Cherry Bomb escrita por ApplePie


Capítulo 17
Smurfette


Notas iniciais do capítulo

Capítulo meio longo ♥
Espero que gostem



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Alexis/Cherry

Há dois dias que Liam estava agindo um tanto quando estranho comigo. Ele parecia estar escondendo algo de mim, o quê eu não era capaz de descobrir.

Talvez seja meu passado, afinal quem gostaria de hospedar uma estranha com uma tia psicótica atrás dela?

Minha história é pior do que comédia romântica, devo afirmar.

Esse tipo de pensamento – o fato de que Liam estava agindo estranho e os pensamentos negativos sobre o motivo (não o da comédia, obrigada) – era bastante doloroso para mim. Então, como qualquer outro estereótipo composto pela sociedade, eu fiz o que qualquer garota com problemas emocionais faria: gastei sabe-se Deus quanto de dinheiro em doces e sorvete no mercado.

Ah e além de comprar muito doce e esperar engordar uns cinco quilos, eu geralmente assistia filmes de terror porque o que melhor para remediar a tristeza senão o medo?

Naquele momento, eu estava na sala sozinha – nas terças, Liam geralmente chegava mais tarde em casa – assistindo pelo Netflix, a série American Horror Story. Tudo o que eu precisava estava à minha frente: doces, sangue, terror, atores bonitos e meu total desespero e miséria perante a indiferença de Liam.

Fora isso, Liam tinha conversado com o grupo e eu pedi apenas alguns dias. Hoje ia ser o dia que eu ia conversar com todos sobre a minha vida e pedir desculpas por estar atrapalhado eles. Eu tinha medo que Sabrina fosse atrás deles, eu sabia que ela era capaz de qualquer coisa.

Eu estava vendo A Hora do Pesadelo quando Ellie chegou com o que parecia um embrulho.

— Olha quem chegoooooouu! — Ellie cantarolou para mim enquanto fechava a porta da casa.

Eu dei risada. Ellie era uma pessoa extraordinária e sempre foi muito gentil comigo desde que nos conhecemos. Ela sempre tinha essa atitude de irmã mais velha e eu apreciava isso.

— Por que você está carregando esse embrulho, Ellie? — eu perguntei com a boca cheia de sorvete de creme com café.

— Porque eu quero dar seu presente de natal adiantado e... Hey! Esse não é o cara daquela série chamada Teen Wolf? — ela disse apontando para um personagem do filme.

Antes que eu pudesse respondê-la, a tela mudou de cena para a de tortura no sonho de uma pessoa.

— É... Definitivamente não é Teen Wolf. — ela disse, eu dei risada.

— De qualquer forma, temos ainda uma semana para o Natal. Você não está se precipitando? — eu perguntei pra ela deixando a série em pausa.

— Não. Eu preciso que você vista isso numa ocasião que irá acontecer depois de amanhã.

— Ocasião? — eu perguntei confusa.

— Você verá — ela piscou um dos olhos para mim. — Agora, apenas guarde isso e Feliz Natal.

Eu ri e a abracei.

— Obrigada, Ellie — eu sussurrei.

— Não por isso. Bem, posso saber o motivo de você estar se afundando em doces e estar assistindo à essa coisa? — ela apontou pra tela no Netflix.

— Bem, eu não estou muito bem emocionalmente e o fato de Liam estar me evitando não ajuda em nada.

Ellie mordeu o lábio e pareceu pensar em alguma coisa.

— Garotos são bestas e fazem coisas estúpidas com muita facilidade. E ainda colocam a culpa de que nós mulheres somos diferentes ou estranhas — ela revirou os olhos.

Eu forcei uma risada e balancei a cabeça. Eu sabia que alguma coisa tinha acontecido. Pelo menos meu medo de ser algo sério passou. Se tivesse sido alguma coisa séria ou ruim, Ellie teria feito algum comentário ou teria me contado algo.

Bem, eu pelo menos estava rezando para que fosse o caso.

