Boa noite

Por naninhachan

O dia desperta sem grandes considerações com a noite que passei. Observo seu sono delicado e espero que se sinta melhor.

Odeio brigar com você, mas às vezes tornamos isso inevitável. Eu me excedo, você se irrita e discutimos seriamente. Expomos os defeitos uma da outra e ficamos encerradas em nós mesmas por horas. Você, na cozinha, bebendo e eu, na sala, ouvindo música.

Mesmo assim, você ainda deita ao meu lado. Suspira resignada e pede desculpas. Diz que não fez por querer, que me ama e quando acordamos tudo será apenas uma lembrança, uma nuvem passageira nesse amor imenso que partilhamos.

Eu fecho os olhos, ouço você chorar, murmuro um “boa noite” seco e me viro na cama.

Sua respiração é difícil porque segura o choro. Morde os lábios até a vermelhidão e deixa o travesseiro inundar com as lágrimas. Eu te amo mais ainda por isso.

Te amo por ser forte o suficiente para amargar a dor sozinha e não me fazer sofrer mais.

Amo porque sei que tudo vai passar, que as brigas são comuns em qualquer casal, não seriamos diferentes...

Te amo porque, mesmo magoada com meu silêncio, me deseja boa noite, diz que me ama muito e que não quer me perder, preferindo a morte à viver sem mim. Tudo isso no toque simples e doce dos seus dedos em minhas costas nuas.

Enrosca os dedos em meus cabelos, afunda os dedos em minha nuca com leveza achando que já estou dormindo.

Adoro esse seu carinho de culpa, de remorso. Me fortalece saber que eu não sou a única dependente de você. Sinto-me plena quando percebo que sente minha falta, que deseja meus abraços, meus lábios nos seus.

Movo-me levemente só pra te assustar e fazer recolher a mão do meu corpo. Sinto o arrepio quando seu indicador desce as costas e se deixar ficar em círculos na lombar. Meu corpo se contrai e sua mão espalma minhas costas, massageia meu ego e me deixa um beijo na orelha, brilhando sonhos em meus ouvidos.

“Te amo, Marcella”.

Meu sorriso é largo, você finge acreditar que eu durmo. Encosta o corpo quente ao meu e dorme. Humilde, simples e inteiramente minha.

Torno-me vigia do teu sono, amando estar ao seu lado e sentir seu perfume tão perto de mim. Acaricio seus cabelos, mordo sua orelha e beijo de leve o ombro. Sei que não vai mais acordar, seu sono é de pedra quando as dores te abandonam. E eu te adoro enquanto dorme, amante dos meus olhos, eterna mulher da minha vida. Sussurro em seu ouvido.

“Te amo também”.

Você sorri sem saber e se achega ao meu corpo. O encaixe perfeito de nós duas e o sono, enfim, toma-me em mais uma noite e me leva inteira para seus braços.

Em um dizer mudo, repito como um mantra até adormecer.

“Não quero mais brigar com você”

A paz é temporária, mas sei  que nosso amor vence sempre as nossas guerras, que o desejo aplaca a derrota e que num suspiro, pedimos desculpas uma à outra.

“Durma bem, querida”.

Você não me ouve dizer, mas sente.

“Boa noite”.

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Publicada em 05 de fevereiro de 2010