Sua calda se agitou para um lado e para o outro, certamente intrigado, Hiro era sim um gênio nato, mas a situação em que se encontrava o deixava inquieto demais, geralmente ele conseguia resolver as coisas em, pelo menos. vinte e quatro horas. Porém, aquilo... 'aquele' problema parecia mais complicado. Se é que ele poderia chamar sua situação de problema.

"Bom, é claro que é um problema, mas se ninguém descobrir, não será um problema." disse para si mesmo, batendo o punho na mão aberta.

O zumbido que veio ao seu lado era zombeteiro. Hiro bufou.

"Claro que não, Megabot. Isso nunca aconteceria." falou indignado, lançando um olhar para o tubarão de porte médio. O zumbido retornou e o peixe bufou soltando bolhas pelo focinho. "O que? Nem brinque com isso. Eu não gosto dele. Ele é Humano!" O tubarão revirou os olhos. "Ele só é.. interessante. Só isso." respondeu apreensivo.

Hiro se sentia extremamente estressado. Ele expirou com força, deixando-se cair na areia do fundo do mar. Como ele podia ter caído naquela situação? Ah, sim, ele não caiu, ele foi pego.

As lembranças lhe fluíram como água - por mais irônico que possa parecer -, era para ser só mais uma de suas expedições à superfície, mas ele teve que se prender naquele maldita rede, sua calda doía por estar com as escamas da ponta torcidas de uma maneira nada boa, analisando como poderia sair dali ele decidiu que a unica opção seria voltar para a água, mas se tentasse se arrastar até ela pela a areia poderia piorar sua situação já ruim.

Suspirando, ele parou de lutar contra a maldita invenção do homem, ele admitia que era uma ótima invenção considerando que os homens se alimentavam dos peixes, mas não deixava de odiá-la. Sentia-se derrotado. E se alguém viesse para busca-lo? Deus, e se os humanos o pegassem?!

Seu coração se acelerou ainda mais só de cogitar algo do tipo. Soltou um resmungo alto, odiando seu destino se algo do tipo acontecesse. O som de passos só o deixou ainda mais aterrorizado, a areia atritando com algo que parecia ser couro. Ele reconhecia o som, assim como sempre havia visto os homens carregando navios com mantimentos.

"Tem alguém ai?" a voz grossa - e meio maltratado pela... seca, talvez? -, chegou até si. Ele viu então um Homem, seu cabelo era curto e rente, preto, quase como o seu próprio, os olhos eram castanhos claros, a surpresa era presente em sua face.

Nenhum deles fez qualquer movimento por pelo menos um minuto. Até que o homem saiu detrás da pedra que se encontrava, ele usava roupas tipicas de piritas Blusa estufada branca, quase transparente, calças azuis meio escuras de um material que não conseguia distinguir e as boas pretas de couro. Era um homem bonito, parecia entre seus 20 e 25 anos de vida.

"Você...?" ele começou, dando um passo a frente. Hiro tentou se afastar, por puro instinto de medo, afinal aquela raça violenta havia matado seus pais e por causa de tal ele estava sozinho neste mundo, sem família. O problema era que, como havia previsto, se arrastar apenas faria de sua situação mais dolorosa, sua cauda parecia queimar em uma parte, pressionada em um angulo ruim pela maldita rede, com isso, ofegou de dor. "Não! Não. Calma." O homem disse, levantando as mãos em sinal de paz. "Eu não vou te machucar, eu juro. Calma, por favor."

Hiro lhe lançou um olhar fugaz, certamente duvidando de suas palavras. Ele nunca havia sequer conversado com um humano antes, mas não poderia se descuidar.

"Eu posso te ajudar a sair dai, eu posso cortar a rede, eu tenho uma faca e..." à menção ao objeto, Hiro chiou em fúria. "Ok. Ok, sem faca." ele levou a mão até as costas lentamente e tirou do cinto só agora notado um recipiente visivelmente duro que continha a arma, ele jogou-a para longe deles com força, observando onde o objeto havia parado. "Eu-Eu posso desatar a rede. Só quero que fique calmo, ok? Você deve estar com dor, não? Juro que não farei nada. Eu prometo."

Intrigante, pensou Hiro, aquele ser parecia tão desesperado em ajuda-lo a ponto de jogar para longe sua unica defesa, e se Hiro fosse como as Sereias dos contos? Aquelas que comiam carne - eca - humana?

Receoso, o pequeno acenou com a cabeça.

Um suspiro de alivio foi a reposta do humano, ele se aproximou calmamente e começou a trabalhar na rede com um rosto determinado. Sua vontade de ajudar era tão alta assim? Realmente intrigante. Logo que a rede começou a se tornar frouxa ao redor de si, Hiro ofegou em gratidão, a dor sumira aos poucos, deixando-o apenas com o desconforto do sol, afinal, por viver de baixo da água, sua melanina não era alta.

"Pronto, agora é só eu tirar ela de cima de você. Desculpe ter te assustado. Não era realmente minha intenção." murmurou o humano, retirando de cima de si aquela coisa maldita. "Meu nome é Tadashi. Qual seria o seu?" ele perguntou gentilmente.

Por um momento, Hiro cogitou em responder, mas logo ele ouvira o som agudo de seus iguais o chamando e então despertou de seu transe de curiosidade.
Aquele era um Humano.

Um homem.

Não poderia confiar nele, poderia?

"Ei, algum problema?" perguntou o tal Tadashi, dando mais um passo a frente.

Agora sem suas amarras, o instinto de Hiro o fez voltar ao mar imediatamente, mal havia se dado conta que estava nadando pra longe quando ouviu novamente o chamado de seu povo. Era realmente um humano intrigante, não era? Teria ele feito o certo em fugir? Será que deveria retribuir o favor? Agrada-lo? Recompensa-lo?

Hiro bufou outra vez, soltando um alto gemido de frustração, lembrar daquele primeiro encontro acontecido a uma semana só piorou seu estado mental. O zumbido de Megabot chegou aos seus ouvidos com uma ideia.

"Você acha Megabot?" perguntou curioso. O tubarão apenas suspirou como se fosse inevitável e zumbiu novamente. "Então farei como diz, amanhã irei voltar a costa e procura-lo. Afinal, que mal faria?"