Ally's POV

– Ally, pode vir na cozinha um instante comigo? – Trish perguntou, piscando pra mim. Eu conhecia essa expressão, ela queria saber tudo sobre o que acabou de acontecer - no caso, meu abraço com Austin - e não ia deixar barato. - Me ajudar a organizar a mesa, sabe? - Os dois garotos me observavam com expectativa.

– Ah, claro, Trish. Por que não? - "Porque ela quer conversar sobre aquele assunto."– gritou meu subconsciente.

Mesmo assim, segui minha melhor amiga que apontou para alguns pratos e copos em cima da pia e pediu que eu os colocasse na mesa.

– Tá legal, de onde vocês se conhecem? - Perguntou.

– Do Café da Dory. - Respondi, como se não fosse nada e não era. - Naquele dia que viajou com o Dez e não pôde tomar café comigo. Foi o dia em que nos conhecemos.

– Vocês tomaram café juntos? - Perguntou, se virando. - Tipo, um encontro?

– Não Trish, tipo ele estava sozinho e eu também. Então nós sentamos na mesma mesa e como ele não conhecia ninguém, conversamos. Mas só isso. Nada de mais. - Dei de ombros.

– E... ele tem namorada? - Quase deixei um dos copos cair com a pergunta. Era a única coisa que não tínhamos conversado: vida amorosa.

– Eu... Não sei. - Respondi. - Não conversamos sobre isso. Nem sei se somos amigos, talvez apenas colegas de sala.

– Já pensou que o Austin pode ser a sua chance de escapar de toda essa tortura que você chama de "seguir a vida só"? - Ela disse, colocando dois recipientes com comida ao lado dos pratos que eu coloquei. - Olhe pra mim e Dez, somos um casal que não se dá nada bem, brigamos o tempo todo e mesmo assim somos melhores juntos.

– Trish, eu não estou entendendo onde quer chegar com essa conversa. - Alterei um pouco meu tom de voz e cruzei os braços, me enconstando na parede ao lado da pia.

– Em lugar nenhum. - Ela veio até onde eu estava e segurou minhas duas mãos. - Só estou dizendo pra não expulsar o Austin da sua vida como faz com os outros, o.k.? Pensa bem antes de tomar qualquer decisão. - E me soltou, alegando que ia até a sala avisar que o jantar já estava pronto e chamar os garotos para comer.

Durante o banquete, aproveitei pra pensar no que Trish me disse. Não fazia sentido algum. Como irei expulsar Austin da minha vida se ele ainda nem entrou nela?

Percebi que o loiro olhou várias vezes para mim, talvez quisesse saber o porquê do meu silêncio, mas preferiu não perguntar nada. A comida estava ótima e assim que acabei com o meu prato, dei uma desculpa esfarrapada para que pudesse sair logo dali.

Como ia pensar sobre o que fazer com Austin enquanto ele não parava de me olhar? Quando cheguei no prédio do meu apartamento, não era o seu Zé que estava na portaria - o que significava que já era muito tarde e que o porteiro noturno já havia chegado para trabalhar -.

Entrei no elevador e apertei o botão do quinto andar e assim que cheguei no meu apartamento, caí no sofá. Vesti um moletom vermelho e um short curto de algum babydoll e dormi na sala mesmo, assistindo os episódios da minha série favorita Pretty Little Liars.

Pelo menos os mistérios de 'A' são mais fáceis de desvendar do que os mistérios de Austin.

~//~

Quando o despertador tocou, eu fiquei extremamente assustada, porque pelos meus cálculos, hoje era sábado e não tinha aula. Mas então percebi que o meu despertador não é o toque inicial da música Animals (M5) e meu dia que parecia ter sido horrível, acordou bem melhor do que eu esperava.

Hey Ally! Se lembra de mim? Claro que lembra! Então, eu acabei de chegar em Miami e tenho MILHARES de coisas pra te contar de Paris! Café da Dorothy às 9:30? xoxo, Cassidy.

Sim! Minha melhor amiga Cassidy voltou!

A questão é que ela é modelo, e foi há pouco mais de um ano tirar fotos em Paris pra avançar na sua carreira e tal. Nem acredito que vou vê-la!

