O Tempo que Leva escrita por Bruna Guissi


Capítulo 19
Tédio


Notas iniciais do capítulo

É isso aí! Um capítulo pequetito, mas divertido!
Espero que gostem.
Boa leitura!
Tédio – Biquíni Cavadão



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Acordei tarde no domingo; quando fui para a sala, ela estava impecável e sem dois rapazes adormecidos como na noite anterior. Voltei pela cozinha e vi o bilhete em cima do balcão.

“Fui ao Mercado. Desculpa, eu sei que gosta de lá, mas estava dormindo tão bem. Não quis te acordar.”

Funguei sem querer, achando graça. Olhei a despensa de esguelha e notei que estava quase vazia. Do jeito que era, ele devia ter feito uma lista, e adicionado as coisas que gostava também. Provavelmente iria demorar.

Resolvi comer algo rápido por ali mesmo. Podia ter acordado tarde, mas ainda estava longe do almoço. Peguei a maçã na mão e sentei no sofá da sala, desbloqueando o celular. Abri uma conversa coletiva e mandei mensagem para todas as meninas.

Vamos agitar esse lugar, não quero que o domingo me mate. Perguntei o que fariam de bom hoje, e recebi quatro respostas decepcionantes.

Sansa passaria o dia com o namorado e a família dele em um tal de “churrasco de família”, enquanto Valentina iria sair com o pai dela. Iam para o campo ver o jogo. Já Eileen estava com a mãe e a irmã mais nova, passeando em algum lugar da cidade, e Avalon, por sua vez, estava fora. Alguma coisa relacionada com visitar parentes, uma vez que a família não era daqui.

Resumindo: fui abandonada. Mordi a maçã, bufando.

Tudo bem um filme pode ajudar. Liguei a televisão, passeando pelos canais com o controle. Depois de vinte minutos urrei de ódio. Esqueci que era domingo, e que a alma do mundo tira soneca nesse dia da semana. Inclusive a televisão.

Sabe esses dias em que horas dizem nada
E você nem troca o pijama, preferia estar na cama
Um dia, a monotonia tomou conta de mim
É o tédio; cortando os meus programas, esperando o meu fim

Apoiei a cabeça me sentindo derrotada nas costas do sofá. Respirei fundo, levantando e voltando para o quarto.

Joguei-me na cama fria, apreciando a sensação. Nem tive tempo de nadar direito essa semana. Na verdade foi tanta coisa acontecendo que hoje parecia ser o dia mais incomumente medíocre que já tive.

Olhei para a estante de livros encostada na parede, com expectativas. Elas logo se foram. Preciso comprar livros novos...

Vejo um programa que não me satisfaz
Leio o jornal que é de ontem, pois pra mim tanto faz
Já tive esse problema, sei que o tédio é sempre assim
Se tudo piorar, não sei do que sou capaz

Percebi que piscara lentamente, quase caindo no sono novamente. Ah, mas o quê? Sono agora? Fiquei encarando o teto por alguns segundos.

Cochilei sem perceber.

Senti alguma coisa nos meus braços, pinicando. Cocei de leve, ainda ensonada demais para realmente acordar. Senti de novo, dessa vez mais forte. Esfreguei o braço com força, abrindo os olhos de leve a contra gosto para ver que bicho tentava me comer viva.

Senti uma sombra gigantesca em cima de mim, me assustando. Que merda é essa?! Estapeei o que quer que fosse, ainda sem ver o que era, meio que por reflexo.

–Ai! – reclamou uma voz risonha. Esfreguei os olhos, enxergando Ian ao pé da cama – Que mão pesada! – então começou a rir ao ver minha expressão de ódio misturado com incredulidade.

–Ugh! – bufei, voltando a pousar a cabeça na cama – Não se pode nem cochilar em paz? – perguntei, me enrolando em uma conchinha solitária no meio da cama. Senti Ian me puxar para a beirada pelo elástico da samba canção que eu usava. Reprimi um sorriso de olhos fechados.

–Mas já são quase uma hora, você não pretende alimentar esse seu corpo? – perguntou. Uma hora? Da tarde? Virei para encará-lo desconfiada. Ele me mostrou o celular.

