O outro lado de Kagura. escrita por JoyLi


Capítulo 1
Takoyaki é bom em qualquer lugar!


Notas iniciais do capítulo

Então... nunca senti tanto medo e vergonha em postar minha história. Sim, mais do que a minha primeira fic >Como dizer isso... ela está um pouco diferente do que eu normalmente escrevo. Os personagens vão estar OOC (sinto muitíssimo) mas eu realmente quero apostar nela. E se você estava esperando uma fic minha como as outras... sorry. Depois de um ano eu apareço e faço isso... SINTO MUITO MESMO!Eu espero, do fundo do meu kokoro, que vocês gostem!Até as notas finais :3



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Todos nós temos um lado que ninguém conhece. Alguns se sentem só no meio da multidão, outros já gostam dos sons das sirenes. Algumas pessoas gostam do cheiro da chuva e outras dormem com pelúcias por causa da carência (que obviamente, esconde dos demais). Há alguns, que conseguem ser tão diferente de quanto demonstram, que até assustam-se. Há outros, que são tão agitados, que se lhe disserem para o mundo que gostam de simplesmente sentar na areia fina e assistir o pôr-do-sol, poderiam achar que estão falando com a pessoa errada. E há uma certa ruiva, que tem um lado que guarda só pra si, com medo do que pensariam dela.

Dia 20 de Dezembro de 2014.

Kagura caminhava em direção ao escritório do seu chefe, Sakata Gintoki. Seus cabelos longos e ruivos balançavam conforme seus passos e o cheiro de morango – e sukonbu – exalavam. Os sons da sua bota de couro e de salto baixo quase ocultavam o som dos cochichos de seus “colegas”.

– Tão linda...

– ... que é uma pena ser tão violenta.

Kagura revirou os olhos. Quem se importa com o que dizem?

– Boa noite, pirralha. Fez seu trabalho direito? – Perguntou Gintoki, enquanto cutucava seu nariz com o dedo, como sempre.

– Claro, você está falando com a Kagura-sama. – Jogou o cabelo para o lado.

– Bem, como combinado, a sua parte. – Kagura entrega duas notas pequenas para Gintoki. – Bem, vou indo.

– Oe, Oe, Oe! – Gintoki levantou-se. – Combinamos que 75% do pagamento é meu!

– No, no. Combinamos que 99,9% é meu. Você tem bebido bastante, Gin-chan. Se eu fosse você, tomaria vergonha na cara e trabalharia direito. – Retirou-se da sala em dois segundos, enquanto dava risada dos resmungos de Gintoki.

– Ah, Kagura-chan! – Exclamou Shinpachi, ao entrar no andar.

– Megane. O que foi?

Shinpachi revirou os olhos e bagunçou os cabelos negros, grandes depois de 5 anos os deixando crescer.

– O que você vai fazer no Natal?

Kagura o olhou confusa.

– Vou ficar com o Gin-chan e com você. Tem mais alguma outra coisa pra eu fazer?

Shinpachi desviou o olhar envergonhado. Suas bochechas coradas não combinam com seu novo estilo, mas Kagura ignorou esse detalhe.

– Eu já tenho um compromisso no Natal.

Kagura sorriu maliciosa.

– Oh, não sabia que você chegou ao ponto de pagar pra alguém sair com você, Shin-chan. Não tem vergonha não? O que a Aneue pensaria de você? – Provocou.

As bochechas de Shinpachi se avermelharam mais, assustando a Kagura. “Foi realmente isso?”

– Cla-claro que não! – Gaguejou. – Uma garota do andar de baixo me convidou para uma festa... e eu queria saber se você tem alguma idéia do que eu poderia vestir.

– Mas essa roupa de falso cold boy está muito boa. – Kagura sorriu e fechou a mão, levantando o polegar. Entrou no elevador ao vê-lo chegar e nem esperou a resposta do Shinpachi, dando um sorriso cruel antes da porta se fechar.
"É, parece que nesse Natal vai ser somente Gin-chan e eu"... Encostou na parede do elevador e não reprimiu um sorriso animado. Idéias de como, e com o que, perturbá-lo passou pela sua mente.

– Seu sorriso está me assustando. – Kagura ouviu outra voz. Droga, ela havia se esquecido de onde estava.

– E eu te perguntei alguma coisa... – Levantou o olhar pessoa e o sorriso sumiu de imediato. -, super sádico? Sério, você não tem outra coisa pra fazer além de me perseguir? Stalker.

– Tsk, como se eu fosse seguir uma despeitada como você.

Numa raridade, Kagura ignorou. Era bem típico ela responder algo e dois começarem a se chutar e beliscar depois de uma provocação típica como essa, mas...

– O que foi? Aquele cachorro feio comeu tua língua? – Provocou Okita Sougo. Mais conhecido como super sádico, sádico maldito, o príncipe dos sádicos (já que o Gintoki é o rei) e qualquer outro apelido que tenha sádico no meio.

– Sadaharu está bem, se é isso o que você quer saber. – Comentou indiferente. Algo em Kagura não estava certo. Será que os raios solares ainda estavam fazendo efeito?

Okita estranhou mas não comentou nada. Não conseguiu evitar em fazer uma careta de desgosto, ser ignorado pela Kagura é o cúmulo da humilhação. Preferiu ficar calado e Kagura agradeceu mentalmente por isso. Tudo o que ela menos precisa hoje é do sádico a perturbando – apesar dela não saber realmente o que ela precisa. Suspirou e só desejou chegar logo em seu apartamento onde está Sadaharu, sukonbu’s e chá verde. Só.

Ao sair do prédio ao mesmo tempo – e a Kagura não tem idéia do o porque ele estava ali -, Okita e Kagura caminharam em direções diferentes. Algo em Kagura a fez querer olhar pra trás e quando o fez, se surpreendeu ao ver Okita a observando. Sua expressão estava impassível, como sempre, mas algo em seu olhar fez a Kagura sentir medo e... comoção. É como se ele entendesse o que ela sentia, sem nem ela mesma saber o que era. Seu coração se agitou um pouco, mas ela não percebeu, ainda estava olhava pra Okita surpresa, que a deu um sorriso torto e virou-se novamente, indo até seu carro da polícia. Kagura o observou partir, sem saber o que pensar.