— Quer assistir Teen Wolf? — ela perguntou depois de um minuto de silêncio.

Eu assenti enquanto sorria.

***

Eu estava escrevendo mensagens num celular reserva que o pessoal arranjou para mim quando Bryan entrou em casa. Eu o ignorei e continuei a conversar com Adler.

Depois de toda a confusão por causa de Penny, Adler se mostrou um cara bem bacana que me fez prometer que eu não iria contar para ninguém que ele recorreu ao Tinder para arrumar pessoas. Eu nem sabia o que era um Tinder então falei que minha boca era um túmulo.

***

Dois dias se passaram e eu tentei fazer com que Liam falasse alguma coisa sobre esse tal evento que teria em casa. Ele não me disse nada.

Bryan tentou fugir de mim no momento em que eu toquei no assunto. Ele é um péssimo mentiroso e saberia que eu veria através da sua mentira. Então ele simplesmente fugiu. Disse que tinha alguma outra coisa para fazer.

Já Ellie disse que essa ocasião não daria certo se eu soubesse de tudo, então ela simplesmente ignorava sempre que eu fazia alguma pergunta.

— Vamos nos preparar para esse... evento juntas! — ela exclamou. — Tem um cabelereiro que abriram há quatro quadras daqui, dizem que é muito bom. E precisamos achar sapatos pra combinar com o vestido que eu comprei — ela juntou as mãos como se tivesse muito trabalho pela frente.

Enquanto ela ia falando tudo, eu arrumava meu cabelo num desajeitado coque.

— Não sei, Ellie. Eu não estou me sentindo muito bem hoje, acho que eu vou me arrumar aqui mesmo e...

— Não faça assim, Cherry! Sair vai fazer bem pra você! Prometo, esse será um dos melhores dias da sua vida.

***

Aquele estava sendo um dos piores dias da minha vida.

Bem, claro que não era tão ruim assim considerando o meu histórico de tragédias, mas ele estava sendo bem ruim sim.

Pra começar, o cabelereiro. Por mais que muitas pessoas acreditem, nem toda mulher gosta de ficar tanto tempo dentro daquele cubículo de beleza. E, infelizmente, eu tive que passar quase 4 horas dentro daquele lugar porque Ellie basicamente marcou muita coisa para nós duas: mãos, pés, cabelo, sobrancelha...

Eu parecia estar dentro do nono círculo do inferno.

Além disso, aparentemente eu tinha sido colocada lado-a-lado com uma garota que falava “entendeu?” em toda frase que ela dizia.

— Então, aí eu disse pra ele “cara, você não pode fazer isso comigo”, você entendeu?

— Não era nada pessoal, mas meu amor próprio estava aflorando, você entendeu?

Se eu ouvisse mais um “você entendeu?” eu iria jogar um dicionário na cabeça daquela cabeça azul dela.

E isso nos leva ao terceiro fato que estragou meu dia: a cabelereira aparentemente confundiu nossas tintas – quem confunde vermelho com azul? – e agora eu estava parecendo um daqueles bonecos cabeludos com cabelo colorido.

Ellie achou bem charmoso e ficava soltando um elogio aqui e outro ali. A cabelereira ficou tão envergonhada que disse que não ia cobrar nada e que ia trocar para o vermelho em um instante. Eu recusei. Por mais que eu pintasse meu cabelo eu não tinha certeza se faria bem para ele ficar pintando toda hora e eu não confiava mais naquele lugar. Nenhum pouco.

Para completar aquele dia ruim, eu tive que ouvir coisas muito desagradáveis de uma mulher de trinta anos palpitando sobre meus pés. Aparentemente eu precisava “aprender direito a andar de salto” e que “eu precisava ver um dermatologista pra descobrir porque uma menina na minha idade tinha tantos calos”.

