O Tempo que Leva escrita por Bruna Guissi


Capítulo 13
Deixa Acontecer


Notas iniciais do capítulo

Ae moçada, hoje em tempo, o décimo terceiro dia do desafio!
Sinceramente tive dificuldade de fazê-lo pois gosto apenas da primeira parte da música! UAHSUHUAS Boa leitura!
Aquarius (Let the Sunshine in) – The 5th Dimension



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When the moon is in the Seventh House

(Quando a lua está na sétima casa)

And Jupiter aligns with Mars

(E Júpiter se alinha com Marte)

Then peace will guide the planets

(Então a paz guiará os planetas)

And love will steer the stars

(E o amor ultrapassará as estrelas)

Aí você acorda para um dia que tem tudo para ser ótimo. Sim eu ando bem otimista ultimamente. Não, não faço ideia de quanto vai durar, e não ligo para isso.

This is the dawning of the age of Aquarius

(Este é o amanhecer da era de Aquário)

Age of Aquarius

(Era de Aquário)

Aquarius!

(Aquário)

Aquarius!

(Aquário)

Ian não estava ali ao meu lado, apesar do dia continuar brilhando lá fora. Avalon acabou me dando carona e ele aceitou de bom grado quando falei que pretendia passar o dia com Sansa e Valentina, e que ele costumava roubar tempo demais das minhas manhãs.

–Como se fosse ruim. – respondera com um sorriso. Não era mesmo.

Só que eu havia prometido, através de diversas mensagens e vídeos durante a noite (madrugada) de ontem, que passaríamos o dia de as três juntas. Estava com saudades delas.

Então acordei cedo, perto das oito horas. Vesti um biquíni confortável por baixo de uma camiseta e um short largos, e arrumei uma mochila com um monte de coisas úteis, tipo comida, e fui a pé para a casa de Valentina; ficava no fim da rua lateral ao prédio em que eu morava, poucos minutos andando.

Entrei pelo portãozinho de grades destrancando e bati de leve na porta da sala. Ela apareceu poucos segundos depois.

–Olá! – cumprimentou animadamente.

–Olá! – respondi num abraço – E a Sansa? – quis saber. Entrei pela porta e joguei a bolsa em cima do sofá.

–Mandou uma mensagem avisando que logo chegava. – respondeu animadamente. Sentamo-nos no sofá para esperarmos.

–E como andam as coisas com o rapaz dela? – perguntei distraidamente. Valentina deu de ombros.

–Eles estão bem. – respondeu com um sorriso tranquilo no rosto – O Nicolas é uma cara legal, e eles se dão muito bem. – sorri concordando com a cabeça.

Conversamos por mais alguns minutos antes de ouvirmos uma buzina na frente da casa. Valentina foi para o quarto dela buscar suas coisas, e então saímos pela porta da frente, trancando a casa.

–Olá queridas! – cumprimentou Sansa animadamente do carro – Vamos nadar! – anunciou feliz, com o ar avoado de sempre.

Entramos no carro e saímos em direção à pista. Andamos por vinte minutos até chegarmos ao Lago Speil. Não havia mais ninguém num horário tão cedo, e assim era ainda melhor.

O lago tinha esse nome por ter a água tão calma e tão límpida que fazia lembrar um espelho. Tiramos as toalhas da bolsa, e eu fiz questão de arrancar a camiseta e o short, para já entrar na água. Não se podia usar protetor para nadar ali, para evitar a poluição da água com qualquer resíduo, então o horário em que mais aparecia gente ali era no final da tarde.

Entrei correndo na água gelada, deixando o coque frouxo que segurava meu cabelo molhar. Resolvi soltá-lo. Tremi por alguns segundo até me acostumar com a temperatura, mas logo já estava boiando preguiçosamente pela água.

–Olha lá, a estrela regente flutuando. – ouvi Valentina comentar, tirando uma risada de Sansa.

–Está muito fria? – gritou Sansa para mim, avaliando meu espetáculo de nado sincronizado de uma pessoa só.

Um pouquinho! – gritei a pequena mentira em resposta, tirando um gemido dela – Vem logo! Você acostuma com a temperatura. – incentivei, já fora da minha posição de estrela, de pé com a água até o peito.