Aquela noite estava gelada, mas ela não reparou nisso.

Dia 23 de Dezembro de 2014.

– Então, Gin-chan, o que vamos fazer nesse Natal? – Perguntou Kagura, após três dias depois de ver, pela primeira vez, um sorriso sincero de Okita. E como ela queria evitar pensar nisso, mas parecia impossível...

– Vamos? Eu vou sair com a Sarutobi. Você que procure o que fazer. – Diz desanimado, com as pernas em cima da sua mesa grande de madeira.

Kagura piscou algumas vezes para absorver a informação. Gin-chan? E a Sacchan?

– Não sabia que é tão pervertido, Gin-chan, vai mandar ela usar uma roupa de mamãe Noel sexy nesse Natal? Você deveria ser mais criativo.

– Oe, como você sabe dessas coisas? Foi ela, né? Foi ela que poluiu sua mente, não foi?

Kagura revirou os olhos e se levantou da cadeira de couro.

– Já cresci, Gin-chan, aceite. – Disse e deu as costas, sem pegar a sua parte do pagamento do seu trabalho daquele dia.

Não ouviu Gintoki dizer nada e aceitou o silêncio como sua compreensão. Ele sabia, ele sempre soube que a Kagura cresceu... só preferiu fingir que não havia percebido. Ela também fingiu ignorar isso.

Caminhou pelo andar novamente, perturbou algumas pessoas e conversou com outras novatas, que já estavam babando no Gintoki. Ah, se soubessem como ele realmente é... Kagura ignorou os olhares indiscretos de alguns pervertidos e se retirou do escritório.

Que o sádico não apareça hoje, amém”, rezou. Apesar de pensar isso, sua vontade é de vê-lo... Não, a sua vontade era vê-lo sorrir daquela forma novamente.

Realmente, qual era o problema dela nessa semana?

Respirou fundo e mudou seus pensamentos para o Natal até chegar em casa. O que ela faria amanhã?

Quando chegou em casa, Sadaharu pulou em seu colo pedindo por carinho. Kagura sorriu aliviada por vê-lo bem e cariciou sua pequena cabeça fofa e branca. O cheiro do shampoo do Sadaharu misturava com o seu cheiro de morango e sukonbu. Fechou a porta branca do seu pequeno apartamento e se jogou no sofá branco. Tirou as botas de couro e jogou em algum canto qualquer, enquanto esperava o Sadaharu parar de correr pela sala para chamá-lo. Quando ele parou de correr, Kagura o pegou no colo e caminhou até a cozinha, que era somente dividida da sala por um balcão de cimento, onde continha algumas fotos dos seus amigos e algumas lembranças do Papi, que vivia de mochilão. Pegou uma foto onde estava Gintoki, Shinpachi e ela, nos tempos onde a Yorozuya Gin-Chan ainda era um negócio pequeno e somente dos três. Gintoki cutucava o nariz e Kagura e Shinpachi sorriam para a foto, fazendo paz e amor com a mão. Ao ver essa foto, Kagura sorriu nostálgica. Saudades de um tempo que não volta mais...

Decidiu mudar de pensamentos, de novo, e se focou em preparar um chá verde. Colocou Sadaharu no chão, não antes de fazer outro carinho nele, e pegou tudo que é necessário para fazer chá-verde. Ninguém sabe dessa paixão por chá-verde, afinal, esse tipo de coisa não é sua cara. Pelo menos é o que diriam.

Respirou fundo e colocou a água para ferver. Ela tinha esquecido desse seu grande defeito... se importar com o que os outros pensam é uma merda. Afinal, não são eles que pagam suas contas.

Um sorriso apareceu em sua mente e ela sorriu involuntariamente. Maldito sádico! A perturba até nesses momentos!

Suspirou e balançou a cabeça negativamente. É inaceitável pensar em alguém como ele nesse típico dia de dezembro. Um dia perfeito para dormir a tarde toda, ou quem sabe assistir algum filme bem menininha enquanto come sukonbu com seu chá-verde. Depois de colocar duas colheres da erva no copo, ela colocou a água que já havia entrado em ebulição. Amarrou seus cabelos macios em um coque e passou pelo curto e fino corredor, em direção ao seu quarto. Pelas frestas de luz entre as cortinas escuras, a Kagura procurou seu pijama. Uma camiseta de manga comprida e uma calça, ambas vermelhas. Ao se vestir, percebeu que essas roupas estavam mais justas do que se lembrava. Quando foi que a roupa começou a apertar no busto e nas coxas? Não se lembrava. Respirou fundo e fez uma notinha mental: comprar um novo pijama. Preferiu continuar com esse mesmo, já que ainda não a incomodava. Seus passos até a cozinha eram pesados, acompanhada pelo Sadaharu, ela cantarolava uma música da Snow Patrol. Outra coisa que diriam que não combinava com ela. Revirou os olhos e tratou de pegar o sukonbu na parte mais alta do armário, fazendo-a ficar nas pontas dos pés. Sadaharu lambeu seu pé, fazendo cócegas na Kagura que não reprimiu uma risada, logo sentindo seu humor melhorar.

Colocou um pedaço de sukonbu na boca e ligou seu aparelho musical, em uma música da sua banda favorita.

E sentiu vontade de dançar. Dançar sem passos ritmados, somente dançar. Aumentou o som do seu aparelho no máximo e pagou Sadaharu no colo, dançando de um lado para o outro.

