Ele estava animado naquele dia.

Não era lá muito comum Shikamaru apresentar um humor mais elevado, até porque sempre havia uma coisa aqui ou ali para se reclamar. Então a perspectiva dele radiante era deveras estranha, e talvez até um pouco exagerada; mas ainda assim era verdade. Seu estado de humor se assemelhava a um dia ensolarado, os raios intensos fazendo a sombra ser mais vibrante.

Porém tanto sol deixava tudo mais abafado.

Ao contrário do marido, Temari estava num péssimo dia. E enfrentar um ao outro era o grande desafio daquele dia, visto que suas cabeças estavam voltadas para causas diferentes. Ela não era dócil com as palavras quando sua ira era evidente, tampouco ele se continha ao respondê-la. Um clima estranho os abraçava, e tinham a impressão de que iria demorar até ser dissipado.

O olhar de Temari, por vezes demorado, era uma farpa. Nem pareciam dividir o mesmo quarto; estavam tão distantes mas tão perto. Era uma sensação idiota, porém inevitável.

— Não sou nenhum monstro — começou Temari, os braços cruzando lhe dando um ar firme enquanto o sol parcialmente iluminava seu rosto. — Você fica me tratando assim só por causa de uma suspeita.

— Assim como? — Shikamaru quis saber.

— Assim! Parece que eu fui infectada. Não fiz esse filho sozinha, sabe? Não foi nenhuma semente e nenhuma encomenda da cegonha — disse com desdém, a testa franzida de raiva.

— Só estou tomando cuidado, porque uma grávida problemática deve ser muitas vezes pior. — Shikamaru sorriu levemente, porém não obteve retorno positivo.

— Não diga asneiras. — Inclinou a cabeça em direção ao ombro dele, e permaneceu daquele modo. Para ela, o futuro provável pai não estava levando aquilo tão a sério quanto imaginaria. Era uma responsabilidade enorme, ele não via? Não era só ter o bebê e pronto.

Entretanto, tinha de afirmar que ele parecia feliz com a possibilidade, parecia feliz com a gravidez — nem tão — inesperada e muito bem-vinda.

E nem os ataques problemáticos de Temari iriam entristecê-lo; seu motivo era forte demais para isso. E mesmo ela se mostrava contente, em momentos de carinho como aquele em que repousava em seu corpo, ainda que de sua boca só saísse frases típicas de seu temperamento.

Pelo menos estavam preparados para mais aquele passo na estrada que dividiam.