Cass?! Cassie! Acho que esqueci... hahaha. Estou louca para ouvir as MILHARES de coisas que tem pra me contar sobre "Parri"! Claro, vou só me arrumar. Chamou a Trish? xoxo, Ally.

E alguém pode esquecer a Patricia? Chamei sim e ela também vai! #TardeDasGarotas está de volta! xoxo, Cassidy.

Subi a tela de notificações com a intenção de ver as horas e me assustei a constatar que já eram oito, então corri direto para o banheiro. Ver Cassidy e Trish com certeza é o que eu mais preciso agora.

Já fazem dois dias desde o jantar na casa da latina. Dois dias que eu e o Austin mal nos falamos. Na verdade, só trocamos palavras um com o outro quando nos esbarramos nos corredores da Universidade e foram só "Oi" e "Tchau".

No meu caso, pelo simples motivo que eu estou evitando o loiro desde o diálogo com Trish. Não posso permitir que ele se envolva comigo, então o melhor a fazer é afastá-lo.

O problema é que ele também parece estar me evitando. Nas duas aulas que tivemos com a professora Marjorie, ela ofereceu pra que nós fizéssemos dupla um com o outro e antes que eu pudesse protestar, Austin disse que já tinha com quem fazer o trabalho. Não sei os motivos dele, mas talvez seja porque ele quer pagar na mesma moeda. Eu o evito, ele me evita. Fim de papo.

É, definitivamente eu preciso das minhas meninas.

~~

– AH MEU DEUS! ALLY, É VOCÊ MESMO? - Gritou uma loira louca quase me derrubando no chão enquanto me abraçava. Ao longe, segurando uma bandeja com panquecas, Dorothy observava tudo com um ar de riso. - COMO CRESCEU! E O SEU CABELO ENTÃO?! - O.k. Ela estava falando igual a uma tia que não vê sua sobrinha há anos, mas desta vez darei um desconto.

– E VOCÊ, LOIRONA? ESTÁ TÃO BONITA, ALTA, CHEIA DE ATITUDE! - Brinquei, gritando como ela. Trish já estava vermelha de tanto rir de nós duas.

Sentamos na mesa antes que nossos gritos chamassem mais atenção e espantassem todos os clientes do Café.

Cassidy havia amado cada detalhe de Paris. Da Torre Eiffel ao Arco do Triunfo. Sem falar nos garotos, ela conheceu vários. Mas nenhum francês a agradou, talvez porque - por incrível que pareça - Cass nunca gostou muito de romantismo.

A loira também avisou que encontrou Kira - Kira é a quarta de nossas melhores amigas. Morena, alta, cabelos escuros, ela também seguiu carreira na música - em uma de suas viagens e muito bem acompanhada, por sinal.

– Ela ainda está com Elliot? - Trish perguntou, visivelmente curiosa.

– Não sei, que Elliot? Tem alguma foto? - Cassidy retrucou, confusa. E quando viu a foto no celular da latina, abriu a boca em um perfeito 'o'. - MEU DEUS! ESTÁ SIM! Não acredito que aquele era o Nerlliot! – Elliot + Nerd - Ele está um deus grego, sabia Ally? - Revirei os olhos.

O moreno era afim de mim quando nós éramos menores e eu não me arrependo de não ter lhe dado uma chance, pois assim ele pôde se apaixonar por Kira. Eles são o casal perfeito.

– Deus Grego? - Brincou Trish. - A Ally já tem um. - Arregalei os olhos, fuzilando minha amiga. Não acredito que ela disse isso!

Cassidy sorriu maliciosamente e eu já sabia o que vinha depois.

– OH MY GOD!– Gritou. Escandalosa... - Ally, está saindo com alguém? Eu fiquei fora quantos séculos, afinal? - Então elas começaram a rir e cochichar sobre a minha vida "amorosa" sob os olhares curiosos de Dorothy, que não tardou a se juntar a conversa também. Já que segundo ela tinha presenciado o nosso primeiro "encontro" todinho.

E eu fiquei me perguntando quando Austin Moon se tornou o centro da nossa Tarde de Garotas, enquanto devorava minha torre de panquecas.

