Morcegos em Baker Street escrita por Jack Rodrigues


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

A numeração dentro do capítulo serve meramente para orientação.



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I

Batman observava do topo de um motel abandonado, à beira de uma estrada pouco tripulada. “O lugar perfeito!” Pensou consigo. Olhando á sua volta, e com a ajuda do clarão de um raio que acabara de cair, ele percebeu algumas partes quebradas no telhado. Um com lugar para servir de entrada. Sua capa era levada pelo vento forte para todas as direções. Usando o gancho, o morcego pôde descer sorrateiramente pelo pequeno buraco no teto. Estava muito escuro, e os trovões encenavam uma verdadeira guerra no céu dos arredores da velha Londres. Batman sentiu aquele calor no peito, lembrando-se da desgastada Gotham.

Finalmente, após tantos anos, havia encontrado respostas concretas sobre o assassinato de seus pais. Pelo menos era o que achava, já que não havia descartado a possibilidade de, naquele dia, ter acontecido um simples assalto seguido de assassinato, e que tudo que havia descoberto até agora seria para desviar sua atenção do que realmente estava acontecendo com a cidade.

Como eu pensei.

Batman olhou para o breu à sua volta, usando a visão noturna da sua máscara, identificou um corpo.

Pelas corujas de Gotham! Mais mortes de hotéis de beira de estrada!

Com um click, o cabo que o sustentava se desprendeu de seu cinto e Batman pousou no assoalho quadriculado do estreito corredor que levava ao quarto. Uma cômoda, uma cama e um armário pareciam preencher o lugar suficientemente e, é claro, o cadáver. Precisaria de luz de verdade para examiná-lo, antes que fizesse a ronda pelo resto do cômodo apertado.

II

— Watson, não discuta comigo. Você precisa seriamente rever seus conceitos sobre mim. Não é fácil entender que não dou com o pé atrás quando decido investigar sozinho? Você parece tenso Watson, tem algo errado? – Holmes fitou Watson com “aquela cara”.

— Não olha pra mim desse jeito! Você sabe que não gosto que olhe pra mim desse jeito.

— Desse jeito como?

— Desse jeito! – Watson aponta para um espelhinho na parede gasta do apartamentinho.

— Ora, Watson, essa é minha cara.

— A cara que você faz quando sabe de algo e acha que sei também --

— Mas sabe!

— Não! Não sei, eu nunca sei. Pode me explicar o que está acontecendo?

— Crimes, Watson. Assassinatos, roubos. Preciso investiga-los... – diz Sherlock, balançando os braços no ar cada vez mais rápido - Sozinho. Hoje. Por favor.

O dia começara agitado no pequeno 221B. A senhora Hudson já havia se acostumado com a gritaria.

Holmes, vendo o rosto contrariado de John, decidiu falar mais um pouco sobre o porquê de querer tanto investigar sozinho naquele dia.

— Suponho que já tenha ouvido falar da família Wayne...

— Hm, Sim – Watson limpou a garganta – grande empresa, uma cidade sombria, fabricam armas como maioria dos seus produtos não?

— Quando perguntei se você havia apenas ouvido falar eu não achei que tinha ouvido falar tão pouco! Leu isso? Jornal? Tem muito mais. Há muitos anos, os pais de um garoto foram assassinados, quando saíam de um show de ópera, ou cinema, algum local obscuro com porta dos fundos para uma ruazinha suja futuramente chamada de beco do crime.

“Os pais do garoto em questão, Watson, eram o rei e a rainha de Gotham. O Senhor e a Sr.ª Wayne. Eu era um moleque na época, mas a notícia rodou o mundo e eu fiquei muito interessado. Mantive minhas pesquisas em sigilo e trabalhei nelas ao longo dos anos, e por último, enquanto você dormia até tarde, ou quando saia com aquela sua parceira de fornicação, e eu tinha de ficar só aqui com a Sr.ª Hudson.”

“Pois bem, Watson! Tire o dia de folga. Eu encontrei fortes pistas que podem provar que o acontecimento que marcou a vida daquele pobre garoto de 11 aninhos, não foi um simples crime. Tudo fez parte de uma conspiração! Uma conspiração que procurava manter em sigilo o desvio de dinheiro dos bancos de Gotham e o financiamento dos cargos políticos e de seus ocupantes!”

