Salvação (one-shot) escrita por P B Souza


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Eis uma trágica e rápida história. Espero que gostem.
Boa leitura!



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Investigações

– ­­­Quero que me conte exatamente o que fez naquela noite Jéssica! – O Detetive Augusto Gomes perguntava em um tom exigente, quase ofensivo, como se a mulher tivesse feito algo errado.

– Já falei, a gente brincou com aquela coisa estupida e o José foi estupido em dobro. Não sei o que aconteceu. – Ela respondeu mordiscando o seu piercing na língua como passatempo.

– Quem desafiou quem? Quem fez o José entrar na mata? Foi o Rodolfo não foi? – Ele perguntava como se soubesse de toda a verdade e só quisesse uma confirmação, acusando alguém que ele nem mesmo conhecia.

– De que raios adianta eu te falar o que ou quem fez o moleque entrar na mata? Você não acreditaria de qualquer jeito. E eu ainda ia ser taxada de maluca, louca, retardada, doente mental...

– Os outros quatro disseram que...

– Olha, eu não quero saber, eu vou me mudar mesmo, quero que esses idiotas se ferrem! Me deixa ir, sabe que eu não fiz nada, tem o vídeo, você viu a merda do vídeo não viu? Eu estava dentro da porcaria do carro.

– Se acalme. – O detetive disse batendo a caneta na sua prancheta, mais um caso, mais um morto, assassinado talvez. Ele não sabia, ainda. Mas iria descobrir.

Sete dias antes.

O jogo mandou e eu, claro, tive que obedecer. Não por causa do jogo, estava pouco me lixando para o estupido jogo, eu só tinha jogado por causa da Camila, e pensar que ela nem mesmo me olhou!

O motor do carro silenciou quando o Rodolfo girou a chave no câmbio e eu senti meus ossos tremerem em baixo da carne, maldita hora que decidi participar daquele jogo, maldita hora que eu, tão esperto, decidi ser burro.

– Pronto ai Osso? – Era Rodolfo, enquanto ele falava Olga, Patrício e Jéssica se beijavam e se apertavam um ao outro do meu lado, o banco de trás do carro estava apertado, e eles nessa orgia com roupas não facilitavam as coisas para mim.

Rodolfo se virou pegando a câmera, ele estava disposto a gravar tudo, maldito Rodolfo. Eu fiz uma cara de desdém seguido pelo meu dedo médio se levantando para a câmera, mas ele virou a câmera para os três ao meu lado, eles se amassavam e apertavam, uma das mãos de Patrício estava em um peito de Olga a outra estava na bunda de Jéssica, a mão de Jéssica estava dentro da calça de Patrício que tinha o zíper aberto e Olga segurava os peitos de Jéssica, uma suruba nojenta que os três sempre faziam.

Vivendo com Patrício desde pequeno eu aprendi a conviver com suas peculiaridades e dizer não quando elas me incluíam, mas ele nunca desistia, dizendo que um dia eu iria ceder. Hoje vendo tudo de fora do meu casulo eu penso... Deveria ter cedido.

Então olhei para Rodolfo que virou a câmera para a menina sentada no banco do passageiro na minha frente, era uma delicada e linda menina de 19 anos... Ou seria uma linda mulher? Eu tinha a mesma idade, alguns dias mais velho que ela.

Ela sorria enquanto falava para Rodolfo tirar a câmera do rosto dela. Eu só então abri a porta do carro e desci.

– Olha onde mira esse pau mole. – Rodolfo berrou ainda dentro do carro com uma risada abafada pela saliva, então ele desceu do carro e escarrando cuspiu no chão de terra. – Eu que lavo essa lata velha.

Lá dentro algumas reclamações surgiram do casal de três e se calaram entre o som de beijos mordidas e gemidos. A porta do passageiro se abriu em seguida e a linda Camila desceu, usava um short curto para cima da metade de sua coxa de pele clara, delicada e bem definida, não podia evitar os sórdidos pensamentos de agarra–la e levantar seu corpo nu contra o meu...

– Vai! – Rodolfo apontou enquanto acendia uma lanterna e me entregava, o facho de luz ardendo contra meus olhos me tirando daquele sujo devaneio. – Dez minutos, não se esqueça!

O facho de luz foi projetado contra a mata na minha frente se espalhando colidindo contra troncos e galhos até sumir engolido pelas trevas.

– Cinco já tá bom. – Eu questionei tentando parecer razoável.

