Venefica escrita por NanaTheLazy


Capítulo 1
A semente da mandrágora


Notas iniciais do capítulo

Finalmente postei! Meses planejando uma continuação e agora, aqui está ela. Espero que vocês gostem de lê-la tanto quanto eu estou gostando de escrever ♥Ela será postada semanalmente, talvez com um dia ou dois de atraso.



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Antes queimada, hoje amada.

Em todas minhas últimas três vidas eu fui uma bruxa, e em todas essas vidas eu fui queimada na fogueira, afogada no rio quase congelado e enforcada pelos caprichos da estúpida plebe. Aquilo era a diversão do fim de semana deles.

Mas agora, nesta quarta vida, as pessoas arranjaram outros hobbies que não envolvem caçar bruxas, e graças a isso continuo viva, mesmo depois de vinte e cinco anos. Isso é um recorde para mim.

Sei que muitos pensam que não havia nenhuma sequer bruxa, entre as inocentes mulheres queimadas. Digo uma coisa: Nem todas eram bruxas, mas todas eram inocentes. Nós realizamos os caprichos humanos, mas não podemos fazer isto de graça, sempre há um efeito colateral.

Ao contrário da ideia de todos, nós não lançamos feitiços com uma varinha mágica, ou maldições sobre fazendeiros, não há sentido em perder nosso precioso tempo com reles fazendas. A verdade é que nós nascemos com vários dons, o de cultivar plantas que qualquer outro não poderia — Como a mandrágora —, sentir as pessoas — Seus pecados, suas glórias, seus sofrimentos, seu passado — e extrair a magia da natureza.

Com essa magia fazíamos poções formidáveis, de todo tipo possível. Para fazer as plantas crescerem, para fazer crianças nascerem e até mesmo o mais desejado de todos; A poção do amor.

Sim, nós somos capazes de fazer um ser humano amar outro. Agora mesmo, irei começar a preparar a poção de uma mulher que veio aqui mais cedo implorando para que eu a ajudasse.

“Por favor, se conseguir fazer com que ele me ame, ou simplesmente olhe para mim eu lhe serei eternamente grata.” Eu me lembro dela com lágrimas nos olhos falando isso.

“Eu farei, não se preocupe quanto a isso.” Eu mexia em alguns frascos sem me importar em dar atenção, ela só queria o que todas desejavam. Ser amada. “Mas você deve saber que tem um preço”

“Claro, claro que eu sei! E estou disposta a pagar quanto dinheiro for preciso”.

“Não me lembro de ter citado dinheiro nessa conversa”

“Então o que quer? Não tem mais nada que eu possa te dar!”

“Oh querida, você irá me pagar com dinheiro sim. Mas há outro pagamento, e infelizmente esse não será diretamente para mim”, eu estava com um sorriso de deboche no rosto, me divertindo enquanto via a expressão confusa dela. “O encanto do amor jamais pode ser quebrado, então mesmo que você se canse dele um dia, ele não vai te largar.”

“Não me importo com isso! Ele é o verdadeiro e único amor da minha vida, um dia me casarei com ele, teremos filhos e envelheceremos juntos!” Ela agora gritava para mim. Que temperamental.

“Filhos é? Que adorável.” Agora eu tinha voltado para minhas poções e já não olhava mais para ela “Uma pena que não serão seus filhos, serão os filhos da mandrágora”.

“Mandrágora?! Quem é essa?!” Os gritos dela estavam se tornando tão insuportáveis, que eu sentia vontade de enfiar um desses frascos vazios na garganta dela.

“Quem não. 'O que?', seria mais apropriado. Mandrágora é uma planta, as poções são feitas com a semente dela, a raiz desta planta tem uma forma parecida com a de um humano. Os anciões costumavam dizer que se uma bruxa tivesse relações com essa raiz poderia nascer uma criança, mas logo foi visto que era possível fazer várias outras coisas com ela, como fazer um ser humano se apaixonar por outro...”, eu tentava explicar da forma mais simples que uma humana poderia entender, mas mesmo assim a garota me interrompeu sem deixar que eu acabasse.

