Era uma tarde de calor e o almoço era o mais esperado na casa. Porém não teria o que comer, estava longe, estava sozinho. E se sentia um pouco perdido naquela imensidão de mundo, naquele vazio só dele. E observava atentamente tudo aquilo que já conhecia e que outrora se cansara de observar. A respiração compassada num ritmo próprio se propagava como o mais alto dos sons, quando na verdade era insignificantes. Tinha saudades daquilo que poderia viver.

E ouvia o expirar inquieto e a sede por novo. Monotonia era a pior parte daquela sua vida. Tudo bem que dispensava a adrenalina, mas também queria uma única novidade que o surpreendesse.

O toque frenético e ansioso dos seus dedos contra a madeira soava como tiros de um canhão. E eram pesados como a consciência quente de um sol escaldante.

Mas não duraria para sempre, afinal. Os olhos estavam quase se fechando, levando tudo embora.

Até que alguém interferiu, algo interferiu. Uma das portas foi aberta.

O que está fazendo aí desse jeito e com essa cara? Parece que eu é quem tem que resolver tudo do casamento.

Ficou tão contente que nem ao mesmo se deixou levar pelo comentário. Se aproximou da loira de olhos verdes tão desafiadores, e deu-lhe um abraço. Sem significado especial, provavelmente porque ela o salvou quando mais precisava.

Uma reviravolta fez desse um belo dia. Uma reviravolta como ela, que não entendia nada mas, mesmo assim, sentiu-se confortável.

Afinal, era aquele o dono do seu coração.