Como odiar o amor escrita por TheGhostKing


Capítulo 8
O novo acampante


Notas iniciais do capítulo

Dei uma inventada legal nas regras do jogo (vocês vão entender)
Obrigada pelo apoio gente :3
E agradecimentos especiais para Queen of Divas, que recomendou a história :D obrigadaaa



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POV Jill

Jill observava Nico de longe. Ele parecia mais feliz do que nunca, mas era triste de ver. Era como ver alguém louco, mas louco de verdade. Ele sorria sem motivo. Soltava uns risos sozinhos com os próprios pensamentos. Ela queria checar o que tinha acontecido. E antes que se desse conta, estava indo em direção à sua mesa.

– Nico? – chamou. O menino se virou para ela com um enorme sorriso sincero.

– Você quer falar comigo?

– Sim, na verdade – ela esfregou o braço – o que está acontecendo com você?

Ele se levantou num pulo e abraçou-a, olhando para cima, como se quisesse mostrá-la algo.

– Eu sou um semideus. Um filho de Hades. Os monstros sentem meu cheiro à quilômetros. Vou morrer cedo – ele disse com muita naturalidade, como se estivesse dizendo que tomaria banho mais tarde – mas, antes que isso aconteça, eu quero ter um pouquinho de felicidade. Em todos os meus oitenta e três anos de vida, eu nunca fui feliz de verdade. Mas decidi que vou, e vou com vontade – seus olhos brilharam – eu quero humilhar o Cupido.

Foi realmente um discurso forte, mas Jill tinha para do de escutar em “oitenta e três anos de vida“. Decidiu não perguntar.

– Eu entendi direito? Você quer... humilhar o Cupido?

– Exato. Quero contradizê-lo. Desafiá-lo. Rir dele. Custe o que custar.

E, com essas palavras, ele puxou Jill para um beijo.

.

POV Nico

O momento em que seus lábios se tocaram foi mágico, pois ela não resistiu, não tentou sair. Mas isso não durou tanto tempo quanto ele gostaria.

Ela empurrou-o para longe, descolando suas bocas e fazendo Nico quase cair no chão, já que estava um pouco na ponta dos pés por causa da diferença de altura. Ele sorriu e lambeu os próprios lábios, tentando resgatar um pouco do sabor de cereja que ela havia deixado.

– Você enlouqueceu? – ela perguntou, frustrada. O refeitório todo olhava a cena.

– Eu não sei se é loucura, mas se for, a sensação é ótima.

Eles se olharam por um tempo, em um silêncio constrangedor.

– Foi tão ruim assim?

– Foi – ela limpou a boca com a manga do casaco – foi sim.

– Então, você me deve uma segunda chance.

Ele agarrou-a e beijou-a novamente, e para a surpresa de todos os presentes, ela correspondeu ao beijo. Ele fechou os olhos, mas sentiu os olhares ao seu redor. Alguns de inveja, alguns de surpresa, ou até mesmo orgulho. Estava tudo perfeito.

Até ele chegar.

Uma luz tão branca invadiu o lugar que os olhos do menino se irritaram mesmo estando fechados. Ele se separou de Jill e olhou para trás, esperando ver o Cupido, mas era apenas um garoto normal, que surgira de repente. Devia ter a mesma idade de Nico e Jill, mas era mais alto. Sua pele tinha o mesmo tom da de Leo e Piper. Era forte e seus olhos eram do mais profundo azul. Ele parecia muito confuso com a luz ofuscante que emitia, e com o lugar onde estava, e com as pessoas ao seu redor, e com tudo, basicamente.

– Atenção, Nico di Angelo – uma voz grossa soou, mas era impossível apontar de onde vinha – Você está passando dos limites. É seu último aviso antes que algo realmente ruim aconteça. Atenção, Jill Brassheart. Se você for namorar alguém, que seja esse semideus, e ninguém mais – ele não especificou que semideus exatamente, mas as luzes deixavam tudo meio óbvio – último aviso.

A luz sumiu e a voz também. Estava um silêncio mortal até que Nico sentiu, no local onde o Cupido o acertou com a flecha, uma dor muito forte. Era como se tivessem aberto a ferida com uma faca, enchido com sal e despejado álcool. Ele se ajoelhou no chão e gritou de dor, atraindo as atenções.

– Nico! – gritou Jill, ajoelhando-se ao seu lado e tocando o lugar onde ele apertava com força. A dor parou imediatamente, de modo surpreendente.