Seus passos não combinavam nada, mas a sensação de que ela tinha era de que ela estava voando. De olhos fechados, ela rodopiou para um lado e esticou um braço suavemente, como se ele fosse quebrar no mínimo movimento brusco. Dançava nas pontas dos pés e, quando somente necessário, ela apoiava um para ter equilíbrio para levantar o outro, na altura da sua cintura. Sua sala pequena parecia gigante em sua mente, onde ela dançava em um salão de piso de madeira, com a própria banda tocando. Cantarolou a música conforme deslizava pelo piso coberto pelo tapete felpudo e azul, onde seus pés pareciam ainda mais suaves, fazendo exatamente o que ela queria.

Pela sua mente nada se passava, além da sensação de liberdade e felicidade em que sentia no momento. Todo o peso, passado, sentimentos reprimidos, sumiam conforme cada passo ritmado com o coração. O refrão ecoavam na sua mente e pela sala, sem evitar de gritar o refrão, para gravar esse sentimento de que, finalmente, ela está sendo entendida. Sadaharu não estava mais no seu colo, fazia tempo até, mas ela não havia percebido. Não ouviu o telefone do apartamento tocar, nem do seu celular, muito menos ouviu a campainha. Se o mundo soubesse o que estava acontecendo naquele apartamento, o 1101, certeza que ninguém tentaria a perturbar.

Mas não adiantou. O telefone, o celular, a campainha, nada disso a tirou do seu próprio mundo, do seu pequeno momento. Para a sua infelicidade, a música não durou o tanto que ela queria que tivesse durado. No fim da música, seus joelhos estavam flexionados e cruzados, sua coluna parecia deitar no ar e seus braços estendidos para trás da sua cabeça jaziam delicadamente.

Caiu no chão quando ouviu a campainha e exclamou um pequeno palavrão. Abaixou o volume do seu aparelho, que agora tocava um cover dos The Baseballs. Caminhou até a porta e pensou seriamente em não atender. Quem seria agora? O cobrador? Suspirou fundo e abriu a porta branca, sem ver quem era. Seus olhos se arregalaram de surpresa quando percebeu os longos cabelos cor mel amarrados em um rabo de cavalo alto.

– Sádico? – Sua surpresa não foi disfarçada. Okita Sougo a encarava impaciente. – Oh, estava com tanta saudade que resolveu me perseguir? Que coisa feia, como eu vou te denunciar pra polícia se você supostamente é um policial?

Provocou para disfarçar. A verdade é que ela estava irritada – e super surpresa – pela sua presença. Em um momento tão tranqüilo, era realmente necessário que ele aparecesse? O pequeno sorriso do mesmo apareceu em sua mente e essa mudança repentina de pensamento avermelhou levemente suas bochechas. Droga.

– Vou ignorar sua piada sem graça. – Disse entediado. Kagura revirou os olhos. - O que você vai fazer amanhã?

Seus olhos se arregalaram de surpresa por um segundo, logo se recompôs.

– Por que isso te interessa?

– Como pensei, você foi chutada pelo Danna e até pelo Megane, que humilhação, china girl.

– Vou ignorar sua piada sem graça. – Repetiu.

– Bem, amanhã vou vir aqui de novo e vou trazer muitos filmes.

Kagura o olhou desconfiada.

– Eu não te convidei pra vir aqui. Se aparecer amanhã não irei atender.

– Eu arrombo a porta, então. Sem problema. – Disse indiferente e a olhou de cima a baixo. – E compra um pijama descente, china girl. Está com tanta saudade de ser uma pirralha assim?

– Oe, você veio até aqui só pra me perturbar? Pode ir embora. – Tentou fechar a porta, mas foi impedida por um pé. Maldito sádico.

– Eu gosto de Takoyaki, não se esqueça. – Disse e piscou. – Boa tarde, china girl. – Se virou e caminhou pelo corredor como se nada tivesse acontecido.

Kagura o observar sumir até a esquina do corredor e então caiu em si.

Ele piscou pra mim?

Dia 24 de dezembro de 2014.

Kagura nem abriu os olhos mas já se surpreendeu. Seu cachorro não estava entre seus braços e o cheiro de takoyaki era presente em seu quarto. Fez careta ao sentir o gosto amargo na sua boca e lentamente abriu os olhos azuis. Ao seu lado esquerdo, a onde seu corpo estava virado, não tinha nada de errado. Suas roupas sujas e limpas ainda estavam em cima da pequena poltrona com estampa de flores. As portas do seu guarda-roupa branco, que fica logo ao lado da poltrona, estavam abertas, revelando ainda mais a sua desorganização. Apoiou o corpo com um braço e pisco algumas vezes, por causa da luz forte do dia. Seus cabelos ruivos estavam bagunçados e jaziam delicadamente em suas costas. O cheiro de takoyaki fez seu estômago roncar e ela virou para janela, com a intenção de ter noção de que horas eram.

Ela só não esperava encontra Okita Sougo sentando, na sua outra poltrona, comendo takoyaki. Sua mente despertou definitivamente e o que a mais surpreendeu foi a cena em que via. Não, não era o fato dele estar no seu quarto que a mais surpreendeu, mas sim... A luz branca, de um dia nublado, que iluminava Okita, que a olhava tão serenamente que Kagura se perguntou se era ele mesmo ali. Estava como sempre: os cabelos cor de mel presos, os olhos parecendo dois topázios vermelhos e sua roupa informal, porém, por algum motivo, essa cena vez as bochechas da Kagura se avermelharem e seu coração bater mais rápido. É claro que ela não percebeu, afinal, é a Kagura.

Pensou em dizer algo, alguma brincadeira e até tentou se irritar, mas não conseguiu. Ao invés disso, se deitou virada para a aquela cena, que observou em silêncio. O quarto gelado só a fez se cobrir melhor, enquanto implorava mentalmente para que ele não dissesse nada. Ele continuou comendo o final do seu takoyaki enquanto a observava. O que se passava em sua mente? E ele se perguntou porque nunca invadiu o quarto de Kagura antes.