Que fique esclarecido que eu não gosto de escândalos. Eu sempre tento ser uma pacifista e sempre opto por uma resposta silenciosa. Porém, eu já estava tendo um dia péssimo e eu não suportava que alguém venha me peitar sobre algum defeito meu sendo que nem me conhece. Talvez seja porque eu simplesmente odeio isso ou porque o fato de ter Sabrina na minha cola dizendo que eu era uma menina ingrata e horrível me fez ter uma total repulsão a esse tipo de gente.

Então não demorou dois segundos para eu bater a minha mão no balcão e dizer palavras que aquela mulher nunca iria esquecer.

— Eu não sei quem é você ou quem você acha que é, mas eu sei de uma coisa: você não é ninguém para me dizer se meu pé é feio ou não ou se eu preciso de um médico ou não.

E saí andando.

Ellie ficou quieta o resto da viagem inteira e eu agradeci por isso. Ela apenas comentou que tinha uma sandália preta de paetê que provavelmente me serviria e iria ficar bem com o vestido.

Encostei minha cabeça no vidro e rezei para que aquele dia acabasse. Quando saí do carro e entrei na casa, fui recebida por Liam sorrindo com aquele sorriso carinhoso dele, com farinha em seu cabelo e um pouco de massa em sua bochecha.

Eu ri.

Só por isso, meu dia não foi tão ruim assim.

***

O sorriso que Liam deu para mim logo se transformou em choque assim que ele viu que meu cabelo estava azul.

— Cherry! — ele exclamou. — Seu... seu cabelo...

— Parece um smurf — eu disse meio emburrada meio envergonhada. — Eu sei. A cabelereira fez o favor de trocar a tinta e bem...

Parece que Liam sentiu meu desconforto com a nova cor, pois ele logo sorriu de novo e elogiou a minha cor. Não era que eu não gostava de azul, eu amava azul, só que eu prefiro vermelho e bem, o cabelo vermelho era como uma identidade para mim, ainda mais agora que eu recebi o meu apelido por causa da cor do meu cabelo.

Suspirei e arrastei meu corpo para dentro de casa.

Antes que eu conseguisse entrar, Liam segurou o meu braço e, ficando colado na minha frente – não que eu estivesse percebendo seu corpo quente junto ao meu, nenhum pouco – ele me deu um meio sorriso e falou baixinho.

— Eu acho que você está magnífica com esse vestido verde-água elegante e de cabelo novo.

Se vermelho não estava presente na minha cara, ele definitivamente estava se fazendo presente agora nas minhas bochechas coradas.

***

Dei uma última olhada no espelho da sala antes de cumprimentar os meninos. O vestido verde-água que Ellie tinha comprado para mim era simplesmente lindo. Ele era leve, com uma saia de tule e o bustiê feito em formato de coração dando atenção ao meu tamanho de busto. A sandália que Ellie me emprestou era preta e com um salto não muito alto.

Todos os meninos e Ellie estavam aqui. E eu ainda não tinha entendido o porquê de estarmos tendo esse evento ou então o que seria de tão surpreendente que eu deveria me vestir daquele jeito.

— Ainda não consigo aceitar o fato de que seu cabelo é azul e não é mais vermelho — Bryan disse sem piscar para mim.

— Só vai ser azul enquanto a tinta estiver tão forte, assim que ela não estiver mais...

— Azul também combina com você, Cherry — Martin disse tentando me animar. — Não liga para os comentários de Bryan.

— Mas eu não fiz nada — Bryan choramingou.

Todos o ignoraram.

— Então, Liam, qual será a surpresa? — eu perguntei quando o silêncio se fez presente mais uma vez.

— Bem, a surpresa está na cozinha.  Eu queria esperar até as flores chegarem, mas...

— Flores? — perguntei confusa.

— Apenas vá pra cozinha, Lexi — Ellie disse com um sorriso misterioso.

Fiquei encarando a cara de cada um deles para tentar descobrir alguma coisa, mas ninguém falou nada.

Suspirei, derrotada e fui para a cozinha.

FELIZ ANIVERSÁRIO, CHERRY! – era o que estava escrito uma faixa enorme pendurada em cima da janela da cozinha.

