You're not a illusion to me

Você pode me arramar em cadeias

Você pode jogar a chave fora

Mas não há portas presas em que

Eu não vou embora

Você é a verdade que eu não consigo explicar

Você é a única que eu vejo

Não é uma ilusão para mim

Oliver Queen pendia na escuridão. A cada segundo, se é que ele podia contar as horas onde ele estava, sentia que estava sendo sugado para algo além daquela escuridão. Estava sendo tragado para inconsciência eterna.

Engraçado... tantas vezes escapara da morte, para morrer daquele jeito, com uma espada atravessada no corpo. Podia sentir, mesmo na escuridão, onde Ra's Al Ghul o havia ferido mortalmente. Oliver não tinha ideia do porque ainda o sentia.

Não saberia dizer por quanto tempo ficara ali, sentindo que estava se perdendo naquela vastidão de nada. Tentava ficar acordado, mas não conseguia manter-se de olhos abertos — mesmo sem nada enxergar —, tentava agarrar-se a algo, mas não havia nada ali para se segurar. Então, a única coisa que Oliver Queen podia fazer, era render-se. Entregar-se. E, então, ele poderia finalmente descansar.

Descansar... palavra irônica para a Morte. Mas essa era uma ideia atraente. Desistir e parar a dor, que ele ainda sentia por estar na escuridão. Se ele se entregasse... tudo acabaria. Tudo o que ele havia lutado, teria acabado. Poderia finalmente ver seus pais e Shado novamente. Poderia livrar-se da culpa que o assolava quando via seu fantasma. Oliver vivera uma parte de sua nova vida como Arqueiro sabendo que esse dia, mais cedo ou mais tarde, viria. Era só uma questão de tempo.

Dizem que, quando se está prestes a morrer, você vê sua vida passar pelos seus olhos. E Oliver viu. Viu a todos que amava e a viu. Sua última visão de Felicity. Sua Felicity. Nunca havia tido tanta certeza em vida ao amar alguém. Tentou em afinco se fixar em sua última lembrança sobre ela, mas não conseguia mais. Ele precisava soltá-la, para que pudesse seguir em frente. A escuridão queria que ele soltasse. Queria que ele fosse embora e deixasse tudo para trás.

Então Oliver realmente se soltou. Porque ele queria acabar com aquilo. Esperar que a escuridão o levasse lentamente... não, ele queria rapidez para não continuar a sofrer por aqueles que ainda esperavam seu retorno.

Entretanto, ele ouviu. Não era o sussurro da morte, tampouco era de seu pai. Oliver resistiu. Lutou para voltar e ouvir aquela voz; precisava entender o que ela estava lhe dizendo. Ele se concentrou e a ouviu outra vez, mais intensificada, como se estivesse ali, ao seu lado.

Oliver virou o rosto.

— Você disse que voltaria — disse Felicity com a voz pastosa. — Disse que voltaria. Prometeu que voltaria.

Oliver estava estupefato. Não era para ela estar ali, certo? Não tão nítida e palpável. Não tão... real.

— Hey, eu tentei — respondeu Oliver, mas Felicity balançou a cabeça e ele suspirou. — Você não é real.

— Sou tão real quanto você, Oliver — Felicity devolveu e Oliver quase acreditou que era mesmo ela. — Eu acredito em você. Você tem que voltar. Diggle precisa de você. Roy precisa de você. Thea e Starling City precisam de você — ela fez uma pausa. — Eu preciso de você.

— Não posso lhe dar o que precisa. — Oliver desviou o olhar. Era pior do que enfrentar a realidade. — Preciso ir. Preciso deixá-la.

Felicity chegou mais perto dele e tocou seu braço. O choque de senti-la ali, no meio do limbo, fora imenso. Era como se ela estivesse mesmo ali, tão bonita e Felicity como sempre fora.

— Eu pareço ser uma ilusão para você me deixar? — perguntou ela, com fé. — Eu não consigo, não posso, acreditar que esteja desistindo assim. E tudo o que você fez?

— Haverá outros que poderão fazer o que eu fiz. — Respondeu ele e Felicity pareceu se irritar, fazendo Oliver perceber que ela realmente ficava bonita brava. Quase sorriu.

— Você não entende? Eu estou realmente irritada agora. — Ela usou as palavras que havia dito quando ele estava vivo. Quando ele acreditara e voltara vivo para ela, mesmo sem saber na época. — Eu acredito em você. Então nem ouse deixar tudo e ir embora. Você disse que voltaria. E eu quero ver isso acontecer.

— Por quê? Tudo será mais fácil se eu for... por que quer que eu fique?

