Durante a noite Ellen nem sequer abriu o salão, ela tinha que tratar de negócios no inferno. Quando recém criada para satisfazer a luxuria dos homens, Ellen descobriu que também atraia os demônios e isso foi um problema. Ela não podia dar um passo sem ser atacada por três de uma vez. Por isso ela aprendeu a se defender.

Agora ela só tinha quem ela queria, os outros tinham medo dela. Por isso não se incomodava em andar pelo inferno sozinha, os outros seres lhe davam passagem sem hesitar. Mas ela tinha que saber por que Demônio não matara a anjinha, não podia ser mera curiosidade, ele não tinha isso, não antes de conhecê-la.

Ela buscou e atraiu os mais diversos e poderosos seres, mas ninguém sabia nada sobre Demônio, ele até andava sumido. Mas um diabinho esquisitinho que Demônio tinha criado certo interesse lhe forneceu o que ela precisava saber.

–Demônio? É tem razão, ele anda meio sumido, mas não é para menos, com a tarefa que o Senhor atribuiu a ele.

–Tarefa? Não fiquei sabendo de nada.

–Ah, acho que não é secreta... – O diabinho hesitou um pouco, mas Ellen sabia convencer – Ele tem que fazer um anjo entrar no inferno por livre e espontânea vontade. Não pode ser forçado.

–Um anjo?

–É, parece que o Senhor quer as asas desse anjo.

–E pode ser uma anja?

–Uai, acho que pode, por quê?

–Nada, uma curiosidade...

Ellen se livrou da coisinha e pôs a próxima parte em ação. Cumprir a missão de Demônio. Para isso procurou o único que poderia fazer isso. Um Djinn do fogo. Eles eram ambiciosos e controlavam o fogo. Uma ótima vantagem devido ao acontecimento recente.

O Djinn se chamava Ícaro. Ele era forte e alto, perfeito para dominar Demônio, mas ele tinha manchas de queimaduras na pele e 40% dela era preta, um dos olhos era virado para dentro, enquanto o outro buscava observar tudo com plena atenção.

Quando Ellen se aproximou pode constatar que ele fedia a queimado.

–Olá – Ela sorriu – Você é Ícaro?

–Sou. Por quê?

–Eu tenho uma proposta para você. O que me diz de ser o novo favorito do Senhor? – Isso foi o suficiente para atrair a atenção dele.

–*-*-

Demônio estava convencido de que tinha que esquecer Julieta de uma vez por todas e finalmente cumprir sua missão. Mas que tipo de anjo entraria por livre e espontânea vontade no inferno? Talvez se houvesse uma isca? Talvez se outro anjo o atraísse? Não, nada disso daria certo.

Ele voou por sobre a cidade buscando inspiração. Ele se misturava com a noite. Ele se sentia poderoso, como um caçador observando sua presa do alto, observando o mundo aos seus pés. Um monstro.

Ellen não fizera nada de bom com sua cabeça. Apenas o deixara pior, estressado, preocupado e totalmente irritável.

Quando bateu com o Djinn ele quase o socou até que esse voltasse para o inferno do pior modo.

–Olha por onde anda idiota.

–Sim senhor. Você deve ser Demônio. Estão falando muito de você no inferno.

–O que? Por quê?

–Estão dizendo que você finalmente vai dar aquilo que Lúcifer tanto quer.

–Bem, estou trabalhando nisso. – A missão devia ter se espalhado. Mas Demônio estava longe de cumprir ela.

–Se quiser, posso te ajudar.

–Claro – Demônio sorriu sarcástico, claro que ele ia querer ajudar para virar o queridinho de Lúcifer – por que não volta as suas atividades de incêndio? Eu já tenho tudo planejado.

–Você que sabe – O Djinn deu de ombros e continuou seu caminho. Mas Demônio ficou com uma sensação esquisita, como souberam da missão?

Tantas coisas para fazer, para pensar. Era tudo mais fácil quando sua noite era toda reservada para Julieta. Ela aprendia as coisas muito facilmente.

CHEGA!

Ele não ia mais pensar em Julieta, ele não ia compará-la a mais nada. Nunca.

Ele respirou fundo. E voou o mais rápido que podia para a floresta. Se não podia ocupar sua mente, ia ocupar seu corpo. Treinar como nunca havia treinado, bater tão forte que as árvores cairiam, voar tão rápido que ele seria apenas um borrão. Ele se encharcaria de suor e quanto terminasse, cairia numa cama e dormiria pela eternidade.

Parecia um bom plano.

As árvores realmente caíram com seus socos, a pele em suas mãos sangrava, sua perna doía com os chutes que dava. E suas asas eram pura dor. Ele não conseguia se quer dar um passo.

Caiu ali mesmo na grama, protegido pelas arvores e dormiu. Mas sonhou.

Demônio estava no escuro, não enxergava sequer sua mão em frente ao nariz. Ele deu um passo, não podia ficar parado para sempre.

Então ele sentiu outra presença ali. Com toda certeza era um anjo.

–Quem está ai.

–Ninguém – A voz falou. – Demônio não soube identificar se era homem ou mulher.

–Ninguém... Muito bem Ninguém, que porra de lugar é esse?

–Porra? Deveria ser mais educado Demônio.

–Se eu for educado você vai me responder?

–Não.

Ótimo... Demônio estava em lugar algum com Ninguém.

–Então não tem porque eu ser educado.

–Educação nunca é o bastante. Julieta não gostaria de ouvir você falando assim.

–O QUE? Julieta está bem? Ela está viva?

–Ganhei sua atenção pelo visto. Mas todas essas são perguntas erradas. Você precisa de prioridades Demônio. Prioridade. Educação pode ser uma.

–Educação não serve para bosta nenhuma!

–Agora poderia servir. Uma pena.

Uma luz prateada o cegou e Demônio acordou assustado. Já era dia.