– E ai os espíritos comem a tua bunda magrela! – Ele adorava fazer piadas sobre meu peso, meu porte físico... Só porque ele era alto forte musculoso e de popularidade invejável, mas não conseguia uma nota boa a qual o mérito não fosse, ou do meu estudo ou do dinheiro do pai dele. – Ninguém mandou jogar malandro. Agora vai!

– Boa sorte Zé! – Camila disse de braços cruzados encostada no capo do carro, o decote em sua camisa me instigava, e eu mal pude ouvir o que ela dizia.

Uma hora atrás tínhamos jogado com um tabuleiro de Ouija comprado de um cara, nunca tínhamos ouvido falar do tal cara, só queríamos uma tabua de Ouija e ele estava vendendo, foi ideia da Olga, íamos fazer o velho compasso, mas ela disse que era uma variante do tabuleiro de Ouija quando os pais começaram a proibir os tabuleiros antigamente. Então fizemos isso, compramos o tabuleiro deste homem, Euclides Braga, foi duzentos reais.

No meio do jogo um acusou o outro de mexer a mão, eu não mexi. Acabou que o dito espirito queria nos desafiar, eu perguntei quem estava fazendo aquilo até a maldita peça se mover sem ninguém colocar o dedo nela. Me levantei e disse que ia sair. A porta não estava trancada mas não abria não importava a força que fizesse, e o espirito disse que eu tinha que eu tinha de cumprir o desafio, ou então todos iriam morrer.

Rodolfo perguntou que desafio, e o celular da Jéssica começou a tocar, quando ela atendeu os mapas foram abertos, uma rota no GPS foi inserida até a reserva florestal, e uma mensagem do número “privado” chegou. “Vai até o rio, e fique dez minutos com o pé na água” dizia a mensagem.

E assim se resumi como eu acabei em pé do lado de fora do carro encarando a mata tremendo como vara verde. Mandamos mensagens para aquele número privado, elas não eram enviadas, simplesmente dava erro e o celular tinha sinal, então saímos e mandamos mensagem para outras pessoas, as mensagens foram enviadas recebidas e respondidas, quando Jéssica voltou nas mensagens, a do número privado tinha sido deletada, sozinha.

– Vai logo. – Rodolfo deu um empurrão nas minhas costas ligando o flash da câmera. – Dia seis de Junho de dois mil e seis, nós mandamos uma oferenda para ti, senhor do escuro!

– Hail Sauron! – Eu respondi, nervoso, sim. Mas com um humor que não sabia ser capaz de possuir, então tremendo coloquei um pé na frente do outro e andei sem me dar conta do que a cada passo dado eu estava mais perto de algo trágico.

– É dois mil e nove. – Camila corrigiu Rodolfo, nem eu tinha percebido, o medo inebriava meus sentidos.

– Eu sei, mas olha como ele tá cagando nas calças.

Então comecei a andar com mais pressa, decidido a acabar com aquilo de uma vez por todas, e de fato, iria.

Investigações.

O detetive rolou os olhos pelos relatos dos jovens, todos eles de 19 até 23 anos. Todos irresponsáveis e imaturos. Decidiu ver o vídeo uma vez mais, pela enésima vez ou mais.

O vídeo começou já do meio onde ele tinha pausado da última vez, José andava de costas para a câmera descendo uma pequena ribanceira, então Rodolfo que segurava a câmera correu até a beirada e foi filmar o amigo, mas o detetive acreditava seriamente nas possibilidades de Rodolfo tê-lo matado.

As piadas e brincadeiras de péssimo gosto continuaram até José sumir pela mata e a única coisa que se conseguia ver era o brilho da lanterna que ele tinha levado, mas só quando José virava para trás.

Então Rodolfo voltava para o carro, onde Patrício com as calças no joelho mantinha relações sexuais com as duas garotas ao mesmo tempo. Rodolfo deu uma bronca que não surtiu efeito algum. O detetive podia ver pela filmagem os pinos de droga no chão do carro, podia ver os pinos na sua mesa embalados como evidência.

– O que mais vocês têm para mostrar? – Se perguntou coçando a barba do queixo olhando para o vídeo, Rodolfo filmava Camila agora.

Ele perguntava para Camila sobre José, se ela já tinha dormido com ele, chupado ele, Camila empurrou ele diversas vezes e Rodolfo pronunciou “Minha garota. Se dormir com mais alguém...” E a frase não foi completada. A câmera foi colocada de lado no capo do carro filmando de forma obstruída Patrício, Jéssica e Olga através do vidro e dos bancos da frente, os beijos de Camila e Rodolfo puderam ser ouvidos.