— Então... Não quer minha ajuda, é isso? Quer todo o crédito?

— Vou sozinho. – Holmes pegou seu casaco que estava jogado sobre a poltrona, um guarda-chuva e desceu as escadas com passos fortes.

— Espere aí! A chuva está muito forte! – Watson gritou e Sherlock parou no meio dos degraus.

— Esse garoto já esperou demais, Watson. Não será um mero gotejo que me privará de desenterrar a verdade - SENHORA HUDSON! – Homes virou-se para baixo e soltou um grito estridente. – Traga um chá para o Watson.

Então, ele se virou para a porta da frente com as golas do casaco levantadas e um pequeno sorriso no canto dos lábios. Enquanto destrancava a porta, ficou paralisado por alguns segundos. Watson, que descia as escadas, observou-o.

— Pensando bem, Watson, esse caso é muito perigoso e possui segredos mortais a serem descobertos.

— Eu já entendi que você não me quer por perto.

— Isso foi um convite, Watson! Pegue seu paletó.

III

Batman estava curvado perante o corpo abandonado. Perguntava agora a si mesmo se todas as pistas que o levaram até lá seriam falsas.

Eu perdi a cabeça! E não deveria ter feito isso!

Ele lançou uma cadeira de madeira na parede com um soco em uma explosão de fúria, cortando o silêncio do casarão abandonado, e fazendo as pobres almas noturnas se manifestarem na escuridão. O morto o fitava palidamente do assoalho de madeira, ambos apodrecendo.

O morcego acendeu duas pequenas lanternas acopladas em sua máscara, que se projetaram assim que ele tocou um botão em seu cinto de utilidades. A luz clara possibilitava que ele visualizasse melhor o lugar, desde que não desejasse ver muito longe. Abaixou-se. Várias larvas se apoderavam do corpo, mas, em maioria, pequenos casulos.

Moscas. Como não amá-las?

Batman ativou o rádio, levou o pulso perto da boca e chamou por Alfred.

Alfred. Há vários casulos aqui, suponho que o indivíduo tenha morrido há...

“Há aproximadamente oito dias, senhor?”

Como você!?

Google, Patrão Bruce. As moscas de caixão possuem um ciclo de vida notável, pelo que pude perceber com minhas pesquisas. Pois então, levam ao menos oito dias para se formarem casulos, o seu novo amigo, se me permite, está morto há mais de uma semana, patrão.”

Não me dou ao luxo de ter amigos, Alfred.

“Certamente, patrão”

Alfred abafa uma pequena risada e desliga.

Batman é só uma sombra no cômodo, uma sombra de onde brota uma luz fraca, uma sobra que ilumina um frio cadáver. Ele tira do cinto um pequeno pote com um cotonete acoplado à tampa, e colhe uma amostra das secreções do defunto.

Enquanto se levantava, preparando-se para começar a vasculhar à sua volta, Batman ouviu a fechadura da porta. Cliques e estalos. Alguém estava entrando, mas não usando uma chave. Cobriu-se com a capa e deslizou para o canto mais escuro do quarto. Apenas seus olhos refletiam alguma luz agora. A porta abriu com um estalo maior, e uma sombra magra e alta se projetou na luz de fundo.

A sombra bateu a mão no interruptor e Batman se revelou abaixado atrás de uma mesinha.

— Santo Deus, hoje é halloween? - Exclamou o homem. Com um cabelo bagunçado e um forte sotaque inglês. Este bateu as mãos no casaco, depois as colocou nos bolsos, semicerrando os olhos. – O que diabos está acontecendo aqui?

Batman, em um movimento só avançou de pé para frente do homem, que com um olhar destemido o encarou, frente a frente.

Quem é você?

— Eu sou aquele que prefere usar o interruptor. – disse o homem alto apontando para a abertura da máscara de Batman, onde se localizavam as lanternas.

Eu quero um nome!

Holmes, senhor. Sherlock. Holmes. – Estendeu a mão ao morcego, que pareceu incrédulo. – Você também está aqui há oito dias?

O quê? Diz Batman acordando do seu sono de “eu não sei o que está havendo aqui”.

— Você, e seu amigo morto ali. Estão os dois juntos há oito dias? Qual é a dessa... – Sherlock olhou Batman de cima a baixo fazendo um gesto, procurando a palavra que descrevesse... – fantasia?

Isso não é uma fantasia.