Valentina soltou um rugido de coragem e correu para dentro dá água, arregalando os olhos para o frio que invadia o corpo dela.

Um pouquinho?! – reclamou quando chegou perto de mim, jogando água no meu rosto. Precisei cuspir.

–Se eu falasse que está gelada, acha mesmo que a Sansa iria entrar na água? – falei. Ela apenas fez me encarar com desprezo enquanto se abraçava de frio.

Logo em seguida pudemos ouvir um gritinho de susto, e então Sansa entrando na água.

–Isso aqui está é muito gelado, sua cretininha! – reclamou chegando perto, a pela visivelmente arrepiada. Dei uma risada para ela.

Ficamos brincando, isso mesmo, brincando, até perto das dez, quando o sol começou a esquentar. Saímos da água e a fome já começava a atacar. Sentamo-nos nas toalhas na beira do lago, enquanto abríamos os pacotes de comida que tínhamos ali.

Chegaram mais uns dois carros depois disso, cheio de rapazes. Alguns se aventuraram a nadar no sol alto sem protetor solar por uns minutos, e creio eu que só para se exibir. Valentina até que gostou do show.

Comemos e juntamos nosso lixo, nos enrolando nas roupas de qualquer jeito. Andamos até o carro, e pouco antes de entrar, um rapaz se aproximou de nós. Encarei-o confusa; era um dos rapazes que mergulhara no lago.

Ele fez um sinal chamando-me com a mão, e fui até lá.

–Sim? – perguntei com receio.

–Desculpa incomodar, – começou o rapaz moreno, coçando um dos braços como se pensasse no que dizer – mas eu gostaria de saber se pode dar meu telefone à loira? – falou apontando Valentina. Então abri um sorriso, achando graça.

Estreitei os olhos, avaliando-o. Virei-me para olhar as meninas, e elas me encaravam de volta com curiosidade.

–E qual é o seu nome? – perguntei para ele, colocando a mão na frente dos olhos para evitar que o sol batesse diretamente. Ele abriu um sorriso absurdamente branco, matador de mulheres.

–Caesar. – respondeu – Posso contar com você? – perguntou com expectativa. Olhei-o mais uma vez; alto, moreno e com um corpo forte? Valentina provavelmente estava se perguntando por que ainda não estava com a boca na dele.

–Pode deixar. – falei. Ele sorriu e agradeceu, voltando para o grupo de amigos. Caminhei de volta para onde elas estavam, e não dei nem um suspiro antes que me atacassem com perguntas.

–Quem era ele? – disparou Sansa.

–O que ele queria? – perguntou Valentina, olhando pelo meu ombro. Cutuquei a barriga dela, estendendo-lhe o papel. Ela olhou para minha mão, e deu um sorriso libidinoso.

–Ele se chama Caesar, e me pediu que te entregasse isso, loira. – falei, repetindo o chamativo que ele usara. Ela conteve uma risada antes de falar:

Adoro!

Entramos no carro e passeamos pela cidade por mais ou menos meia hora, ouvindo música e dando risada. Chegamos ao apartamento de Sansa perto das onze horas, já pensando novamente no que comer.

Os pais de Sansa não se encontravam em casa, então assumimos a cozinha tranquilamente. Fizemos pizzas e bolo de cenoura, que foram devorados mais rapidamente do que exige a etiqueta. Sentamos na sala para digerir toda a comida, então Valentina decidiu que estava silêncio demais.

Ligou o rádio no volume alto, e Sansa levantou-se para dançar com ela. Peguei a câmera do celular para gravar. Foi hilário; depois de cinco minutos resolvemos abrir umas cervejas, e fizemos nossa própria festa ali, no meio da sala de estar. Às vezes não se precisa de muito para se sentir bem com o mundo. Uma cerveja resolve.

Harmony and understanding

(Harmonia e compreensão)

Sympathy and trust abounding

(Simpatia e confiança em abundância)

No more falsehoods or derisions

(Sem mais falsidades e escárnio)

Golden living dreams of visions

(Sonhos vivos de visões douradas)

Mystic crystal revelation

(Revelação mística cristalina)

And the mind's true liberation

(E a verdadeira libertação da mente)

Aquarius!

(Aquário)

Aquarius!

