?

A resposta do outro foi afastar-se e dar passagem para que Taiga entrasse na casa.

O ruivo gelou e engoliu em seco. Por um breve instante pensou (pela milésima vez) em mandar o outro se foder e desistir daquela história. Mas não o fez. Não fugiria a seu destino, por mais lições escolares que tivesse que resolver.

Atravessou o portão como um condenado sobe no patíbulo rumo à morte certa. A casa era mesmo uma construção bonita, grande. Diferente dos padrões japoneses, com um toque ocidental inegável. Parecia arejada e bem agradável. Totalmente o oposto de uma das pessoas que ali residia!

Caminhou atrás de Daiki analisando disfarçadamente o pequeno gramado que separava o muro da entrada principal, embelezado por jardins bem cuidados. Estava surpreso, não negava. Pelo que conhecia da personalidade de Aomine não espera encontrar nada no estilo. Talvez uma cabana de madeira, perdida em um pântano escuro, onde a luz do sol nunca alcança. Talvez cercada por árvores podres e envelhecidas. Quem sabe tivesse um crocodilo de estimação e fosse filho de uma bruxa. E desde quando tinha imaginação tão fértil?! Afastou os pensamentos infantis para longe de si.

— Não vai dizer o que você quer? — Kagami não resistiu ao suspense, perguntando enquanto tirava os tênis no genkan. Havia um surippa extra, que imaginou fosse pra si — Não tenho bola de cristal.

— Vou te mostrar, que saco — caminhou em direção ao segundo andar, obrigando Taiga a segui-lo até uma porta fechada, onde havia um cartaz de “Perigo Radioativo” colado na madeira — Esse é o meu quarto. Foi a desocupada da minha mãe que pregou isso...

O outro franziu as sobrancelhas estranhando tudo. Apenas ao entrar no aposento viu a real dimensão do problema. Seu queixo caiu, quicou no chão e voltou ao lugar.

Era um quarto grande e arejado, com portas de vidro dando para uma sacada e clareando tudo ao redor. Os móveis eram todos ocidentais e combinavam com as cortinas escuras. Um conjunto muito agradável.

Mas tão bagunçado, tão bagunçado, que Kagami deu um passo para trás, com medo de continuar em frente e não achar o caminho de volta.

— Esse é o seu quarto??! — perguntou horrorizado.

Aomine foi até a cama e se jogou de costas, depois empurrou algumas roupas com o pé até que caíssem no chão junto a uma pequena pilha.

— Minha mãe me deu um ultimato. Quando ela fala naquele tom... — fez uma careta — Essa é sua primeira ordem.

— EE?!! Você quer que eu limpe esse chiqueiro?!!

— Chiqueiro?! — Aomine sentou-se na cama — Chiqueiro é o buraco em que você foi parido. Meu quarto é apenas... organizado com estilo pessoal.

— Organizado com... — Kagami riu — Fica com essas justificativas fracas e sua bagunça que eu to indo embora.

— Só vai embora quando terminar, escravo.

Taiga rosnou algo e fechou as mãos em punho.

— Quero minha revanche agora!

— Não — apontou um canto do quarto, onde se via uma vassoura — Agora só vai conseguir aquilo. Quanto antes começar melhor pra você. Não que eu me importe.

— Mas...

— Damare. “Não vou fazer”, “não quero”, “não, não, não”... to de saco cheio disso. Você perdeu, Kagami. Não tem direito de reclamar. É meu escravo e vai fazer o que eu mando. Entendeu?

O outro trincou os dentes, engolindo a raiva que desceu por sua garganta com dificuldade. Foi doloroso até de respirar.

— Entendeu? Não ouvi sua resposta — Daiki insistiu.

— Entendi — praticamente cuspiu a palavrinha.

— Não foi assim que te ensinei a responder. Vou perguntar de novo. Entendeu sua situação, escravo?

Taiga o encarou com rancor e chamas iluminando os olhos avermelhados.

— Entendi, Aomine sama!

— Melhorou um pouco — o dispensou com um gesto de mão — O que está esperando? Um uniforme? Ganhar roupinha maid? O quarto não vai se limpar sozinho.