Os olhos não se desviaram por um longo tempo. Quem sabe quanto? Não realmente importava. O par de topázio azul observava cada mínimo movimento do dono do par de topázio vermelho. Como o seu tronco descia conforme respirava e como a luz branca que o iluminando o caia super bem, quase parecendo uma divindade. Quase. Okita não só observava a aparência da menor, mas como admirava. Não são só seus cabelos ruivos que chamava sua atenção, tanto como seu corpo debaixo daquela coberta (que Okita estava impaciente pra entrar ali também), como seus olhos azuis pareciam brilhar ainda mais naquela manha.

Manha? Já não era tarde?

Não importava.

Seus pensamentos não tinham nexo nenhum, mas não podiam evitar de querer ver aquela cena todos os dias. Quase como... uma necessidade.

Porém, a barriga de Kagura roncou, tirando ambos do pequeno (ou grande) transe. Okita revirou os olhos e se levantou, caminhando até a cozinha. Kagura sentiu suas bochechas se esquentarem mais. Ignorou esse pequeno detalhe e foi escovar os dentes e quem sabe, colocar uma roupa menos justa.

Se olhou no espelho e ficou surpresa quando pensou que estava mais bonita naquela manha. Balançou a cabeça negativamente, lavou o rosto e tratou de escovar os dentes. Tirou a camiseta justa e colocou uma de pequenas mangas bem larga e branca, que caiu suavemente em seu corpo. Trocou a calça que ia até os tornozelos e tratou de colocar uma vermelha que descia levemente até seus pés. Se observou pelo espelho novamente e percorreu seus olhos pelo seu corpo inteiro. Sua franja a incomodou então decidiu usar uma presilha amarela para prendê-la. Se sentindo mais feliz com o resultado, usou um palito de madeira para prender seu cabelo com um coque. Então sorriu. Nem ela mesma soube o motivo, mas sorriu. A imagem refletida fez o mesmo, dando-a ainda mais vontade de sorrir. Sorriu largamente.

– Seu sorriso continua me assustando. – Disse Okita, ao passar pela porta do banheiro. Os olhos de Kagura se arregalaram.

Eu realmente me troquei com a porta aberta?”. Sentiu suas bochechas se esquentarem, novamente.

Como ele não comentou nada, resolveu fazer o mesmo. Foi seguindo o cheiro de chá-verde com sukonbu que a levou até seu quarto.
Mas o que diabos Okita Sougo fazia em sua casa? E como ele entrou?

– O porteiro não é confiável. – Disse Okita, Kagura o olhou confusa enquanto andava com os pés descalços sobre o chão gelado. Ela esperou uma resposta em silêncio e sentou-se na sua cama, logo se cobrindo. Ele a olhou entediado e sentou-se ao seu lado, oferecendo o chá e o sukonbu que Kagura logo aceitou. – Eu disse que era seu namorado e ele me deu a chave reserva. Qual é o problema daquele velhote?

Os olhos da Kagura se arregalaram e quase engasgou com o ar.

– Você disse o que?

– Eu disse que era seu namorado. – Revirou os olhos. – Sério que vai ficar séria com isso? Acabei de falar que o velhote pervertido tinha a cópia da sua chave. Por que diabos ele tem isso?

O par de topázio azul piscou algumas vezes e tentou fazer o cérebro funcionar.

Maldito sono, a atrapalhando logo cedo.

– Eu dei pra ele caso Megane ou Gin-chan precise.

– Hm. – Murmurou desinteressado. – Gin-chan. – Repetiu com uma careta, fazendo a Kagura dar uma leve risada.

– É, Gin-chan. – Bebericou o chá, o olhando com os olhos risonhos. Okita a olhou de soslaio mas logo virou a face para a direção contrária, pra não demonstrar o pequeno sorriso torto.

Os olhos vermelhos procuraram algo pelo quarto para perturbá-la. Seus olhos percorreram tudo e descobriu que tem muito material para tal, mas também percebeu algo importante.

– Você não tem uma televisão no quarto. Por que?

Olhou-o sem entender o motivo da pergunta, mas respondeu depois de terminar de mastigar um pedaço do sukonbu:

– Eu tenho uma na sala e como moro sozinha, não faz muita diferença em assistir aqui ou lá. – Deu de ombros.

– Mão de vaca.

Kagura deu de ombros e assentiu concordando. Talvez ela seja isso mesmo, ou talvez não. Ela só não achava motivo pra ficar desperdiçando dinheiro se pode usá-lo para comprar a ração de marca do Sadaharu. Tsk, nunca viu um cachorro tão metido.

Alguns minutos se passaram em silêncio enquanto Kagura terminava de comer. O quarto continuava gelado, deixando Okita um pouco irritado. Como ela pode dormir nesse frio? Principalmente em uma época de neve. Sério, essa garota tem muitos problemas. Inconscientemente, Okita murmurou a música da Kagura. A letra, em inglês, vinha-lhe na mente sem a menor dificuldade e era dita de formar clara e suave, surpreendendo a mesma. Sentindo a mesma vontade do dia anterior, Kagura balançou o corpo suavemente, conforme o ritmo da música, ritmo que vinha em sua mente com clareza, quase como se tivesse ouvindo a música novamente. O loiro a olhou confuso e parou de murmurar, fazendo a ruiva parar de balançar-se bruscamente. Kagura o olhou confusa e Okita a puxou pela mão, a arrastando para sala. A ruiva quase tropeçou nos próprios pés, mas ele foi mais rápido e a pegou pela cintura. Envergonhada, Kagura tentou soltar-se dos braços dele mas ele manteve seus braços firmes ao redor do seu corpo. Quando ia dizer algo, ele colocou um dedo, suavemente, sobre os seus lábios delicados para calá-la. Confusa e envergonhada, não moveu um músculo sequer. Os olhos vermelhos podia ler sua alma, como um livro infantil, com a história resumida mas com os mesmos sentimentos. Quem poderia adivinhar que o loiro pode ser tão observador?
Gentilmente, quase como se tivesse medo de quebrar, Okita deslizou sua mão da cintura da Kagura até a pequena mão direita da mesma. Um pequeno arrepio percorreu o corpo de ambos, e percebendo a intenção dele, ela colocou sua mão esquerda no ombro do mesmo. Okita voltou a murmurar a letra e ela cantarolou o ritmo, em perfeita sincronia. Totalmente incomum, seres tão desajeitados, conseguirem ficar em perfeita sincronia juntos. Seria algo a mais? Um sentimento especial? Algo banal como destino?

