Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 2
Dois


Notas iniciais do capítulo

Tô feliz porque vocês sentiram falta das minhas histórias, sim ou claro?
Quero agradecer cada comentário e cada palavra de carinho ♥



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*Tony*





Quarta Sessão






Pouco mais de seis da tarde, sexta-feira. A cidade lá fora deve estar um caos, pessoas, carros, buzinas, ruídos que não posso ouvir daqui do 18º andar desse prédio na Park Avenue. Enquanto estava na sala de espera a secretária me instruiu pra desligar o celular durante a sessão, eu o fiz, agora não tenho como saber onde ela está. “Não se atrase” ela disse mais cedo, pelo visto a única pessoa que não podia atrasar era eu. Porque ela está demorando tanto? Encaro o homem diante de mim, ele não diz nada, mas sei que me analisa. Faço o mesmo com ele, fico pensando no que ela já disse sobre nós.

—Ela sempre demora?— pergunto ao quebrar o silêncio.

—Não aconteceu nas primeiras três sessões.— ele ajeita os óculos. Três sessões, o fato de Pepper ter ficado conversando sei lá o quê, sobre nós, sozinha, com esse homem me incomoda.

—De quanto tempo costumam ser essas sessões?

—1h em média, depende do casal.— responde —Se vem o casal.— ele reforça.

—Isso realmente funciona?

—Com a maioria.

—Então você é uma espécie de guru do amor.— provoco —Aposto que não é casado.

—A conheci na universidade há 20 anos, e antes que você pergunte, sim, ainda estamos juntos, mas o meu casamento não é a questão aqui.— ele diz podando as minhas próximas perguntas, porém saber que ele é casado é quase um alívio, não posso negar que o homem diante de mim tem “presença”, e aquele ar de homem certinho que ela adorava. Todos antes de mim eram “certinhos”.

—Então, essa coisa de terapia de casal realmente resolve?— repito minha pergunta.

—Depende.— ele é extremamente vago —Você acredita que há algo na sua relação que precisa ser resolvido? Procurar um conciliador matrimonial é quase como participar de reuniões do AA ou NA, as coisas só começam a funcionar quando você admite ter um problema.— incomodado me ajeito no sofá. Curioso ele se referir a reuniões do AA, reuniões que também só frequentei por causa dela, e embora eu tenha aberto a boca em apenas uma única reunião de sobriedade durante anos, devo reconhecer que ele está certo. Assumir que tem um problema é o primeiro passo pra começar a livrar-se dele. O meu casamento com a Pepper tem um problema, admito. —Você não precisa ficar se não quiser, ela também não quis ficar sozinha nas duas primeiras sessões. Aliás, posso saber por que o Sr não veio?

—Não achava que precisássemos disso, ainda não acho.— respondo.

—Então porque decidiu vir?

—Porque ela cismou com isso, e eu faço qualquer coisa pra ter a minha mulher de volta. Pra que a gente consiga voltar a ser como éramos antes.— respondo —Por onde devo começar?

—Como ela começou, pelo começo, como vocês se conheceram. E depois, juntos nós desvendaremos o porquê de vocês virem até mim.— diz ele, embora eu saiba o motivo de estarmos aqui, espero que no final de tudo ele consiga fazê-la enxergar, já que eu não consegui.

—Eu me deito, ou...?

—Sinta-se a vontade.— ele diz. Prefiro não deitar.

—Do começo.— sibilo.




Eu nunca levei a empresa a sério. Nunca levava nada a sério. Sempre fui muito individualista, nunca me preocupei com ninguém além de mim. Diversão. Sabia que tinha vindo ao mundo pra me divertir, como fosse, com quem fosse. E tudo era efêmero. Até ela entrar naquele elevador. Carne fresca e vulnerável, presa fácil. Mas estranhamente ela não me olhou como as outras funcionárias da empresa me olhavam. No começo eu achei que ela estivesse fazendo tipo, depois de algum tempo a observando em silêncio deu pra notar que ela não sabia mesmo quem eu era.

A minha natureza falou mais alto, embora nunca a tivesse visto até então, eu sabia que não a veria mais, e mesmo não dando a mínima quis saber por que ela havia sido demitida. Claro que ela não disse logo de cara, ela não sabia quem eu era, ou então teria armado uma cena. Perdi a conta de quantas cenas de garotas injustiçadas eu já tinha visto. Ela era diferente. Devia tê-la deixado ir, ter entrado no meu carro que estava estacionado ao lado do dela e sumido, mas não consegui, resolvi testá-la, deixar de ser eu e ver quais seriam as minhas chances com uma garota sendo um cara normal.

