A Doçura Nunca Durou escrita por Enchantriz


Capítulo 5
Capitulo 04: O Começo de Uma Nova Amizade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/588706/chapter/5

Fogo. O cheiro de queimado e a fumaça impregnavam o nariz quando recobrou a consciência. Zed abriu os olhos fitando o teto em chamas, rapidamente levantou-se em um pulo lembrando o ocorrido.

– Essa não! – correu pela casa a procura da pequena garota. – Syndra! – berrou pelos corredores ao sair abrindo as portas. – Syndra! Cadê você?! Syndra!!! – gritava com toda a força que tinha em seus pulmões.

O teto caiu a poucos metros atrás de Zed que conseguiu correr até a janela e pular. A casa começou a desmoronar sendo tomada pelo forte fogo. Desesperado, ele rodeou a casa a procura de algum sinal quando viu perto de uma poça de lama a grama verde manchada de sangue junto com uma espada.

– ...eu a matei. – ajoelhou-se aterrorizado colocando as mãos na cabeça, passando os dedos no cabelo negro. Fechou os olhos com força. – Eu a matei... – repetiu inconformado, seus olhos rubis encheram-se de lagrimas, mas passou a mão antes que escorressem pelo rosto sujo, olhando para as mãos tremulas com o sangue de sua testa. – E-eu... – gaguejou sem coragem. – Eu não pude protegê-la, me desculpe senhor... – disse em um sussurro ao abaixar a cabeça no chão inconformado. – ...me perdoa, eu falhei. – socou o chão enraivecido, cravando os dedos na terra. – Eu devia saber desde o começo, que não posso ser aceito por ninguém, porque aquela idiota tinha que aparecer na minha frente!? Era só pra provar isso!? Merda!!! – resmungou para si mesmo com desgosto, sentindo o coração bater apertado. – Porcaria de olhos! Porque é que eu fui nascer nessa droga de mundo!? – berrou levantando a cabeça com os olhos encobertos de raiva ao ver a vila à frente.

O ódio pulsava forte pelas veias do garoto, tão forte quanto o seu coração. Tudo o que mais desejava era ir até aquela vila e fazer com que todos sofressem amargamente por tudo que o fizeram, mas sabia que não conseguiria nada indo até lá devido à quantidade de pessoas que o impediriam e logo o matariam também. Então, ele levantou com a cabeça erguida, apertando as mãos em punho.

– Um dia, eu me vingarei... – voltou a olhar para os estilhaços da casa ainda em chamas. – Eu me vingarei por tudo. – jurou ao fogo ardente ouvindo ao longe os gritos desesperados dos aldeões, mas não se deu ao trabalho de olhar para trás, apenas seguiu seu caminho em direção a floresta.

Um ano se passou, Zed vagava com a cabeça erguida, os olhos enfurecidos amedrontavam a todos por onde passava. Havia fechado sua mente e seu coração para o mundo a sua volta, apenas o ódio o predominava. Sem um objetivo para alcançar, apenas caminhou, caminhou, e caminhou... até que, embaixo de uma forte chuva chegou em um enorme templo rodeado por belas cerejeiras onde um velho em boa forma o observava em frente aos portões vermelhos cheios de detalhes em dourado.

– Estava te esperando. Foi uma longa viagem, não? – ouviu a voz grave e rouca do adulto.

– Porque esta interessado em mim, velho? – perguntou indiferente.

– Porque eu sei o seu destino. Me diga, o que você procura, minha criança?

– Poder. – respondeu com firmeza, os olhos tão frios quanto o de um assassino.

– Vejo odeio em seu coração. Porque quer ficar mais forte?

– Existe alguém que eu quero proteger.

O velho sorriu gentil, vendo ali naquele jovem o desespero em busca da felicidade e de um lar.

– Entre. – voltou a falar abrindo passagem. – Você agora será um de meus filhos. Seja bem vindo a sua casa, minha criança. Seja bem vindo, ao Kinkou. – viu atrás do homem vários alunos treinando seriamente as artes marciais ninjas.

Fascinado pelo local, pela primeira vez em meses Zed pode ver um objetivo em sua vida, uma oportunidade de crescer e ficar tão forte o quanto. O velho logo lhe mostrou todo o templo, deixando cada vez mais o garoto encantado pela beleza do local e pelas lutas. Era um paraíso!