Austin's POV

– Tudo bem. Eu admito. Estou evitando ela sim. - Confessei sob o olhar reprovador de minha mãe. Eu havia contado toda a minha "história" com Ally, desde o Café até a conversa com Dez.

– Austin Mônica Moon! - Ela disse, usando a maior de todas as ameaças: Meu nome do meio. - Como assim está evitando a garota? Você nem sabe das intenções dela contigo, filho!

–Mãe! - Reclamei. - Além do mais, ela também está me evitando. - Realmente. As atitudes de Ally comigo estavam iguais à carne descongelando na pia: frias.

– Mais um motivo! Se ela não quer nem mesmo conversar com você, como pode querer te namorar? - Nessa pergunta, eu precisei pensar um pouco mais.

Minha mãe tinha as melhores respostas e na maioria das vezes me deixava sem fala. Como agora.

Então constatei o que já era óbvio: Ela estava certa.

Eu não tinha o menor direito de julgar a morena desse jeito apenas porque não conseguia me desprender do passado. Decidi que ia falar com ela na segunda, na universidade. Nem que precisasse seguí-la com uma câmera e lhe arrancar diversas risadas e sorrisos.

~//~

– Mercado? Num domingo de manhã? - Reclamei, soltando um muxoxo. Eu ainda estava deitado na minha confortável amiga cama e não iria sair tão cedo se minha mãe não tivesse me acordado pra comprar mais ovos pro café da manhã.

E agora aqui estou eu. Com chinelos, a calça do pijama e uma camisa cinza que encontrei largada no sofá indo até o mercado às sete da manhã de um final de semana. Tudo porque Mimi Moon gosta de cozinhar seu próprio café da manhã - mesmo depois de eu ter me oferecido para levá-la ao Café da Dorothy ou encomendar algumas panquecas - e fim de papo.

Assim que coloquei os pés nas ruas de Miami, constatei duas coisas. A primeira é que elas estavam completamente desertas talvez por causa do horário e a segunda é que eu deveria ter vestido uma roupa um pouco mais quente.

– Aqui, obrigada e volte sempre. - Disse a moça do caixa me entregando a sacola com a bandeja de ovos. A cara de sono dela não se compara a minha nesse momento.

Peguei a compra e saí do mercado, sonhando com a minha cama quentinha e fui tirado dos meus devaneios quando vi minha sacola voar de encontro ao chão depois de uma pessoa - tão sonolenta quanto eu - esbarrou desastrosamente em mim.

– Ah, cara! - Resmunguei, tentando recolher o que sobrou do meu café da manhã. A pessoa fez a mesma coisa, pedindo desculpas.

– Meu Deus! Me desculpa, sou tão desastrada! - Essa voz... Nós levantamos a cabeça ao mesmo tempo.

– Ally/Austin?! – Dissemos juntos.

– É... Me desculpe pelos ovos e tchau! - Essa frase foi o que eu precisava pra ter certeza Ally estava mesmo me evitando e eu precisava saber o porquê agora. Puxei o braço dela antes que saísse, fazendo com que a garota batesse contra o meu corpo. Nossa proximidade me deixou tonto por alguns segundos.

– Você não quer namorar comigo? - Perguntamos ao mesmo tempo.

– Mas... o Dez tinha dito... - Ela me interrompeu.

–... E a Trish também. - De repente, nós olhamos para a cara um do outro e começamos a rir. Tudo não passara de um mal entendido. Depois das devidas desculpas, eu me despedi. Ainda tinha que comprar outra bandeja de ovos, certo?

– Aus, espera. - Disse. - Amigos? - Ela estendeu sua mão e só então eu percebi que ela estava como eu, de pijama.

– Amigos. - Apertamos as mãos e eu tive a necessidade de puxá-la para um abraço e prolongar aquele momento.

– Vem. Eu vou te comprar outros ovos, o.k.? - Não tinha como negar aquele belo sorriso encantador que Ally me dera.

– O.k. - Foi a última coisa que eu disse antes da morena me levar pra dentro do supermecado novamente.

Era bom saber que as coisas voltaram ao normal.

Continua...