Ela me levou a um bar perto do campus da UCLA, nunca tinha estado lá, abominava esses bares universitários, estava com 27, já tinha passado da fase. Admito que o lugar era legal, a música boa, a linda morena no palco fez sinal pra ela assim que entramos. Era difícil não vê-la. Quando chegamos ao balcão tive certeza de que aquele era o seu território. Afinal, quantas garotas conhecem os donos dos bares e não me reconhecem? Não demorei pra descobrir que ela trabalhava ali. Logo comecei a fantasiar. Mentalmente a despi de suas roupas formais de escritório a coloquei dentro daquele uniforme de garçonete. Porra, era impossível não fantasiar. Se a noite não desse em nada, eu já sabia onde a encontrar, e voltaria noite após noite, até conseguir lavá-la pra cama. Então a deixaria ir.

—E a sua moto, não tem problema deixá-la na empresa?— mesmo tensa, ela quebrou o silêncio depois de algum tempo.

—A minha o quê?— eu ri, nunca tinha dirigido uma moto na vida, sempre gostei de carros velozes. Ser o bad boy e ainda ter uma moto? Seria abusar do clichê.

—Nunca vi ninguém vestido como você na empresa você é tipo um office-boy, né?— ela perguntou, e imediatamente eu percebi qual era a função que ela acreditava que eu desempenhava na Stark. Não podia culpá-la, era meio óbvia a dedução.

—Quase isso.— precisei segurar a minha gargalhada —E você, de qual departamento era?

—Financeiro.— ela responde após dar um gole em sua bebida que, pela cor, deve ser extremamente doce. Imediatamente penso na empresa, e na conversa que tive com Obadiah sobre as falhas no departamento financeiro, embora no começo fossem quase alguns trocados, com passar dos meses chegou a milhões. Eu desconfiava de Peter Harris, mas ele convenceu o Obie de que as falhas eram de alguém contratado há pouco tempo. Ela, claro. Jogo a isca quando começo a desconfiar do seu comentário sobre ter juntado um bom dinheiro, então ela acusa o Peter, fala dos relatórios e que ele não fez nada. Não sei por que, mas sinto que posso confiar nela. Maldito Peter Harris. O emprego na Stark parece ser importante pra ela, prometo ajudá-la, pela primeira vez esqueço que a minha vontade era apenas me divertir. Pela primeira vez penso em alguém além de mim.




—E fez bem ser mais altruísta?— o Dr Hayden me tira das minhas lembranças.

—A princípio, mas eu quase me arrependi de tê-la ajudado.

—Por quê?

—Porque ela não era nada doce.— sorrio ao me lembrar —E eu adorei que ela não fosse.




Pedi que o rh entrasse em contato com ela, e quando ela voltou na empresa encontrou-se novamente com Peter Harris, Obadiah e eu, e ela não entendeu nada. No entanto não se manifestou. Conversamos, ou melhor, debatemos por mais de meia hora e Peter não perdeu tempo em acusá-la, eu a defendia mesmo sem conhecê-la, Obie tentava ser imparcial, até o momento em que Pepper mostrou algumas cópias dos relatórios. Eu devia ter ficado furioso por ela ter cópias de planilhas confidenciais, mas não foi o que aconteceu. Ela era mais esperta que Peter.

—Contra provas e fatos não há argumentos, Harris.— Obadiah manifesta-se —Você nos deve dois milhões, nossos advogados irão te procurar.— ele diz com a frieza de um negociador —Desculpe o mal entendido, Srta Potts, você terá o seu emprego de volta, se ainda se interessar por ele.

—Ouviu? A garota fica, é você quem está demitido.— afirmo assim que Obadiah deixa a sala.

—Certo. Mas qual é o seu interesse nisso, Anthony, você nunca deu a mínima pro que acontece aqui? Porque essa cena? Porque trazê-la de volta? Já sei...— Peter sorri com malícia —Ela está aqui há alguns meses e como você nunca vem à empresa não deu tempo ainda, não é?

—Tempo de quê?— ela pergunta.

—De te levar pra cama, idiota. Acontece com cada mocinha bonita que aparece por aqui.— ele responde —Mas não se preocupe, depois que acontecer, quando você não for mais novidade, ele mesmo vai te demitir, ou vai pedir que alguém o faça.

—O Anthony Stark, dono disso tudo, é você?— ela questiona.

—Não banque a inocente, ruiva.— Peter a provoca —Como se você não o conhecesse.

—Sai daqui, Peter! — eu praticamente rosno e ele entende. Ficamos sozinhos —Virginia, eu posso explicar...