O detetive pausou o vídeo novamente.

Olhou na mesa de evidencias, latas de cervejas, copos plásticos com batom, pinos de droga e sua prancheta, lá estava anotado o nome dos suspeitos, dos pais deles, dos advogados. O Detetive rangeu os dentes pensativo lendo os nomes, no final estava escrito “Euclides Cunha; Vendedor do tabuleiro de Ouija”. Aquele homem compareceria na delegacia amanhã, hoje sua filha estava passando por mais uma sessão de quimioterapia e ele não pode vir.

Então pegou a fita de áudio do interrogatório de Rodolfo dando play na esperança de ter deixado algo passar, algo na sua intuição dizia que Rodolfo era o culpado.

– Eu já disse, não fiz nada, só dirigi até onde o espirito mando. Eu estava meio chapado? Eu estava! Mas não matei ninguém. Eu nem estava lá com ele!

– Você desceu atrás dele em certo ponto não desceu?

– Mais que coisa... Eu já falei, eu não cheguei a ir atrás dele só desci o barranco e subi de novo.

– Encontramos dois rastros de pegadas Rodolfo. É melhor admitir...

– NÃO FUI EU! As pegadas já estavam lá... Eu, por isso que eu voltei, eu vi... – E as palavras falharam, como se soasse improvável o que tinha a dizer, então não disse e a gravação era encerrada.

Sete dias antes.

Eu olhei para trás apontando a lanterna para o lugar de onde tinha vindo, fui quebrando o mato pelo caminho para achar meu caminho de volta, ainda não podia ouvir o som do rio, mas o GPS dizia que estava logo a frente.

Se eu soubesse antes o que eu sei agora não teria vindo aqui, aquele maldito... A polícia nunca vai pegar ele.

Eu continuei andando por muito tempo, diria meia hora até chegar lá, e no meio do caminho o celular tocou, era Camila, eu atendi apreensivo torcendo para que ela falasse “volte”. Como eu era inocente!

Ela perguntou o porquê da demora.

– Ainda não cheguei no rio. É mais longe do que... – Eu tremi de frio batendo o queixo de repente, um vento soprou todas as arvores uma a uma e as folhas no chão levantaram sessenta centímetros no ar rebolando em uma dança morta e caindo novamente. – Nossa.

Ela perguntou o que tinha acontecido.

– Um vento, um vento muito frio. – Então parei de falar ouvindo o som de água que, de repente, surgiu.

Ela pronunciou um “Eu ouvi um...” E a ligação caiu cortando suas ultimas palavras, eu olhei para o celular e estava sem sinal, enfiei ele no bolso e continuei andando. Passei por um tronco grosso cheio de marcas, corações com nomes dentro deles, marcas de gangues e alguns palavrões. Quando passei por esse tronco vi o rio.

– Dez minutos. – Eu disse pensando em colocar os pés na água, talvez não precisasse, ninguém ia saber!

Me ocorreu, que o espirito ia, me ocorreu como isso era besteira e como talvez não fosse. Então com os tênis no pé como prova para os vivos me esperando eu entrei no rio, a água era de um gelado congelante que me fez tremer por completo, era como se fosse inverno, mas estávamos no verão e fazia uma noite de vinte e sete graus célsius. Fazia lá, fora daquele universo no qual tinha me inserido, pois ali o vento a água o clima... Parecia estar fazendo dez ou nove graus, a água parecia estar em zero ou menos.

Então tremendo eu aguardei, olhando no relógio de trinta em trinta segundos, eu contava os segundos, olhava no relógio, contava, olhava, contava... E quando olhava após contar até sessenta não havia passado nem um minuto.

– Mais que porcaria. – O frio penetrava na perna subindo até os quadris, eu comecei a girar a cintura para um lado e para o outro, tentar manter o corpo quente.

O silêncio foi aumentando. Eu não percebi no começo mas os grilos sumiram, corujas desapareceram e o vento cessou por completo, era como se o mundo tivesse se resumido a alguns metros ao meu redor e apenas trevas após isso. Eu girei nos calcanhares apontando a lanterna para cá e para lá, quando passando a luz com pressa vi uma sombra e voltei o facho de luz rápido para o lugar de onde a sombra surgirá, quando o fiz nada estava ali além de cascalhos e um tronco partido apodrecido, só então percebi que a própria água deixava de fazer barulho... Eu estava surdo?