Mas isso não importava.

Assim como a música em sincronia, tal era com os passos. Ainda passos desajeitados e amadores, não mudava que o coração de ambos batiam mais fortes. Não tinham tempo para ficarem com vergonha, mesmo com o olhar tão focado em um no outro, a qualquer momento um dos dois poderia voltar ao seu normal eu, assim destruindo esse pequeno milagre. Pode chamar isso de milagre? Era um momento tão importante que pode ser considerado algo divino?
Não se sabia. A única coisa que ambos tinham percebido era que aquilo que eles precisavam, era aquilo que eles estavam sentindo falta. Alguém que os entendesse sem julgamentos.

O apartamento frio não parecia mais tão frio assim para os dois. A neve que caia lá fora não era mais tão inconveniente. O olhar do Sadaharu nos dois não os incomodava. Era um momento dos dois, onde demonstrava o outro lado de cada um, um outro lado que eles só mostraria um ao outro. Porque eles eram assim, mesmo sem perceberem, eles pertenciam um ao outro.
Inconscientemente, a ruiva tocou sua bochecha na do loiro, fazendo o mesmo piscar poucas vezes surpreso. Não se importou com o toque, o contrário até, fechou os olhos aproveitando e sabendo que ela fazia o mesmo. O som da música que ambos faziam parecia preencher a pequena sala. Se abrissem os olhos, podiam até jurar que viam as notas no ar, dançando como eles.

Quando a campainha tocou, os dois voltaram a si. Se separam tão rapidamente que Sadaharu se assustou com o movimento brusco. Os dois evitaram de se olhar, mas não conseguindo evitar as bochechas levemente rosas. Kagura revirou os olhos e foi atender a porta.

– Gura-chan! – Uma voz fina gritou e a ruiva sentiu um peso em si. Ela olhou o que era (na verdade, quem) e sorriu.

– Kaori-chan! – Exclamou animada. Abraçou a jovem menina, evitando dela cair do seu colo. Deu um beijo na bochecha da morena e apertou ainda mais forte.

– Feliz Natal!

– Feliz Natal, Gura-chan! – A menina levantou o rosto, sorrindo pra ruiva. – Eu trouxe um pedaço do bolo que eu mesma fiz pra você!
Kagura sorriu e ajeitou a menina no seu colo, a colocando sentada no seu braço esquerdo.

– Okay, estou doida pra experimentar. – A ruiva sorri novamente e levanta o olhar pra a mulher na porta. – Ikumatsu-chan, feliz natal!

A loira sorri sem graça e a Kagura já tem idéia do motivo da sua visita.

– Feliz Natal! – A loira faz uma pequena pausa. - Então, Kagura-chan, tem como você ficar com a Kaori hoje? – Ikumatsu ainda mantém o sorriso sem graça e estende uma sacolinha. – Aqui o pedaço de bolo que a Kaori fez, se quiser mais, pode ir pegar lá em casa.

Kagura olhou para a loira séria, mas assente.

– Vai trabalhar hoje, não é? – Pergunta já sabendo a resposta. A loira assente e percebe a presença do Okita, se surpreendendo. – O que aquele infeliz está fazendo no natal?

– Bem, acho que você já sabe a resposta. – Responde Ikumatsu, logo mudando o assunto. – E então, eu não sabia que você tinha um namorado, Kagura-chan! – Exclama animada, deixando a Kagura desconfiada.

– Ele não é meu namorado, graças a Deus. – Responde a ruiva, revirando os olhos. A morena em seu colo olha pra Okita admirada. – Bem, é o sádi- Okita. Ele é o Okita Sougo, ele se diz policial mas na verdade é só mais um ladrão de impostos.

Ikumatsu entende o recado quando Kagura mencionou sobre ele ser policial.

– Bem, prazer, Okita-san! – Diz a loira, que levanta a mão como forma de comprimento. Okita assente. – Vou indo, em algumas horas em volto. Sinto muito mesmo, Kagura-chan.

A ruiva assente e diz:

– Tudo bem, já estou acostumada com essa pirralha, né, Kaori-chan? – A criança sorri, fazendo a ruiva sorrir também. – Vê se não se esforça mais do que o necessário, Ikumatsu.

Ikumatsu assente e sorri para Kaori, que as olha sem entender nada. A loira da um beijo na testa da mesma e sai, deixando a sacolinha com a pequena.

A pequena não passou tanto tempo acordada quanto Kagura imaginou. Depois de dividirem o pedaço de bolo em três (já que Okita insistiu em comer – o que Kagura estranhou, não sabia que o loiro gostava de bolos) e comerem, passaram a tarde assistindo um filme sobre natal e um outro sobre duas irmãs e neve. A ruiva gostou especialmente do segundo, mas não comentou nada (não que precisasse, já que Okita percebeu). Kaori pulou de um lado pro outro, subiu nas costas do Okita, correu atrás do Sadaharu, pulou de um sofá pro outro (e a ruiva se perguntou porque o vizinho de baixo ainda não reclamou) e com a ajuda da ruiva, fez outro bolo, de cenoura com cobertura de chocolate (a pedido do Okita). Se alguém visse essa cena sem saber a verdade, poderiam até jurar que eram uma família, com genes bem diferentes, mas ainda assim uma família.

Mas o mais surpreendente para a ruiva foi o carinho e atenção que o loiro tinha com a pequena. Não que a Kagura achasse que ele fosse um humano sem qualquer feição ao próximo, ela sabe que ele não demonstra, porém, não pode evitar se surpreender ao ver ele brincando com ela. Não, não era isso que a surpreendeu.

Foram seus sorrisos.

Tão largos e sempre sinceros.