—Explicar que você é o herdeiro de um império? Que tem tudo o que quer, e nunca ninguém te ensinou que não se deve brincar com as pessoas?— ela indagou —Você não me deve explicação alguma, Anthony Stark.— ela disse com desdém antes de também deixar a minha sala.

Pepper não voltou pra empresa. Naquela noite eu fui ao Ted’s e ela não, no dia seguinte ela me evitou, assim como na noite seguinte e a que veio depois. Eu não sabia mais o que eu queria dela, mas nunca insisti tanto pra nada, também nunca precisei.

—Volta pro seu emprego.— eu disse quando ela estava servindo bebidas no balcão.

—Estou nele.— ela respondeu.

—Você sabe que aqui não é lugar pra você, qual é o maior cargo que você pode ter aqui?

—Ser garçonete é melhor do que qualquer cargo que eu possa conseguir na sua empresa. Apenas pelo fato de ser SUA.— ela respondeu com rispidez, e naquele instante eu vi que nunca seria fácil lidar com ela.

—Algum problema aqui?— Ted perguntou, com certeza ele já estava cansado de me ver ali noite após noite —Quer que eu chame os garotos, Ginny?— os garotos com certeza eram os dois armários que faziam a segurança do local, devo confessar que Ted não era menos assustador que eles, extremamente protetor, ele já havia me instruído a deixa-la em paz, que aquele não era o tipo de lugar que eu estava pensando.

—Não, Ted, não precisa, ele já está de saída.— ela me fuzilou com seus lindos e furiosos olhos azuis.

—Tem certeza?— ele perguntou, ela assentiu e ele se afastou, sem nunca deixar de prestar atenção em nós.

—Me deixa em paz!— ela rosnou.

—Não enquanto você não voltar.— respondi.

—Você vai me fazer perder o emprego, pare de aparecer aqui, por fa...

—Por favor, uma dose de uísque, duplo, puro.— incrédula ela rolou os olhos —Não é pra isso que você está aqui?— perguntei.

Voltei em várias outras noites por quase dois meses, eu já não sabia mais porque estava voltando, mas continuava indo mesmo assim. Ela me fez gostar do jogo de gato e rato. Uma noite eu cheguei mais tarde do que o costume, ela estava no palco, era a primeira vez que eu a via cantar. A sua voz ainda permanecia suave, apesar da letra e do ritmo da música escolhida. O cabelo ruivo caindo todo sobre um ombro só, as poucas sardas no nariz, corpo magro e bonito realçado pelo uniforme. Caramba, ela era linda, e parecia tão segura de si. Mas quando ela me vê sentado em uma mesa, parece ficar acanhada. Ela com certeza sabe que os olhares de todos os homens ali estão voltados pra ela, mas só eu pareço afetá-la. Não posso negar que gosto disso. Ela tenta me ignorar durante todo o tempo em que está cantando, e quando termina vejo seu chefe fazer-lhe um sinal. Eles somem por algum tempo e ela volta transtornada.

—Eu já me cansei disso.— ela diz ao parar na minha mesa —Vem, você conseguiu.

—O quê?— pergunto confuso.

—Pague a conta, deixe gorjeta e vem logo!Ela anda rápido por entre as mesas, o bar ainda está cheio e diferente dela eu trombo em várias pessoas e recebo alguns olhares não muito amistosos. Quando chegamos no estacionamento ele está lotado —Onde está seu carro?— eu aponto e caminhamos até ele —Carro de playboy.— a ouço resmungar —Me leve pra outro lugar.

Concordo, tento abrir a porta pra ela, mas sou impedido, Pepper entra no carro e eu também, dou a partida e ela direciona o caminho, até chegarmos a uma rua escura. Então ela me manda estacionar. Eu, ela, escuro. Droga! A minha ficha cai quando ela monta no meu colo e com agressividade cola os lábios nos meus. O beijo que deveria ter começado lento começa como um incêndio, o primeiro toque de sua língua me consome, me sinto perdido. Nunca me senti assim. Talvez porque sou sempre eu a atacar. Sinto sua mãos nervosas puxando a minha camiseta .

—Porque você está fazendo isso?

—É só isso o que eu preciso fazer pra você me deixar em paz, não é?— ela questiona —Sexo. É disso que se trata.— e me beija novamente.

—Claro que não.— eu me esquivo.

—Não?!— ela pergunta ao se afastar —Então o que você quer de mim?

—Você tinha um emprego, um bom emprego, chance de ser mais do que você pode ser lá. E perdeu tudo por causa de um pilantra. Eu sei que você deve estar achando que eu te fiz de idiota, mas em nenhum momento eu menti pra você.— me defendi.