– Muito engraçado Rodolfo. – Eu disse sem paciência pensando realmente que era o Rodolfo, pude ouvir minha voz, então imaginei que não estava surdo mas o mundo ao meu redor tinha perdido o som.

Então olhei para frente do rio, de onde a água vinha, só então percebi uma boneca de pano junto de uma fralda de pano estavam penduradas na pedra de onde a água brotava, eu abri um sorriso de decepção balançando a cabeça. Seja quem fosse o idiota, tinha me irritado.

Eu decidi sair da água quando um vulto, uma sombra desceu das árvores, parecia um macaco caindo, só ouvi os galhos quebrando e quando olhei para cima soltei um berro inesperado contemplando por um segundo o que me atacava. Poderia ter emudecido de medo, não sei por quanto tempo gritei em vida se foram segundos ou um minuto, mas o grito durou muito na morte.

Investigações.

O detetive de braços cruzados encarou os cinco.

– Então vocês afirmam que não fizeram nada? – Perguntou, os cinco se olharam dando de ombros. – A maioria de vocês não viu o corpo correto?

O detetive acreditava que Rodolfo já tinha visto se não feito aquilo ao corpo de José. Então apontou para o telão atrás dele, o projetor pendurado no teto emitindo luz direta projetando uma tela branca. Ele foi até o computador na mesa ao lado e olhou para o próximo Slide, clicou.

Quando a imagem apareceu Olga se virou vomitando no chão, os outros apenas se assustaram, colocaram as mãos na boca e coisas assim, Patrício chorou de novo, ele tinha chorado muitas vezes desde o dia em questão. Rodolfo foi o único que não apresentou nenhuma expressão de supressa ou nojo, ele tinha visto tudo, não admitia, mas o detetive sabia que ele tinha visto.

O corpo, o que sobrou de José estava disposto no chão esticado em três metros, órgãos separados, pintando as pedras e a árvore jatos de sangue seco, nenhum padrão visível, nenhuma arma na cena do crime, parecia que uma bigorna tinha caído em cima do corpo, tirando, claro, o fato dos órgãos estarem intactos, todos os órgãos estavam inteiros, separados do corpo que tinha sido rasgado em um milhão de pedaços, a única parte inteira era do peito para cima até os olhos, o crânio tinha sido aberto pelo que os legistas disseram ser um impacto de extrema força, semelhante ao de um esquilo para pegar sementes, foi uma pancada certeira que rachou o crânio, mas não danificou o cérebro que a propósito, estava inteiro e enrolado em uma fralda de pano enfiado novamente dentro do crânio partido.

– O único órgão faltando é o coração, colocaram uma boneca no lugar. – O detetive disse seco e desprovido de emoções, a boneca estava tão ensanguentada que nem mesmo parecia ser uma boneca. – O que me dizem sobre isso? Alguém pode me falar quem fez isso com o seu suposto amigo? – Lançou um olhar para Rodolfo. Olhou para o computador pensando em mostrar as outras fotos, mas mudou de ideia.

Os cinco não tinham o que falar.

– Foi o espirito. – Camila repetiu em prantos com o rosto vermelho em um sussurro gélido e fúnebre.

– Porque você não acredita que aquela tabua tinha um espirito e ele matou o cara?

– Porque isso é impossível. – O detetive respondeu para Jéssica com um ceticismo rude. Jéssica também estava calma.

As evidencias indicavam que uma segunda pessoa foi até a cena do crime, as árvores acima possuíam galhos quebrados, mas nenhuma arvore em volta tinha marcas de escalada, a boneca e a fralda não possuíam digitais assim como nada ao redor dos restos do corpo. A polícia não tinha ideia do que poderia ter causado a morte de José.

Camila, a adorável menina de 19 anos era apenas embalista, envolvida na história contra sua vontade mas por vontade própria, acabou por se sujar apenas porque não sabia dizer não a ele, e ele...

Rodolfo era um suspeito primário, tinha descido atrás do amigo quando este gritou, seus relatos afirmavam a aparição de um vulto, o que o fez retornar, mas em uma pesquisa em suas redes sociais Rodolfo se declara ateu. Ele possuía motivos uma vez que o ciúme já causou muitos crimes, mas não teve tempo para abrir o corpo com aquela precisão se limpar e retornar ao grupo.

