Tempest escrita por Kaline Bogard


Capítulo 18
Capítulo 18 – Gosto de você


Notas iniciais do capítulo

Dia 18
Missing (Everything but the Girl)



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Tempest

Kaline Bogard

Capítulo 18 – Gosto de você

— Sua comida está com uma aparência muito boa, Kagami kun.

O rapaz deu um pequeno salto no banco do refeitório. Nem se dera conta de que Kuroko estava sentado à sua frente.

— Não chegue de mansinho quando alguém estiver comendo!

— Mas eu estava aqui primeiro.

—...

— Você anda muito distraído ultimamente.

— Hn? Impressão. Não, não é impressão... Acho que estou um pouco preocupado.

— Com o quê?

Kagami revirou o almoço com o hashi. Trouxera arroz branco, omelete, peixe grelhado e verduras cozidas no vapor. Tentava abandonar os hábitos ocidentais e se adaptar à culinária japonesa. Fizera um grande avanço, a bem da verdade.

Mas não era isso que o deixava consternado.

— Faz dois dias que Aomine não dá sinal de vida. Só achei estranho — confessou.

— Ah, então vocês continuam “não-se-divertindo” juntos?

— Sim. Aquele aho não me deu chance de revanche ainda. Tenho certeza que ele vai me enrolar o máximo que puder! É um maldito mesmo. Só que ele sumiu e aposto que quando voltar vai me aprontar alguma coisa — resmungou.

Nem SMS o infeliz mandara, com alguma notícia. Estava preocupado. Sabia que era exagero, ele podia estar de castigo de novo, graças as baixas notas nos exercícios. Ou tendo treino muito puxado. Existiam infinitas justificativas para o sumiço.

Mas por quê não mandava uma mensagem avisando?

E que obrigação ele tinha de dar qualquer aviso? Não eram amigos. Dois rivais em um mesmo esporte. Conhecidos, colegas? O que exatamente eram?

— Não fique preocupado, Kagami kun. Já pensou em enviar você um SMS e perguntar o que está acontecendo?

A perguntar surpreendeu. Nem passara pela sua cabeça fazer. Estava tão acostumado a receber as mensagens por causa daquela brincadeira idiota que não cogitara tomar a iniciativa. Mas poderia fazer isso? Com que justificativa? Voltava a cair na questão anterior: não eram amigos ou colegas próximos. Sem a desculpa de dono/escravo o que sobrava daquele relacionamento?

— Talvez eu mande — desconversou, sabendo que não o faria. Pelo jeito que Kuroko o olhou ficou claro que ele intuiu a verdade por trás de suas palavras.

— As coisas são menos complicadas do que Kagami kun pensa — o rapaz falou — Nós é que gostamos de enfrentar obstáculos que não existem.

O ruivo sorriu ao ouvir aquilo. O quão complicado podia ser gostar de um idiota hétero? Mas se tinha algo a favor de Aomine naquilo tudo é que pelo menos o cara não era preconceituoso ou teria se afastado há muito tempo.

Quase desejou que fosse o caso.

Se Aomine tivesse cortado relações naquela tarde em seu apartamento quando deixara claro sua própria sexualidade nada disso teria acontecido. Ele não teria a chance de conhecer melhor o outro, descobrir pequenas coisas na convivência diária, perceber-se apaixonado pelas qualidades e defeitos da personalidade difícil que aquele cara possuía.

Seria tudo tão mais fácil...

R&B

O treino da tarde foi como todos os demais que haviam tido nos últimos dias: puxado. Para Kagami foi pior ainda. Riko o puxou para um canto e lhe deu um sermão de quase quarenta minutos sobre a importância de estudar e não apenas jogar.

A garota fora chamada pelo professor responsável do clube e ele revelara que alguns dos jogadores estavam perigando com a nota. Mas Kagami estava abaixo do aceitável. Teriam um teste vocacional no próximo mês e a nota em cinco matérias influenciaria o resultado final.

Depois de ouvir tudo, prometer que melhoraria e temer que suas orelhas derretessem pelo sermão, teve permissão para treinar. Fez apenas metade da série de exercícios. A outra metade do tempo foi obrigado a sentar fora do limite da quadra e estudar. Inglês.

Finalmente foram dispensados. O humor de Kagami estava perigosamente baixo. Só não tão baixo quanto suas notas, claro.

Foi embora pisando duro, deixando um rastro negro de mau humor. Ajudava em nada que Aomine não tivesse dado sinal de vida. Era quase certo que não apareceria por sua casa hoje também. Tudo era tão grande, vazio e solitário no apartamento. Olhou em volta meio perdido.