—Mentiu sim!

—Quando?— perguntei —Quando eu te disse o meu nome? O meu verdadeiro nome?

—Quando você não me disse quem você era você.— contra a minha vontade ela saiu de cima de mim —Porque você não disse?

—Porque era a primeira vez em anos que eu tive a oportunidade de ser normal e eu não podia deixar passar.

—Ser normal é brincar comigo?

—Ser normal é sair com uma garota que não estava interessada no quanto poderia lucrar ao sair comigo.— respondo —Eu ia te explicar tudo naquele dia, mas você foi embora. Porque você foi embora se o seu emprego estava garantido?

—Por que eu precisava, eu não vou voltar lá, não vou dar a chance de rirem de mim porque eu sou caipira demais pra sequer saber quem é o dono da empresa onde trabalho.

—Ninguém vai rir de você, porque ninguém sabe o que aconteceu, quer dizer, só o Obie, mas ele é da família. E sobre o seu tempo afastada, podemos dizer que você estava de licença, licença médica.

—Se você se dedicasse à sua empresa com o mesmo empenho que tem tentado me convencer a voltar pra lá ninguém roubaria você.— ela me repreende.

—Se você estiver lá, gênio, tenho certeza que ninguém vai.

—Você vai ter que esquecer o que nós iríamos fazer aqui, ok?

—Você ia mesmo transar comigo?

—Pra você sair do meu pé?— ela perguntou —Claro.

—Droga.— reclamo arrependido por me esquivar.

—Ia ser uma droga mesmo.

—Não ia não.— agora sou eu quem a surpreende ao beijá-la de repente, minhas mãos estão no seu cabelo, minha boca devora a dela. Não consigo pensar em mais nada além do quanto eu a quero. Mas porque a quero tanto? Não tenho resposta.

—Você tinha uma escolha...— ela me empurra —A transa ou a funcionaria. Você escolheu a funcionaria.— me sorri vitoriosa.

—Não posso ter os dois?

—Os dois não combinam, não é certo. E você não me parece alguém que mantém uma mulher na sua vida por mais de uma noite.— ela disse. Ela estava certa, eu não era. Escolhi a funcionária. —Por favor, me leve de volta e eu prometo ser a melhor funcionária da sua empresa.




—O Anthony de hoje se arrepende da escolha que fez, mesmo que, naquele momento soubesse que poderia ser definitivo?— o Dr questionou.

—Não.— sou enfático. Porque ela não entrou na minha vida por acaso, ou uma noite. Ela apareceu na hora certa. Mas isso não é algo que eu queira dividir com esse homem agora, então prefiro ir embora.

—Sr Stark?— ele me chama antes que eu deixe o consultório —A música que ela cantava aquela noite você se lembra?— nego com a cabeça.

—Bem, talvez vocês tenham sobre o que conversar então.— ele está certo, aceno cordialmente e deixo o local.

Quando chego em casa me deparo com duas taças com resquícios de vinho tinto e uma garrafa vazia sobre a mesa de centro na sala. Pepper surge vindo do quarto, sei que acabou de sair do banho pelo cheiro doce que ela exala dos cabelos úmidos. Ela parece surpresa em me ver.

—Em casa a essa hora numa sexta-feira?— ela alfineta.

—Recebeu visita?

—Por quê?— ela pergunta —Ah, o vinho.

—Jéssica tomou a garrafa quase toda sozinha. Bebia e chorava. Bebia e chorava.

—Algum problema?

—Parece que agora é definitivo, ela vai mesmo se separar.— Pepper responde.

—Pela terceira vez.— comento.

—Pois é, imagina se ela gastasse uma fortuna com sessões de terapia pra casal em cada casamento?— ela é irônica.

—Por falar nisso, obrigado por ter me deixado esperando.

—Me esperando aonde?— ela pergunta.

Ela esqueceu? Não posso acreditar que ela esqueceu, nós falamos sobre isso hoje pela manhã.

—Na droga da sessão de terapia.

—Achei que você não fosse novamente, por isso decidi não ir, e aí a Jess acabou aparecendo.

—Custava pegar o telefone e dizer que não iria?

—Não sei, custou alguma coisa pra você?— ela claramente inverteu o jogo a seu favor. E pra nós não passarmos horas discutindo prefiro ir pra oficina. Se conversar sobre a música era uma lição de casa, eu terei que dizer ao Dr Hayden que o meu cachorro comeu o meu dever. E eu nem tenho um cachorro.


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Notas finais do capítulo

Taí mais um capítulo. Continuem sendo lindas com a autora aqui ♥

Até breve.



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