– Ah! Este é meu filho, Shen. – apresentou o menino de lisos cabelos castanhos claros e fortes olhos dourados como o ouro. – Ele irá lhe ajudar. Vocês ficarão no mesmo quarto, espero que se dêem bem. – sorriu antes de sair deixando os dois garotos a sós.

– Então... – iniciou o filho do mestre. – Qual é o seu nome?

Zed não respondeu deixando o garoto emburrado.

– Tudo bem. Se não quiser falar, não fale então! Não é como se eu quisesse saber mesmo... – deu de ombros.

Os garotos caminharam por um grande corredor de portas corrediças vermelhas, mas entraram somente na ultima porta. O quarto era espaçoso com dois futon no chão e grandes prateleiras com livros.

– Você ficará aqui! – Shen apontou para o lado da janela enquanto pegava no pequeno armário um traje preto. – Acho que esse aqui vai servir em você. – jogou as roupas para Zed que as pegou. – Se arrume, vou lhe mostrar o que fazemos por aqui... – disse antes de dar as costas.

– Zed.

– O que disse?

– Meu nome é Zed. – respondeu.

Shen piscou os olhos surpreso.

– Éh... Acho que seremos bons amigos, Zed. – sorriu empolgado.

Embora Zed não falasse muito, ele passava todo o tempo ao lado de Shen, o ajudando ou simplesmente pela companhia do garoto. Passaram a treinar juntos pelo mestre, ambos aperfeiçoando suas técnicas e hora ou outra brigando no meio do treinamento.

– Não imaginei que esses dois fossem ser tão ativos. – suspirou o velho massageando as têmporas ao ver a bagunça que os dois faziam ao correrem pelo corredor se estapeando. – Parem já com isso vocês dois! – pegou os meninos pela gola do kimono. – O que deu em vocês agora?!

– Foi ele quem começou dizendo que é mais rápido que eu! – vociferou Shen tentando agarrar Zed que o tentava chutá-lo.

– Mas eu sou mais rápido que você. – disse convencido. – Você é muito mole, Shen. – sorriu de canto, o provocando.

– Ora seu...! – soltou-se da mão de seu pai e voou em cima de seu amigo o socando o rosto ao mesmo tempo em que Zed socou-lhe o estomago.

– Ah, eu desisto! – o velho deu de ombros rindo baixo.

Apesar das constantes brigas, havia momentos de paz entre eles onde discutiam sobre as técnicas ninjas, e mais tarde com a chegada de dois novos amigos: Akali e Kennen, as tardes passaram a ser mais tranqüilas e divertidas. Akali a garota prodígio não desgrudava de Shen que assim como Zed ele dedicou sua atenção, mas o pequeno garoto Kennen era quem separava a briga dos dois mais velhos quando começavam a implicar com o outro.

– Porque não diz logo a ela o que sente? – perguntou Zed sendo direto, apoiado em uma pilastra com os braços cruzados.

– O-o que!? – Shen gelou com as palavras repentinas. – Você esta enxergando demais... – tentou disfarçar o nervosismo.

– Você é péssimo mentindo, Shen! – comentou Kennen dando uma risadinha, se divertindo com a situação.

– Até você!? – berrou ele sem gostar da situação. – Já cega dessa conversa! Há muita coisa para fazer por aqui, eu não tenho tempo para isso--

– Para isso o que? – o filho do mestre estremeceu ao ouvir a voz de sua amiga Akali atrás de si.

– Nada! – respondeu rápido. – Sabe como é, o Zed sempre enche o saco quando perde uma luta. – mentiu fazendo o colega revirar os olhos.

– Entendo... Bom, se precisar de ajudar em algo, é só chamar. Você não precisa se esforçar tanto. – sorriu antes de passar pelos meninos.

– Akali? – chamou antes de perdê-la de vista.

– Sim? – a morena lhe direcionou os belos olhos verdes.

– Na verdade, – iniciou caminhando até a garota. – acho que preciso da sua ajuda no dojo. Esta realmente uma bagunça.