Deveria aproveitar a paz para estudar um pouco? Não. Resolveu fazer uma rápida faxina na casa. Não que estivesse suja, mas era bom não deixar o pó acumular. E, era melhor limpar as coisas do que estudar inglês!

R&B

Fazia bem uns bons quinze minutos que Aomine estava parado na frente da porta do apartamento de Kagami. Em dúvida se deveria bater ou não. Se desse as costas e fosse embora ele talvez nem ficasse sabendo que estivera ali. Afinal podia passar direto pela portaria sem ser anunciado.

Mas naqueles dois dias tivera tantos momentos de dúvida que temeu enlouquecer. Perdera a conta de quantas vezes pegara no celular e quase enviara uma mensagem acabando com a aposta e libertando Kagami de seu débito.

Número de vezes maior apenas do que as que pegara o celular e quase revelara seus sentimentos.

Sentia-se preso em uma armadilha!

Porém, se aprendera alguma coisa naqueles dois dias, é que a ausência não faria o sentimento desaparecer. Nem a confusão.

Acrescente a isso uma saudade desgraçada e está pronta a receita do sofrimento.

Depois de refletir por todo aquele tempo e estar mais próximo de encontrar LaVine pessoalmente e pedir um um-contra-um do que chegar a solução de seus problemas, decidiu que fugir não ajudaria.

Precisava enfrentar de frente e sair daquele impasse!

Como podia estar gostando de outro cara? Era apaixonado por peitos desde que encontrara sua primeira revista no banheiro da escola! Ia entrar aquele apartamento e acabar com qualquer sentimento que pudesse achar existir em relação ao ruivo. Isso!

Apertou a alça da mochila, como se isso pudesse lhe dar coragem. Bateu na porta.

Demorou quase um minuto para ela ser aberta.

Daiki derreteu-se.

Kagami usava um lenço sobre os fios ruivos, para protegê-los. Vestia uma roupa tão velha que parecia um mendigo. Havia manchas de pó nas bochechas. Uma visão fofa de doer.

Levou uma mão aos olhos e gemeu. Estava perdido.

— Oe, aho! Tá passando mal?

— Tadaima — Daiki resmungou.

— O-okaeri — Taiga respondeu, assistindo enquanto o outro seguiu em frente, forçando passagem.

Aomine deixou a mochila escorregar para o chão, ficando largada no meio do caminho. Um gesto que o fez sentir um aperto no coração. Fazia tal coisa desde o primeiro dia que entrara naquele apartamento.

Um ninho não é apenas o entrelaçado de pequenos galhos...

Desde quando sentia-se tão a vontade na casa daquele cara? Desde quando a sensação era aquela, de estar entrando no lar? Nunca se dera conta da intimidade que havia entre eles, muito mais do que deveria existir entre meros rivais.

Não exatamente “amigos”. Não houvera tempo para tal estágio entre ambos. Em um momento eram competidores brigando pela vitoria no esporte que amavam. No momento seguinte eram...

O que eles eram?

Não podia fugir mais. Alias, nunca fora de fugir de nada. Nem do pior desafio ou do obstáculo mais intransponível.

— Oe! Aomine... sama — Kagami fechou a porta e veio parar no meio da sala, ficando de frente pra seu visitante. Só então Daiki reparou que o garoto segurava um pano um pouco sujo. Ele estivera mesmo limpando a casa — O que foi? Está doente? Por isso sumiu esses dias? Nem pra dar notícia...

A última parte da reclamação veio com um tom de reprovação que fez Daiki sorrir torto. Olha só, Bakagami todo preocupadinho. Interessante.

No meio das divagações pelas quais passara aqueles dois dias, havia a dúvida master. Tão assustadora quanto Sadako saída do filme para segurar em seu pé. Uma dúvida que colocara no mesmo patamar de questões fundamentalistas como “Qual o sentido da vida?”, “Quem somos, de onde viemos, por que estamos aqui?”. “Será que ele me corresponde?”

Só descobriria de uma forma.

Agora que estava ali, olhando fundo naquelas íris avermelhadas, não pareceu mais tão difícil. Apenas um passo a ser dado na quadra, para marcar o ponto final. A curiosidade e preocupação davam um ar soturno a face do ruivo, que ainda aguardava uma resposta.

Daiki inspirou fundo. Quando expirou, uma palavrinha escorregou junto. A única resposta que poderia dar a Kagami.

— Suki — foi o que ele disse.

continua...


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Notas finais do capítulo

Olha só, frannie uzumaki ! Aconteceuuuuuu!!

Felizes como pintos no lixo? Adorei isso xD

Percebam: a Winter Cup na minha fic foi até o jogo Seirin x Touou... depois desapareceu da história. #AdeusSentido #SambandoNoCanon



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