Sentado no meu quarto
O tempo voa
Lá fora a vida passa
E eu aqui a toa
Eu já tentei de tudo
Mas não tenho remédio
Pra livrar-me deste tédio

–Ah! Nossa, vamos comer alguma coisa! – falei, pulando dali. Infelizmente, talvez pelo afobamento do horário, cruzei as pernas de modo errado e perdi o equilíbrio logo quando sai do colchão. Não, Ian não m pegou.

–Ughf!

Caí de barriga e peito no chão, lembrando apenas de virar o rosto para não quebrar meu nariz com a queda. Ian riu.

Riu não, gargalhou escandalosamente, precisando sentar para se aguentar. Miseravelmente me coloquei de joelhos, sentindo os seios doerem.

–Ai... – e o orgulho também. Esfreguei de leve, tentando levantar – Ai! – e voltei a cair, só que agora sentada na cama. Vi os joelhos; ambos vermelhos. Revirei os olhos.

Lindo. Maravilhoso. Sensacional.

Senti a sombra risonha de Ian em cima de mim, oferecendo as mãos para eu me apoiar. Franzi os lábios, engolindo o orgulho. Aceitei e ele me puxou de pé, me apoiando pela cintura.

–Consegue andar? – perguntou rindo. Olhei-o com ódio – Ah, qual é, foi engraça... Ok, desculpa. – corrigiu-se, engolindo o riso.

Ele me ajudou a ir até a sala, me apoiando pelo corredor.

–Mas enfim; deveria saber que eu comprei almoço hoje. – falou ele. Levantei a cabeça para olhá-lo – E se estivesse esperado, não teria caído assim. – falou, sem conseguir reprimir um risinho. Dei um tapa no braço dele, fazendo-o rir mais.

–Ai, como pode ser tão chato? – reclamei, soltando os braços dele de mim. Fui tentar caminhar ruidosamente até a sala, mas senti um puxão na cintura.

De repente estava sendo carregada ao lado do corpo dele, como uma daquelas pastas de serviço que você escora no corpo. Ian ignorou completamente meus protestos até me jogar o mais delicadamente que conseguiu no sofá.

–Ei! – reclamei, a cabeleira toda na minha cara. Soprei uns fios de cabelo pra longe.

Ele arqueou uma sobrancelha, inclinando-se para mim com as mãos nos joelhos.

–Vamos fazer assim, você senta e espera, e eu trago a comida. – falou, como se eu fosse uma criança desobediente. Cruzei os braços, sem reclamar – Boa garota. – então tentou dar um tapinha na minha cabeça, mas bati na mão dele, mostrando a língua. Ele virou as costas rindo para mim.

Logo voltou com dois pratos de uma comida cheirosa; frango assado, batatas, arroz e feijão tropeiro.

–Hmm! – inalei o cheiro da comida, sentido meu estômago roncar.

–De nada. – falou ele com um sorriso. Sentou-se no tapete, as costas encostada no sofá que eu estava sentada, ligando a televisão.

Passeou os canais um pouco e resolveu deixar num filme qualquer. Comemos assistindo a história meio piegas. Ian ficou revoltado quando prenderam o rapaz inocente e só soltaram quando o colega dele morreu provando que não cometera o crime. Passou a refeição toda reclamando disso. O filme realmente não era grande coisa.

–Mas como podem prendê-lo? – perguntou, o garfo na mão de maneira a indicar a indignação cômica dele – Nem tinham provas para começo de conversa. – dei risada da reação exagerada dele.

Vejo um programa que não me satisfaz
Leio o jornal que é de ontem, pois pra mim tanto faz
Já tive esse problema, sei que o tédio é sempre assim
Se tudo piorar, não sei do que sou capaz

Olhei mais atentamente e vi um arroz na bochecha estufada pela comida. Ele parece quase uma criança de novo.

Terminamos de comer, e Ian se ofereceu para cuidar da louça. Eu protestei, mas ele falou que tudo bem; uma vez que não tinha de trabalhar de fim de semana e eu sim, ele poderia fazer isso tranquilamente. Falei de ter feito as compras, mas ele me encarou como se eu tivesse dito algo ridículo.