E se a ruiva pudesse descrever os sorrisos, seriam com uma palavra: radiantes.

Sim, algo tão clichê que deixou a ruiva surpresa novamente. Tão clichê que ela poderia jurar que seus sorrisos pareciam fazer a sala brilhar e contagiar ainda mais a ruiva e a pequena. Talvez isso só seja uma fase, quem sabe? Uma hora ele voltaria a ser o sádico e ela a tsundere. A dupla do sem-ter-o-que-fazer ou a dupla sai-de-perto-porque-vamos-destruir-tudo. Algo assim, bem idiota mas simples.

Entretanto, não era isso que ela queria.

Na verdade, ela ainda nem sabia, com certeza, sobre o que queria com ele. Por ela, ele nunca teria entrado no seu apartamento, e agora, por ela, ele poderia não sair. Kagura nunca se sentiu tão confusa em um pedaço tão curto de tempo.

Resolveu mudar o foco dos seus pensamentos quando viu os dois dormindo no sofá. A ruiva nem percebeu quando a pequena parou de pular e resolveu dormir em cima do Okita, que parecia tão tranqüilo quando a menor. Ele até parecia uma criança com seus olhos vermelhos agora fechados e os lábios entreabertos (que em algumas horas se abriam somente pra perturbar a ruiva). E isso só a deixou ainda mais confusa sobre o loiro. Desde quando ele podia ser fofo assim? Ou até quando ele mostraria a ruiva coisas sobre si que ela desconhecia? E por que diabos ele estava ali? Isso tudo era só solidão e carência?

Talvez ela não precisasse de respostas naquele momento. Poderia deixar pra depois, certo? Certo.

A ruiva olhou para o relógio em cima da porta (e seu maldito som de tic tac sempre deixa o apartamento mais solitário) e se perguntou quando a Ikumatsu chegaria em casa. Ou quando o seu marido (um certo moreno que não gosta do atual governo) tomaria vergonha na casa e voltaria para buscar sua filha. Não a entendem errado, não como se ela não gostasse da pequena (na verdade, a pequena já a salvou de muitos dias assistindo dramas) mas ela não conseguia aceitar o fato dos seus pais estarem sempre tão ocupados. A mãe é dona de um restaurante (que não faz muito sucesso, mas ajuda a sustentar a pequena e o marido folgado) e o pai é... Nem a Kagura sabia direito o que ele fazia para sustentar a família. Talvez algo envolvendo drogas?

A ruiva riu com esse pensamento. Não é como se não o conhecesse, ela sabe que com drogas ele não está envolvido (já que até hoje ele não a ofereceu, nada disso).

Como se lesse sua mente, a campainha tocou, despertando a ruiva dos seus pensamentos. Com um breve pulo de susto, foi até a porta e a abriu. Não se surpreendeu ao ver Ikumatsu com a expressão cansada. A loira sorriu pra Kagura.

– Boa noite, Ikumatsu-chan! – Sussurrou Kagura. – Ela está dormindo.

A loira suspirou aliviada e assentiu.

– Obrigada, Kagura-chan. Espero que tenha gostado do bolo. – Sussurrou.

A ruiva assentiu e levantou o dedo indicador, logo saindo da porta em direção ao sofá a onde dormiam Okita e Kaori.
Com delicadeza e cuidado (e sem desviar os olhos dos dois, pra ver se não acordam), a ruiva tirou os braços do Okita que rodeavam a pequena e a pegou no colo. Em passos lentos e leves, a ruiva levou a pequena até a porta e a entregou para a mãe. A loira sorriu ao vê-la dormindo.

– Obrigada novamente. – Sussurrou Ikumatsu. – Feliz natal! Espero que ela não tenha estragado seu natal com seu namorado.
A ruiva sentiu suas bochechas esquentarem e revirou os olhos.

– Ele não é meu namorado! – Sussurrou urgente. – E feliz natal.

A loira deu uma leve risada e assentiu (fingindo concordar, é claro). Desejou uma boa noite a ruiva e se retirou.

Kagura sentiu sede e foi pegar um copo de água. Enquanto o copo se enchia, a ruiva se perguntou o que faria com o Okita agora. O acordaria na porrada e o manda ir pra própria casa ou pegaria um cobertor pra ele? O que ela queria fazer? Na verdade, que motivos ela teria para deixá-lo na sua casa? E que motivos ela teria para não deixá-lo?

Fez uma careta emburrada. Tsk, talvez seja melhor o acordar na porrada. Depois de encher o copo, bebeu toda a água em um gole só e foi até a sala. Quando não encontrou o loiro no sofá, sentiu seu peito apertar. Ele já foi embora? Suspirou. Nem o viu sair.

– China. – A voz do loiro soou baixa atrás de si, a assustando. Se recompôs e olhou para ele. Os olhos vermelhos estavam abatidos e sem o brilho natural. O loiro respirava com certa dificuldade e se abraçava com os braços, tentando se esquentar.

Isso preocupou a ruiva seriamente.

– Sádico, você está bem? – Perguntou preocupada. Colocou a mão na testa do mesmo e se assustou ao ver que estava muito quente. – Você está com febre!

O loiro resmungou alguma coisa que ela não entendeu e se apoiou na mesma. Okay, agora o que diabos ela deveria fazer? A ruiva mordeu o lábio inferior (que Okita se esforçou para guardar essa imagem na sua mente) e olhou pela sala, a procura de uma resposta. Sem condições de mandá-lo embora nessa neve, e ela nem sabia o numero do outro ladrão de impostos. Ela respirou fundo. É, o único jeito é cuidar dele.