(Aquário)

Estava dando três e meia quando tive que acabar com a alegria. Anunciei que precisava trabalhar, e Sansa, reclamando do fato de eu ser uma “verdadeira estraga prazeres”, levou-me para casa. Valentina e ela acabaram ficando juntas o resto da tarde, aproveitando o tempo livre que teriam. Sansa voltara a ter aulas na faculdade, e se ver ficou ainda mais difícil.

Entrei em casa desesperada por um banho. Lavei o cabelo furiosamente, retirando todas as partículas de areia da lagoa que tinham ali. Sai do banheiro apenas com uma toalha na cabeça, sabendo que já era mais de quatro horas.

Troquei-me depressa para o uniforme de garçonete “de lésbica sensual” – palavras de Ian – e arrumei o cabelo. Não tinha falado o dia todo com Avalon ou Eileen, e talvez elas quisessem fazer alguma coisa depois do turno.

Mandei uma mensagem para cada uma, e logo antes de sair de casa, recebi as respostas:

“Vou ver Sion hoje à noite. Planejamos ir ao cinema, mas não temos nada para fazer depois. O que acha de uma pizza na sua casa? – Ava.”

“Não planejei nada, embora Robb tenha mencionado fazer alguma coisa. O que você tem em mente? – Eileen.”

Dei um sorriso incrédulo para o celular. Tudo bem, a ideia de Ava era boa, mandei um “ok” para Ava e expliquei a ideia dela para Eileen.

Desci pelo elevador em direção ao metrô, e quando cheguei na rua disquei o número de Ian. Ele atendeu logo em seguida.

–Boa tarde, moça. – falou do outro lado da linha. Pude ouvir um barulho de cordas em teste atrás dele.

–Boa tarde, você. – respondi – Está no trabalho? – perguntei, olhando para os lados ao atravessar a rua.

–Estou sim, madame, mas saio às seis. Por quê? – respondeu distraidamente, provavelmente fazendo algo mais ao mesmo tempo.

–O que acha de pizza em casa hoje? – perguntei, agora descendo as escadas e passando a catraca para esperar a linha chegar.

–Acho ótimo. – respondeu ele, provavelmente tomando a ideia errada daquilo. Dei uma risada antes de destruir seus planos.

–Chamei as garotas, Ian. – expliquei, e ouvi ele soltar um “Ah...” decepcionado – Sion provavelmente vai aparecer com Ava; por que não chama Robb e Mark? – falei.

–Para um dos dois sobrar? – perguntou ele, dando risada. Revirei os olhos.

–Deixa disso. Eileen não está saindo com Robb, apesar dele já ter demonstrado bastante interesse. – expliquei. Ele fez um “Ahan.” Nada convencido como resposta – E, aliás, se Mark está gostando dela, por que não faz nada? – perguntei irrita.

Pude ouvir Ian suspirar do outro lado da linha.

–Mark é um cara... mais quieto. – defendeu ele. Não que eu estivesse acusando nem nada, mas ainda assim... – E ele é o melhor amigo de Robb. Provavelmente está cedendo.

Soltei uma interjeição de surpresa. Como assim? Que coisa mais... platônica! Credo!

–Bom, eu acho que ele deveria tentar. – murmurei, agora sem nenhuma irritação para com o rapaz mestiço – Gosto dele. – expliquei.

–HMMMMM! – Ian fez do outro lado da linha, e eu tive de rir – Quer dizer que você gosta de um meio oriental? Espero que não esteja se divertindo pelas minhas costas. – falou num tom brincalhão, mas pude, em algum lugar, notar um tom de ciúme. Sorri para mim mesma com a atitude dele.

–Ah, mas ele é tão irresistível! – falei com uma voz de sofrimento fingido – Uma pena ter te conhecido primeiro! – Então comecei a rir quando ele fez silêncio do outro lado da linha.

O vagão se aproximava da estação. Ian ainda não falara nada; eu sabia que a linha ainda estava ligada porque conseguia ouvir as notas destoantes de um instrumento sendo testado ao fundo.

–Ian? – chamei, sem resposta. Bufei impacientemente – Ian, era brincadeira! – falei, e pude ouvir um resmungar na linha. Fiquei nervosa; era a linha que eu tinha de pegar e já estava para partir.

Fui andando nervosamente até o vagão, parando na porta para falar com ele de novo.