Olga ficou com Rodolfo por algumas horas após o corrido, ela quem chamou a polícia, e seu pai quem contratou os advogados para os cinco sobreviventes e depois garantiu que os cinco ficassem sob seus olhos para que ele servisse de álibi.

Jéssica é a mais calma, com seu estilo peculiar e tendências góticas ela se mostrou um tanto indiferente quanto a morte de José, o detetive a levou como suspeita a princípio, mas algo nela gritava para todos que era inocente.

Patrício cresceu na casa ao lado da de José, e ambos foram amigos durante anos, inúmeras razões para tal crime podem ser imaginadas para que ele seja o culpado, mas nenhuma delas se encaixa com este perturbador caso.

– Podem sair! – O Detetive disse para eles se levantando e desligando o projetor sentindo o cheiro de vomito invadir suas narinas.

Voltou para o armário de provas, em uma das mesas estava as evidencias, em outra estava a tabua os celulares e a câmera. O Detetive coçou a cabeça pensando no que tinha feito aquilo considerando pela primeira vez a possibilidade de algo que não fosse... Humano.

No outro dia pela manhã

A cafeteria cheirava forte, o aroma invadindo os pulmões de Augusto que em poucas horas deixaria esse nome de lado para voltar a ser o “Detetive Gomes”. A ideia por si só era desesperadora, ainda mais com o misterioso caso que caia sobre ele, aparentemente um caso impossível. Tentou não pensar nisso enquanto tomava seu café, já tinha passado a noite e boa parte da madrugada tentando entender. Bebericou a bebida fervente e fumegante quando a porta da cafeteria se abriu e um garoto de dezesseis anos entrou, nos braços uma mochila de lado cheia de papel em tom acinzentado.

– Bom Dia Vinicius! – Augusto disse olhando o rapaz que entregava o jornal para um homem na bancada a frente e pegava uma moeda de um real em troca. Aquela rotina se repetia diariamente incluindo sábados e domingos há um ano e quatro meses e alguns dias.

– Bom Dia detetive! – O garoto disse puxando um jornal e entregando ao Detetive Gomes. – Ficou sabendo das novas? – Perguntou apontando para o jornal que depositava sobre a mesa para poder pegar a moeda, enfiou-a no bolso com um sorriso juvenil. – Pagina três!

Augusto abriu o jornal e leu as notícias da primeira página.

Seu nome estava lá, seguido da foto de onde o corpo de José estava, o corpo estava coberto por uma tarja negra, a manchete dizia “Assassino em série a solta no parque florestal” em baixo nas linhas curtas dizia “A delegacia local não entende como o crime foi cometido sem deixar rastros, o detetive encarregado do caso não quis dar entrevistas, mas nossas fontes afirmam que as investigações chegaram no fim da linha e sem nenhum resultado. Seria este o crime perfeito? ”. Ele ignorou a petulância do jornal. Então rolou os olhos pela seção de esportes na página dois, e então a página três, já tinha se esquecido do que Vinicius a dois minutos lhe tinha dito.

– Menina com câncer em estado terminal amanhece curada. – Ele viu a foto da pobre garota na cama, careca e magricela, parecia a beira da morte, mas a manchete provava o contrário, por mais duvidoso que fosse. – Maria Isabel Braga de nove anos nasceu com câncer no pulmão. Após uma primeira cirurgia o problema havia desaparecido até que dores de cabeça fortíssimas com sangramento nasal fez com que a menina voltasse ao hospital, o diagnóstico foi um tumor cerebral do qual não havia cura, dois meses depois outro tumor foi detectado em seu coração e o diagnóstico era de cinco meses de vida. Hoje, três meses exatos após a descoberta dos tumores Maria acordou se sentindo extremamente bem e ao ser examinada foi descoberto que seus problemas de saúde, todos, foram curados. O bispo da Igreja de São Pedro e Augustinho disse que foi um milagre realizado por Deus devido as orações do pai da menina. O Senhor Euclides Braga, pai de Maria Isabel Braga, discorda do Bispo e disse em resposta “Orei, implorei e supliquei por ajuda divina todo dia por meses. Deus teria deixado minha filha morrer, Deus nada tem a ver com a cura da minha filha”.


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Notas finais do capítulo

E então? coloquem a cabeça para pensar e desvendem o crime! Não está tão difícil assim.
O que acharam? Ficou bom? Minha primeira One-Shot, não sei de onde veio a ideia, mas de repente estava escrevendo.
Espero que tenham gostado :)