Tudo começou rápido demais. O nervosismo de se apresentar na frente de todos. O medo de não ser aceito.

– Meu nome é Gandalf, - disse o garoto para a nova escola - eu tenho 5 anos e, quando crescer, quero ser um mago, para curar a doença e a morte do mundo.

Todos riram.

– Gandalf?! Que nome cômico para um estranho!

– Magos não existem!

– Onde há seres vivos, há doença. Onde há doença, há morte! - diziam todos, ainda rindo.

Apenas uma pessoa não riu.

***

– Por que seu nome é Gandalf? - Era hora do recreio.

– Minha mãe é professora de história. Ela disse que meus pais se conheceram em uma exposição no museu sobre mitologia nórdica. Gandalf veio das junções da palavra "varinha", que é gandr e álfr, que significa "elfo". O nome era de um anão.

– Anões e elfos! Legal. Eu tenho uma língua própria, que é a língua dos elfos. Vou começar a te chamar de Mithrandir!

– O que significa?

– O viajante cinzento.

– Por que cinzento?

– Porque você está triste que ninguém gostou de você.

– Então por que você está aqui?

Os meninos riram.

– A propósito, - disse Gandalf - qual é o seu nome?

– John Ronald Reuel T.

– T.?

– Sim. T. por mera e simples ironia.

– Ironia por quê?

– Todos me chamam de J. R. R. Tolkien.

***

– Sabe, Mithrandir - disse Tolkien, no momento em que os garotos apreciavam a velha Cannabis (¹) - eu estou criando uma história. Lembra que Gandalf significa elfo e o nome veio de um anão?

– Sim?

– É uma história de amizade, de um anão e de um elfo, que se aventuram e brigam por quem matou mais monstros.

– E como eles se chamam? - Tolkien pensou, e olhou para a droga.

– Legolas! Veio da língua dos elfos.

– E o que significa?

– Folha verde! - os adolescentes riram. - Estava pensando em algo rival de planta para o anão. Como é fogo, na língua nórdica?

– Gimli.

***

– Ano que vem entraremos para a faculdade, e você ainda não escolheu no que vai estudar?! - Os ouvidos de Gandalf doíam com o sermão do amigo.

– Eu... sempre quis ser um mago.

– Ah, claro. Porque no futuro, teremos escola de magias e bruxarias com um chapéu falante que fala "você é corajoso como um leão", "você é sagaz como um corvo", "você é vaidoso como uma serpente", "você é bondoso como um... texugo", e estas coisas de bruxos.

– Por que não?! É mais interessante do que a história de um leão falante que você criou para aquele seu amigo Lewis. A propósito, por que um leão como coragem? O seu amor por leões é tão grande a ponto de--

– Ok! Vamos criar algo mais interessante que significa coragem. Coragem é você ser tão pequeno neste mundo tão grande. Viver em baixo da terra, em uma toca. Isto é coragem!

– Ah, certo. E o que vive nesta toca no chão?

– Um... um hobbit!

– "Hobbit"?! Você está inventando coisas.

– Pelo amor de Deus, Gandalf, estou! Eu vou fazer letras! Eu vou ensinar inglês e escrever livros, e, como futuro escritor, esta é a minha função! Inventar e coisas!

– Então por que você não inventa logo uma escola de magos que me deixa curar doenças e morte?

– Porque eu-- espera. Curar doenças, evitar morte?! É isso o que você disse? - Com um sotaque inglês e um clássico "bloody hell", Tolkien riu - Isso não é a definição de ser médico?

– Bom... sim! É isso! Vou estudar medicina. Mas quero ajudar mais... ajudar mentalmente as pessoas... quero fazer outro curso... para ajudar mentalmente e espiritualmente.

– Teologia para virar padre?

– Por Deus, Tolkien, não! Psicologia!

***

– Doutor Gandalf? - disse a voz materna acompanhada de um menino de 3 anos.

– Sim, senhora Baggins?