“Isso não me importa de nada, e não me interessa seu conto de fadas. Só estou recorrendo a você porque estou totalmente desesperada, então não fale como se eu me importasse.” Que vadia mal educada, talvez eu devesse colocar uma surpresa na poção dela. “Irei buscar essa porcaria de manhã cedo, e não quero mais ouvir suas histórias da carochinha, guarde isso para quando você tiver um filho. Ou melhor, para quando a mandrágora tiver um filho”, ela riu alto, como se fosse a piada mais engraçada que ela já ouviu, e saiu da loja batendo a porta com força.

Eu com certeza iria colocar uma surpresa na poção dela. Mas nem acho que será necessário, ela deveria ter me deixado acabar de explicar.

A semente da mandrágora irá infiltrar-se no corpo dela, e alojar-se no útero, mas um fato que ela não sabe: As crias da mandrágora são cascas vazias, sem sentimentos, sem emoções, sem amor e sem alma.

Quando eu digo que a cria não vai saber o que é amor, não estou falando que ela nunca vai se apaixonar (apesar de que isso também não irá acontecer), mas ela não amara nada, nem a mãe, nem o pai, e não amara o mais importante: A própria vida.

Será fácil ele morrer, ele não irá ficar triste por sentir dor, ele não vai se importar se tiver uma faca em seu peito. Ele simplesmente vai continuar até que o corpo deixe de se mexer. E ele não vai para lugar algum, ele é matéria, e apenas isso.

Sem uma alma ele não vai poder utilizar um novo corpo quando o antigo vier a perecer, como os humanos, os animais e os seres misticos tem feito através dos tempos.

Ah, mas quem deixara de ser humana logo será a mulher que virá buscar a poção, ela irá se tornar um vaso. Um recipiente.

Apenas um recipiente para que a mandrágora cresça, e quando ela morrer a planta irá rasgar sua carne e sair, berrando para que todo o mundo possa ouvir. Mas mesmo quando o ‘vaso’ morrer, o efeito da poção não acabara, o homem irá continuar amando a mandrágora. Afinal, foi por ela que ele se encantou.

Acho que seria mais fácil explicar como a poção funciona primeiro, antes de mais explanações.

A cliente precisa trazer qualquer DNA do seu futuro amado, no caso dessa, ela trouxe três fios de cabelo. As sementes são minúsculas, e estão sendo conservadas em um tipo de ácido que derreteria qualquer coisa que tocasse — menos as sementes e o pote onde é conservado, por feitiços que eu devo colocar. Eu jogo o DNA dentro do ácido, e quando ele derrete, se transforma em adubo para a planta, ou seja, a pessoa da qual pertence o DNA vira o próprio adubo da mandrágora. Depois disso, o adubo sente uma enorme necessidade de se aproximar da planta para cuidar dela, por isso assim que isso acontece eu preciso trocar o ácido por uma substância de morango, para que o recipiente possa beber as sementes, se o vaso não vier logo, o adubo virá atrás da planta “crua”.

Por isso quando o recipiente morre, o adubo vai atrás da planta, e é morto por um de seus estridentes gritos e em seguida a planta o devora. O motivo de os humanos não verem essas plantas espalhadas por ai, é que nós, bruxas, sempre sabemos quando o recipiente quebra, toda bruxa tem ligações fortes com os feitiços e poções que elas fazem, podemos acompanhar tudo o que acontece com o enfeitiçado. Além dos nossos ouvidos serem resistentes contra os gritos das mandrágoras, então podemos captura-las para fazer mais poções, porque cada parte dela vem a se tornar uma poção diferente, nenhuma parte é desperdiçada.

E assim o ciclo se repete para sempre. A mulher desesperada vem, se torna um com a mandrágora, dá lugar para que ela cresça, morre, eu pego a mandrágora, a transformo em uma poção e então a mulher desesperada vem...


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam. Adoro críticas construtivas e opiniões. E se verem algum erro que eu deixei passar na correção, por favor avisem! Até o próximo capítulo; A beleza de salomão.



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