–Ian eu preciso desligar, vou entrar no metrô. – expliquei, e ele não falou nada. Perdi a paciência – Ian, deixa de ser besta! É de você quem eu gosto! Eu preciso trabalhar. – falei nervosa, desligando o telefone.

UGH! Soquei o apoio na minha frente, fazendo a senhorinha no banco pular. Pedi desculpas e me sentei longe dela.

Como ele consegue ser tão besta? E infantil? Ugh!

“Para de dar piti.” Tá, tenho que me acalmar. Respirei fundo algumas vezes.

Senti meu celular vibrar no bolso com uma mensagem. Revirei os olhos ao ver de quem era.

“Eu estava brincado, me desculpa. Mas você poderia repetir o que disse mais vezes. Vê se não chuta ninguém no metrô. Busco você assim que sair do restaurante. Beijos – Ian.”

Revirei os olhos novamente; agora meio irritada meio rindo. Mas é uma peste essa pessoa chamada Ian.

Cheguei ao restaurante e, como sempre, fiz o ritual antes de começar a trabalhar. Por incrível que pareça minha irritação com Ian durou apenas a viajem do metrô, o que tornou a noite de trabalho menos desagradável.

Servi mesas a noite toda, e sempre que pude dava uma escapulida para mandar mensagens. Ava e Sion trariam as pizzas, Ian e os outros rapazes algo para beber. Eileen prontificou-se para trazer sorvete, chocolates e balas de gelatina, o que sinceramente era maravilhoso.

A noite de trabalho só não foi perfeita por um pequeno distúrbio; uma pessoa entrou no restaurante me procurando. Pude sentir a tensão de Gabriel quando disse que havia alguém atrás de mim. Perguntei se era a mesma pessoa da última vez e ele me disse que não.

Não sendo Phelipe, não posso reclamar.

Mas eu não esperava ver sua atual namorada ali, ainda por cima atrás de mim. Não pude evitar a cara de surpresa. A mulher era alguns centímetros mais baixa que eu, e usava uma roupa aparentemente mais confortável do que quando se conheceram.

Engoli em seco, meditando. Ela não tem culpa. Ela não tem culpa.

Aproximei-me quietamente. Ela olhou para mim com olhos cansados, e levemente sem graça. Apenas isso.

–Não gosto de enrolação, então irei diretamente ao assunto. – falou, inspirando profundamente – Após no conhecermos, notei o comportamento estranho de... Bem, dele. – falou sem mencionar o nome. “Algo aconteceu.” – Por fim ele acabou me contando. – ela respirou fundo novamente.

Por um momento parei para absorver a informação, então respirei fundo também, repentinamente entendendo porque ela fazia isso tantas vezes.

–Eu não sabia. – falou com os olhos sérios, com remorso. Não havia tristeza ali, só algo como arrependimento sincero e raiva. Mas não tristeza – Eu realmente não sabia. – insistiu, agora com um pouco mais de veemência.

Dei um sorriso triste para ela.

–Eu sei. – falei por fim, e ela abriu um sorriso amargurado – Eu espero que possam super... – mas não terminei a frase. Ela olhou para mim como se eu falasse um absurdo. Talvez ela não quisesse superar isso com ele – Isobel, não é? – perguntei por fim.

–Mikaela, não? – disse acenando, estendendo a mão. Percebi que era um ato de paz. Aceitei – Não posso perdoá-lo. – explicou, como se tivesse que me dizer aquilo – Na verdade posso, mas não quero. E não vou. Não suporto a ideia de ainda gostar de uma pessoa capaz de enganar e fazer sofrer outras duas. – seu rosto era grave. Não havia tristeza ali.

Estava começando a gostar dela.

–E eu, mais do que ninguém, não pediria que fizesse. – falei. Ela sorriu para mim, finalmente um sorriso genuíno. Acho que se ambas de nós tínhamos algo em comum além de termos sido enganadas por um verdadeiro merda, era o espírito rancoroso.

Mas de algum modo eu sentia que o rancor dela era maior que o meu. Estranho, não é? Sofreu por tanto menos tempo, mas isso não muda a intensidade com que sentiu isso.

Percebi ali, naquele momento. Eu não me sentia mais a mesma.