Tinha alguns balõezinhos pendurados nos cantos da janela nas cores vermelho e branco. Um bolo e um monte de docinhos estavam enfeitando a mesa – motivo pelo qual Liam estava com a cara cheia de farinha.

Na bancada havia três embrulhos e uma plaquinha escrito: PARA CHERRY. Presumi que fossem presentes.

Inconscientemente, lágrimas escorreram pelo meu rosto. Eu nunca soube o que era ter um melhor amigo de verdade ou o que era ter várias pessoas fazendo isso por mim.

Eu me lembrava de meu irmão, que ficava comigo durante o meu aniversário até ele receber uma ligação urgente e me deixar com uma babá ou uma vizinha. A vela queimando o bolo não parecia mais ter sentido sem meus pais ou meus irmãos por perto.

Até agora.

Jack e Bryan começaram a se desesperar quando eu comecei a soluçar de choro, mas Liam, Martin e Ellie pareciam saber o verdadeiro motivo que eu estava chorando e apenas sorriram e me abraçaram.

— Chega de choro — Ellie juntou as suas mãos como se estivesse numa missão. — Vamos ao que interessa: abra os presentes. Começando pelo meu — e empurrou um dos embrulhos para mim.

— Mas eu pensei que você já tivesse me dado...

— É na verdade o meu — Martin explicou. — É que Ellie acabou ajudando a escolher então...

Eu sorri e agradeci Martin.

Abri o presente. Uma pulseira de prata se fez presente. Ela era bonitinha com alguns brilhinhos, bem delicada e elegante. Agradeci Martin novamente.

Depois eu abri os presentes de Jack e Bryan que foram um espelho e um quadro de neon escrito: CHERRY BOMB.

Liam balançou a cabeça como se estivesse desistido de Bryan.

— O quê? — ele deu de ombros como se não compreendesse a cara de todo mundo. — Nunca escutou The Runaways?

Depois ficamos jogando um pouco de Xbox do Liam. Aparentemente, só íamos cantar parabéns quando o presente dele chegasse.

Eu fiquei segurando os meus presentes o tempo todo. Podia parecer meio ridículo, mas eu adorava ganhar presentes e aqueles realmente tinham algum significado para mim.

Ellie começou a tirar fotos como uma descontrolada. Disse que são momentos como esse que precisamos segurar com tanto carinho e lembrá-los sempre que alguma coisa ruim acontecesse. Ela mal sabia o quanto ela estava certa.

Bryan decidiu que seria super divertido ficar cantando enquanto as pessoas dançavam as músicas – claro que ele estava certo e errado ao mesmo tempo (ninguém queria ouvir ele cantar de uma maneira tão horrível) – e começou a cantar.

— IF I WAS A RICH GIRL, NANANANANANA…

— Você está fora do ritmo no “na na na” Bryan — Jack disse comendo um dos docinhos de Liam.

— Você está fora do ritmo da vida, Bryan — Ellie disse sentindo nada de remorso por ser má com Bryan —, então apenas cale a boca.

Ele mostrou o seu dedo pra Ellie e continuou a cantar.

Ele deveria ter desejado não fazer isso.

Ellie começou a caçar ela pela casa de Liam. Bryan começou a gritar pedindo ajuda pra alguém, mas os outros meninos fingiram que nada estava acontecendo.

— Nunca se meta com Ellie. Ele teve o que mereceu — Jack deu de ombros.

Ellie imobilizou Bryan e começou a beliscar o Bryan na sua barriga.

— Isso dói, mulher! — ele choramingou.

O caos todo foi cessado quando a campainha tocou.

— Acho que é o seu presente, Lexi — Liam sorriu para mim. — Por que você não vai atender a porta?

Eu assenti sem dizer nada e fui em direção à porta. Quando eu abri, me deparei com David (estava me perguntando aonde que ele tinha se enfiado) e outra pessoa. Minha atenção foi focada diretamente nela.

— Olá irmãzinha — a pessoa abriu um sorriso.


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