Kagura o abraçou de lado e o levou até sua cama (com muita dificuldade). O enrolou bem dentro das cobertas e voltou a cozinha, atrás de algum remédio para a febre. Depois de achar um no meio de um monte para cólica e dor de cabeça, a ruiva levou para o loiro com um copo de água. Quando o encontrou dormindo novamente, se perguntou se devia mesmo acordá-lo. Ele estava dormindo tão tranqüilo... Apesar que ela acreditava que não seria bom deixá-lo sem tomar um remédio. Suspirou e chacoalhou, até o momento que ele abriu os olhos. Piscou algumas vezes e procurou entender onde estava, quando viu Kagura ao seu lado em pé, deu um sorriso (que a ruiva estranhou). Ela o estendeu o copo e o remédio sem dizer nada, e ele aceitou em silêncio (o que ela estranhou, afinal, desde quando o sádico aceita algo vindo dela sem antes checar se não é algum tipo de veneno?). Depois dele beber o remédio, ele estende o copo para a ruiva, que o pega e verifica se a febre abaixou nesses poucos minutos. Não surpresa com o fato de ainda não ter abaixado a febre, ela resolve caçar o que fazer na sala.

Bem, era o que ela ia fazer até sentir alguém segurar seu pulso.

Olhou para o dono da mão gelada confusa. Okita ainda estava como antes, mal conseguia respirar, os olhos ainda sem o brilho natural, mas dessa vez com as bochechas avermelhadas. O que fez a ruiva se sentir constrangida. Desde quando Okita Sougo cora?

– Kagura. – Sussurrou. – Fica comigo... Não me deixa sozinho.

Kagura ficou tão surpresa com o que ouviu que se perguntou se ouviu certo por alguns segundos (que para ela e sua mente, pareceu ainda mais longos). Não pôde evitar as batidas aceleradas e a vermelhidão em suas bochechas, seguindo até as pontas das orelhas. Ouviu mesmo certo? E se ouviu, deveria fazer o que ele pediu?

Claro, por que não?

O par de topázios vermelhos ainda esperava uma resposta e a ruiva assentiu, dando a volta na cama e se deitando ao seu lado (e o loiro acompanhava cada momento – mesmo com o raciocínio lento). Okita respirou aliviado ao sentir a mão delicada da ruiva envolver a sua e fechou os olhos, caindo no sono tão rapidamente que a assustou. Ele sempre dorme fácil assim? Tsk, e ela ainda se pergunta?

Suspirou e olhou para o teto. A luz acesa no corredor a incomodava, mas decidiu que iria apagá-la depois. Virou seu corpo para o lado em que Okita dormia e observou seu rosto. Não tinha percebido que ele estava tão pálido antes. Com a mão livre, tocou no rosto do loiro. Sua pele macia e branca estavam um pouco frias, dando a impressão que esfriava a sua mão. O loiro vira o rosto em direção à mão, inconscientemente tentando sentir ainda mais o toque da mão macia.
O rosto da ruiva se tornou vermelho em questão de milésimos de segundo. Se fosse possível, ficou ainda mais vermelha ao sentir o coração se acelerar. Respirou fundo e tentou se acalmar. Tudo bem, ele está incrivelmente fofo mas não é nada demais. Afinal, ainda era o mesmo sádico que sempre compra briga com ela em qualquer lugar. Qualquer lugar.

(Digamos que brigar no hospital nem sempre é uma boa ideia, e a ruiva guarda um certo rancor disso).

Soltou sua mão da dele delicadamente, mas ainda com pressa. Se levantou da cama sem fazer muito barulho e resolveu caçar o que fazer. Ainda é uma hora da manhã, ela pode ligar pra alguém e desejar um feliz natal.
Ou pode voltar pra cama.

Balançou a cabeça negativamente. Não, não. Não é assim que funciona. A ruiva não vai simplesmente deitar na cama com um outro cara. Bem, não é como se não tivesse feito isso antes... Mas, enfim. Não.

Respirou fundo novamente. Com passos lentos caminhou até a cozinha atrás do Sadaharu. O pequeno cachorro dormia em seu sofá, bem acolhido por causa do frio. Se sentindo mal por ter se esquecido ele, a ruiva pega a coberta azul do cachorro e o cobre. Decidiu deixá-lo ali mesmo. Bebeu um outro copo de água e apagou a luz da cozinha e fechou a janela. Foi para a sala e desligou a TV e apagou a luz. Verificou se a porta estava devidamente fechada e passou o trinco, só por precaução (já que um certo loiro conseguiu entrar somente com a chave). Sem perceber, sorriu. Quem invade a casa dos outros para comer takoyaki? Ele. Somente ele tem coragem pra fazer uma coisa dessa. Balançou a cabeça negativamente, de novo, e resolveu ir tomar um banho. Tudo bem era madrugada e estava frio, mas isso não importava pra ela. Entrou no banheiro e fechou a porta devidamente, já que se esqueceu de fazer isso de manhã.

Depois de terminar o banho, se lembrou que não tinha nenhuma roupa limpa contigo. Bufou e se enrolou na toalha. Se ela estivesse sozinha, com certeza teria ido pegar uma roupa sem a toalha enrola em si, mas como tinha um sádico em seu quarto, resolveu ir de toalha. Descalça, foi até a porta do seu guarda-roupa e olhou para trás, pra ter certeza que ele não estava acordado. Ele dormia de bruços, com o rosto virado para a janela. Assentiu determinada (não se sabia bem o porque, já que ela só ia pegar uma roupa) e procurou uma camiseta larga, uma calça de moletom e uma peça intima. Enrolou a roupa no seu braço e quando ia ao banheiro, bateu o dedinho na quina da cama. Sussurrou uns palavrões e fez uma careta de dor. Se fosse a primeira vez que ela batia o dedinho na quina da cama, ela perdoava, mas não era. Amanhã ela vai empurrar essa cama mais pra janela, chega de dedinhos doloridos.