Ele abriu os olhos e se deparou ela bem à sua frente. Levantou-se envergonhado e disse, em tom de voz normal, mas que pareceu um berro em meio ao silêncio:

– Não se perguntem por que eu odeio o Cupido – e, virando-se para o garoto novo, perguntou – então, qual é o seu nome?

– É Scott – ele gaguejou. Parecia querer a menor quantidade de atenção possível.

– Eu já conheci um Scott, uma vez – Nico lembrou-se – eu tinha dez anos. Ele me enchia muito. Sempre pegando no meu pé porque eu jogava Mitomagia. Qual era o sobrenome dele mesmo...?

– Fisher – o menino respondeu.

– Isso mesmo! – então caiu a ficha – Espera, como você...

– Achei que fosse me reconhecer, di Angelo. Não mudei tanto quanto você.

Nico recuou e piscou, confuso.

– Você... é um semideus?

– Pelo visto, sim. O Cupido me explicou o básico.

– Filho de...?

Como se tivesse escutado a pergunta, uma lança vermelha começou a brilhar sobre sua cabeça.

– Ares. Incrível – Nico avaliou, sarcástico – é um belo de um pesadelo.

Nico viajou pelas sombras direto para seu chalé.

.

Nico estava largado na cama na mesma posição nas últimas duas horas. Estava tentando acertar os pensamentos. Desde que Jill chegara, tudo havia se transformado em um caos completo. Nico não podia acreditar no que tinha acabado de acontecer. Scott Fisher... ele se lembrava bem dele. Era o capeta em forma humana. E o Cupido, que era o capeta em forma de deus, por sinal, queria que Jill namorasse à ele? Era como se o universo estivesse programado para não deixar nada de bom acontecer, ou melhor, se manter para Nico. E ele ainda era filho de Ares? O deus da guerra? Sério mesmo?

Nico estava com vontade de chutar qualquer coisa que aparecesse em sua frente quando a porta abriu um pouco.

E é claro que ele chutou a porta. Com força.

– Ai – ele ouviu alguém reclamar – meu nariz, cara!

– Quem é?

– Scott.

– Bem feito.

– Eu preciso mesmo falar com você.

– Não.

– Pelo menos pensa sobre o assunto, vai.

– Hmm... pensei. Não.

– Eu prometo que vai gostar do que tenho a dizer.

Nico suspirou. Esse garoto era mesmo insuportável.

– Entra de uma vez, vai.

Scott entrou e foi recebido com um belo chute na canela.

– Ai! Qual é o seu problema? – ele sentou em uma cama, segurando a perna.

– Desculpa. Eu precisava chutar alguma coisa. De novo.

– Eu chutaria muitas coisas, no seu lugar. Fiquei sabendo que a sua vida não está sendo uma das melhores.

– Nunca foi – Nico encarou o menino, esperando que ele entendesse a indireta.

– Olha... desculpa. Eu tinha dez anos. Era um idiota.

– Um grande idiota – Nico acrescentou. Scott riu.

– É, era mesmo. Mas desculpa mesmo pelo o que eu fazia.

– Tudo bem. Eu desculpo. Não significa que somos amigos. O que você queria me dizer?

– Escuta bem, o Cupido sabe que quando nós éramos menores, eu implicava com você. Por isso ele me escolheu. Ele me explicou tudo antes de me enviar para cá. Me disse que sua vida tinha sido difícil depois da morte da sua irmã... – ele olhou para Nico, como se pedisse permissão para tocar no assunto. Continuou – mas disse que você tinha se transformado por causa disso. Disse que não tinha noção de causa e consequência, que agia sem pensar e era perigoso. Que o queria longe da filha dele. E a minha missão era conquistá-la, já que ela não admite que o coração dela ainda pertença à você.

– Ela ainda gosta de mim? – tudo se iluminou por um segundo. Era a melhor coisa que escutava em um longo tempo.

– Sim – Scott sorriu ao ver o quanto isso era importante para Nico – mas, enfim, eu percebi que as coisas que ele falava eram mentira. Não sei como, não sei porque, mas tudo que eu pensava era o Nico não faria isso. Eu senti que ele não dizia a verdade. Senti que ele não estava te afastando só para protegê-la, ele queria te machucar.

Um silêncio se estendeu por um tempo.

– E eu achei a maior mancada – ele continuou – então resolvi ficar do seu lado ao invés do dele.

Nico sorriu.

– Obrigado. Quer saber, você mudou muito, sim.

– Já que estamos no assunto, eu preciso admitir uma coisa... – ele ficou vermelho – Bom, olha, quando você saiu da escola, meu priminho me desafiou para uma partida de Mitomagia, e eu aceitei... e gostei... – ele puxou do bolso uma figurinha do jogo – e viciei.