Despedi-me da mulher, que tinha talvez dois anos a mais do que eu (?), e voltei a trabalhar, pensando em mil coisas. No fim, as coisas entram em equilíbrio.

When the moon is in the Seventh House

(Quando a lua está na sétima casa)

And Jupiter aligns with Mars

(E Júpiter se alinha com Marte)

Then peace will guide the planets

(Então a paz guiará os planetas)

And love will steer the stars

(E o amor ultrapassará as estrelas)

Ian chegou o horário em que prometeu, dessa vez de carro. Nunca iria me acostumar com isso. Na verdade disse isso para várias coisas, mas aqui estou eu; já não desejando destruir a felicidade alheia.

Entrei no carro, vendo que nos bancos de trás haviam alguns engradados de cervejas e chopps. Dei um suspiro de satisfação.

Ele balançou a cabeça achando graça.

–Suponho que não esteja irritada comigo, beberrona? – falou, olhando para o para-brisas. Era possível ver que dava um sorriso sarcástico. Estreitei os olhos, fazendo um bico de quem pensa a respeito.

–Quem sabe? – murmurei por fim. Vi o sorriso dele cair um pouco de esguelha. Ela parou num semáforo vermelho alguns segundos depois, virando para me olhar direito.

Seu rosto parecia levemente preocupado. Virei para olhá-lo, sorrindo da expressão aflita dele. Ele revirou os olhos, saindo com o carro quando o sinal abriu.

–Você me deixou preocupada por um momento. – falei, sem raiva na voz. Realmente cheguei a achar que tinha tido um acesso de ciúme ou coisa do tipo – E você se mostra meio irracional ao ciúme. – completei, fazendo-o rir sem graça.

–Eu sei. – falou por fim, entrando na avenida de casa – Não tenho ciúme deles. Só queria ver sua reação. – falou por fim, parando na frente do portão prédio, esperando ele abrir.

–Bom e eu a sua. – respondi – Mas acho que você ganhou dessa vez. – sorri de modo azedo para ele.

Ele parou o carro na vaga do apartamento. Descemos do veículo e começamos a tirar as bebidas da parte de trás dele, caminhando em direção ao elevador. Olhei para o rosto tranquilo dele.

–Às vezes você muda de humor tão rapidamente. – comentei, fazendo-o me encarar com uma leve surpresa – Sabe, nem sempre acompanho o que sente.

O elevador chegou ao subsolo e entramos, pousando as coisas no chão. Encostei-me no espelho a fim de descansar.

De repente, então, Ian estava na minha frente, colocando as mãos na minha cintura.

–Mas o quê..? – comecei a falar, então ele me interrompeu.

–Não dá para ter certeza de quase nada, Mikaela. – os olhos dele eram intensos, mas doces. Senti Sapulinho sambar no meu estômago – Mas pode ter certeza das coisas que eu te digo. Quando digo que é bonita, engraçada, que cozinha bem... – falou ele, passando a mão de leve no meu rosto. Abri um sorriso timidamente feliz para ele – Só tem que deixar as coisas acontecerem. – disse por fim, se afastando para pegar as coisas no chão.

Let the sunshine, let the sunshine in, the sunshine in

(Deixe a luz do sol, deixe a luz do sol entrar, a luz do sol entrar)

O elevador deveria estar aberto à alguns segundos, porque não escutei quando chegamos ao andar.

Mal entramos pela sala meu celular tocou, com Ava ligando dizendo que chegaria em cinco minutos com Eileen e Sion e as pizzas. Começamos a colocar as cervejas no congelador e os chopps também. Terminamos num piscar de olhos, ficando em silencia por alguns segundos.

Decidi que queria sentar e fui para a sala, sem acender a luz. Gosto da quantidade de luz que a lua deposita pela janela; deixa o mundo um pouco mais pálido. Sentei-me jogada no sofá, e logo Ian jogou-se ao meu lado.

Segurou de leve minha mão, fazendo desenhos na palma. Não conversamos durante aqueles minutos enquanto eu pensava.

–O que quer dizer com deixar as coisas acontecerem? – murmurei, fazendo-o levantar os olhos para mim. Pude sentir que me olhava mesmo eu encarando a janela.

Ele respirou fundo, pensando por um segundo.

–Quero dizer para se permitir sentir o que sente. – falou por fim, a cabeça jogada nas costas do sofá inclinada para me observar. Virei para olhá-lo por fim.