–Estou praticamente morando aqui, me deixa fazer alguma coisa. – falou, levando os pratos para a cozinha. Sorri para as costas dele.

–Bom então vou ler alguma coisa no quarto. – anunciei, ele acenou com a cabeça concordando. Parecia pensativo. Talvez gostasse de fazer tarefas de casa para se distrair.

Joguei-me na cama, pegando o livro ainda não terminado no criado mudo. Eu gostava tanto da história, mas sinceramente, estava tão difícil de terminar. E as coisas só piorariam daqui para frente, porque o mês estava acabando e logo as aulas na faculdade voltariam.

Sentado no meu quarto
O tempo voa
Lá fora a vida passa
E eu aqui a toa
Eu já tentei de tudo
Mas não tenho remédio
Pra livrar-me deste tédio

Suspirei.

Gostaria de fazer algo mais excitante com a minha vida.

Fiquei alguns minutos ali, finalmente distraída com alguma coisa interessante naquele marasma parado que eram os domingos. Ian entrou no quarto tirando a roupa. Encarei-o sem conseguir segurar o sorriso, que por algum motivo ele não pareceu perceber. Andava meio avoado esses dias. Não que eu pudesse culpa-lo.

Anunciou que iria tomar banho e entrou de cueca no banheiro, encostando a porta atrás e si. Fiquei encarando a madeira por uns instantes, afagando distraidamente o hematoma que se formava na minha costela. Virei os olhos para o livro em minhas mãos então, pensativa.

Tédio, não tenho um programa
Tédio, esse é o meu drama
O que corrói é o tédio
Um dia, eu fico sério
Me atiro deste prédio.

Fiquei no vai e vem entre a porta do banheiro e as folhas amareladas até decidir fechar o livro e entrar no banheiro cheio de vapor. Não dava enxergar muita coisa; Ian gostava de banhos quentes. Mesmo assim, me ouviu quando entrei.

–Mikaela? – perguntou com o rosto confuso, a água pingando dos cílios. Fiz uma força para continuar encarando o rosto dele inocentemente. Ele estreitou os olhos tentando enxergar através da névoa quente que enchia o banheiro.

–Consegue ver algum hematoma aqui? – perguntei levantando a camiseta até embaixo do sutiã, sem chegar muito perto do boxe. Ele estreitou os olhos.

–Não consigo enxergar direito falou. – soltei a camiseta, me fazendo de pensativa. Tirei a samba canção, agora apontando o ossinho da pelve, sabendo que ali não tinha nada.

–E aqui? – perguntei arqueando a sobrancelha. “Se saindo muito bem para uma iniciante.” Ele deu um pigarro leve, a expressão confusa no rosto. Fez que não com a cabeça.

Soltei um suspiro, fingindo decepção. Tirei a camiseta de vez, e vi que ele levantou uma das sobrancelhas para mim.

–Não tem jeito. – falei escancarando a porta do boxe. Um sorriso se espalhou pelo rosto dele, num misto de compreensão e sacanagem – Você tem que ver de perto.

Entrei no boxe de calcinha e sutiã, fechando a porta para “o frio não entrar”. Parei na frente dele. Ele passou a mão no cabelo molhado colocando-o para trás, os olhos em mim. Senti um arrepio na barriga.

–Consegue ver? – perguntei, o tom inocente ainda na voz, mas o pequeno sorriso no meu rosto me entregava.

Ele cruzou os braços, apoiando o queixo em uma das mãos. Balançou a cabeça como se me analisasse seriamente.

–Não, não. – falou então se aproximou rapidamente, me encurralando na parede do boxe, ele finalmente fora da água – Tem roupa demais na frente.

Não consegui reprimir o sorriso que seguiu a mordida que levei no pescoço.


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Notas finais do capítulo

É isso aí!
Futuramente verão uma ideia introduzida nesse capítulo de maneira subliminar!
Beijos e abraços!
Não deixem de espalhar o amor!



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