Respirou fundo e foi ao banheiro. Fechou a porta (mas sem virar o trinco) e se trocou. Escovou os dentes e soltou o cabelo, já que não o aguentava mais preso. O longo cabelo ruivo caiu como uma cascata em suas costas e ela virou de costas par a o espelho para ver seu comprimento. Gostava muito do seu cabelo longo, mas tem um tempo em que vinha pensando em cortá-lo curtinho. Daria menos trabalho e seria um visual novo, já que tinha planos para o próximo ano, em que não envolvia seu trabalho, amigos e esse país. Balançou a cabeça negativamente, não é hora de pensar nisso agora. Voltou para 0 quarto e se assustou ao ver Okita a observando. Piscou confusa e olhou para atrás de si, pra ter certeza que ele não estava observando algo que não era seu rosto. Olhou pra ele confusa, se perguntando porque diabos ele a observava. Ele manteve o olhar e ela teve um leve djavú (esse olhar não lhe era estranho, afinal). Se tentou lembrar de quando ele a olhou assim e se lembrou dessa manhã. Tsk, como ela esqueceu algo assim?
A ruiva manteve seu olhar confusa, esperando uma resposta. Ou uma boa notícia, algo como “estou bem e agora vou embora”.

(Ela só não tinha certeza se a segunda parte seria realmente uma boa noticia pra si).

Mas ele não disse nada.

Ela preferiu deixar assim mesmo. Apagou a luz do corredor e deitou-se na sua cama, de costas pra ele. Um pouco nervosa, na verdade, porque ela sentia sua nuca queimar. Não percebeu seu coração batendo rapidamente, porque a única coisa que ela pensava era quando diabos ele pararia de a encarar. Talvez ele queira alguma coisa? Algo como perturbá-la ainda mais. Sua respiração começou a ficar mais pesada, a deixando ainda mais nervosa. Desde quando ela ficava assim do lado de alguém?

A última vez que ficou assim foi... quando perdeu sua virgindade. Algo que ela não é muito afim de lembrar (não é como se tivesse sido ruim, só não foi com quem ela amava). Respirou fundo, de novo. Melhor mudar de pensamentos e dormir logo, mesmo que ainda esteja cedo (cedo pra ela, que vai dormir quando o sol está acordando). Fechou os olhos e respirou fundo, tentando manter a calma. É só o sádico, não é? Ele está doente, ele não vai fazer nada. Não é?
É.
Em alguns minutos, ela podia sentir que ia dormir em qualquer segundo. Já se sentia feliz com esse fato quando sentiu uma mão gelada em sua cintura, debaixo da sua camiseta. Além de ter se assustado, seu corpo se arrepiou daquele ponto até a sua nuca. Arregalou os olhos surpresa e se perguntou se ele estava dormindo ou se ele fumou alguma droga pra achar que tinha essa intimidade com a ruiva. Virou sua cabeça lentamente, e olhou para Okita. Seus olhos continuavam fechados, seus lábios levemente rosados, entreabertos. Sua pele tinha uma cor mais viva, que deixou a Kagura mais aliviada. Pelo menos não é hoje que ele morre. A mão em sua cintura a apertou mais forte e desceu pra sua barriga, trazendo o corpo do loiro mais próximo do seu.

O ar faltava. Podia sentir seu corpo ficar mais quente e se perguntou repentinamente o que diabos deveria fazer. Se sentiu com 16 anos novamente, onde só de chegar perto de um menino era um perigo pra si mesma (alguns hematomas de tanto bater em algo distraída é um exemplo). Respirou fundo tentando se manter sã e em controle de si. É o sádico? É, mas só isso. Não pode se esquecer de todas as vezes que rolaram no chão de tanto brigarem ou te todas as vezes que despistou alguns crushs (aquele sentimento bobo que ela sentia por algum menino do parque, nada muito sério e durável). Sim. Ainda é o sádico. O mesmo sádico que a ajudou a procurar pelo Sadaharu na madrugada de um sábado, o mesmo que foi a perturbar no seu aniversário ( que ia passar sozinha porque seus amigos estavam trabalhando). O mesmo sádico, que depois de uma briga sempre verifica seus machucados (mesmo provocando pra mais uma briga). Nada de mais. É só o loiro de olhos vermelhos. Só isso. Só o loiro da pele macia e branca. Só isso. Só o loiro que sorri perto de crianças pestinhas. Só isso.

Respirou fundo de novo. Se contasse quantas vezes respirou fundo desde que acordou ela perderia a conta. Talvez ela devesse pensar nisso mesmo, assim poderia dormir. Ou ela pode continuar a observar o loiro. Balançou a cabeça negativamente. Não. Não vai o observar a noite toda.

Aproximou ainda mais o seu corpo ao do loiro e fechou os olhos calmamente. O cheiro do loiro não era nada de mais, nada como menta natural ou coisa do tipo, mas ela simplesmente amava o cheiro de desodorante masculino (tanto que tem um no guarda-roupas, de um cara que o esqueceu por ali e ela nem fez questão de devolver). Com os olhos fechados, contou quantas vezes respirou fundo desde que acordou e viu o loiro no seu quarto.


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Notas finais do capítulo

Então...O que acharam? Críticas construtivas? A história deveria ter sido postada no Halloween mas digamos que demorei muito pra escrever QUALQUER coisa. Ai estava chegando o Natal e resolvi escolher essa data mas passou da data e decidi deixar assim mesmo UHEUHEUHE Como eu disse, um pouco diferente do que eu escrevo e ainda tem mais um capítulo que não sei o que escrever. Sim, eu não sei. Ai você me pergunta "pow joyce, pq postou então?", digamos que eu acho que estou precisando de opiniões. NINGUÉM, QUE LÊ, DIZ O QUE PENSA FIQUEI COM MEDO E ASSUSTADA E COM VERGONHA E E E E POSTEI. Pronto, postei. Como senti falta de escrever!!! Não escrevia porque: comecei uma fanfic interativa de um boyband e porque eu não tinha ideias. Fiquei ainda mais rigorosa com o que eu escrevia e no fim eu desistia. Pois é.Eu espero mesmo que vocês tenham gostado do primeiro capítulo. Eu coloquei minha alma e corpo nessa fanfic. Mesmo.Mas, isso não significa que vocês não podem dar sua opinião. Na verdade, me ajudaria bastante. É isso, até o próximo capítulo, besus xx



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