Matthew estava sentado à mesa da cozinha, tentando ganhar um pouco de fôlego para explicar o que tinha acabado de testemunhar. Ele tinha ficado, literalmente, sem palavras ou reação sobre tudo aquilo. Ele teve que admitir, que pela primeira vez após anos, ele estava com medo de entrar na floresta.

Enquanto isso, Arthur tirava as coisas que Matthew havia trago na cesta. Ele esperava o menor se acalmar, mas via que isso ia demorar. Pouco depois, Arthur começou a sentir uma tontura que o fez cambalear um pouco. Acho que a sua doença não curaria tão rápido assim. Ele foi logo procurar um lugar para se sentar, e ao fazer isso, foi logo auxiliado por Matthew. Mesmo que ele tenha ficado assustado, o instinto de cuidar dos outros ainda estava ativo naquele pequeno ser.

– Você poderia me contar o que aconteceu? – Arthur abordou Matthew para que ele pudesse esclarecê-lo.

– Bem... Eu vi uma criatura na floresta...

– Que tipo de criatura?

– Uma criatura grande... com pelos quase brancos... e ele disse que o nome dele era...

– Ivan. – Arthur completou a frase do jovem Matthew - Não é mesmo? – Matthew confirmou com a cabeça – Bem, você não poderá voltar hoje. É muito perigoso... Durma aqui hoje que amanhã eu te levo até a cidade.

– Mas você ainda está doente...

– Amanhã eu estarei melhor... Vá descansar.

Sem desobedecer, Matthew pegou as suas coisas e foi se organizar no sofá que estava localizado próximo à cozinha. Ele aguentaria passar uma noite fora de casa se fosse para não encontrar aquela criatura novamente.

Quando esperou Matthew sair da cozinha, Arthur começou a se questionar. Nunca tinha visto Ivan falar com ninguém. Ele normalmente atacava e não fazia mais nada após isso. Isso era uma das razões para os moradores não entrarem mais na floresta e um dos motivos para Arthur ficar lá por dentro. Arthur era um excelente mago, e a função dele ao morar no meio daquela floresta era tomar conta de uma barreira que impedia Ivan e outras criaturas de passarem dos limites que dividiam a cidade da floresta. Mas ele não conseguia acreditar que Ivan tinha parado e conversado com Matthew...

“E aqueles três voltaram... Pensei que nunca mais fosse vê-los por essas bandas...”

–-- X ---

Ivan se encontrava perto de uma árvore, tentando identificar de onde tinham vindo os tiros. Mas por seus ouvidos ainda estarem doendo por causa dos barulhos anteriores, isso foi um tanto difícil. Ele também queria saber onde tinha ido aquela criatura de capuz vermelho, mas demoraria um tempo até conseguir pegar o seu rastro novamente.

– Eu quero ele para mim.

Ivan começou a sorrir descaradamente ao pensar como seria ter aquela adorável criatura ao seu lado. Era a primeira vez que ele cobiçava algo tão fortemente. Ele não conseguia acreditar que aquele ser era um macho, mas ao mesmo tempo, aquilo o atraía cada vez mais. Ele só queria pôr as mãos nele e nada mais. Pelo visto, ele era puro instinto.

“Aquele cheiro... cheiro de folhas de bordo.”

Logo em seguida, Ivan se transformou em lobo para facilitar a sua busca pelo ser de capuz e vestido vermelho. Ele farejou o chão por algum tempo, tentando loucamente, até conseguir sentir algo que lembrava aquele cheiro. Então ele foi correndo naquela direção. Ele mal podia esperar até poder abusar dele.

“Quero vê-lo chorando... Vai ser uma visão tão linda!”

–-- X ---

“Ela era tão linda...”

Francis pensava na doce criatura que tinha visto na floresta. Ela possuía cabelos loiros, usava um óculos muito meigo, e vestia um lindo vestido vermelho que combinava com seu capuz de mesma cor. Fazia tanto tempo que não via ninguém naquela floresta... Fora seus colegas e um idiota que morava por lá, ele chegou até a se surpreender quando viu uma adorável garota passeando por lá tão alegremente.

Tudo teria sido maravilhoso se aquele maldito lobo não tivesse quase a matado. Francis presou pelo bem estar dela e só fez soltar uns tiros para afugentar a criatura. Ele sabia que se tivesse aparecido, o lobo a mataria. E quando ela começou a correr, ele e seus colegas foram atrás dela só para se certificar que ela estaria bem. E pelo visto ela era amiga do idiota que morava no meio da floresta. Mas era melhor ele do que o lobo.

– Se não fosse aquela garota, nós teríamos conseguido capturar aquela besta... – reclamava Gilbert.

– A menina não tinha culpa. Ela só deu muito azar de estar no lugar errado na hora errada. – Antonio tentava defender.

– Se Francis não tivesse me avisado que ela estava por lá, eu teria atirado... – Gilbert bufou – Francis, você está muito quieto, o que aconteceu?

Eles testemunhavam um Francis encarando o nada. O olhar dele tinha ficado diferente depois que eles tinham encontrado o lobo atacando a garota. Eles encaravam o amigo com a maior cara de dúvida. Ele estava agindo tão estranho todo esse tempo...

– Me desculpem... Mas eu estava pensando nela.

–-- X ---

Estava escuro, e era possível enxergar as estrelas se formando no céu. Ele via tudo isso da janela da sala. Ele não aguentava mais ficar dentro daquela casa, então ele se esgueirou para que Arthur não o visse ir para a porta.

Matthew conseguiu ir para à frente da casa de Arthur. Ele não aguentava ficar muito tempo trancafiado dentro de casa. Ele gostava de sentir a natureza, o ar puro, então ele saiu. Mas ainda com receio de explorar as coisas que estavam foram da casa, ele se manteve colado à porta de entrada.

Ele só queria se acalmar, e a melhor coisa que fazia para conseguir isso era cantando. Então ele foi logo lembrando da canção que tinha iniciado na floresta e foi cantando o complemento dela.

“What big eyes you have,

The kind of eyes that drive wolves mad.

Just to see that you don't get chased

I think I ought to walk with you for a ways.

–--

What full lips you have.

They're sure to lure someone bad.

So until you get to grandma's place

I think you ought to walk with me and be safe.”

E sem perceber a movimentação que estava acontecendo entre os arbustos, Matthew não conseguiu testemunhar um grande sorriso cheio de presas que estavam se formando.

“Eu o encontrei.”