Aquela grande entrada, com correntes ao redor e uma placa pendurada escrito “Afaste-se”, mostrava como os moradores da cidade tinham medo de explorar aquela floresta. Mas Matthew já não tinha tanto medo quanto antes. Ele fora algumas vezes para a casa de Arthur quando era mais novo, e aquilo realmente tinha o assustado, mas com o passar do tempo, ele foi perdendo aquele medo.

Parecia que o que causava mais medo, em Matthew, não era nem a floresta em si, mas o modo como as pessoas descreviam as criaturas ocultas que moravam nela. Ele nunca tinha visto nenhuma, e nem pretendia ver. Ele só queria chegar logo à casa de Arthur e passar um tempo com ele antes de escurecer.

Matthew atravessou a barreira improvisada, tendo o maior cuidado para não deixar cair nada da cesta, e logo em seguida, começou a dar passos rápidos para se afastar da entrada. Enquanto ele corria, ele olhava para os lados, para cima, para baixo... Tudo isso com o intuito de encontrar alguma coisa para se distrair. Demoraria um pouco até ele chegar à casa de Arthur. Durante aquele pequeno percurso que ele já tinha feito, ele pode encontrar alguns bichinhos que resolveram segui-lo. Outros apenas o observavam. Ele podia ouvir alguns pássaros catarem, e outros apenas voavam próximos dali.

O povo não conhecia a floresta. Ela poderia ser bem bonita se eles ignorassem aqueles contos e histórias terríveis.

– Se a floresta não fosse um tabu, eu pediria para Alfred para morarmos aqui... Assim ele ficaria mais próximo de Arthur...

Matthew começou a sorrir bobamente e sem motivo aparente para alguns dos bichos que o seguiam. Ele achava uns tão fofos que queria levar para casa. Alguns dos coelhos que estavam o seguindo passaram e pararam bem na sua frente, fazendo com que Matthew parasse e se abaixasse para depositar um pouco de carinho sobre aquelas cabeças cheias de pelos.

Ele sorria e brincava com alguns daqueles coelhos. Era impossível ele não querer um deles, afinal, Matthew adorava animais. Mas por Alfred não gostar de ter muito trabalho, ele nunca pode ter um. O mais próximo de uma coisa felpuda que ele chegou a “criar” fora um pequeno urso de pelúcia que ficava no encontro da parede com sua cama.

– Eu sei que vocês querem brincar, mas eu preciso entregar essa cesta para o Arthur. – ele respondia, docemente, ao coelhinho que ele estava fazendo um gentil carinho na cabeça.

Logo após isso, Matthew levantou e continuou seguindo seu rumo, mas dessa vez, ele foi andando e cantando.

“Hey there Little Red Riding Hood,

You sure are looking good.

You're everything a big bad wolf could want.

–--

Little Red Riding Hood

I don't think little big girls should

Go walking in these spooky old woods alone.”

Ele adorava cantar quando estava sozinho, pois assim, ele não incomodava os outros. Depois de um tempo, Matthew olhou para trás. Nenhum sinal da entrada. Então ele finalmente pode ter certeza que a sua jornada por aquela imensa floresta já tinha começado. Ele ficou entusiasmado e começou a correr. Ele segurava o vestido cheio de babados com uma das mãos para facilitar mais a sua corrida.

– Não se preocupe, Arthur. Eu já estou chegando.

Matthew começou a acelerar mais ainda o seu ritmo, passando cada vez mais depressa entre as árvores. Talvez ele até chegasse em alguns minutos à casa de Arthur. Ele não pensava mais em nada. Não pensava nos riscos que aquela floresta poderia trazer ou o que poderia acontecer com ele. Ele só pretendia chegar mais perto da velha casa onde morava seu amigo.

–-- x ---

Um pouco longe dali, era possível testemunhar uma grande pelagem, de um loiro muito claro, quase branco, descansar ao lado de uma árvore enorme. E por ter uma audição um tanto aguçada, a criatura se levantou, balançou um pouco a cabeça e começou a soltar alguns grunhidos.

“Alguém entrou na floresta... Será que ele quer ser meu amigo?”

Então um uivo tomou conta do lugar, deixando à mostra, um grande lobo de aparência feroz, com um pano em volta do pescoço, muito agitado. Pelo visto, ele tinha escutado trechos de uma canção. Ele queria saber de onde tinha vindo aquela voz. Então ele saiu correndo na direção que seus ouvidos lhe guiavam.

“Essa voz... eu quero para mim.”

Mas com o passar do tempo, o lobo começou a escutar barulhos distintos da canção que tinha acabado de ouvir. Eram barulhos que começaram a deixa-lo irritado. Os barulhos se alternavam entre a doce canção e sons de explosão. O que seria isso?

–-- x ---

Matthew ficou cansado por correr por algum tempo. Ele realmente precisava se tornar um pouco mais resistente à atividade física. Ele então decidiu descansar e se sentar perto de uma grande árvore. Ele passaria um tempo ali até recuperar um pouco suas forças para continuar andando.

Ele aproveitou para testemunhar um pouco do entardecer. E realmente, aquela cor alaranjava que ficava a floresta naquele horário era linda. Enchia o coração de Matthew de alegria. Ele não conseguia acreditar que as pessoas chamavam aquela floresta de mal assombrada.

De repente, Matthew escuta barulhos fortes. Similares a sons de tiros. Eram barulhos fracos e parecem estar bem distantes. Entretanto, estão próximos o bastante para Matthew escutá-los. E isso só pode significar uma coisa: alguém deve ter entrado na floresta. O que essas pessoas estão fazendo por lá? Seriam pessoas da cidade? Mas com que intuito elas entrariam no lugar que mais sentem medo?

“Só espero não encontrar com essas pessoas... podem ser perigosas...”

Matthew deu um último suspiro e logo se levantou para continuar sua jornada. Quanto mais rápido se afastasse daquele local, mas distante ele ficaria das pessoas que entraram na floresta. Ele não queria arranjar problemas.