IV

Watson esperava na entrada do hotel. À luz da lua o lugar parecia assombrado pelas mais horrendas criaturas do além. Janelas abertas no piso de cima rangiam com o soprar do vento como almas clamando por misericórdia, as cortinas balançavam até mesmo com um mínimo sopro. Ele olhou no relógio, impaciente.

Um raio serpenteou em meio ao céu noturno, carregado com nuvens acinzentadas, e um trovão alto e repentino fez com que Watson se assustasse. Ele decidiu entrar.

— Então ele acha que pode ficar com a ação. Quis que eu viesse certamente para não ter de pagar o táxi. “Fique aqui, enquanto vejo o que está havendo” Hum. – Watson foi murmurando, entrando pelas portas arrombadas por Sherlock. Estava aprendendo a arte de abrir fechaduras também, mas nunca obteria tamanha precisão para realizar tal feito como seu colega de apartamento.

***

— Sou um detetive consultor a serviço da Scotland Yard. Melhor, “o” detetive consultor, já que, até onde sei, sou o único que presta esse tipo de serviço.

Batman o observava pronto para reagir a qualquer ataque, mas o homem não parecia hostil, apesar de parecer possuir um alto nível de açúcar no sangue, o que justificaria ele não parar de se mover, falar tanto e gesticular compulsivamente.

O que faz aqui?

— Meu país, minhas perguntas, Cruzado Encapuzado. Ou deveria chama-lo de morcego gigante, mais conhecido como Batman? São muitos nomes que você vem ganhando com os anos. O Cavaleiro das Trevas pode ter tido seus anos de glória, mas, aqui em Londres, os grandes feitos ocorreram graças a mim. – Sherlock assume uma postura seria e encara a sombra à sua frente. – Então eu pergunto: o que faz aqui, Batman? – ou, melhor dizendo, Bruce Wayne.

Batman arregalou os olhos.

Um calafrio subiu sua espinha paralisando-o, estava incrédulo pela segunda vez naquela noite.

Fui surpreendido duas vezes na mesma noite.

Batman, agora uma sombra gigantesca sobre o homem, apertou os punhos. Um trovão perturbador cortou novamente o silêncio do lugar, seguido de um clarão que revelou o começo de um sorriso no rosto da criatura negra.

Sinto que devo perguntar como o senhor descobriu...

Bem, geralmente é mais fácil deduzir do que explicar como chego às conclusões. Sabe, são várias... Etapas.

Acho que tenho muito tempo.

— Aquela cidade é um caos, sabia? Gotham. Nossa. Quase posso jurar que ela nem existe... Foge do padrão de cidade corrupta e violenta de uma maneira tão absurda, tão livre, que cada lenda contada sobre ela parece tão real, quanto insignificante para nossa realidade.

Sem rodeios.

— Ora essa, qualquer garoto que tenha os pais assassinados jura vingança. E você... – acenou para o Batman olhando de cima abaixo – O morcego apareceu num momento oportuno demais e, segundo meus estudos, Bruce Wayne já teria idade suficiente para ter aprendido todos aqueles golpes rápidos, violentos e mortais... IÁ! – Sherlock deu um soco forte no ar. – Já vi você dando entrevistas. Essa dicção horrível que você faz seu personagem ter não ajuda muito no disfarce quando você dá de cara com alguém inteligente de verdade e... Esse seu queixo. Tsc, tsc.

“Sei que você adora ser teatral, dá pra ver pela insistência em gastos monstruosos com obras de arte da tecnologia atual. Pena que tudo que entra e sai daquela empresa que você, por acaso comanda, é listado e... Se você conseguir falar com as pessoas certas... Voilà!” – Sherlock abre os braços, como num movimento de triunfo. “É só ligar os pontinhos, só você, o próprio dono, pode-se assim dizer, é capaz de movimentar tanto dinheiro comprando as engenhocas que o professor-bugiganga-morcego-gigante aparece usando toda noite.”

“O que me incomoda é o fato de você precisar se esconder pra fazer isso, como se a criança ainda estivesse aí, com medo de sair pra brincar!”

Já chega!

Batman o acerta. Watson aparece na portinha e fita Sherlock prostrado frente à assombrosa criatura e, se vira para o morto.

Corra.

Batman rosna. Watson desaparece pelos corredores.


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Notas finais do capítulo

:D



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