Os olhos dele refletiam a luz fraca que vinha da janela; ele tinha o rosto tranquilo, como se admirasse algo tranquilizante.

–O que foi? – perguntei para o rosto calmo dele. Ele deu um sorriso, sem jamais ficar sem graça.

–Nunca tinha me acontecido antes. – falou ele, todo enigmático. Eu esperei que continuasse – E ainda sim, soube na hora. Estranho não é? Conhecer algo que você nunca viu ou sentiu antes? – falou, puxando-me então para encostar no corpo dele.

Apoiei-me quase como se fosse dormir, com as costas seu peito e o queixo apoiado na minha cabeça.

–Do que está falando? – perguntei inocentemente. Senti o peito dele tremer com uma risada.

–Nunca tinha me apaixonado antes, Mikaela. – falou com a voz suave. Congelei ali onde estava, absorvendo a informação.

–Mas você já havia namorado antes. – falei por fim, fazendo-o rir de novo.

–Eu sei disso. – respondeu – E ainda sim, disse que só soube o que era isso quando me apaixonei por uma garota grossa, beberrona e de gênio forte. – falou com um tom de brincadeira na voz, mas com carinho. Senti um calor agradável no peito.

–Você tinha medo? – perguntei agora mais baixo, curiosa.

–Sempre tive. – falou, e eu suspirei chocada. Não parecia ter – Sempre tive medo de acabar gostando de alguém e acabar perdendo-a também, ou sendo deixado por ela. – explicou, agora com a voz mais rouca.

Virei subitamente, olhando-o nos olhos.

–Eu não quero te deixar. – falei baixinho, com a sobrancelha franzida – Não teria como fazer isso. A gente não deixa quem a gente... – então parei, percebendo o que estava prestes a dizer.

Não... Isso só acontecia em séries, novelas, filmes ou livros! Não na vida real. A gente pode até se apaixonar, mas a gente não começar a...

–É... – sussurrou, sorrindo para mim – Eu acho que também estou te amando. – senti meu rosto ficar quente, e meus olhos arderem. Engoli em seco. Involuntariamente sorri – E a gente realmente não deixa quem a gente ama. – completou a frase por mim, passando o dedão de leve no meu rosto.

Era isso o que ele queria dizer.

Todo esse medo que ele tinha, e ele estava ali, dando todos os primeiros passos. Dizendo todas as palavras que podem fazer com que ele sofra, mas ele ainda estava aqui, e não iria fugir. Não queria.

–Tudo bem. – falei, sentindo que Sapulinho e eu entrávamos em parada cardíaca – Eu acho que te amo, sim.

Ele abriu o sorriso mais doce que já vi na vida. Trouxe o rosto para perto do meu encostando nossas testas, fechando os olhos.

–Eu não sei o que vai acontecer daqui para frente. – falou suavemente, então abriu os olhos – Desde que você esteja lá, está tudo bem.

Foi minha vez de beijá-lo, e beijá-lo com vontade. Senti como se uma bombinha acelerasse no meu peito, quase me deixando surda com a pulsação nos ouvidos.

Eu não quero mais saber. Se uma pessoa passa por cima do que mais tem medo e se entrega, por que não eu?

Eu vou deixar acontecer.

Oh, let it shine, c'mon

(Oh, deixe a luz do sol entrar, vamos lá)

Now everybody just sing along

(Agora todos cantem junto)

Let the sun shine in

(Deixe a luz do sol entar)

Open up your heart and let it shine on in

(Abra seu coração e deixe-a brilhar nele)

When you are lonely, let it shine on

(Quando você estiver sozinho, deixe-a brilhar)

Got to open up your heart and let it shine on in

(Deve abrir seu coração e deixa-la brilhar nele)

And when you feel like you've been mistreated

(E quando se sentir maltratado)

And your friends turn away

(E seus amigos se rebelarem)

Just open your heart, and shine it on in

(Apenas abra seu coração, e deixe-a brilhar nele)

Só consegui soltá-lo quando a campainha tocou. Mas a noite só estava começando.


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Notas finais do capítulo

Aee!! Espero que tenham gostado!
Espalhem amor, opiniões ou observações nas reviews!
Um beijo!



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