— Você não vê? — Felicity fungou, olhando-o sobre os óculos. Oliver não respondeu. — Eu amo você, Oliver. E eu preciso dizer isso quando você voltar. Tenho que dizer.

Oliver permaneceu em silêncio, apenas a olhou, protelando sua ida. Apenas ela poderia ter poder para tanto, para fazê-lo hesitar. Mas ele poderia acreditar naquilo? Ela não estava ali de verdade. Nem ele, para falar a verdade. Era o resquício de consciência dele que a projetava em sua cabeça. Oliver já estava morto na hora em que parou de sentir frio.

Ele desviou o olhar do penetrante de Felicity. Ele precisava ir.

— Desculpe, Felicity. Mas isso... eu já estou morto.

— Mas não para mim, Oliver! — ela exclamou. — É melhor não ir. Eu estou aqui, eu estou lá. E sempre estarei por você. Não pode simplesmente ir! Quero dizer, sempre soube que era cabeça dura, mas nem tanto. Ainda há uma chance.

Felicity se aproximou outra vez e o olhou bem nos olhos. Oliver sentia que ela o olhava profundamente, vendo-o de verdade.

Ela encostou os lábios nos dele. E ele pôde realmente sentir a suave pressão do contato, como se Felicity estivesse todo esse tempo com ele.

— Pareço uma ilusão agora? — ela sussurrou ao separar os lábios dos dele.

Oliver engoliu em seco. Não, ela não lhe parecia uma ilusão. Mas, ainda assim, havia uma parte dele que queria não sentir mais nada. Nada. Apenas não existir... ele já havia sofrido tanto! Era errado não querer voltar?

Olhou para Felicity e viu que ela esperava uma resposta. Viu também tudo o que poderia ter com ela. Viu o que poderia acontecer se não a visse mais. Se esquecer dela? Como era isso? Como era não vê-la outra vez?

Ele sentiu algo puxá-lo. Felicity ainda estava parada, olhando-o. Seria ela puxando de volta? Era Felicity que o deixava mais forte para resistir sem querer. Era Felicity que o motivava a ficar. Era Felicity que realmente importava, no final das contas.

— Se eu não desistir, lembrarei deste momento? — perguntou ele e Felicity deu seu sorriso tímido.

— Claro que não. Mas eu não lhe disse que eu estaria lá? E aqui também? — Ela tocou o lado esquerdo do peito de Oliver. — É só voltar, Oliver. Só o que vai importar é você voltar.

— Eu acredito — disse ele. — Eu vou voltar. Por você. Por todos.

— Então lute! E não hesite no que precisar fazer. — Felicity sorriu. — Eu estarei lhe esperando, provavelmente atrás de um computador. Mas ainda lhe esperando.

Oliver continuou a sorrir, quando sentiu outra vez algo o puxar da escuridão. Ele sentia como se algo o arrastasse pelo braço, para cima, para longe de Felicity.

Sabia que não estava morrendo. Morrer era diferente. Ele estava voltando mais uma vez dos mortos. Ele estava voltando para a vida que quase lhe fora arrancada. E Felicity ainda lhe sorria.

— Obrigado — agradeceu Oliver e Felicity assentiu. Outro puxão. Oliver voltou-se para ela mais uma vez, puxando seu corpo para perto do dele. Eles se olharam por algum tempo, que Oliver nem queria contar mais, e Oliver beijou a testa de Felicity. — Não. Você não é e nunca poderá ser uma ilusão para mim, Felicity Smoak.

Ela sorriu, ainda sentindo a pressão dos lábios finos dele em sua testa.

— Agora volte, Oliver — sussurrou Felicity e Oliver foi afastado dela bruscamente, sendo levado para outro lugar. Um lugar onde ele sabia que Felicity também estaria.

*****

Oliver sentiu o ar voltar para os seus pulmões com força. E, então, abriu os olhos. A primeira coisa que sentiu foi a sensação de algo faltando; em seguida, o frio e, depois, o teto de madeira de o que parecia ser uma cabana.

Levantou a cabeça, à procura de alguém. Ele havia morrido, não? Então ele viu. Não quem esperava. Nem de perto.

— Tatsu. — Oliver disse, surpreso, parecendo precisar dizer aquilo em voz alta. — O que está fazendo aqui?

— Eu a chamei. — Oliver ouviu outra vez uma voz conhecida e que ele não esperava nunca mais ouvir. — Para ressuscitá-lo — acrescentou Maseo.

— Olá, Oliver — disse Tatsu, fazendo com que Oliver retornasse a deitar.

Ele realmente voltara e sentia que não havia sido somente Tatsu que o ajudara a voltar.