.

POV Jill

Jill começou a se preocupar com a demora de Scott. Ele já devia ter saído do chalé de Hades. Ela decidiu entrar para checar o que estava acontecendo.

Abriu a porta e se deparou com uma cena, com todo o respeito, ridícula. Os dois estavam sentados no chão, olhando para cartas e bonequinhos prateados.

– Sua vez – disse Nico, como se não tivesse notado a presença da amiga no quarto.

– Eu te ataco com Dionísio.

– Oi? Meninos?

– Ah, uma jogada arriscada – Nico comentou, ignorando Jill.

– Não tenho nada melhor.

– Bom, se deu mal, eu me defendo com Atena. E contra-ataco.

– Ah, que pena... CONTRA-ATACO COM ZEUS!

– Gente? Eu estou aqui!

– Como assim?! Você disse que não tinha nada melhor! Era mentira!

– Correção, era estratégia.

– Meninos? – Jill bateu a porta – Nico? Scott?

– Agora eu ganhei... cinco mil e quinhentos pontos! – Scott riu – E com isso, completo os vinte mil pontos necessários.

– Tá, tanto faz. Escolhe logo – Nico suspirou, alinhando os bonequinhos prateados que tinha ao seu lado.

– Eu escolho Poseidon.

– Toma – Nico jogou um boneco e deixou uma carta no chão.

– O que está acontecendo? – Jill elevou a voz, realmente confusa.

Os dois finalmente olharam para ela.

– Jill – comentou Scott – está aqui há quanto tempo?

– O suficiente para saber que o cérebro de vocês quebrou quando tinham oito anos.

Nico se levantou, mas avisou para o adversário:

– Deixe como está. A gente continua depois.

– Eu fiquei melhor do que você – Scott levantou-se, o peito estufado de orgulho.

– É o que veremos.

Meninos, Jill pensou.

Então notou Nico olhando-a como se estivesse inseguro e formulasse as frases com cuidado em sua cabeça.

– Bom, você mudou seu pensamento sobre mim?

– Sim. Desculpa por tudo. Scott me explicou o que aconteceu e eu...

Nico a interrompeu, envolvendo-a em um abraço apertado.

– Não precisa se justificar. Obrigado.

Ele apertou mais o abraço, e ela devolveu o gesto. Depois de algum tempo, Nico disse:

– A gente vai ter que mudar o plano.

Eles se separaram. Jill sentiu frio onde Nico a tocava quando ele se afastou.

– Eu sei. Mas agora temos chances maiores, com o nosso novo aliado.

Scott sorriu. Sorria o tempo todo.

– Melhor a gente já começar a elaborar – Nico estalou as costas, ainda cansado da posição curvada do jogo - qualquer coisa, se ficar ruim, temos mais tempo para repensar.

– Gente, considerando que eu supostamente era um aliado do Cupido e sei dos planos dele, acho que eu posso ajudar – disse Scott – já até tenho algo em mente.

Jill e Nico se entreolharam. O garoto novo não sabia dos poderes do Cupido. Será que o plano dele seria mesmo bom?

.

Okay, o plano dele era muito bom. Ele explicou detalhadamente, não deixou nada passar despercebido, e no final todos sabiam o que fazer.

– O Cupido nunca pensaria que isso pudesse acontecer – elogiou Nico – é um ótimo plano. Vamos pegá-lo despreparado.

Jill odiava o silêncio depois que algum plano ou algo assim era revelado. Todo mundo sempre ficava tipo é para fazer agora ou...?

– Jill, você pode sair do quarto? – perguntou Nico.

– Por que?

– Eu estou com vergonha de falar isso na sua frente.

Ela ia dizer algo, mas ele indicou a porta com a cabeça, lançando-lhe um olhar de cachorrinho perdido que ela não pôde resistir.

– Tudo bem. A gente se vê depois.

Ela saiu do quarto e apoiou a cabeça na porta para escutar o que ele tinha a dizer, ansiosa.

– Senta essa bunda aí – ela ouviu Nico dizer – tenho um jogo para ganhar de você.

– Com prazer – respondeu Scott – quanto antes eu ganhar de você, melhor.

Ela se segurou muito para não rir e se afastou do chalé. Ela sentia-se como a irmã mais velha deles. A sensação era ótima, na verdade.

Sentia orgulho deles.

Amava eles.

Como nunca antes.

Afinal, eram seus primeiros amigos de verdade.


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Notas finais do capítulo

Comentem, ajuda muito :3