Zed e Kennen bateram as palmas das mãos sorrindo vitoriosos, vendo o casal se afastar conversando sorrindo. Tudo estava indo bem, até que em uma noite, Shen trouxe uma noticia.

– Ei, Zed. Você soube? Estão dizendo por ai que uma maga poderosa chamada Soberana Sombria fez todos de uma vila refém do seu poder, – contou impressionado. – e ela conseguiu acabar com uma legião inteira de soldados! Isso não é assustador?!

– Aquela vila merece isso pelo que fez. – disse normalmente, desinteressado.

– Você ainda guarda rancor, não?

– Já disse que não quero falar sobre isso. Os ionianos me deixam com raiva.

Depois de Syndra, Shen era o mais próximo de um amigo que Zed poderia ter. Estranhamente, confiava e gostava da presença do garoto que sempre lhe olhava gentil ao mesmo tempo em que o queria desafiar. Shen era calmo e com um grande coração, sua bondade de alguma forma era o que atraia Zed.

– Eu sou um Ioniano. – Shen cruzou os braços encarando o moreno.

– Você é diferente. – sorriu bagunçando os cabelos claros do amigo. – Você é metade ioniano e metade imbecil.

– Ah para de ser um pé no saco! – prendeu Zed com uma chave de pescoço.

– Me larga! – disse mau humor, revidando.

Mais tarde naquela noite ao adormecer, Zed reviveu em sonho o que o levou ali.

– Syndra! – berrava ele correndo pelos corredores do templo em chamas quando abriu uma das portas engolindo em seco ao ver o corpo da garota no chão com uma espada em seu peito, os olhos sem vida o fitando em meio aos fios do cabelo branco manchado de vermelho. – Ei, Syndra? – chamou se aproximando com os olhos aterrorizados. – Syndra! – se agachou ao lado do corpo a chacoalhando inutilmente em meio as lagrimas.

– Zed acorda! – Shen berrou acordando o amigo aos murros.

– Syndra!!! – berrou ao levantar ofegante.

– Ei, você esta bem? – perguntou preocupado.

O moreno respirou fundo tentando se recuperar do susto.

– Eu estou bem, não se preocupe. Estou bem. – repetiu passando as mãos no rosto.

– Quem é Syndra?

– Ninguém importante. Apenas um sonho idiota. – respondeu rápido. – Volte a dormir.

– Certo, você não me convenceu. – o olhou desconfiado. – O que aconteceu? Você esta estranho desde cedo...

Zed ficou em silencio por alguns instantes antes de abaixar a cabeça e dizer:

– ...eu matei uma pessoa naquela vila. – Shen arregalou os olhos surpreso, sem acreditar nas palavras. – O pai dela me pediu para protegê-la, mas foi tudo tão rápido que quando eu vi, ela não estava mais lá... Ela me salvou duas vezes e eu não consegui protegê-la se quer uma vez. – olhou diretamente nos olhos dourados de Shen. – Eu durmo e acordo ouvindo os gritos dela em minha cabeça. Você sabe o quanto isso é um saco?! – disse irritado. – Você não sabe o quanto é ruim ser fraco! Se os ionianos daquela vila não fossem tão egoístas eu não teria a perdido! Eu os vi matarem seus pais na frente dela como se fossem nada!

– Isso não é verdade... – tentou acalmá-lo. – Eles não fariam isso se n--

– Não é verdade!? – vociferou o interrompendo. – Veja meu rosto! – tocou em sua cicatriz no olho esquerdo. – Eu sou órfão! Meus pais me jogaram assim que souberam que nasci amaldiçoado e todos os Ionianos me acham uma aberração! – levantou enfurecido. – São todos hipócritas com sua sabedoria de equilíbrio! Equilíbrio só leva a fraqueza, e fraqueza só leva a derrota! – deu as costas ao sair do quarto.

– Zed! – chamou Shen sendo ignorado. – Ei, Zed! Para onde você vai?! – o seguiu. – Zed!? Me escuta! – segurou o braço do amigo.

– Me deixe em paz, Shen, preciso ficar sozinho. – disse ao se soltar das mãos do garoto sem olhar para trás.

Shen observou Zed sumir pela escuridão da noite, sabia que ele precisava de um tempo, porém, temia pela raiva que o apoderava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Doçura Nunca Durou" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.