A resposta de Kagami foi tirar a mochila do ombro e praticamente jogá-la no chão com raiva. Depois saltou pela bagunça até alcançar a vassoura e pegá-la. A primeira coisa que passou por sua mente foi uma tentaçãozinha linda de enfiar aquele cabo no traseiro do outro garoto até que saísse por seu nariz. Mas o bom senso venceu a tentação. Em todos os sentidos.

Largou a vassoura e analisou a confusão de coisas espalhadas pelo chão. Teria que começar a recolher a roupa suja antes de mais nada, do piso, da cadeira, da escrivaninha. Respirou fundo e começou sua árdua tarefa.

Aomine assistiu, satisfeito, por alguns minutos. Então enfiou a mão no vão entre o colchão e o estrado da cama e pescou uma revista suspeita. Recostou-se nos travesseiros e distraiu-se com as fotos de mulheres nuas.

— Ei, aho, onde eu coloco essa roupa suja? — quando encheu uma braçada veio a dúvida sobre o que fazer. Esperou resposta e nada — Ei, Aomine?

O garoto ignorou ambos os chamados. Kagami girou os olhos clamando um mínimo de paciência. Sua dignidade estava indo pelo ralo em quantidades astronômicas.

— Onde coloco essa roupa, Aomine sama?

— Tem um cesto no banheiro, escravo. Segunda porta logo ao lado da escada.

Taiga lançou adagas no olhar em direção ao outro, esperançoso de que sua ira furasse a revista pornô e o acertasse bem no coração. Seria lindo assisti-lo agonizar até morrer.

Como isso não aconteceu e a fúria não foi o bastante para atravessar os peitões da modelo de capa; a alternativa foi continuar a faxina. Precisou de suas viagens para recolher todas as peças sujas. Mas a aparência geral do quarto ficou bem melhor! O próximo passo focou as bugigangas esparramadas pelo chão: livros, cadernos, CDs de musica, BR de filmes e jogos. Alguns mangás aleatórios.

Conforme os objetos iam parando em seus devidos lugares (ou nos lugares que Kagami achava que deviam ficar) acabou descobrindo um tablet, um aparelho de celular velho, figurinhas da temporada de basquete do ano passado, importadas dos Estados Unidos. Debaixo da cama encontrou um violão!

— Ei, você toca?

Aomine espiou por trás da revista. Franziu as sobrancelhas.

— Não... eu penduro isso como decoração — apontou um suporte na parede que Taiga não tinha notado — E fico admirando todas as noites antes de dormir. Claro que eu toco, baka.

Kagami franziu as sobrancelhas, vendo em sua mente, uma cena em que usava aquilo como uma raquete de tênis e quebrava o instrumento na cabeça daquele idiota. Mas a imagem não deixou de ser mental, no fim das contas.

— Aposto que toca mal... — provocou.

— Aposta, é? Escravo.

Kagami não respondeu, sentindo um suorzinho escorrer por sua testa. Foi colocar o violão no lugar dele e continuar sua tarefa. Já não tinha mais nada pelo chão. Praticamente não havia poeira nos móveis nem no piso! Com certeza toda a roupa suja funcionara como uma barreira e acabara protegendo do pó. A primeira vista a desordem assustava, mas dando um jeito via-se que não estava tão ruim. O passo seguinte foi pegar uns lenços de papel do chão que, aparentemente, caíram do cestinho abarrotado com bolas de papel, ao lado da escrivaninha.

— Nem pra esvaziar isso você presta — Taiga resmungou pegando a pequena lixeira e os papeis do chão.

— Ah, tenho pena de jogar fora — Daiki respondeu distraído, virando uma página da revista.

O ruivo não entendeu. Como assim pena de jogar lixo fora? Eram apenas lenços usados, para que se apegar?

— Por quê? — perguntou curioso com os motivos do outro.

— Hum... são milhões de Aominezinhos que deram a vida pela minha diversão. Eles merecem um pouco de respeito, não acha?

continua...


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Notas finais do capítulo

Gente... esse Aomine... o quê? Eu também tenho que te chamar de Aomine sama? Teu rabo que tenho. Aff. Egos inflados por aqui, hum?

Mas não reclamo de me chamarem de Kaline sama! XD Haushaushaushausua

Well, to apanhando tanto desse Aomine. Ele me samba na cara com essa personalidade, poxa :/ Enfim...

Até amanhã.



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