Prólogo

Aquilo que amamos sempre será uma parte de nós.

– Sakura Haruno.

Sorriu, de forma silenciosa e singela enquanto apreciava os últimos raios do sol que reluziam pelo cômodo branco através do vaso de flores recém trocadas. Achava tão bonito aquele tom laranja que se espalhava lhe fazendo lembrar-se de seu melhor amigo, Naruto, e apenas por lembrar-se do loiro sorridente o sorriso da mulher tornara-se triste. Há quanto tempo não via o Uzumaki, ou a atual esposa do mesmo? Há quanto tempo não via ninguém? E por quanto tempo mais suportaria negar-se a ver qualquer um daqueles que um dia considerou amigos? E desfazendo-se do sorriso triste a mulher de cabelos róseos apenas fechou os olhos, ignorando os bips que ecoavam pelo quarto.

Já fazia seis meses que estava ali, presa a única coisa que ainda lhe podia manter viva, e que mal conseguia cumprir seu papel agora. Aos poucos ela sentia-se derrotar e mal podia esperar pelo momento em que o nobre ceifador viesse lhe arrancar a frágil vida que tinha. Era certo que havia quem lhe implorasse para suportar, quem lhe amava e rezava aos céus para que sobrevivesse mais, para que tivesse mais tempo para ser feliz novamente; mas Sakura já sabia que isso não aconteceria mais. Seu corpo e sua mente estavam cansados da longa batalha e, apesar de ser egoísta, tudo o que ela ansiava agora era pelo premeditado fim pacifico e indolor que lhe fora prometido.

Vagarosamente, enquanto escorria para a infinita escuridão que abrangia sua mente, subitamente, a imagem daquele que lhe dera um motivo para viver, lhe surgiu. Os cabelos negros repicados de quando ainda era adolescente; os olhos negros, como pedras de ônix bem polidas que se destacavam na pele clara, quase pálida; os lábios que por vezes beijou e que por tantas outras lhe desarmavam, e roubava seu ar, estes que podiam transmitir o mais belo e encantador sorriso do mundo; a forma silenciosa como demonstrava o que sentia em atos simples e outras vezes atrevidos. Ele era diferente, seu nome e sua família também eram diferentes, estrangeiros, vindo de um país que nem em sonhos a mulher cogitou visitar, pertencentes a um mundo que Sakura jamais se encaixou. Os Uchihas sempre foram o auge da sociedade moderna, donos de uma fortuna incomensurável, de uma beleza exorbitante e de um orgulho de ferro; mas a família de Sakura não ficava para trás. Os Harunos sempre estiveram no topo, eram os melhores em tudo o que faziam, ganhavam quaisquer coisas que desejavam e orgulhosamente exibiam a saúde de ferro que possuíam. Eram famílias completamente diferentes que jamais teriam destinos cruzados se não fosse pelo infortúnio e pelo carma que carregavam.

O orgulho pesa e a ambição também, e foi esses dois pesares que trouxe o sofrimento para aqueles que não se encaixavam no mundo perfeito daquelas famílias. Sakura era a jovem desolada e abandonada da premiada família Haruno, era inteligente e tinha uma gama de opções para seu futuro como medica. Sasuke era o rebelde e jovem Uchiha cujo som da voz jamais era ouvido dentro da própria casa.

Suas vidas jamais deveria se cruzar, seus destinos nunca deveriam se encontrar e, separados, eles deveriam sofrer na solidão e se afogar no desamor, da mesma forma como todas as gerações de suas famílias se afogaram; mas, talvez, por ser diferentes de seus antepassados, o destino tenha planejado algo diferente para eles, fosse para melhor ou pior, apenas eles poderiam decidir.

Agora, adormecida, a mulher deu um pequeno sorriso. O frio não se fazia mais presente, como por durante tanto tempo assim o fez, e nada mais parecia tão importante quanto se lembrar do passado confuso e romanticamente clichê que teve ao lado do único que amou; e se aquele fosse seu último ato em vida, talvez seu único arrependimento seja não poder dizer a Naruto que ele era seu melhor amigo e pedir a Hinata para que cuidasse bem do loiro, ou quem sabe desejar que ambos, Hinata e Naruto, fossem felizes para sempre, coisa que Sakura não poderia ser sem o seu Sasuke. Talvez a mulher também quisesse dizer a Itachi que não o amava da mesma forma como ele a amava, mas desejava o melhor e a maior das felicidades para o moreno. E talvez, com seu último suspiro, a mulher pudesse dizer com suas palavras sussurradas o quanto amava Sasuke e que esperava vê-lo em breve.

Mas nada disse seria ouvido, porque agora os bips das maquinas davam lugar a um único som interrupto enquanto o corpo frágil era abraçado ternamente e beijado pela escuridão da morte.